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Capítulo 4

No dia seguinte, tomei o café da manhã na lanchonete perto do hotel: ovos e torradas, e andei até o metrô passando pelas centenas de pessoas que se acotovelavam nas escadas, subindo e descendo até a plataforma.

O metrô em Monterrey consistia em duas linhas que transportavam toda a cidade. Ele nunca ficava cheio, por isso, fiquei realmente surpresa com a quantidade de gente ali dentro.

Olhei para o relógio orgulhosa porque, pelos meus cálculos, chegaria ao menos cinco minutos antes do horário desejado, contando pela minha experiência no dia anterior. A empresa ficava a menos de meia hora de distância e aquele, com certeza, era um ponto positivo.

O negativo foi que eu superestimei minha capacidade de andar de metrô ou de fazer cálculos e acabei me perdendo. Desci quatro estações depois e tive que pegar outro veículo voltando, o que me fez chegar quinze minutos atrasada, contrariando a previsão inicial.

Cheguei tão esbaforida que, a secretária do Sr. Carter, Dayse Marshall, que eu havia conhecido na véspera, precisou me abanar usando uma pilha de documentos.

Era uma mulher bonita na casa dos trinta, pele negra, o cabelo cacheado com luzes. Estava muito bem maquiada e vestia um tailleur champanhe que caía bem no seu corpo magro e longilíneo. Tinha um sorriso reluzente no rosto. Na verdade, ela parecia estar achando graça na cena.

— Fica calma, não é o fim do mundo também! Você é recém-chegada na cidade. Tenho certeza de que o Sr. Carter vai levar isso em consideração.

Cobri o rosto com as mãos, gemendo de desgosto.

— Ele precisa mesmo ficar sabendo?

— Bom, ele já sabe. Perguntou por você assim que chegou.

Pisquei os olhos, aturdida.

— O que ele queria?

— Eu não sei, ele não disse — ela deu de ombros. Eu estava encrencada, não estava? O Sr. Carter havia sido cirúrgico quanto ao profissionalismo durante nossa entrevista e, logo no primeiro dia, eu me atrasava. Maldito metrô! — Não fica preocupada, Isabel. O Sr. Carter saiu para uma reunião com um cliente. Você não vai ter que enfrentar a fera tão cedo.

Enfrentar a fera?

Que animador!

— Escuta, ele é tão bravo quanto parece?

— Ah, ele é meio azedo. E, também, é muito perfeccionista. Tudo precisa estar sempre incrível e...

Dayse se calou. Ela e eu olhamos juntas na direção da mulher que entrava com o cabelo louro pálido despenteado e vestido de festa curto coberto de lantejoulas. Os olhos estavam vermelhos e inchados, e escorria maquiagem deles. Ela tinha um par de sapatos nas mãos. Isso porque... estava descalça.

— Srta. Bellefleur? — Dayse praticamente pulou por cima da mesa, antes de entrar no caminho da visitante. —O Sr. Carter não chegou....

A mulher interrompeu sua marcha rápida com um olhar fulminante para ela.

— Vou esperá-lo lá dentro.

— Mas a senhorita não pode...

Ela olhou para Dayse como se não significasse nada.

— E quem vai me segurar?

Ela se esquivou, como se a secretária fosse uma pequena pedra estressante diante dos seus Laboutins, e continuou o caminho até a sala do Sr. Carter, empurrando e batendo a porta com força atrás de si.

Eu vi o rosto de Dayse esquentar até assumir um tom de vermelho vivo. Ela ergueu os punhos no ar e fechou os olhos. Estava contando mentalmente? Eu achava que sim.

— O caminhão Caitlin Bellefleur — Dayse rosnou baixinho. Alisou a saia, voltando para o meu lado da mesa. — Pode se acostumar com ela.

— É a namorada dele?

— Não... pelo menos eu acho que não —ela franziu o cenho. Depois, deu de ombros, batendo nos teclados, furiosa, enquanto digitava a senha do computador. —É difícil interpretar a natureza dos relacionamentos do Sr. Carter.

— E por quê?

— Ele não se compromete.

O meu radar ficou ligado na hora.

— Como assim não se compromete?

