Capítulo 3
Amanda
Pai amado me livra de todo mau.
Em que merda eu me meti? Porra! Tudo o que eu queria era me dar bem pelo menos uma vez, uma única vez! Sei lá, parece que todo mundo se dá bem nessa bagaça, e quando eu tento fazer alguma merda pra me dar bem eu descubro que eu tô me mentendo com a droga de um traficante.
É isso. Tenho certeza que aquele gato lindo de morrer é um traficante. Agora não sei qual deles é ele, não sei se ele é um dos grande ou se é um laranja, não importa, é perigoso.
- Venha, gata, vou te levar, - o tal do Marquinhos disse me puxando pelo braço.
- Eu não vou pra porra nenhuma, me solta agora seu merda! - falei me sacudindo tentando me soltar.
- Qual é malandra, pensou que ia se dar bem pra cima do chefe? Se fuseu gatinha, agora não adianta ficar miando não, a pipoca vai estourar pro seu lado, tá ligada?
- Me solta ou eu grito, seu bandido de merda - cuspi na cara dele e na mesma hora ele me deu um tapa na cara que me jogou no chão.
Me levantei com pressa e dei uma cabeçada na cara dele, mas tenho certeza que isso doeu mais em mim do que nele. Quase desmaiei com a tontura que me deu de imediato.
- Qual é, vadia? - Marquinhos me segurou pelos ombros, apertando e me sacudindo, - acho melhor você abaixar essa crista ou você vai pro saco preto, tá pensando que eu sou o que, em vadia?
- SOCORRO! - gritei o mais alto que eu pude para a Ju me ajudar, mas o Marquinho começou a rir de mim.
- Tu acha que tem chance de se salvar gritando desse jeito? - aproximou-se do meu ouvido e falou com uma voz rouca - você não sabe o que eu estou imaginando fazer com você, antes de dar um tiro na sua cabeça.
Comecei a me debater para fugir desse bafo de menta que me dá vontade de vomitar. Uma sensação de medo e pânico não me deixam respirar.
- JUUUUUUU! SOCORROOOOO! - falei o mais alto que eu pude, até ser calada por mais um tapa que dessa vez me derrubou e eu não me levantei.
Estou exausta demais pra levantar.
Ouvi passos vindo, respirei aliviada porque certamente é alguém que iria me ajudar.
- Vamos parar com essa gritaria? - Ju me olhou assustada e depois para o Marquinhos, - o que está acontecendo aqui? - perguntou me olhando com ar de acusação.
- Ju, chame a polícia, me ajude - supliquei começando a chorar.
- O que ela fez? Solte-a, ela é filha de uma amiga, - Ju tentou me defender.
- Sinto muito, tia, essa ladra tentou roubar do chefe, ele quer resolver as coisas com ela.
- Roubar? A Amanda? - Ju parecia bem confusa.
- Sim, vai saber se não roubou de você também? Sai da frente que vou levar essa pilantra, de tchau pra ela, no céu vocês se vê de novo.
Marquinhos começou a me arrastar para fora da casa e a Ju não fez nada, não importava o quanto eu gritava, ela não fazia nada.
Eu vi a minha bicicleta com a cesta e gritei desesperada lembrando-me da minha família.
Eu sou muito nova pra morrer.
- ERA SÓ A PORRA DE UMA ARMA! ME DEIXE VOLTAR PRA CASA! - gritei, mas o Marquinhos não me ouviu, só me enfiou no porta-malas de um carro que nem vi a cor por causa do medo.
Comecei a chorar novamente. O medo me sufocou e perdi o ar, tudo foi se apagando até que desmaiei.
Amanda:
Dentro do porta-malas eu vou sentindo o carro andando e virando as esquinas. Começo a me lembrar do meu irmãozinho preocupado quando eu não chegar, ele sempre vem me receber no portão me enchendo de perguntas, implorando para eu o inscrever no campeonato de pipas, mas infelizmente o nosso pai não permite que ele se enturma com os outros garotos com medo de que o meu irmão se torne um bandido, segundo o meu pai os bandidos estão em todos os lugares. Eu já disse diversas vezes que isso é preconceito da parte do meu pai, mas enfim, cabeça feita é cabeça feita... Enfim, só não quero nem pensar no meu irmão quando ele ver o meu corpo em um caixão.
- SOCORRO! - gritei batendo na lata, bati tanto, mais tanto que senti que quase quebrei os meus dedos.
Meu pai celestial, o que será de mim?
Minha mãe sempre me avisou que sempre dá ruim mexer com coisa errada... Por que eu fui inventar de roubar uma arma? E da casa da Ju ainda? O que eu estava pensando? Que eu iria sair por aí apontando uma arma na cara das pessoas obrigando elas a me darem dinheiro? Eu teria coragem de fazer isso?
Se a resposta for sim, então eu mereço o meu destino.
Desisto se gritar e espernear, tudo o que eu faço e me acalmar e chorar baixinho, afinal, eu escolhi o meu próprio caminho.
Ouço o barulho de som, o Marquinho ligou o som e agora está ouvindo funk em volume alto, muito alto, chega a doer os meus ouvidos. Tampo os ouvidos com as mãos para não ter os meus miolos estourados.
(...)
Por sorte depois de algumas horas o barulho alto parou.
Estou com sede... Muita sede...
Será que vai ser assim que vão me matar? Me abandonar em um porta-malas para que eu morra de fome, de sede e sem ar?
(...)
Estou me sentindo mole, quase desmaiando, com muito calor... a fome e a sede então? Não vou nem comentar, o fato é que estou sentindo que o meu espírito está quase deixando o meu corpo. Não consigo deixar de pensar no meu irmão... Penso em meus pais também, mas o meu pobre irmãozinho é muito pequeno e não entende nada da vida, ele não merece passar por um trauma tão grande de perder a irmã mais velha... E eu vou morrer com esse peso na consciência.
Não tenho forças nem para chorar, mas não para de sair lágrimas dos meus olhos.
Percebo que alguém está abrindo o porta-malas, não consigo me decidir se me sinto aliviada por finalmente sair daqui, ou se fico com muito medo porque provavelmente essa é a hora da minha porte.
Merdaaaaa!
O porta-malas foi aberto, sou puxada para fora da forma mais bruta possível. Opto por não falar nada, estou com bastante dores no corpo e ele me pegando assim só piora tudo... Mas estou sem forças para reclmar.
- Bem-vinda, princesa, hoje você vai conhecer o paraíso - Marquinho disse me colocando em suas costas como se eu fosse um saco de batatas.
Conforme ele vai entrando eu percebo que ainda estamos na comunidade, só que bem no alto do morro, em uma casa linda e muito bem protegida.
- Me deixe ir pra casa, por favor, eu prometo que nunca mais vou tentar roubar, - choraminguei.
Marquinho não me respondeu, a única coisa que ele fez foi passar a mãe na minha bunda e isso fez com que eu me debatesse e desse muitos tapas em suas costas.
Ele começou a gargalhar.
- É desse jeito que eu gosto, bravinha e lutando, quando você implora por misericórdia não tem graça - gargalhou novamente e eu me dei conta de que realmente estou perdida.
Que desgraça.
