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Capítulo 4 Vê você

Hailey

Quando me acomodei na Range Rover, seu acabamento preto fosco e elegante imediatamente me cativou, assim como o exterior tinha feito momentos antes. Estava ficando claro que a mamãe não tinha exagerado sobre a riqueza dessas pessoas — Damien e Coby.

No entanto, a riqueza de Damien não desculpava seu comportamento gélido. Eu não conseguia gostar dele. De jeito nenhum. O que mais me incomodava era como ele me deixava sem palavras sem esforço toda vez que falava, enquanto na maioria das vezes ele não falava nada. Havia uma estranheza inexplicável nele, algo além do normal. Deus, eu não sabia como explicar isso; colocar em palavras parecia estranhamente inapropriado.

— Você deveria colocar o cinto, Coelhinha — ele disse casualmente, desviando a atenção do celular enquanto ligava o carro.

Eu realmente queria dizer pra ele não me chamar daquele jeito.

— Ah, certo — tentei apertar o cinto de segurança. Mas, pra minha frustração, ele pareceu travar. Como era possível que o cinto de segurança do carro comum, barato e feio da minha mãe funcionasse perfeitamente, mas esse veículo luxuoso tivesse problema?

O que havia de errado com coisas de rico?

A coisa rica, em forma humana, eu diria, aparentemente notando minha luta, se inclinou assim que consegui soltar o cinto de segurança do que quer que tivesse prendido. Involuntariamente, eu me pressionei contra o assento, minha respiração presa enquanto o perfume dele infiltrava meus sentidos. Nossos olhos se encontraram — um momento que me fez lamentar profundamente ter deixado minha mãe me tratar como criança. Se eu tivesse sido mais esperta, talvez pudesse ter evitado essa... bem, essa situação.

— Madison parece ter mimado você bastante, hein? — ele comentou, prendendo o cinto de segurança. Seus olhos tempestuosos pareciam perfurar minha alma, e com nossos rostos tão próximos, eu estava completamente insegura sobre como reagir.

— Eu não sou mimada — consegui murmurar baixinho, e ele riu, continuando a rir mesmo depois de terminar a tarefa de prender o cinto.

Por que ele não estava se afastando logo?

— Não parece, Hailey — ele riu baixinho, balançando a cabeça antes de finalmente se recostar.

Droga! Eu quase desejei que ele tivesse ficado com "Coelhinha". Meu nome nos lábios dele parecia veludo e rolava na língua dele como seda — agradável demais para meus ouvidos. E nada muito agradável nunca era um bom sinal, né? Especialmente quando se tratava do seu meio-irmão.

Deus, eu queria tanto que ele fosse um garoto de onze anos em vez desse homem adulto. Isso tornaria as coisas muito mais simples. Eu não teria que me preocupar com sonhos molhados do meu futuro meio-irmão.

Quando ele se afastou, ajustou-se no assento e começou a dirigir, percebi que estava soltando a respiração que tinha prendido até aquele exato momento.

Me remexendo no assento, fiz tudo o que pude pra evitar o cheiro do perfume dele. Mas então ele adicionou outro problema, pegando um maço de cigarros e tirando um enquanto dirigia com uma mão. Observei enquanto ele colocava o cigarro entre seus dedos longos antes de colocá-lo entre seus lábios carnudos e rosados, acendendo-o com um isqueiro prateado chique que produzia chamas vermelhas. A luz lançou um brilho nas feições perfeitas dele, a brasa desaparecendo no carro enquanto ele dava uma tragada e soltava a fumaça lá dentro.

O cheiro forte e desagradável me fez instintivamente franzir o nariz numa tentativa de evitá-lo. Apesar dos meus esforços, acabei inalando, o que me fez cobrir a boca enquanto tossia.

Ugh! Como alguém aguenta esse cheiro? Eu não conseguia entender por que as pessoas fumavam. Não fazia sentido pra mim!

