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Capítulo 6 Fui pega por Kael

— Seraph, deve ter uma festa de comemoração depois, né? Vamo ficar para curtir? — Evelyn adorava reuniões animadas e não queria perder a festa pós-luta.

— Claro — respondi. Eu não tinha nada melhor para fazer, então decidi ficar.

Na hora, um cara com kit médico chegou perto do Kael e passou uma pomada nos cortes do rosto dele.

— Seraph, olha! Esse médico é um gato. Deve ser estudante ainda, não acha? — Evelyn me puxou pelo braço, insistindo para eu olhar.

O moço era loiro de olhos azuis, de jaleco branco. Passava uma vibe super gentil. Alto, devia ter uns 1,80, mas era magro e esguio, bem diferente do Kael bombado. Quando sorria, os olhos ficavam meio curvados e ele falava com a galera do time de boxe num jeitinho manso.

— Seraph, acho que ele é muito legal. Não seria melhor pegar um médico que nem ele do que um boxeador? Você sabe como é esses atletas, muito enérgicos. Eles vivem caçando confusão quando estão sem treino.

— Se você gosta dele, vá em frente. Não estou interessada — eu disse. Tendo acabado de passar por um doloroso término de namoro, eu não tinha a menor intenção de começar um novo relacionamento tão cedo.

— Seraph, precisa relaxar um pouco — Evelyn me confortou. — Venha, bora tomar um drinque.

Dessa vez, a festa de comemoração do Clube Eagles foi realizada em um gramado ao ar livre. Foi animada, com bebidas, comidas e Vivienne e suas amigas fazendo show no meio do campo, cantando e dançando no centro do gramado, chamando a atenção de todos.

Eu e Evelyn ficamos num cantinho mais quieto, sentadas na grama bebendo e fugindo do rebuliço.

— Com licença, posso me juntar a vocês? — alguém perguntou, e antes da gente responder já tava sentando do nosso lado.

Quando viramos, era o médico bonitão que tinha cuidado do Kael.

Ele fez cara de pidão.

— Acabaram os lugares e esse canto parece mais tranquilo.

— Não tem problema, fique à vontade para se sentar aqui. Eu sou a Evelyn. Prazer em conhecê-lo — ela já meteu o sorriso de 1000 watts e apertou a mão dele.

— Magnus — ele se apresentou, devolvendo o cumprimento. Aí virou pra mim com uns olhos azul oceano que pareciam derreter.

— Seraphina — falei sorrindo.

— Seraphina, esse é um nome lindo — ele respondeu, sorrindo e estendendo a mão pra mim também.

Do outro lado acenderam uma fogueira e a galera mais nova correu pra dançar em volta.

Evelyn imediatamente se voltou para Magnus.

— Bora ir pra roda aí?

Ele me encarou e, por um instante, deu para sentir que tava esperando alguma coisa de mim.

Mas no momento, eu não estava interessada em nenhum homem.

— Vocês dois podem ir na frente. Não estou com vontade de me mexer agora — falei, já me encostando no canto.

— Tudo bem — Magnus suspirou, não disfarçando a decepção.

Os dois saíram pra pista, me deixando sozinha no canto com meu drink na mão. Foi quando uma voz cortou meus pensamentos.

— Seraph! Você veio! Sabia que ainda me amava! Por isso apareceu no Clube Eagles para me ver, certo? — Lucian me agarrou pelos ombros, a voz vibrante de uma excitação que me fez encolher.

Antes que eu reagisse, ele já estava dando aquela enrolação clássica:

— O que aconteceu com Vivienne foi apenas um mal-entendido. Fiquei matutando nisso esses dias... Não faz isso comigo. Te dou o que você quiser.

Ele apertou mais forte os dedos em meus ombros, fazendo eu franzir a testa de dor.

Puta merda, como não tinha visto ele antes? Quando que esse otário chegou?