— Não que eu saiba pelo menos—Dayse se sentou na cadeira, afastando o cabelo no rosto. Sua mesa era grande, branca e polida, em formato de U. Ela havia colocado uma cadeira ao lado da sua e era nela que eu estava sentada agora, acompanhando cada um dos seus movimentos. — Logan Carter faz o tipo discreto. Não sai com mulheres em capas de revista, nem vai acompanhado para os eventos.

— Um celibatário...

—Ah, isso ele não é.

— Como assim?

— Veja o caso da pobre Srta. Bellefleur —Dayse piscou o olho. — Ninguém fica desse jeito se não tiver levado um belo chá.

Ergui as sobrancelhas e sorri para disfarçar que estava corando. Desse chá eu nunca havia tomado com certeza. E nunca senti falta. Mas só de pensar em Logan Carter daquele jeito minha pele incendiou.

— E o Sr. Carter tem muitas amigas?

— Essa é a única que sempre aparece aqui transtornada. Ele não gosta nada, mas ela simplesmente não se importa — Dayse suspirou. — E sempre volta. Sempre.

Por causa do chá.

É claro.

Mais tarde, quando a Srta. Bellefleur já havia desistido de esperar pelo Sr. Carter e ido embora — jurando voltar em breve —, Dayse e eu descemos para o almoço.

Eu já estava sabendo de toda sua vida — seu marido, filhos, planos para a carreira. Ela era de Nova Jersey, tinha duas crianças que eram verdadeiros pestinhas e o esposo, Jake, trabalhava com serviços de manutenção. Eles estavam em Nova York há alguns anos e, nesse período, ela sempre esteve trabalhando para o Sr. Carter.

Quando saímos do elevador no saguão, rindo de alguma besteira que eu havia dito, levei uma trombada tão forte que me desequilibrei e caí sentada no chão.

— Não sabe olhar para frente?

— Era você que não estava olhando.

Eu reconheceria aquele tom autoritário em qualquer lugar no mundo. Meus olhos subiram, lentamente, dos sapatos envernizados, pelas pernas longas e musculosas, até o torso mais bonito que eu já tinha visto na vida, coberto por um terno que devia custar o dobro do salário de qualquer um.

Logan Carter me encarava com aqueles olhos que pareciam dois poços de petróleo, de tão pretos, escuros e insondáveis. Eu me lembrei da matéria que havia lido, sobre o acidente envolvendo sua noiva, e minha pele se arrepiou de instantâneo.

Quando ele estendeu a mão, eu a segurei cautelosamente. Foi o bastante para aquela descarga de eletricidade que havia sentido quando me tocou da primeira vez. Fiquei muda de espanto. As pupilas dele estavam dilatadas, deixando uma coisa clara. Ele tinha percebido.

Um segundo depois, sua expressão se tornou neutra. Como um raio, o Sr. Carter me colocou de pé e eu acabei escorada nele, enquanto consultava a capacidade das minhas pernas de se manter de pé.

— Está tudo bem, senhorita?

— Acho que sim...

— Não está tudo bem, você se machucou — ele franziu o cenho, olhando para o ponto logo acima da curva da minha bunda, onde eu apertava. Passou a língua, umedecendo os lábios. — Deveria procurar um médico.

— Não precisa, eu garanto.

—Eu insisto.

— Obrigada pela gentileza, Sr. Carter. Mas não vai ser necessário — ele tentou falar, mas levantei a mão, interrompendo-o. — Se eu sentir necessidade, prometo que vou o quanto antes.

Ele olhou dentro dos meus olhos, fazendo minha pele formigar em lugares inimagináveis. Eu me sentia fraca e vulnerável diante daquele olhar. Caramba. O aperto dele se intensificou e só então eu percebi que ainda segurava minha mão.

— Eu insisto que vá agora mesmo.

Engoli com dificuldade, balançando a cabeça para cima e para baixo, mecanicamente. Olhava para sua boca com um fascínio que mal conseguia disfarçar. Os lábios estavam apertados em uma linha rígida, mas logo se moveram, separando-se para deixar escapar um pequeno suspiro.

Dayse pigarreou ao nosso lado.

— Vá ao médico — ele ordenou, afastando-se de mim e entrando no elevador. Antes das portas fecharem, nossos olhares se cruzaram de novo. — Agora, Srta. Herrera.

Deixei escapar um longo suspiro.

Excelente.

Agora ele achava que mandava em mim.

Eu não ousei voltar para o trabalho sem antes passar no médico.

