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Capítulo 2

A sala era muito elegante, com enormes janelas de vidro panorâmicas. A parede atrás da mesa dava para as ruas congestionadas de Manhattan, enquanto a lateral mostrava uma visão privilegiada do Central Park.

Eu ainda não havia conhecido a cidade. Tinha pegado um táxi do aeroporto direto para o hotel, tomado um café da manhã rápido e trocado meus jeans e minha blusa de renda branca favorita, que deixava boa parte da pele a mostra, por uma coisa mais profissional e nova iorquina: saia lápis risca de giz e camisa branca de botões.

E scarpins... aquilo incomodava demais os dedos dos pés! Havia outras roupas em minha mala e poucas delas eram minhas. Tudo de primeira qualidade, presentes do tal amigo de minha mãe. O que me fazia acreditar que ele desejava muito aquela parceria de negócios.

E me levava a recordar que... ganhar presentes não era algo com o qual estivesse acostumada e, por mais que houvesse razões para que eu me apresentasse bem, não podia evitar um leve incômodo na barriga.

Eu tinha cumprido minha agenda da manhã, em tempo recorde, e estava pronta para minha reunião com o Sr. Carter pontualmente às nove. Mas, agora, olhando aquela vista...

Senti minhas pernas impulsionarem para dar um passeio pelo parque. E, quem sabe depois, tomar um café no Starbucks? Nova York parecia um cenário dos sonhos, um conto de fadas esperando para acontecer! Eu lembrei de todos os filmes e séries que havia visto, só olhando por aquelas janelas.

Mas ali dentro, toda a vida parecia ter se extinguido. As paredes da sala eram revestidas de madeira e havia grossas cortinas negras, que estavam afastadas no momento. Aquele contraste entre o mundo exterior e o interior daquela sala, luz e sombra, me fazia lembrar do Dr. Jekyll e do Sr. Hyde, do romance que eu havia lido na biblioteca da escola quando tinha quinze anos.

Deslizei os dedos pela superfície lisa e polida da mesa de mogno. Conseguia imaginar umas cinco pessoas trabalhando, tranquilamente, nela, sem esbarrar os cotovelos.

No entanto, tudo aquilo parecia pertencer a um único homem. Senti, outra vez, uma inquietação na barriga. Logo eu estaria em frente ao todo poderoso Logan Carter. Uau. Até o seu nome já me fazia tremer na base. Como seria sua aparência? Eu nem imaginava. Tinha esperado vê-lo sentado na poltrona elegante de estofado preto e espaldar reto, exatamente como um deus do Olimpo, mas ela estava vazia quando entrei.

Aquilo fez meu coração ficar em suspenso por uma corda, involuntariamente. E quando uma estreita porta lateral se abriu, eu acabei pulando de susto.

— Perdão, desculpe-me, por favor — levei as mãos ao peito, instintivamente. — Eu não esperava vê-lo sair de uma porta, tão de repente.

— Tão de repente?

— Quero dizer... acho que... —fechei os olhos, tentando acalmar as batidas descontroladas do meu coração. Meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Por que estava tão nervosa? Era só uma entrevista! Normalmente eu me saía muito melhor do que aquilo nas minhas interações profissionais. Abri os olhos, respirando tão fundo que os meus pulmões arderam. — Não foi o que eu quis dizer. Eu lamento, Sr. Carter. É um prazer conhecê-lo.

Ele era mais novo do eu havia imaginado — trinta ou trinta e cinco anos —, o cabelo escuro e revolto em ondas largas como espirais de fumaça. Jovem, mas inda assim, mais velho do que eu. Seu aspecto me impressionou. Não... ele tirou o meu fôlego total e completamente. Ele não era apenas bonito, como sexy, com uma aparência perigosa e irresistível. Não era nem um pouco como eu achava que um CEO se pareceria. Pelo menos no mundo real.

Os meus olhos se prenderam a ele sem querer soltar. Sua gravata azul marinho contrastava com a camisa branco puro. O aspecto físico era, de fato, estonteante, mas foram seus olhos que roubaram minha atenção. Eles eram negros e tempestuosos. Pareciam esconder uma infinidade de segredos que o tornavam ainda mais intrigante. E desejável.

