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Capítulo 1

A distância entre o Instituto Tecnológico de Monterrey e a minha casa era de dois quilômetros, o que dava cerca de trinta minutos, todos os dias, de uma caminhada sob um sol escaldante.

A sorte era que o meu único par de tênis, já bem velhinho, nunca me abandonava. A sola já estava gasta de tanto uso, mas ele continuava do jeitinho que eu gostava: confortável e confiável.

O mesmo eu não podia dizer das pessoas...

Meu ex-namorado, Javier Hernandez, olhou-me do portão da faculdade. Ele não estava só. Atracado aos beijos com a minha suposta melhor amiga, Yolanda, fazia questão de mostrar para mim e para o mundo o quanto os dois estavam felizes juntos.

Hijos de puta. Eu havia descoberto a traição há apenas alguns dias e os dois já andavam por aí, como namorados, como se mal pudessem esperar para engolir a língua um do outro na frente de todo mundo.

Apertei a mandíbula, desviando o olhar para o outro lado. Eu sabia muito bem o que ele queria: tirar-me do sério. Tudo bem. Eu era superior a um barraco na porta da faculdade. Respirei fundo, contando mentalmente até dez, e segui na direção dos dois traidores.

Como se tivesse sentido minha presença, Yolanda afastou os lábios dos de Javier com selinhos. Nossos olhos se encontraram. Esperei ver algum remorso nos dela, mas não houve nenhum. A garota apenas envolveu os braços no pescoço dele, voltando a beijá-lo.

Nada surpreendente. Tivemos uma briga daquelas, quando eu descobri, através do seu instagram, o que estava acontecendo. Um trabalho de detetive, porque os dois mantinham tudo muito bem escondido. Eu tinha entrado na sala de aula, bufando como um touro, e enchi aquela desgraçada de tapas.

Tudo bem, eu não me orgulhava daquilo. E nunca — repito: nunca — algo tão vergonhoso voltaria a acontecer.

Aquele era o último dia antes das férias de verão. Eu só veria aquela desgraciada em duas semanas, o que me dava algum tempo para recolocar a cabeça no lugar e recuperar meu orgulho perdido.

Acenei para algumas pessoas, sorrindo superficialmente. Não haveria ninguém para eu sentir falta nessas férias. Costumava evitar pessoas em um nível muito íntimo, como me disseram uma vez. Com exceção de duas: Javier e Yolanda. E eles me apunhalaram pelas costas. Ou seja, eu estava completamente certa em preferir bichos à gente!

Quando cheguei ao portão, Javier olhou-me de novo. Deu uma piscadinha com seu sorriso de moleque e o meu sangue ferveu. Ele tinha vinte e três anos, três a mais do que eu, mas, aparentemente, aquilo não era nenhum símbolo de maturidade. E o babaca tinha cojones por piscar para mim. Eu queria poder arrancá-los.

Ele tinha ido pegar Yolanda para comemorarem juntos o fim do semestre. E eu sabia disso porque era exatamente o que nós dois havíamos combinado de fazer. Uma semana atrás. Mas Javier tinha sido bem específico. Em vez de um cinema como eu havia sugerido, iríamos para o seu apartamento, para ficarmos juntinhos de verdade. O que na linguagem dele, é claro, significava sexo.

Eu era virgem e não estava pronta. Havia dito a ele mil vezes. Por fim, minhas recusas esfriaram nosso relacionamento. Isso e o fato de que ele não me amava tanto quanto ao seu precioso pau. Por sorte, Javier não fazia faculdade com a gente e isso significava que não nos veríamos com tanta frequência depois. O cabròn trabalhava em uma oficina mecânica e suas maiores aspirações estudantis envolviam terminar o segundo ano do colegial na escola noturna.

Quando passei ao seu lado, o cheiro do perfume tão conhecido invadiu minhas narinas. Meu coração sangrou. Por que sempre escolhíamos as pessoas que acabariam nos machucando? Passei pelos dois, com os olhos fixos a frente, mas minha visão lateral captou quando Yolanda desgrudou os lábios de Javier e sorriu para mim, com escárnio.

— Buenos días, Isabel.

— Jodete, perra. *foda-se, piranha.