Por isso, fui ao consultório do Dr. Tanaka, uma indicação de Dayse, logo depois do almoço. Quando ele me liberou — sem nada além de um pequeno roxo na lombar —, voltei para a empresa me perguntando que droga estava acontecendo comigo. Por que ficava me comportando como uma menininha perto daquele homem?

Talvez porque você seja, meu cérebro me criticou. Eu precisava me lembrar que ele era pelo menos dez anos mais velho, o que conferia a ele muita vantagem no quesito experiência.

O chá, como disse Dayse.

Levei quarenta minutos para voltar, embora o consultório ficasse a poucos quarteirões da empresa. Tudo por causa de um engavetamento envolvendo um caminhão e oito carros. Meu Deus! Bom, bem-feito para mim. Nenhuma cidade era apenas Starbucks, bibliotecas e parques. Eu estava conhecendo a vibe caótica de Nova York.

Entrei no elevador, tropeçando nos meus sapatos, e aguardei impaciente enquanto subia pelos andares. Pareceu demorar uma eternidade! Quando cheguei finalmente, Dayse sorriu alegremente atrás da mesa.

— O Sr. Carter pediu que fosse vê-lo — ela levantou as sobrancelhas. — Não demore muito. Ele odeia ficar esperando.

Balancei a cabeça, positivamente. Logan Carter podia me assustar para caramba, mas eu não iria desistir daquela vaga assim tão fácil. Por isso, fiz o sinal da cruz, empurrando aquela sensação inquietante para o fundo do estômago.

Bati na porta e aguardei em expectativa. Eu iria vê-o de novo e estava dividida entre o medo e a sensação de algo que eu desejava com cada célula do meu corpo.

— Entre.

Ele estava ao telefone. Olhou-me do outro lado da sua mesa e todos os pensamentos que eu vinha articulando em minha cabeça se perderam, porque ele havia tirado o paletó, outra vez, e estava irresistível.

— Preciso desligar, estou ocupado — eu o vi puxar outra linha e, para o meu espanto, falou, categórico: — Dayse, não transfira nenhuma ligação até que eu autorize.

Prendi a respiração, impulsionando minhas pernas até o meio da sala quando elas se recusaram. Os seus olhos pousaram em mim, de um jeito calmo e analítico, mas eu podia ver alguma outra coisa nadando sob a superfície.

Bem no fundo.

Eu estava começando a achar que ele me detestava em um nível mais pessoal porque só de me ver, sua cara já se torcia.

O que era uma pena porque ele possivelmente tinha o rosto mais lindo que eu já havia visto.

O Sr. Carter se recostou na sua cadeira. Ele cruzou os seus braços sobre o peito largo, atraindo minha atenção imediata.

— A senhorita está melhor?

— Sim, senhor, não foi nada como eu disse. A queda só deixou dolorido...

— Seu traseiro? — havia uma insinuação de um sorriso em sua voz?

— Minhas costas — eu me apressei em corrigir, o coração palpitando quando lembrei a forma como ele havia lambido os lábios mais cedo. — O senhor queria me ver por isso?

— Na verdade, existe um outro motivo — ele me olhou, enigmático. — Lembra quando eu disse que poderia conseguir outro estágio para você? Hoje recebi uma ligação de um conhecido. Queria saber se eu poderia indicar um estagiário e sabe em quem eu pensei?

Olhei para ele, estarrecida. Não era possível. Ele realmente estava convencido a me afastar da Carter Inc.

— Imagino que em mim... só não entendo por quê.

Ele respirou profundamente.

— Você insiste em continuar trabalhando aqui?

— E por que não?

— Você chegou atrasada hoje de manhã.

— E por isso vai me demitir?

— Não vou demitir — o seu tom foi impaciente. — Eu quero remanejá-la para uma empresa onde você se sinta mais confortável.

Como toda vez que ele tocava nesse assunto, senti meus olhos arderem. Eu não me considerava uma pessoa emotiva, mas pensar em perder a chance da minha vida por causa do meu comportamento tolo do dia anterior? Isso acabava comigo.

Eu sabia que se concordasse com o seu pedido estaria assinando minha sentença. Por isso, levantei a cabeça e olhei para ele, sem demonstrar minhas fraquezas.

— Sinto muito por ter chegado atrasada hoje. Isso não vai se repetir.