E se por um lado, ele ainda era jovem, tudo nele evocava ordem e autoridade, desde o nariz aquilino ao queixo levantado, com aquele tipo de arrogância da qual eu só tinha lido a respeito nos livros. Parou diante de mim, com uma expressão estarrecedora. Calmo e controlado, todo cheio de si. Sem perceber o que estava fazendo, eu prendi o ar nos meus pulmões. E só me dei conta disso, quando senti dificuldade extrema para respirar.

— Acho que eu deveria saber quem é você... já que está na minha sala — o seu tom era grave e profundo, muito envolvente.

Minhas pernas ameaçaram ceder e o meu cérebro enviou uma ordem clara para que ficassem firmes. Inacreditavelmente, eu tinha boas pernas obedientes, porque foi isso o que elas fizeram.

— Sou Isabel Herrera, senhor —eu me apresentei, indecisa sobre estender a mão para um aperto formal. Decidi que não deveria. Eu não sabia se tocar nele seria o tipo de gatilho que eu não queria, por isso, apenas acenei com a cabeça. — Tínhamos uma entrevista agendada para hoje às nove horas. Espero não ter chegado muito cedo.

Eu sabia que não tinha chegado cedo, havia sido pontual. Eu raramente me atrasava para compromissos — especialmente os importantes e aquele tinha atingido muito rapidamente o topo do ranking.

O Sr. Carter enfiou as mãos nos bolsos da calça cinza de tergal. O movimento fez a camisa se esticar nos braços musculosos, sobre os bíceps aparentes. Tentei disfarçar o quanto me deixava zonza com sua aparência ridiculamente atraente.

Eu me sentia pequena e, ao mesmo tempo, manipulável, porque não conseguia formular um raciocínio completo perto dele. Isso raramente me acontecia. Na verdade, isso nunca tinha me acontecido antes. O que só tornava tudo ainda pior, claro.

— A nova estagiária — seu tom foi frio e cortante. — Dayse não deveria ter deixado você entrar. Não sem antes me avisar primeiro.

Sua expressão era impassível, mas ainda assim eu me senti como uma criança sendo castigada. Ele pressionou a língua no lábio inferior, enquanto me analisava duramente. Eu não estava acostumada a ter impressões tão fortes sobre as pessoas — pelo menos não à primeira vista. Só que agora eu me sentia como um balão de ar esvaziado diante daquele olhar impenetrável.

— Sua secretária achou que o senhor estava em uma reunião. Disse que não teria problema aguardar aqui dentro.

— Bom, é óbvio que ela se enganou.

Minha expressão se contraiu. Eu podia sentir o sangue fluindo direto para o rosto. Estava claro que não havia gostado de me encontrar na sua sala e eu não entendia por quê. Se tínhamos um encontro marcado justamente nesse lugar, qual era a diferença entre esperá-lo lá fora ou aqui dentro?

Mordi o lábio inferior, como sempre fazia quando ficava nervosa, e seus olhos desceram até lá. Eles se demoraram uma eternidade, enquanto eu tentava formular palavras coerentes dentro da minha cabeça. Palavras que o fizessem desculpar-me, embora eu não soubesse, com certeza, se eu queria desculpá-lo.

— Essa é uma coisa que nunca voltará a acontecer, Sr. Carter —expirei, devagar. — O senhor tem a minha palavra.

Minha mãe dizia que eu era cabeça dura e linguaruda. Normalmente, estava certa, mas o que ela não sabia era que eu estava mais do que disposta a dobrar o meu gênio se isso significasse ter um estágio como aquele.

Como ele era alto — vinte centímetros mais do que os meus um metro e sessenta e cinco, pelo menos —, eu precisava curvar o pescoço para olhar em seu lindo rosto compenetrado. Mas eu não pretendia desviar os olhos dos dele, se isso significasse perder aquela batalha. Acreditava fielmente que parte de conquistar o respeito de outro ser humano envolvia olhar nos olhos.

Os olhos dele se estreitaram. O Sr. Carter virou-se e caminhou até o outro lado da sala, o que me deu uma ampla visão das suas costas na camisa branco puro. Havia dispensado o paletó, o que não o tornava menos elegante do que se estivesse usando um.

Seus ombros eram largos e pareciam torneados. Ele era a prova viva de que era possível manter um negócio bem-sucedido e, ao mesmo tempo, nutrir uma forma física de dar inveja.

