Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Capítulo 2

"É inútil a tentativa de esconder-se. Enquanto você tenta enganar o mundo, as pessoas, e sua mente... seu coração e sua essência bateram na sua porta todos os dias para te lembrar de quem você é. Isso te assusta?"

- Dara Muniz.

No dia seguinte, acordei com o barulho do meu celular me avisando que havia chegado um novo e-mail, e isso me deixou animada pois poderia ser a resposta de alguma empresa que enviei currículo.

Corri me levantar e fazer as higienes matinais, e só depois me sentei na frente do computador e me preparei mentalmente para abrir minha caixa de e-mail e dito e feito, lá estava um novo e-mail da I.M.W sobre a minha candidatura para a vaga de analista em contabilidade.

Comecei a ler com calma o e-mail até chegar a resposta que eu tanto queria, e sim, fui convidada para fazer a entrevista no dia seguinte, e precisava estar lá ás 9:30 em ponto.

Eu fiquei tão feliz que comecei a comemorar antes da hora, que só depois minha ficha caiu, eu não havia ainda contado para os meus pais sobre minha decisão de ir para a Seul, ou melhor, de trabalhar em Seul.

Desci as escadas correndo encontrando todo mundo na sala conversando, inclusive minha prima com a minha tia.

- O que houve? Parece que a casa vai desabar. - Perguntou minha tia, e minha prima estava ao lado dela já imaginando o que seria.

- Eu recebi um convite para uma entrevista na empresa I.M.W. Company.- Respondi feliz. - É na capital. - Essa última parte eu sussurrei, mas minha mãe ouviu.

- O que? Em Seul? - Perguntou ela se aproximando e depois meu pai.

- Mas, você não disse que gostaria de herdar a minha loja de roupas, filha? - Perguntou meu pai surpreso.

- Eu nunca disse isso. - Respondi surpresa. - Eu não quero ser dona de loja, eu quero ser uma contabilista, se não, por que fiz contabilidade? - Perguntei o óbvio.

- Então, seja a contadora da nossa loja. - Respondeu meu pai, e eu revirei os olhos. - Você é tão descuidada Sophie, e se for para uma empresa grande e ainda mais, se for na pra Capital, não acho que duraria muito tempo.

- Mas pai, esse tipo de coisa é necessária, para que eu possa aprender e adquirir experiência, não é Bora? - Joguei a bola para minha prima me ajudar.

- Sim tio, isso é bom para a Sophie adquirir experiência, por favor, deixe ela experimentar isso, e ela sabe que se não der certo, ela tem o apoio da família para voltar.

- Mas ela ainda não foi contratada, é apenas uma entrevista. - Disse minha tia. - Na entrevista, eles vão perceber que não é confiável, e definitivamente não irão querer você. - Minha tia sabia bem como me deixar frustrada, mas eu não daria esse gostinho a ela.

- Então, deixe-me ir a Seul, para testar minha capacidade na entrevista, e se eu receber um não, já estarei conformada e se eu receber um sim, será algo bom.- E olhei para meu pai. - Pode ser pai? Por favor? Em? - Comecei a implorar.

- Você tem apenas 23 anos, como posso confiar que vá sozinha até Seul? É apenas uma menina!- Ele respondeu.

- Se tem tanto medo assim, deste jeito, nunca poderei fazer nada na minha vida. - O encarei.

- Você já pensou sobre isso filha? Digo, sobre sua saúde, por que o teu tipo de sangue é raro, e isso nos dá mais medo ainda. - Desta vez minha mãe respondeu. - Se algo acontecer com você, eu não sei o que seria de nós. - E meu pai apenas concordou com a cabeça.

- Então, se eu não posso fazer nada, qual o sentido da minha vida? A prisão? - Perguntei me levantando da mesa. - Mesmo que eu seja uma mulher, eu também quero ter autonomia, ajudar meus pais e meu avô. - Eu segurava as lágrimas que insistiam em cair. - O que posso fazer se vocês, meus pais, não conseguem me entender ou confiar em mim? - Perguntei voltando a me sentar na mesa, eu estava frustrada com as atitudes deles.