Os alunos ao nosso redor assobiaram tirando sarro. Estudar em uma faculdade de classe alta fazia de nós, da periferia, uma diversão garantida para essa gente. Achei que Yolanda revidaria, mas seu silêncio emputecido me agradou também. Ela poderia ficar com meus restos se quisesse, mas que nunca ousasse fazer graça comigo. Eu havia conseguido uma bolsa de estudos na universidade na minha cidade, Monterrey, e aquele era o meu território também.

Cheguei em casa, meia hora depois, toda suada e esbaforida. O verão em Monterrey poderia ser como uma visita ao inferno.

No meu bairro, fui saudada pelos sons peculiares, de latidos de cachorros aos gritos dos vizinhos que discutiam por futebol ou qualquer outra coisa. Os temperamentos ali poderiam ficar bem exaltados, de vez em quando. A periferia poderia deprimente para quem via de fora — e às vezes, até para quem morava nela —, mas no dia a dia, eu já estava acostumada.

Yolanda e Javier não moravam muito longe, mas aquele bairro era só meu e eu não precisava dividir com aqueles dois vermes. Respirei com a sensação de liberdade. Chegar em casa significava poder tirar minha armadura e lembrar que eu também tinha minhas fraquezas.

Com os livros contra o peito, acelerei o passo e entrei no portão de casa. Lar doce lar. A tinta vermelha descascada e as marcas de ferrugem eram a minha realidade, não a deslumbrante construção de pedra do Instituto Tecnológico com suas arvorezinhas e pessoas esnobes.

Nem sempre eu sabia o que pensar a respeito disso. Isso era o pior de viver em dois mundos. Frequentemente você já não sabia mais quem realmente era ou a que lugar pertencia.

Muitas vezes eu tinha pensado em abandonar o curso de Finanças, mas a verdade é que sem estudo e sacrifício, eu sabia que não tinha nenhuma chance de construir um futuro. E a ideia de desistir de tudo e apenas sobreviver nesse mundo me aterrorizava mais do que tudo.

Ajeitei meu cabelo castanho e liso dentro do rabo de cavalo. Ele estava comprido demais, na linha da cintura, e eu sabia que teria que pedir a minha mãe para dar um jeito com a tesoura, logo. Antes de abrir a porta, tomei cuidado de alinhar as roupas e conferir minha aparência pelo visor do celular. Desde a briga com Yolanda, mami presumia que eu andara brigando quando chegava em casa minimamente descabelada.

Peguei a chave debaixo do tapete de entrada e girei na fechadura. A máquina de costura zumbia no seu próprio ritmo, o que significava que minha mãe estava trabalhando. As paredes verdes da sala me recepcionaram, lembrando que precisavam de uma boa pintura.

Javier e eu faríamos aquilo no final de semana, eu quase havia me esquecido. Mais um motivo para querer enforcar o desgraçado, pensei e, empurrando para baixo o nó na garganta, sorri para a mulher lá dentro.

— Isabel, mi amor! — minha mãe, Carmen, sorriu sem desviar os olhos do tecido que vinha costurando. — Que bom que você chegou. Venha cá!

Ela tinha sido linda na juventude e os anos também haviam sido generosos com essa beleza. Enquanto as mães dos meus colegas andavam em carrões e passavam as tardes no salão de beleza, minha mãe vivia inclinada sobre a máquina de costura, mesmo assim, era a mulher mais doce, amorosa e corajosa que eu já tinha conhecido.

— Hey, mami. Còmo passa?

— O que foi que aconteceu? — ela arregalou os olhos quando me viu. — Não me diga que andou brigando de novo, Isabel!

Eu quis revirar os olhos, mas me segurei com todas as forças. Minha mãe era a pessoa que eu mais respeitava nessa vida. Além disso, eu não queria comprar uma briga com Dona Carmen!

Quando ela interrompeu o trabalho da máquina, o silêncio preencheu o ar, de um jeito que o barulho anterior era muito mais aceitável e a falta dele parecia dolorosa.

— Não é nada disso. Estou bem... é só essa caminhada que me cansa. Quando as aulas voltarem, juro que vou economizar cada centavo para pegar um ônibus.

— Você tem as próximas duas semanas para descansar. Então nada de festinhas ou disputas de carros, ouviu bem?

— Rachas — dei de ombros. —Não se preocupe, odeio esse tipo de coisa.

A única razão de eu ter frequentado rachas no passado tinha sido Javier. Agora que não estávamos mais juntos não fazia o menor sentido continuar comparecendo. Aqueles lugares existiam com a única desculpa de inflar o ego dos homens e encher garotas de bebidas para que elas não tivessem a menor ideia no que estavam se metendo.