Ele olhou dentro dos meus olhos com tanta intensidade que eu senti minha determinação se esvair. O Sr. Carter tinha razão. Eu não era capaz de dividir o mesmo ambiente que ele sem a sensação de uma tropa de cavalos pisoteando meu peito. Mas eu teria que encontrar uma maneira.

— Certo, vamos direto a questão — ele limpou a garganta. — Hoje tem início o seu programa de estágio e quero testar suas habilidades com algo muito simples — abriu uma gaveta em sua mesa e tirou de lá um maço de papéis. — Leia tudo e memorize o que estiver grifado em vermelho. Quero que venha amanhã com as informações decoradas.

Estendi a mão, cautelosa. Eu tinha certeza de que ele iria me testar. Queria provar que ele estava certo, e eu errada. Revisei os papéis, curiosa, e percebi que se tratava do manual da companhia. Dei uma folheada enquanto ele assistia, em silêncio.

Muitas coisas grifadas como eu havia imaginado.

Ergui os olhos, escondendo minha indignação sob uma máscara de superficialidade. O seu rosto estava neutro exceto por uma discreta expectativa em seus olhos.

— É um problema para você?

Forcei um sorriso enquanto sentia minha garganta inchar.

— Não, senhor. Eu venho amanhã como pediu.

Quando contei a Dayse, ela ficou furiosa. Quis assumir todas as demandas do dia, mas eu sabia que não era justo. Não queria que ninguém lutasse minhas batalhas porque era óbvio que era eu quem precisava dar conta delas.

Mesmo assim, insistiu para que eu esperasse por ela na confeitaria da esquina. Pedi um café e aproveitei para ler o documento. Eram tantos números que eu tive certeza de que era impossível decorar aquelas informações para amanhã ou qualquer outro dia, e o desânimo tomou conta de mim.

Quando Dayse chegou, acenei para ela, da minha mesa no canto. Ela se juntou a mim. Pediu também um café e, nos próximos minutos, me deu um resumo sobre a história da empresa, sua missão, visão e valores.

— Você ainda precisa gravar os números — ela fez cara de compaixão, apontando para o papel. — Eu sei que é ridículo, mas se ele pediu para decorar, é melhor você estar preparada para alguma sabatina surpresa.

— E ele costuma fazer isso?

Ela me olhou com uma expressão que dizia tudo.

— Acho que você cutucou a onça com vara curta, Isabel.

Apoiei o queixo entre as mãos e deixei escapar um suspiro. Minha cabeça estava zunindo. Meu corpo suplicava para ir para voltar ao hotel e descansar, só que eu não podia. Por isso, sorri para Dayse com uma calma que eu estava longe de sentir.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem.

— Vai voltar para o hotel agora?

— Não... se eu vir aquela cama quentinha e macia, vou acabar desabando.

Dayse me olhou com compaixão. Era por volta das sete e a cafeteria ainda estava lotada. Pessoas chegando ou saindo do trabalho clamavam por pizza e refrigerante. Fiz sinal ao garçom, pedindo outro café expresso.

— Pode ir, Dayse, eu me viro. Você foi maravilhosa! Obrigada pela sua ajuda.

— De nada, Isabel. Você consegue, eu tenho certeza.

O garçom se aproximou, enquanto Dayse se afastava a caminho do metrô. Pensei em como seria ter uma família só minha — marido, filhos e cachorro. Eu não me imaginava vivendo assim, um dia.

Tudo o que eu queria era trabalhar e dar uma vida decente para mim e para minha mãe.

Fiquei na cafeteria até as dez da noite, quando o gerente solicitou educadamente que eu me retirasse porque estavam fechando. Minha humilhação em Nova York parecia nunca acabar.

No hotel, só tive tempo para um banho rápido antes de desabar na cama. E nunca dormi tão pesado na vida! Mas, no dia seguinte, acordei bem cedo, tomei um café forte e parti para a empresa com a energia revigorada.

— Bom dia. Nossa, você está maravilhosa! — Dayse exclamou. — Essa noite fez muito bem para você. E esse vestido te cai muito bem. Você deveria sempre usar vestidos assim.

O modelo era mais justo, na altura dos joelhos. Azul marinho e canelado. Normalmente, eu gostava de tons mais claros, mas achei que aquele tom favorecia a ideia que eu queria transmitir aquela manhã: elegância e determinação. Prendi o cabelo em um coque, na altura da nuca, e desfilei nos meus saltos, dando uma voltinha para que Dayse visse.