— Você nunca fumou? — ele levantou uma sobrancelha, a suspeita estampada no rosto.

— Não — consegui dizer, abaixando rapidamente a janela pra criar uma rota de fuga pra fumaça.

— Por quê não?

Ele estava falando sério?

— Porque eu nunca quis?

Ele permaneceu em silêncio, um indício de sorriso puxando os cantos dos lábios enquanto ele assentia. Virando-se, ele bateu o cigarro no cinzeiro, me fazendo um favor sem dizer uma palavra. Sua gentileza repentina parecia fora do lugar, quase perturbadora. Gentileza não combinava muito com seu comportamento.

No entanto, por que ele sorriu? Ele achou engraçado que eu não fumasse? Não, não podia ser isso. Tinha que haver outra razão.

Mas o quê? Esse cara estava me deixando maluca.

Alguns segundos se passaram em silêncio antes que um som distinto de tilintar se ouvisse, e eu o observei levar um cantil aos lábios.

Ele não podia estar falando sério agora.

— Você não deveria beber e dirigir — soltei, observando-o tomar um gole. Ele simplesmente riu das minhas palavras, como se me achasse engraçada. Psicopata.

— Que tipo de direção eu devo fazer então? — ele brincou, com um brilho divertido nos olhos. Quase me fez querer revirar os olhos ou até mesmo arrancar os dele, mas, droga, eles eram muito cativantes — merda. Eu precisava seriamente organizar meus pensamentos.

Desviei o olhar, fingindo interesse na vista do lado de fora da janela do carro, me concentrando na visão comum dos prédios passando.

— Talvez dirigir com segurança? — sugeri, tentando desviar a conversa.

Sua risada ecoou no carro mais uma vez.

— Se eu não devo beber, o que sobra? Olhar pro seu rosto, Coelhinha? — Sua voz ficou baixa. — Isso não seria tão inebriante?

O que—

Mesmo assim, minhas bochechas ficaram vermelhas e não ousei encará-lo.

— Só... faz o que você quiser — murmurei, colocando uma mecha solta de cabelo atrás da orelha.

Alguns minutos se passaram em silêncio no carro, e eu podia sentir o olhar dele fixo em mim o tempo todo. Então, ele falou novamente, quebrando o silêncio:

— Eu vou, Coelhinha. Mas não agora. E você pode não gostar nem um pouco — ele acelerou o carro.

O que ele quis dizer com isso? Por que eu não gostaria nem um pouco?

Finalmente, me virei pra encará-lo, pensando se devia fazer a pergunta. Mas, assim que abri a boca, o carro freou bruscamente.

Um suspiro suave escapou dos meus lábios quando vi nosso prédio do lado de fora da janela.

— Chegamos — ele anunciou, inclinando-se mais perto, fazendo com que eu instintivamente me pressionasse contra o assento mais uma vez. Ele percebeu e suas mãos se moveram lentamente, roçando minha cintura antes de soltar o cinto de segurança. Cada movimento deliberado enviava arrepios pela minha pele.

Isso não foi bom, quero dizer, meus pensamentos.

Engoli em seco, um nó se formou na minha garganta, minhas mãos estavam cerradas ao lado do corpo enquanto meu coração disparava no peito.

Calma, Hailey. Só... calma.

— Vejo você no casamento, Coelhinha? — Um sorriso irônico surgiu nos lábios dele enquanto seus olhos fitavam os meus.

— O-o quê? — gaguejei.

— Já esqueceu? — Seu sorriso se alargou. — Você vai ser minha irmã em breve, não é?

Sim... isso era verdade. Eu não entendia por que a ideia me incomodava tanto.

— Ah, sim — assenti rapidamente, desesperada pra me afastar do olhar dele. Alcancei a porta do carro, empurrando-a e deslizando pra fora antes de murmurar apressadamente: — Até mais.

Sem dar mais um olhar pra ele, corri pra dentro do prédio, mas não sem sentir os olhos dele acompanhando cada passo meu.

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