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Cap 2 - " Os pais deveriam ser pessoas que melhor irão traçar o caminho de seus filhos".

Manhã do dia seguinte e Anttone desceu com seu pai do Dedo de Deus para o Brizolão. O Dedo Deus é a parte mais alta do morro Olho de Boi a casa de Tito 157, é sempre motivo de cobiça quando muda a gerência do tráfico, onde se tem a visão gestáltica da favela.

Tito chega a escola e Clarice o leva a uma sala reservada. A professora foi até uma pasta em cima da mesa e pegou o seu trabalho de biofísica entregou nas mãos de Tito e começou a falar.

- Senhor Antônio, sei que não está entendendo nada do que está aí escrito, e nem a situação. Irei explicar.

- Não estou mesmo. - responde secamente.

Clarice começou a contar a mágica história que se formou em torno do seu trabalho de faculdade. Tito a olhava com cara de paisagem, com desdém até o momento em que ela diz:

- Já pensou que maravilhoso? O seu filho pode ir para um colégio militar, quando se formar já ingressar como tenente, com a cabeça que ele tem o céu é o li... - Tito a interrompe de maneira brusca.

- Para, para, para... A professorinha está com o miolo mole? Perdeu o juízo?

- Não. O Anttone é capaz de passar, para qualquer escola. O senhor pode confiar.

- Disso eu não tenho a menor dúvida, ele é meu filho. Anttone pode tudo.

- Desculpe. Eu é que não estou compreendendo o senhor. Pensei que achasse que ele não fosse capaz, até me chamou de miolo mole.

- Claro a professorinha vem com a ideia louca de fazer do meu filho - ele bate no peito com honra e propriedade - de fazer do Anttone um verme.

Clarice ergue uma das sobrancelhas e engole seco. Estupefata pelo o que acabara de ouvir, ela ainda argumenta.

- Existem colégios federais sem ser os de regime militar, que podem dar um ensino mais qualificado ao AnttoneTito rir, mas seu sorriso é de impaciência, o bandido esfrega a mão na barba coça o pescoço e retruca.

- Clarice! Clarice é o seu nome não é isso? - Tito pergunta empafioso Clarice faz sinal de positivo com a cabeça - A senhora não está me entendendo. O meu filho o Anttone não irá para escola alguma diferente, ele continuará aqui nesse Brizolão.

- Mas aqui não tem o ensino de qualidade que ele pode ter nas outras.

- Dona Clarice - nesse momento Tito já está alterado elevando a voz - o homem só precisa ler, escrever, somar e diminuir o resto é tudo enrolação.

- Senhor Antônio, pais devem sempre querer o melhor para os filhos. Mesmo que tudo seja contra, tentar traçar o melhor futuro para suas proles.

- Dona Clarice, o destino do Anttone, já estava traçado antes de chegar a barriga da minha mulher. Ele vai ser caminhoneiro como eu.

- Eu não sabia que o senhor era pai do Anttone, mas conheço o senhor e nós dois e toda a favela sabemos que o senhor não é somente um caminhoneiro.

A conversa já havia tomado um rumo caloroso, mas Clarice passou um pouco dos limites. Tito era feito uma fera, quando se sentia coagido ele atacava.

- Que bom professorinha! Agora você facilitou as coisas. Se sabe quem sou eu. Sabe também do que sou capaz - Tito enfia o dedo na cara de clarice e exige - você vai tirar essas ideias de merda que pôs na sua cabeça e na do meu filho. Se essa história continuar a ter perna, pessoalmente tiro da cabeça dos dois. Da cabeça do Anttone tiro na porrada. E a sua eu arranco, assim você vai aprender que Deus deu uma vida para cada um cuidar da sua.

Tito sai e bate a porta. Clarice ficou lá parada e pensou de forma decidida:

" Você não vai me intimidar, tem um filho que é um tesouro em todos os aspectos e quer fazer dele um lixo. Não vou deixar, não vou mesmo."

Clarice voltou para sala e disse ao Anttone que o pai dele estava um pouco relutante, mas que com jeitinho iria acabar cedendo. Anttone achou isso estranho, o menino conhecia o pai sabia que para o Tito só existiam duas respostas, sim ou não.

Quando a aula acabou Tito estava a espera de Anttone na porta da escola, ele também estranhou esse fato, o bandido mandou um olhar ameaçador para Clarice seguido de um sorriso sarcástico. Anttone e Tito foram subindo as vielas e o menino quebrou o silêncio.

- O que quer me falar pai? Veio me pegar na escola deve ser importante.

- Como sempre esperto meu garoto. Sua mãe passou o dia inteiro me perguntando o que sua professora queria. Disse a ela que a mulher era uma pilantra que te iludiu para levar você para longe da gente. Fiz a professorinha safada parecer quase uma aliciadora de menores.

- Pelo visto eu não vou para uma escola melhor?! - pergunta já com os olhos marejados.

- Pai é só uma escola melhor! - ele argumenta retraído.

Antes que Anttone pudesse falar mais alguma coisa, Tito lhe deu uma bofetada com as costas da mão.

- Não queria te bater meu filho. Escuta o teu pai, ninguém nessa vida sabe o que é melhor pra você do que eu. Nós dois somos homens incomuns e ninguém pode com a gente, sempre vamos ter tudo o que quisermos. Por isso você vai confirmar o que o pai disse para sua mãe. E também irá dizer aquela professora, que não quer mudar de escola e está muito feliz no Brizolão. Assim ficamos todos felizes e a sua professora viva. Certo filho?

- Certo pai.

Anttone entendeu a mensagem. Ao chegar em casa sua mãe Maria questionou se a história de Tito era verídica, amedrontado o menino confirmou tudo. Maria queria descer até a escola para confrontar Clarice, pois viu a tristeza no rosto do seu filho, porém Tito impediu.

Anttone entrou em seu quarto, estava em cima da cama dois novos vídeogames lançados naquele ano, empurrou as caixas com os consoles para o chão, deitou na cama e se pôs a chorar.

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