Imaginei como suas funcionárias poderiam dividir o mesmo espaço de trabalho com um homem que deixava você distraída o tempo todo. Só de ficar no mesmo ambiente dele era como ter uma bolha de ar se enchendo lentamente no meu peito, ameaçando explodir a qualquer momento. Eu sabia que precisava controlar aquelas reações bobas e me concentrar em ter sua confiança, por isso, fechei os olhos e evoquei imagens simples na memória. Imagens simples e inocentes que não tinham nada a ver como o homem a minha frente e as sensações perturbadoras que evocava em mim.

— De onde você vem? — sua voz, naquele tom profundo e obscuro, chegou até mim em ondas que arrepiaram a minha pele.

Difícil demais de ignorar, minha consciência avisou com desgosto. Abri os olhos, aborrecida com a capacidade que aquele homem tinha de me provocar até mesmo quando estava fora do meu campo de visão.

— Monterrey, México.

— E quando chegou?

— Agora de manhã.

Houve um som de concordância da parte dele. Cruzei as mãos na frente do corpo, sentindo uma espécie de ansiedade que ainda não havia conhecido. Eu estava horrorizada e, o pior de tudo, fascinada por aquele homem que havia acabado de conhecer. Os pelos dos meus braços estavam levantados e eu esfreguei minha pele, tratando de controlar aquela reação instintiva.

— Quantos anos tem? Dezoito, dezenove?

— Vinte e um —me apressei em corrigi-lo. —Tenho vinte e um anos.

Eu estava consciente de como a minha juventude poderia ser confundida com inexperiência aos olhos de alguém como ele, mas estava determinada a provar o contrário. Aquela vaga era o meu novo objetivo de vida e, quando eu estava disposta a conseguir alguma coisa, raramente eu falhava.

O Sr. Carter se serviu em um copo de vidro e o levou aos lábios, sorvendo um pequeno gole, ainda de costas, os músculos flexionando a cada um dos seus movimentos. Havia repassado aquela conversa, repetidas vezes nos últimos dias, mas, agora, a minha mente parecia um caderno em branco.

Ele se virou, caminhando até mim com uma precisão típica dos homens de negócios, e só quando estendeu a mão, eu percebi que havia trazido um copo.

— É só água. Beba.

Ainda havia tensão no seu rosto. Desconfiei que ele não relaxava.

Nunca.

Inspirando, trêmula, aceitei o copo e bebi a água, com seus olhos negros pousados em mim. Ordenei a mim mesma para ficar calma. Eu estava habituada a ver muitos obstáculos pelo caminho, mas desistir geralmente não era uma opção. E embora fosse um pouco fechada, não tinha dificuldades de adaptação, nem para estabelecer conexões amigáveis. Ou seja, iria me encaixar logo. O Sr. Carter iria aprender a gostar de mim, querendo ou não.

Mas o fato é que eu não estava acostumada a tanta formalidade e precisaria treinar muito antes de ficar à vontade na presença desse homem que me intimidava tanto. Até no Instituto, com os professores, éramos mais relaxados. Esse sujeito me dava frio na espinha.

Respirei fundo, afastando qualquer resquício de dúvida ou negatividade. Eu sabia que precisava passar por aquele estágio, sair pelo menos com uma boa carta de recomendação, não era? Seria uma prova de fogo, mas eu iria conseguir.

Sair ilesa e mais forte do que quando havia chegado: essa era a meta.

Devolvi o copo com um sorriso capaz de derreter um iceberg. Em vez de retribuir, ele me mediu de cima a baixo. Não era um olhar de desprezo, nem de superioridade. Na realidade, eu não sabia dizer o que era. Seus olhos pareciam uma força viva sobre mim. Eles eram escuros e magnéticos, e estavam me deixando obcecada.

— Não achei que conseguiriam alguém tão rápido —ele ajeitou o colarinho da camisa, atraindo minha atenção para o trecho de pele a mostra do pescoço. — Quando recebeu o e-mail?

— Na semana passada —eu desviei os olhos, envergonhada quando me pegou olhando. — Foi uma surpresa, nem sei como aconteceu. Espalhei currículos por tantas empresas que não esperava mais ser chamada.

— Espalhou currículos fora do seu país?

Passei a língua umedecendo os lábios. Não seria tão fácil dobrá-lo. Eu não podia dizer a verdadeira fonte que havia me feito chegar até ali ou também teria que revelar seu nome e os motivos — e algumas dessas informações eu nem possuía!