— Fico aliviada — ela soltou o ar pela boca dramaticamente. — Agora venha aqui conversar um pouco, antes de eu voltar ao trabalho.

Pendurei o casaco atrás da porta e atravessei a curta distância pela sala de visitas entulhada de instrumentos de costura, livros velhos e mobiliário antigo. Estávamos sempre limpando tudo e mantendo organizado, mas, no final do semestre, não sobrava muito tempo entre as aulas, trabalhos e estudos. Então, essa tarde, tudo estava meio bagunçado. Mesmo assim, o cheiro de limpeza enchia o ambiente.

Minha mãe sempre tinha sido muito caprichosa. Infelizmente, a artrite a impedia, às vezes, de executar os movimentos mais básicos. Eu morria de tristeza em vê-la se contorcer de dor no momento das crises, por isso, minha felicidade ao encontrá-la trabalhando, aquela tarde, foi acompanhada de um sentimento de dor e culpa.

Inclinei-me, deixando um beijo demorado no seu rosto.

— Você está costurando. Seus dedos não vão doer mais tarde?

— Infelizmente, sim. Vou ter que parar logo. Essa droga de artrite... enfim, são só os trapos velhos da vizinha. E você sabe que ela não vai me pagar até o marido ter dinheiro.

— Você não devia aceitar fiado, mami! Ela abusa da sua boa vontade.

— Se eu não aceito é pior, Isabel. Ficamos sem comer e pagar as contas. De onde vou tirar dinheiro?

Ser pobre era realmente um castigo, pensei, com tristeza, e quando minha mãe exalou um suspiro cansado, o meu coração se apertou. As bolsas escuras sob os olhos me preocupavam. Eu pegava todos os turnos possíveis na lanchonete perto de casa e tantas noites quanto conseguia no bar, durante o fim de semana. A maior parte do dinheiro ia para as consultas médicas da minha mãe e o que sobrava, para as despesas da casa.

Minha mãe deve ter visto a expressão no meu rosto porque logo sorriu, gentilmente.

— Você é uma filha tão maravilhosa! Além disso, olha só esse rostinho lindo — ela levantou-se e me guiou até o espelho rachado na parede. — Parece tanto comigo quando era mais jovem!

Olhei para o meu reflexo. Eu não era exatamente parecida com ela — ou com como ela era. Meus traços eram meio exóticos — a boca pequena e volumosa, o nariz arrebitado —, enquanto os dela eram mais delicados. Eu tinha olhos castanhos, que eram mais escuros, também. Só nossos cabelos eram parecidos e nossos tons de pele.

Fosse o que fosse, a aparência não havia sido o bastante para manter Javier na linha. Talvez porque eu não estivesse disposta a dar o que ele queria, vai saber. Uma vez, o cabròn me acusou de não dar a devida atenção a ele. Que livramento então! Mas, na verdade, minha vida era uma correria e eu estava sempre ocupada com coisas mais importantes. Isso era verdade.

— Você se engana — com seus braços me envolvendo por trás, nos admiramos no espelho juntas. — Eu não sou uma deusa da beleza como você.

— Sim, eu fui muito bonita realmente — o termo passado não me passou despercebido. Pobre mami! Ela devia morrer de saudades dos velhos tempos, quando não tinha que se preocupar tanto. — Mas você é bilhões de vezes mais linda, inteligente e interessante. Qualquer homem daria um braço para ter uma mulher como você ao lado.

— Nem todos...

— Qualquer homem com mais de dois neurônios. Esqueça aquele cabròn!

Mordi as bochechas por dentro. Minha mãe estava certa como sempre. Javier era parte do passado. Eu deveria me concentrar no futuro, e o futuro era conseguir meu diploma em Finanças e um emprego que nos tirasse da pobreza. Eu não precisava ser rica. Na verdade, a riqueza não me interessava nem um pouco. Se eu pudesse dar uma vida digna a minha mãe, então teria conquistado meus sonhos.

— Você é minha mãe. Não diria outra coisa mesmo se eu não tivesse os dentes da frente e um olho no meio da testa...

— Claro que não. Minha honestidade em primeiro lugar — ela beijou os dedos em cruz, depois me abraçou de novo. — Se o seu pai não tivesse nos deixado, você teria uma vida diferente. Teria muitos rapazes bonitos se jogando aos seus pés.

