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Capítulo 4 Lucian reaparece

Nesse momento, eu já estava mais calma, mas quando seu olhar cruzou com o meu, o zumbido nos ouvidos retomou. Era um medo irracional, inexplicável. Eu deveria manter a compostura. Jamais deveria ter permitido que Kael me reconhecesse. Após um caso de uma noite, eu precisava apagar tudo da memória. Por mais que meu corpo reagisse incontrolavelmente a ele, minha razão insistia: não devia provocá-lo. Baixei a cabeça às pressas e arrastei Evelyn para sair dali, mas Kael já se afastara antes.

Antes que eu conseguisse respirar aliviada, Vivienne me avistou à distância. Aproximou-se como uma felina altiva, saltos altos ecoando a cada passo.

— Olha só, é aquela vadia da Vivienne — cravou Evelyn. — Pronta para uma briga? Vou te ajudar acabar com ela!

Ah, eu ainda não havia contado à Evelyn o que aconteceu na noite passada. Não contei a ela que havia temperado o maravilhoso amor deles com vinho tinto e bolo de creme! Evelyn se interpôs à minha frente e gritou:

— Sua vadia! Não consegue largar namorados de outras pessoas, não é?

— Que merda você está falando? — Vivienne encarou Evelyn de alto a baixo. — Você não é prioridade. Cuido de você depois.

Fez sinal para as amigas cercarem Evelyn. Ela tentou se livrar, mas não tinha força. Intervim, berrando:

— Ei, larguem ela!

— Seraphina? Tem coragem de aparecer na minha frente? Está liquidada! — Vivienne zombou, com os olhos cheios de desprezo.

Ajustei os óculos e lancei um olhar calmante para Evelyn. Mesmo assim, ela permaneceu em guarda, vigiando Vivienne.

Me voltando para Vivienne, respondi:

— Então, o pau com sabor de morango foi doce o suficiente para você?

O rosto de Vivienne se distorceu em raiva.

— Sua vadia! Acha que escapa do que fez comigo? Vou te expor pelada hoje mesmo no Instagram! — Ela se arremessou contra mim, com toda sua beleza recuperada - nada daquele desastre do dia passado. .

Um ano mais velha, alta, silhueta escultural, rosto de anjo e madeixas douradas que brilhavam sob o sol. Vivienne era deslumbrante, e por isso liderava as líderes de torcida. No entanto, seu grupinho adorava atormentar as colegas. As garotas a evitavam, mas os rapazes estavam desesperados para ter uma chance de transar com as amigas dela.

Nunca imaginei que ela me escolhesse como alvo. Deve ser porque Lucian não a satisfez. O que mais me intrigou foi o fato de ela ter me reconhecido antes de Kael. Antes que eu reagisse, Vivienne deu dois passos à frente, franzindo o nariz.

— Que troço é esse que você está exalando?

Fiquei perplexa. Não passava nenhum perfume pela manhã. De repente, seus olhos se arregalaram e sua expressão mudou. Ela avançou, me farejando como uma hiena. Dei um passo para trás, apertando minha bolsa, pronta para correr.

— Fique longe de mim. Não quero que seu mau cheiro me contamine.

Vivienne pareceu estarrecida com meu atrevimento. Seus olhos se estreitaram num olhar penetrante que me perfurava.

— Onde você esteve ontem à noite? Com quem transou? — Suas unhas afiadas apontaram para meu rosto como garras de bruxa. Me esquivei do golpe, mas ela insistia em me acuar. — Sua vagabunda! Me diga o que aconteceu!

Peguei um copo de água e joguei bem no rosto dela. Vivienne guinchou ao recuar, sua maquiagem impecável escorrendo em manchas grotescas. Risadas ecoaram ao redor. Seus olhos se cravaram em mim com fúria homicida.

— Sua vadia! Sua nerd! Como tem coragem de fazer isso comigo? Não vai sair impune dessa! — Ela protegeu o rosto aos berros.

— Deveria cuidar da própria racha, sua bisca nojenta. Tem noção de quantos machos já meteram em você? Sabe quantas doenças carrega nessa boceta? Nem espanta que o Kael te rejeite — provoquei, a voz carregada de veneno.

— Sua puta! Você ficou com o Kael! Vou te matar! — Vivienne gritou, me atacando como uma louca.

— Kael! — gritei estridente, simulando um olhar além dela. No instante em que se virou, escapei em disparada.

— Seraph, ela não vai engolir essa — alertou Evelyn ao me alcançar, com uma nuança de apreensão. — Mas não se preocupe, eu te cubro. Se tentar algo, faço ela morder o pó.

Eu sabia que Vivienne não desistiria facilmente, mas uma satisfação íntima me invadiu. Mesmo que eu tivesse recuado, ela não me deixaria escapar. Portanto, era melhor manter a postura desde o início.

Uma presença me fez girar. Deparou-se comigo o rosto perfeito de Kael. Ele não tinha ido embora? Será que ele teria ouvido seu nome? Ele me encarou, com a testa franzida, como se estivesse tentando decifrar enigma. Seu olhar me acelerou o coração, reavivando o zumbido estranho nos ouvidos.

Droga, por que ele me afetava tanto? Um desconforto misturado à culpa me invadiu, embora certa de que não me reconheceria. A diferença entre eu com e sem maquiagem era abissal. Nem Evelyn notaria, quanto mais um cara com quem apenas passava uma noite. Era impossível!