— Linda e poderosa — Dayse aplaudiu. — Vai deixar o chefe babando. Te desejo sorte porque ele já está lá dentro.

Minha determinação murchou.

— Mas já? Não tem nenhuma reunião hoje?

— Olha só — ela apoiou os antebraços na mesa. — Você estudou e tem muita capacidade, garota. Não seja uma medrosa porque mal te conheço, mas tenho a impressão de que isso você não é.

Suas palavras mexeram com o meu orgulho. Ela estava certa, não tinha o menor cabimento eu ficar adiando, nem me escondendo daquele homem. Munida de coragem, eu estufei o peito e dei duas batidas antes de entrar na sua sala.

— Srta. Herrera? — ele estava de pé, atrás da cadeira, e mal levantou os olhos do laptop. — Péssima hora.

— Algum problema?

— Parece que é um problema? — gesticulou para a tela, impaciente. — Não está ligando e tenho uma videoconferência em cinco minutos.

— Posso dar uma olhada?

— Você, por acaso, entende de computadores?

— Por acaso, sim, entendo um pouco. Posso dar uma olhada ou pode aguardar que a tela se acenda sozinha, como preferir.

Os olhos dele me atravessaram como raio lasers. Eu não iria pegar leve quando ele tinha me feito gravar informações desnecessárias a noite toda. Eu havia tido pesadelos com aqueles números correndo atrás de mim!

O Sr. Carter cruzou os braços, com uma respiração profunda. Se eu estava esperando um “por favor”, aquilo era tudo o que teria dele. Eu me aproximei, confiante, mas a rapidez dos meus passos diminuiu, quando o cheiro do seu perfume me nocauteou.

Minha nossa. Era forte, masculino, muito picante. Fazia-me ter vontade de cheirá-lo bem no pescoço, onde a gola da camisa encontrava o cabelo.

— Srta. Herrera — as mãos dele apertaram o encosto da cadeira até os nós dos dedos ficarem brancos. — Vai olhar o laptop ou continuar viajando em seus pensamentos particulares?

Pisquei os olhos, envergonhada. Ele estava certo. Eu estava mesmo viajando em pensamentos muito particulares e íntimos. Precisava dar um jeito de ficar imune àquele homem tão desagradável. Trabalhar com ele já era difícil sem o inconveniente daquela atração idiota.

— Vou olhar agora mesmo.

Limpei a garganta, chegando mais perto e, como ele não fez nenhuma menção de se afastar, eu me apertei ao seu lado. Comecei a mexer no aparelho, olhando todas as possíveis coisas que pudessem estar erradas.

Atrás da cadeira, ele mantinha os olhos fixos no laptop. Parecia ignorar a minha presença, como se minha simples existência o irritasse. Mas eu podia ouvir sua respiração ao meu lado. Sentia sua proximidade com cada fibra do meu corpo. E podia ver a veia saltada na lateral do pescoço quando olhava para ele.

— Não sei se eu não deveria ter chamado um técnico — ele deu uma olhada no relógio. — Está claro que a senhorita não tem as competências necessárias.

Fechei as mãos com vontade de lhe dar um soco. Realmente estava levando mais tempo do que eu esperava, mas era porque ele me deixava nervosa...

— Você está transpirando —disse de repente. — Bem aqui.

Ele esticou um dedo e percorreu a lateral do meu pescoço. O efeito do seu toque reverberou em cada célula minha. Um alarme disparou no meu cérebro.

O que é que estava acontecendo? Por que é que ele estava me tocando?

Meus dedos trêmulos pararam o que estavam fazendo, enquanto eu encarava o lap top, a respiração presa na garganta. Os segundos se passaram sem que nenhum dos dois dissesse nada. Então, em um passe de mágica, o laptop ligou.

— Ótimo — ele limpou a garganta, exalando um suspiro pesado. — Posso começar a trabalhar depois desse tempo todo. Muito obrigado, Srta. Herrera.

Os olhos dele haviam se desviado para outro ponto, enquanto ele afrouxava a gravata. Estava esperando que eu saísse. Seu “obrigado” parecia tudo menos gratidão, mas não era com isso que eu estava incomodada.

Murmurei um pedido de licença e deixei a sala, praticamente tropeçando para o lado de fora.

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