— Isso não me importa nem um pouco.

— Eu sei, você quer estudar e vencer na vida. E está certa... mas dinheiro não faria mal, agora —ela suspirou e o meu peito se apertou de novo. — Sabe, por mais que eu reze, Isabel, as vezes é difícil enxergar uma luz.

Suas palavras me chocaram. Minha mãe sempre tinha sido muito religiosa. Estava sempre agarrada às suas crenças e, desde que eu era um bebezinho, tenho recordações de vê-la com seus santos e velas, rezando terços e indo à missa todos os domingos.

— Você sempre foi o meu alicerce, Dona Carmen. Por favor, não desista agora. Juro que, quando me formar, as coisas serão diferentes —prometi, cheia de convicção. — Vou dar a vida de rainha que você merece.

— Eu não preciso de mais nada, meu amor. Mas me preocupo com você —ela estreitou os olhos. — Diga uma coisa... como ficou aquela história do estágio? Você ficou de conversar com os professores. Conseguiu alguma coisa?

Balancei a cabeça, com desgosto.

— Já imaginava, mamãe. Ficou tudo na mesma. Todas as vagas preenchidas. Vou precisar esperar e tentar de novo no ano que vem.

— Tudo bem.... pois é sobre isso que quero te falar.

Eu me virei então, devagar. Seus olhos estavam brilhantes, mas cautelosos. Era como se ela carregasse o segredo do universo dentro dela, mas não quisesse entregá-lo, todo de uma vez, de bandeja.

— Quanto suspense, mami!

— Não seja estraga prazeres. Me deixa curtir bastante o momento — ela sorriu, acariciando meu cabelo que escapava em mechas do rabo de cavalo. — Isabel, minha querida, acho que consegui um estágio para você.

Por um instante, eu só olhei para ela desorientada.

— Impossível. Todos os estágios já foram iniciados esse ano. Quem quer que tenha prometido estágio em troca de costura é um cabròn.

— Olha a boca, Isabel!

— Faça o que eu digo, mas não fale o que eu falo — eu sorri. — Tudo bem, entendi. E quem é o misterioso anjo da guarda?

— Tenho um amigo que conhece uma pessoa — ela fez uma pausa, aumentando a tensão. — Já ouviu falar da Carter Inc.?

— Não. É daqui de Monterrey?

— Não — ela balançou a cabeça, com a expressão séria. — Longe de Monterrey, mi amor. É uma empresa grande, que fica em Nova York. Diga, não tem vontade de conhecer Nova York?

Alguns colegas do Instituto haviam sido despachados de mala e cuia pelos pais para os Estados Unidos, mas eles tinham condições com as quais eu simplesmente nem sonhava.

Aquilo era tão absurdo! Impossível levar a sério!

— Eu não teria dinheiro para me manter lá —dei de ombros. — O custo de vida é altíssimo. Além disso, eu estou contente em estar aqui para cuidar de você.

— Oh, mi hija, como te amo! — ela segurou meu rosto entre as mãos e o encheu de beijos. — Sou abençoada por ter você na minha vida. Mas não se preocupe. Você pode trancar a faculdade se necessário, não pode?

— Acho que sim, mas...

— O meu amigo vai fornecer uma pequena ajuda de custo. Uma garota desistiu e eles precisam de uma substituta — ela respirou fundo, olhando em meus olhos. — Quem sabe você não é efetivada? Quem sabe não é essa a sua grande chance?

Eu a ouvia cautelosamente. Ainda me recusava a ficar toda empolgada por uma coisa que me cheirava a ilusão. No meu mundo, as coisas não caiam do céu assim. Eu lutava por elas e, muitas vezes, mesmo assim, não conseguia.

— Tem certeza de que não é um engano?

— É claro, Isabel! É claro que sim, eu te acabei de te dizer. E esse meu amigo é de muita confiança. Falei a ele sobre você, como é uma menina dedicada e estudiosa, e vem se saindo tão bem na faculdade. Você tem as melhores notas.

Balancei a cabeça, lutando contra a onda de adrenalina que ameaça dominar o meu corpo. Um estágio? E nos Estados Unidos? Isso era muito mais do que eu tinha pedido a Deus. Só podia ser um engano... um engano horrível que me deixaria de coração partido no dia seguinte.

—Eu precisaria ver o visto, passaporte e passagem... não sei se conseguiria tudo a tempo. Para quando esse seu amigo...?