Me afastei dois passos, tentando botar espaço entre nós.

— Fique longe de mim! — Eu gritei para ele, a mão formando um punho. — Nós terminamos. Por favor, mostre algum respeito!

Ele realmente achava que eu ia esquecer aquela noite? Nunca. Jamais apagaria da memória como ele caguetou nosso amor.

— Seraph, isso não é verdade. Você ainda me ama — insistiu Lucian, teimoso que nem jumento em feira.

Foi quando senti o peso de um olhar. Pelo canto do olho, Kael observava a cena.

Quando ele tinha aparecido? E por que raios estava me encarando?

Eu tinha vindo toda produzida, maquiagem pesada cobrindo meus traços. Impossível ele me reconhecer. A menos que identificasse pessoas pelo cheiro, igual cachorro farejador.

Kael e eu éramos de mundos completamente diferentes.

— Lucian, ainda está nessa de correr atrás dessa patricinha? — A voz melosa da Vivienne cortou o clima, cheia daquele deboche que me dava ânsia.

— Não sou melhor do que essa remelenta? — Vivienne agarrou o braço dele. — Me diga, quem é mais gostosa, eu ou ela?

Lucian hesitou, olhando entre mim e Vivienne. Seu silêncio e o olhar provocador de Vivienne pareciam uma faca em meu coração. As feridas já eram profundas o suficiente, e agora Vivienne estava torcendo a lâmina.

— Vivienne, ela é minha namorada — ele gaguejou, fraco.

— Namorada? — ela deu uma risadinha afiada. — Essa ai tem pavio curto e nem bonita é. O que te prende nela? Olha minhas amigas. Todas elas são sensuais. Te apresento qualquer uma.

— Eu...

— Chega! — cortei, a voz saindo mais áspera do que pretendia. — Lucian e eu terminamos. Não sou seu brinquedo, Vivienne. Você se acha tão popular, mas não conseguiu nem conquistar o coração do Kael, né?

Eu joguei na cara, atingindo o ponto fraco.

A expressão horrorizada dela me deu uma satisfação doentia, momentaneamente abafando a dor no peito.

— Sua vadia! Quem você pensa que é? — Vivienne rugiu, me atacando como um leão enfurecido.

Lucian segurou ela pelos braços.

— Vivienne, calma. A Seraph não quis dizer...

Enquanto Lucian segurava Vivienne, aproveitei a chance de escapar.

Aquele lugar parecia um inferno. Nem mais um minuto eu aguentaria ficar.

Saí da festa e mandei uma mensagem para Evelyn avisando que se divertisse sem pensar em mim.

Enquanto me afastava, colidi com algo que julguei ser uma parede - exceto pelo fato de estar morna e maleável. Uma superfície quente, onde sentia a cadência rítmica de um coração pulsando contra meu corpo.

Meu peito disparou enquanto um zumbido esquisito invadia meus ouvidos, me forçando a proteger a cabeça com as mãos.

Ao erguer os olhos, me deparei com o rosto angular e desconcertantemente belo de Kael.

Seus olhos castanhos profundos cintilavam com reflexos dourados, carregados de uma intensidade inquisitiva que parecia querer atravessar minha alma.

Por que aqueles olhos escuros brilhariam assim? Acreditei ser ilusão, mas ao me aproximar, o fulgor já havia se esvaído.

— Nós nos conhecemos no bar naquela noite, não foi? — Kael me fitou com atenção cirúrgica, chegando a sustentar meu queixo com os dedos.

Sem qualquer cerimônia, enterrou o rosto na curva do meu pescoço, aspirando profundamente como quem confirma a autenticidade de um perfume.

O gesto ultrapassava todos os limites, mas meus membros pesavam como chumbo. Me sentia enredada.

— É você, não é? Ouvi dizer que você é Seraphina?

As palavras ecoaram como ameaça. Que interesse teria um playboy daqueles em me rastrear com tanto empenho?

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