- Eu quero que todos parem de falar. - Pediu meu avô. - Eu decidi! - Afirmou ele e todos o encaramos, principalmente eu. - Se alguém ousar ou tentar impedir que a Sophie vá para Seul, terá que se ver comigo, combinado? - Respondeu ele e todos ficaram surpresos com sua decisão.

- Obrigada vovô. - Respondi deixando as lágrimas finalmente saírem de alívio e felicidade, e corri em sua direção para o abraçar, apesar dos meus pais não apoiarem a decisão, eles não questionavam ou retrucavam, pois em tudo, quem dava a última palavra, era ele.

Após essa pequena crise familiar, o resto do dia correu tudo bem, mas com uma pitada de ansiedade pois eu pegaria o ônibus para a capital no final do dia e passaria a noite em um hotel, para que desse tempo de me preparar e chegar no horário na entrevista, não era aquele hotel chique, mas uma pequena pensão que tinha em Seul.

Deixei tudo organizado após o almoço e aproveitei para levar algumas coisas extras, pois nunca sabemos o que aconteceria lá, e se pedissem para eu começar imediatamente? Então, era melhor estar prevenida para qualquer situação.

Quando deu o horário, meu pai me levou até a rodoviária da pequena cidade, me desejou boa sorte antes que eu entrasse no ônibus e eu sabia que ele estava preocupado e com certo receio, mas aquele era meu sonho e não poderia deixar esta oportunidade passar.

Lógico que vem os pensamentos ruins, mas tentava manter acima de tudo os pensamentos positivos sobre a entrevista, e tinha dentro de mim que a resposta seria sim, eu iria conseguir a vaga.

Como a viagem era longa, peguei meus fones de ouvidos e comecei a ouvir algumas coisas aleatórias para que o tempo passasse mais rápido, e quando percebi, eu havia dormido quase a viagem toda, acordando apenas quando chegamos em Seul, a capital mais desejada do país.

Ao desembarcar, peguei minhas coisas e fui direto para o hotel, eu precisava descansar e me preparar para o amanhã e também para qualquer situação que poderia acontecer.

***

No dia seguinte, acordei por volta das 06:30 e comecei a arrumar minhas coisas e treinar como eu poderia me apresentar na frente do gestor, e coisas do tipo.

Quando olhei no relógio a hora tinha passado consideravelmente rápido e já era quase 08:00 da manhã, então peguei minhas coisas que cabia tudo dentro de uma pequena mochila e fui direto para a I.M.W, pois eu tinha vários históricos de atrasos e de me perder pelo caminho.

Consegui chegar lá faltando meia hora, e do lado de fora comecei a admirar o prédio e imaginar o quão rico eram os donos e acionistas.

O prédio da Diamond era enorme e tinha mais de 23 andares, sendo o último andar da presidência, e desde a porta era uma correria para lá e para cá dos funcionários, e isso me deixava mais ansiosa ainda em trabalhar em uma empresa grande, era liberalmente aquela cena dos filmes em que a protagonista trabalha em algo assim e chega com seu café na mão atrasada.

Quando eu estava prestes a entrar, ouvi alguém me chamar de longe e logo reconheci a voz.

- Nong? - Perguntei e ela apenas balançou a cabeça confirmando.

- Você é tão pequena!! - Respondeu ela me virando.

- Estou tão feliz em poder te conhecer finalmente!

- Eu também estou. - Respondeu. - É tão diferente do on-line. - Ela me abraçou. - Sophie, você tem que passar nesta entrevista para que possamos ter mais contato.

- Sim, eu estou torcendo para que passe. - Respondi animada. - Mas, falando em entrevista, você tem algum conselho para me dar? - Perguntei nervosa, pois ela trabalhava nesta empresa a bastante tempo, e era uma das gestoras na parte de planejamento de projetos.

- Tenho sim, deixa eu só acha aqui. - Falou enquanto pegava o celular e procurava alguma coisa nele. - Está vendo esse rapaz aqui? - Ela me mostrou a foto de um homem que aparentava ser alto, do cabelo preto, bem elegante e charmoso, seu corpo era bem definido também.