Puxei Evelyn pelo braço, mas mesmo à distância sentia o olhar de Kael queimando minhas costas. Quando nos afastamos, ela comentou:

— O Kael te esquadrinhou todinha. Será que ele tem uma queda por você? Você realmente deu para ele? Sumiu a noite toda ontem...

Meus olhos se arregalaram em choque. A pergunta fulminante fez meu peito explodir. Será que ela sabia? Será que eu havia dito algo que não deveria? Soltei sem pensar:

— De jeito nenhum, você deve estar enganada.

— Você tem razão. Você e Kael nem se misturam — disse Evelyn, surpresa com minha reação. — Eu estava apenas brincando. Mas, sinceramente, acho que você deveria ficar longe dele. Tem algo na aura dele... Parece... Perigoso.

— Por que diz isso? — indaguei.

— Não está lembrando? Na minha família isso é sensibilidade hereditária para certas energias — explicou Evelyn, para depois dar uma risadinha despretensiosa. — Mas pensando bem, capaz que o cara só tenha um animal de estimação em casa. Nem se compara com a percepção da minha mãe, né? — Deu uma batidinha no meu ombro, meio sem graça. — Seja como for, ele está fora do nosso circuito, Seraph. Você precisa ter mais cuidado com a Vivienne.

Balancei a cabeça em concordância. Nem precisava dela me lembrar de ficar esperta. Fraquinha eu não era, e se Vivienne encostasse o dedo de novo, ia ter troco. Aquele plano de ficar com o Kael, o crush dela, ainda me dava um quentinho vingativo no peito. Pela reação que ela deu hoje, parecia que tinha descoberto a parada. Mas eu não tinha medo dela.

Depois de arrastar o corpo de uma aula pra outra, decidi cair no apartamento mais cedo para recuperar o fôlego. Evelyn foi pro ensaio do grupo de dança dela. Duas horinhas de sono não davam pro gasto, estava morta-viva. Andava igual zumbi, com o cérebro no modo automático, movendo só no instinto. Precisava era de uma soneca pra botar pra fora toda a mágoa e ódio acumulados.

Do nada, um braço me enroscou pelo pescoço por trás, puxando com força. Engasguei com o susto, a vista embaçou e o pescoço pareceu que ia rachar. Que porra era essa? Tão me assaltando no meio da rua? O coração disparou, a ponto de quase saltar do peito. Gritei sem pensar, totalmente desorientada.

Aí veio a voz de homem, lá de cima:

— Seraph, sou eu!

Em um instante, o medo se transformou em raiva. Era Lucian. Que diabo ele queria aqui? Antes aquele abraço até que acalmava, agora dava nojo. Ele havia abraçado Vivienne da mesma forma ontem, não havia? Nu, seu corpo pressionado contra o dela, seu pênis dentro dela. A ideia me deixou doente.

Me contorci toda, batendo nele com unhas e dentes, mas os braços dele pareciam de concreto armado. Quando já estava quase roxa, ele afrouxou o aperto, com aqueles olhos de cachorro pidão.

— Seraph, me desculpe! Deixa eu explicar! Eu te amo. O que aconteceu com Vivienne foi apenas uma noite. Me dá mais uma chance, por favor!

O rosto de Lucian estava completamente desfigurado. Lembrei que eu mesma tinha acertado ele com um abajur naquela noite, deixando roxos e cortes nas bochechas e na boca. Ele parecia um palhaço de circo. Antes, era um garoto bonitão, com aqueles olhos azul-profundo e um sorriso quente que parecia um raio de sol. Era tipo um filho da luz, iluminando todo mundo ao redor. Foi isso que me fisgou. Mas agora, a cara dele estava sombria, teimosa e cheia de ansiedade. Não era mais o Lucian que eu conhecia.

— Me deixa em paz, Lucian. Acabou entre a gente — disse ao franzir a testa.

— Eu não aceito isso.

— Você é que nem cachorro no cio, transando mesmo tendo namorada. E agora vem dizer que me ama? É assim que você prova amor? – Apertei meus cadernos com força, enterrando as unhas nas palmas pra não atirar tudo nele.

— Desculpe. Foi sem querer, juro. Vivienne me chamou pra tomar um drink, e uma coisa puxou a outra. Eu nunca quis que isso acontecesse... — Ele passou as mãos pelos cachos desgrenhados, parecendo um cachorro abandonado. — Por favor, se você me der mais uma chance, eu assumo nosso relacionamento publicamente. Faço qualquer coisa!

— Saia da minha frente! — Dei um empurrão com todas as forças e saí correndo como se tivesse o capeta no meu pé.

Os olhos vazaram lágrimas que escorriam pelo queixo enquanto corria. Arranquei os óculos e esfreguei as pálpebras com força, mas o choro não parava. Merda, eu não devia estar sendo tão fraca. A onda de tristeza me arrastou feito ressaca, deixando a cabeça vazia. Pisou numa pedra do caminho e caí de cara, ralando as mãos e os joelhos. A dor fisgou, mas de um jeito bom. Talvez machucar o corpo amenizasse a facada no peito.

Esfreguei a terra da roupa e levantei, arrastando os pés até meu apê. Só queria me enfiar num buraco e digerir essa merda sozinha. Ninguém precisava me ver naquele estado.

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