Capítulo 3 Tensão crescente
Hailey
O tempo passou enquanto fazíamos nossos pedidos e os pratos chegavam, o garçom nos atendendo. Damien Black parecia preocupado, sua atenção dividida entre o celular, ligações intermitentes e três taças de vinho que decoravam a mesa no final do nosso almoço. Ele mal olhou na minha direção, mas eu me peguei dando olhadas rápidas nele, avaliando-o de vez em quando.
E a conclusão foi irritantemente clara: ele era impecável.
Durante toda a refeição, eu estava procurando desesperadamente por imperfeições. Por quê, eu não conseguia entender. Talvez fosse uma tentativa fraca de me convencer que ele era humano, falível, ou talvez — mais provavelmente — a razão que eu me recusava a reconhecer: para me dar motivos para negar... que eu gostava dele.
Eu não sabia por que queria não gostar dele. Mas eu só queria. De verdade.
Essa situação toda era uma merda, e eu estava completamente ciente disso. Mas a consciência fez pouco para guiar minhas ações.
Eu não era ingênua. Eu sabia das coisas. Eu sabia quando me sentia atraída por um homem e agora, o homem na minha frente, eu me sentia atraída por ele de jeitos que eu não conseguia entender. A ponto de eu conseguir imaginá-lo me tocando — bem, me chame de sem-vergonha, mas era isso que eu sentia. Ele realmente tinha o tipo de rosto que as garotas adorariam imaginar entre suas coxas.
— Bem, Damien, Madison e eu estamos planejando dar uma volta. Você poderia deixar Hailey no apartamento antes de ir pro escritório?
O anúncio de Coby me pegou desprevenida, quase me fazendo engasgar com a comida. Lancei olhares arregalados pra ele e depois pra mamãe.
— O quê?
— Você nunca conta pra ela o plano antes, né? — Coby riu, olhando pra mamãe enquanto se levantava.
— Se eu tivesse dito pra ela, ela não teria vindo — mamãe riu também, levantando-se da cadeira. Então, essa era a estratégia deles? Eles saíram de fininho, planejando me fazer socializar com meu recém-descoberto irmão mais velho?
Merda! Isso foi foda. Eu não aguentava encarar o olhar dele, muito menos dividir uma carona com ele.
Puxando o vestido da mamãe, balancei a cabeça num apelo silencioso pra dissuadi-la. Damien percebeu, mas escolheu ficar em silêncio.
O que ele estava pensando? Ele tinha ficado assustadoramente quieto durante o almoço, e eu só conseguia imaginar a tensão aumentando durante a viagem de carro iminente.
— Damien, querido, você tem tempo? Não quero causar problemas pra você. Se tiver muito ocupado, Coby e eu podemos deixá-la antes de sairmos — disse minha mãe.
Dada a preocupação de Damien com uma série de ligações importantes desde o começo, eu esperava uma recusa educada. No entanto, pra minha surpresa, ele assentiu.
— Claro, posso levar ela pra casa. Sem problema.
Um sorriso se espalhou pelo rosto da minha mãe com a resposta dele.
— Obrigada, querido, e desculpa pelo incômodo.
— Ótimo! Então Madison e eu vamos indo — Coby anunciou, dando tapinhas nas costas de Damien, cujo olhar agora tinha se fixado em mim, inflexível. Mamãe se inclinou e deu um beijo na minha bochecha.
— Termina seu almoço e depois vai, tá bom?
— Posso pegar um táxi. Ele parece ocupado mesmo — gaguejei, tentando desesperadamente evitar essa viagem indesejada.
— Táxi? De jeito nenhum — Coby interveio firme. — Damien já ofereceu. Não é grande coisa. Você não precisa se preocupar, Hailey.
— M-mas...
— Você não quer dividir um carro comigo, Coelhinha? — A voz de Damien interrompeu, aparentemente não afetada por nossos pais parados por perto. — Ou tem mais alguém com quem você preferiria ficar?
Suas palavras agora pairavam no ar, carregadas de uma intensidade inesperada. Meu coração disparou, pego de surpresa por sua franqueza, seu olhar perfurando minhas defesas.
Minhas bochechas ficaram vermelhas.
Esse idiota...
Por que ele teve que dizer isso na frente de Coby e da mamãe?
— Não! Não é nada disso. Eu só... — Minha tentativa de coerência vacilou enquanto eu lutava pra explicar a verdade. Eu não queria dividir um carro com ele, mas admitir isso abertamente estava fora de questão. Sua figura imponente, músculos definidos e simplesmente sua presença sugeriam uma habilidade sem esforço de me jogar deste décimo quinto andar e o pensamento causou arrepios na minha espinha.
— Então, é coisa de namorado — um sorriso malicioso surgiu nos lábios dele.
— Não! Não é isso. De jeito nenhum — eu disse rapidamente.
Deus. Realmente não era sobre ter um namorado... porque eu nunca tive um. Bem, eu tive algumas aventuras, alguns beijos e amassos, mas nada além disso.
— Então, o que foi? — Ele arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços sobre o peito, seu sorriso malicioso ainda estampado no rosto.
Este homem era diabolicamente inteligente, uma raça completamente diferente. Um tipo de demônio que eu não sabia que existia até agora, neste exato momento, enquanto o observava.
Então, demônios podiam existir sob a pele humana. E Damien era um deles.
— Hailey nunca esteve num relacionamento, Damien — minha mãe interveio, rindo levemente. — Posso te garantir, não é isso. Ela tá só um pouco nervosa, mas vai encarar, né, Hailey? — Seu olhar transmitiu uma mensagem clara: não estraga isso.
Ela estava realmente esperando que eu criasse um bom vínculo com esse demônio? Ele era cativante demais pra ser real e intimidador demais pra lidar. Eu não queria estar perto dele, muito menos dividir uma carona sem molhar minha calcinha.
Mas porra! Que opção eu tinha? Eu estava ferrada.
— Tudo bem, eu vou com ele — finalmente soltei um suspiro derrotado.
Quer dizer, não tinha sentido em discutir porque eu literalmente não tinha mais opções.
— Ótimo — o sorriso da mamãe espelhou o de Coby enquanto eles se despediam de nós e desapareciam de vista.
Agora éramos só Damien e eu.
Nossos olhares se encontraram e senti minha respiração falhar.
— Hum... vamos? — arrisquei, quebrando o silêncio que pairava entre nós.
— Sua mãe mandou você terminar o almoço — foi sua resposta direta.
— Tô satisfeita.
— Você não parece satisfeita e mal comeu alguma coisa. Então, para de fingir e termina seu almoço, Coelhinha.
O que era esse apelido? Eu parecia um coelho? Sem chance. Eu me dava mais crédito que isso.
— Não me chama assim... — murmurei baixinho.
— Por que não? Combina com você — ele riu baixinho, sua voz com um tom rouco que me fez arrepiar inteira, ameaçando me dar calafrios. — A propósito... Eu realmente te deixo nervosa, Hailey? — Meu pedido para não usar o apelido de repente pareceu um erro terrível.
Eu nunca teria pedido para ele me chamar pelo nome se soubesse que seria assim.
Porra! Eu realmente precisava me controlar.
— De jeito nenhum — gaguejei, tentando desviar o assunto. — Minha mãe acabou de falar besteira. Não tô nervosa.
— Ok então. Termina seu almoço — ele deu de ombros, me surpreendendo com sua rápida concordância. Observei enquanto ele voltava a mexer no celular, absorto em seus próprios assuntos.
Decidindo ficar na minha, me concentrei no almoço, tentando ignorar a insistente sensação de nervosismo que dançava dentro de mim.