— É que eu tinha muita vontade de estagiar na América — sorri com confiança. — Todos os jovens em Monterrey sonham o mesmo! Será uma grande oportunidade para mim, Sr. Carter. E eu pretendo estar à altura da confiança que o senhor está depositando.

Eu ficava oscilando entra a determinação ferrenha e um desespero adolescente. Sabia que aquilo era péssimo, mas não havia a menor condição de agir com indiferença aquele homem. E a fortaleza impenetrável dele, é claro, não contribuía nada para a minha calma.

O silêncio pairou entre nós. O olhar dele ficou diferente, mais escuro, a medida em que eu o sustentava. Briguei com a vontade incontrolável de morder os lábios. Em vez disso, me obriguei a ficar impassível e minha armadura só o fez dar um passo mais perto de mim, o calor do seu corpo me atraindo como uma força gravitacional para ele. Quando falou, sua voz era baixa e torturada.

— Posso te perguntar uma coisa?

—O que?

— Por que eu tenho a sensação de que já conheço você?

Eu estava preparada para qualquer coisa, mas aquela confissão, em tom sussurrado, me levou a nocaute. Foi como ter o chão arrancado debaixo dos meus pés. Eu firmei meus olhos nele com dificuldade, enquanto minha pele ficava cada vez mais quente. Eu estava zonza e acalorada quando perguntei:

— Do que está falando?

— Você não sente a mesma coisa?

De repente, a atração boba que eu sentia por ele se transformou em uma coisa quase palpável, como uma terceira pessoa naquela sala. Sua expressão era tão intensa que eu tive que me esforçar para respirar regularmente. Meu coração parecia ter corrido uma maratona.

— Por favor, pare com isso...

—Parar o que? De olhar você? Acho que não consigo.

Sua honestidade brutal me fez sentir mais vulnerável do que achei que fosse possível. Eu tinha lido sobre homens assim, com personalidades fortes e dominantes, mas era a primeira vez que encontrava um.

Cravei as unhas nas palmas das mãos, tentando me prender a realidade, mas uma sensação muito forte me dominou. Eu não estava nem um pouco no controle. Queria encurtar a distância, só para sentir aquele calor mais de perto. Tocar os seus ombros fortes, beijar aqueles lábios macios. Sentir sua respiração morna. O que é que estava acontecendo comigo? Por que estava me comportando assim?

O campo magnético ao redor dele me atraía como uma força poderosa e eu acabei me inclinando na sua direção. Vacilei sobre os meus pés. Ele me segurou pelo pulso e nos manteve afastados, mas era tarde demais. Seu toque provocou um choque, uma descarga elétrica, que atravessou o meu corpo como um raio. Meu coração disparou, voou pela boca. Nossos olhares não se desgrudavam e eu engoli um pequeno gemido. Não tinha certeza se ele havia escutado, mas era provável, porque a expressão no seu rosto vacilou. No mesmo segundo, seus olhos piscaram e retomaram o foco.

— Quero que escute com atenção — ele pigarreou, me soltando bruscamente. Recuou alguns passos, correndo a mão pelo cabelo e me olhou a distância, com uma expressão aborrecida. — Comando esse programa pessoalmente, por isso, não admito falta de profissionalismo.

Suas palavras me chocaram. Tinha ficado tão óbvio assim o quanto eu estava inegavelmente atraída por ele? Meu Deus.

— Sim, senhor. Eu... — minha voz tremeu, oscilou. O que eu devia dizer? O que poderia dizer para apagar aquela impressão? Minha garganta queimou. Eu estava tão envergonhada! — Por favor, eu estou disposta a aceitar seus termos. Peço desculpas se pareceu outra coisa.

Sua expressão era revoltada.

—Então os ouça. Não pode sair aceitando termos sem ouvi-los primeiro.

— Mas eu... — abri a boca, a respiração acelerada. Seu olhar era extremamente feroz. Balancei a cabeça, concordando. — Sim, por favor. Eu não vou mais interrompê-lo.

O espaço entre nós era como um bloco de gelo nos mantendo a distância. Abri e fechei os dedos, várias vezes, tentando recuperar o autocontrole. Tinha vontade de chorar. Eu estava estragando tudo. Tão rápido que, talvez, não tivesse chance de consertar.

— Se você ficar, tenho que saber que vai dar conta — não havia vestígio de calor nos seus olhos. Aqueles poços profundos e escuros pareceram frios e sem vida. — Que está disposta a ir até o seu limite. Além disso, não é só um estágio. Todos aqui têm minha extrema confiança.