- Sim, o que tem ele?

- Não vou falar muito para não ter dor de garganta. - Sorriu animada, certeza que pensou besteira.

- Mas quem é ele? - Eu fiquei curiosa.

- Sério que você não lembra dele? Eu já te disse quem é ele em uma das nossas conversas. - Ela me olhou e eu apenas neguei com a cabeça. - Ele é o assistente do presidente da empresa, e se passar na entrevista será capaz de vê-lo. - Respondeu ela. - Que tal? Ele é lindo, um jovem da elite rica da capital.

- Da elite? - Ela assentiu com a cabeça.- Mesmo sendo apenas um assistente, ele é rico? - E ela confirmou.

- Ele é amigo íntimo do presidente, e tem o salário mais alto da empresa, e ainda mais, tem algumas ações também que o presidente avô lhe deu.

- Nossa... - Suspirei. - Parece que todos que são recrutados nessa empresa, são como dragão e fênix, será que ainda serei capaz de entrar? - Ela deu risada como se não acreditasse no que eu havia falado.

- Olha para mim Sophie, por acaso eu tenho cara de dragão ou fênix? - E riu mais ainda. - Então, não se preocupe, você é forte e eu confio em você !!!

- Obrigada Nong, então vou indo lá porque está quase no meu horário. - Nós despedimos na entrada do prédio, pois Nong tinha algumas coisas para resolver antes de ir trabalhar.

Após passar na recepção e ter mostrado o convite que foi enviado via e-mail, eu fui direto para o andar onde ficava a parte administrativa como o RH e o Departamento Pessoal, chegando lá já tinha um senhor me esperando na porta do elevador.

- Bom dia, Senhorita Sophie?

- Sim, bom dia. - Respondi.

- Trouxe o currículo? - Perguntou.

- Claro, está aqui. - E entrei o envelope que segurava.

- Por favor, por aqui. - Disse caminhando até uma pequena sala no final do corredor. - Pode se sentar. - Apontou para a cadeira e ele se sentou na cadeira à frente. - Podemos começar. - Disse ele enquanto tirava meu currículo do envelope.

- Claro. - Sorri. - Muito prazer, eu sou Kim Sophie, filha de brasileira com Coreano, mas nascida e criada aqui, e completei 23 anos recentemente.

- Humm, interessante. - Respondeu ele com um olhar bem crítico ao meu currículo, e conforme eu falava ele anotava algumas coisas no caderno e no currículo também.

- Apesar de ter acabado de me formar, possuo experiência em contabilidade por conta da loja dos meus pais.

- Me responda uma coisa, senhorita Sophie, tudo que você colocou em seu currículo é verdadeiro? Tudo mesmo? Até as informações mais básicas? - Perguntou-me encarando sério.

- Sim Senhor, todas as informações são verdadeiras.

- Então, com confiança em sua palavra, vou pedir que venha trabalhar a partir da semana que vem, combinado? Está contratada. - Ele disse por fim e logo em seguida se levantou e saiu da sala em que estávamos sem dizer mais nada, e eu fiquei encarando agora o vazio.

Como assim? Contratada? Isso foi uma entrevista?

Eu saí de lá tão feliz e ao mesmo tempo com um certo medo de fazer algo errado, aquela era a chance da minha vida, e eu precisava agarrar ela o mais forte possível.

Depois de sair da empresa, liguei para os meus pais, eu sei que eles iriam ficar chocados com a notícia, mas logo iriam aceitar e me apoiar, era tudo questão de tempo.

- Mamãe, papai e vovô, eu tenho uma novidade.

- Conte minha filha, o que houve? - Perguntou minha mãe aflita.

- Eu passei, eu passei. - Eu comecei a comemorar no meio da rua. - Eu fui contratada e começo segunda-feira, já estou voltando pra casa, mas queria contar para vocês o quanto antes.

- Parabéns minha filha!!! - Respondeu minha mãe. - Venha para casa então, estamos te esperando. - Respondeu antes de encerrarmos a chamada.

Aquela era a oportunidade da minha vida, e eu iria fazer valer a pena, não importa como eu, eu queria viver o máximo disso.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.