— Não se preocupe. Ele providenciará tudo.

Olhei para ela, atordoada.

— E que amigo é esse? De onde apareceu?

— Dos velhos tempos. Quando o seu pai ainda estava conosco — ela sacudiu a cabeça. — Uma longa história. Não se preocupe, o que importa é saber que ele tem contatos influentes e, na semana que vem, prometo que você estará em um avião para Nova York, se é o que você deseja.

Levei a mão até a boca. Meu coração bateu com tanta força que achei que fosse explodir. Se aquilo fosse verdade e tudo desse certo, com um emprego em Nova York, nós duas poderíamos nos mudar, algum dia, e começar uma nova vida longe de Monterrey.

— Mami, seria a realização de um sonho! Eu quero muito, com todo o coração. Mas me diga, você acha que eu devo? — cruzei os braços, nervosa. — Não quero ter que deixar você aqui e...

— Querida, eu confio muito em você. Não quero que desperdice essa oportunidade. Pode ser a chance de ter uma carreira e a vida decente que você merece.

—Que nós duas merecemos.

— Sim, Isabel — ela juntou as mãos diante do rosto e me olhou emocionada. — Então me diga, você aceita? Vai mesmo para os Estados Unidos?

A insegurança se esvaiu dentro de mim. Eu olhei para ela com uma convicção inabalável.

— Diga ao seu amigo que aceito o convite — abri um sorriso satisfeito, as pernas bambas. — E quero sua ajuda para fazer as malas. Acho que não tenho nada apropriado.

— Que ótimo, Isabel! Eu fico muito satisfeita, nós vamos dar um jeito quanto as roupas — os seus olhos brilharam. — Tenho muito orgulho de você, sabia?

Uma onda de emoção extrema me atravessou em cheio. Eu faria qualquer coisa por essa mulher que me criou. Qualquer coisa.

— Não fale assim, mami — enxuguei os cantos dos olhos com os dedos. — Não sou uma florzinha e não costumo chorar, mas você me deixa com a garganta apertada.

Eu não tinha mentido. Minha mãe era minha força, meu alicerce. Mas também era meu ponto fraco, o meu calcanhar de Aquiles. Por ela, eu morreria e mataria.

— Tem uma coisa, Isabel.

— O que?

— Tem algo que você deve fazer pelo meu amigo — ela disse, com uma expressão tensa que me deixou de alerta. — Esse senhor precisa de um favor e acha que você pode ajudá-lo.

Suas palavras foram como um balde de água fria. Aí estava, um favor.

No meu mundo nada, absolutamente nada, era de graça.

— Que favor?

— O presidente dessa empresa é um homem difícil e muito exigente.

— Não é à toa que a outra foi embora. Imagino que não aguentou trabalhar para ele.

Ela me apontou o dedo.

— O que me lembra que você tem que controlar esse temperamento, hein. Nada de sair trocando tapas com o seu chefe.

— Pelo amor de Deus, mujer!

— Sei que você, às vezes, fica fora de controle com esse sangue quente. Veja o que aconteceu com a pobre Yolanda, que era sua melhor amiga.

— De pobre aquela não tem nada, acredite —só pensar em Yolanda me encheu de raiva. — Com relação ao seu amigo, diga-me o que eu tenho que fazer.

— Está bem. Meu amigo tem muito interesse em fazer negócios com esse homem, mas não consegue porque chegar a ele é um tormento!

— Posso imaginar. Assim é com os empresários poderosos. Eles têm um exército para lidar com todos.

— Você entendeu muito bem. O que ele quer é a sua ajuda. Que você crie algum tipo de conexão entre os dois.

— Quer que eu os aproxime.

— Sim, cariño.

Ela enfiou as duas mechas soltas do meu cabelo atrás das orelhas.

— Bem, o que você acha? Ainda tem interesse?

Minha pele toda formigou.

— Se eu tenho interesse? É claro, mami! Achei que seu amigo pediria que eu matasse um homem ou não sei...

— Nossa, como é boba, Isabel!

Eu estava brincando, mas estava tremendo toda por dentro.

— Diga a ele que acabou de conseguir uma melhor amiga. Pode contar comigo para o que precisar.

De repente, esqueço Yolanda, esqueço Javier, esqueço tudo que não tem a menor relevância. Um estágio em Nova York, de última hora, e em uma grande companhia?

Eu mesma acenderia velas para os santos, essa tarde!

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