— Pode confiar em mim. Não vou desapontá-lo. Sei que é exatamente o tipo de coisa que se diz no primeiro dia, mas é realmente verdade —garanti, com convicção. — Não sabe o quanto preciso desse estágio, senhor. Eu faria qualquer coisa para me sair bem.

Houve um lampejo nos olhos dele. Sua expressão se tornou tão neutra que era impossível descobrir o que ele estava pensando. E eu queria saber desesperadamente.

—Não sou uma pessoa fácil de lidar. Não me contento com qualquer coisa. Não tolero falhas ou atrasos — ele enumerou nos dedos. — Não aceito omissões e, mais do que isso, odeio desculpas.

— Certo.

—Eu conheço algumas pessoas — sua expressão titubeou. Pude enxergar, pela primeira vez, uma hesitação nos seus modos e isso me instigou. — Poderia recomendá-la a outro estágio, se você quiser.

Outro estágio?

Arregalei os olhos, entrando em pânico. Aquilo se parecia muito com uma dispensa. Primeiro, ele me prometia a saída mais fácil, mundos e fundos, depois se despedia com um belo chute na bunda.

Eu podia estar fascinada pelo meu novo chefe, mas não me comportaria como uma tonta.

— Não, senhor.

A expressão dele enrijeceu.

—Você não quer? Pode ser uma grande chance.

— Quero ficar aqui — respirei profundamente. — É o melhor programa de estágio de todos. Eu vim de longe por essa oportunidade e ela é realmente o que eu quero.

—Com tudo o aconteceu, há pouco, você ainda está disposta?

Foi como levar um tapa e minhas bochechas queimaram. Eu não queria que ele tocasse naquele assunto de novo. Por que insistia? Com certeza porque profissionalismo, agora, era a última coisa que se passava na cabeça dele quando olhava para mim. Uma garota estúpida e cheia de fantasias pelo chefe!

— Sr. Carter, não aconteceu nada — balbuciei, olhando para sua gravata em vez dos seus olhos. — Estou mais do que disposta a ficar... se o senhor permitir.

Levantei a cabeça, fingindo indiferença, e, com os braços cruzados na frente do peito, tentei esconder como o meu coração palpitava naquele momento. Por ele.

Os olhos dele se estreitaram sob as sobrancelhas mais escuras que eu já vi. Reparei na forma como a camisa modelava seu tronco, deixando-o ao mesmo tempo sexy e elegante. Ele me intimidava e, ainda assim, me encantava muitíssimo. A expressão no seu rosto era perturbadora.

— Durante o tempo em que estiver aqui, preciso ter certeza de que teremos sua atenção —suas palavras incitaram uma onda de alívio que reverberou no meu peito. — Dessa forma, é imprescindível que evite distrações. Você tem namorado?

Troquei o peso do corpo de perna, enquanto pensava em Javier e Yolanda, que pareciam fazer parte de um universo alternativo agora.

— Não tenho mais.

— Melhor assim. Vou explicar objetivamente: distrações são companhias do sexo masculino — ele franziu o cenho. — Você não curte garotas, não é?

— Não curto.

— Perfeito, não quero que tenha mais nada ocupando a sua mente — e não havia. Além dele, lógico. O Sr. Carter começou a se mover na direção da sua mesa, deixando um rastro do seu perfume delicioso no ar. — Peça ajuda quando precisar. A mim ou a Dayse.

Ele assumiu sua confortável cadeira, enquanto eu brincava, em silêncio, com meus pés dentro do sapato. Olhei ao redor, para as paredes, o mobiliário e a decoração que não tinha nada ver com o lugar do qual eu vinha, as coisas que eu estava acostumada. Um imenso vazio me preencheu e a saudade de casa me apunhalou no peito.

Eu tinha a nítida sensação de que não me encaixava naquele lugar, mas esse era o menor dos meus problemas.

O problema de verdade estava atrás daquela mesa.

O Sr. Carter afrouxou a gravata preta de cetim, enquanto sua cabeça pendia no espaldar da cadeira e ele suspirava, profundamente.

— É só isso, está dispensada. Esteja aqui amanhã, as nove.

Graças a Deus. Abri um ligeiro sorriso, embora minha vontade fosse vomitar nos seus sapatos caros.

— Sim, senhor, com licença. Tenha um ótimo dia!

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