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O Homem Por Trás de Tudo

Minha amiga, Emma Lance, não é do tipo que fala uma verdade na cara doa a quem doer. Então me espanto quando a ouço dizer do outro lado da linha:

- Isso é tudo culpa sua! Sua e da sua língua idiota que não consegue ficar dentro da boca.

Envolvo o rosto com as mãos, com vontade de gritar. Depois de dez anos de amizade, eu sei exatamente que quando preciso de uma pérola de sabedoria é a Emma que tenho que procurar. Não é bem uma surpresa que ela seja essa grande conselheira. A surpresa é que eu esteja aberta a aceitar a opinião de alguém além do meu umbigo.

- O que acha que eu devo fazer?

- Ora, ora, Olivia Goode, a Dona da Razão, pedindo um conselho? O que é isso? - ela fica em silêncio. - Ah, acho que são as trombetas do Apocalipse.

- Vai me dizer o que faria ou prefere continuar rindo da minha desgraça?

- Acho que prefiro continuar rindo... - ela solta uma risadinha malvada - É brincadeira. Vou dizer exatamente o que eu faria se fosse você. Primeiro, abriria uma boa garrafa de vinho porque a noite vai ser longa.

Olho para o meu lado, no chão da sala, onde uma garrafa de Merlot descansa tranquilamente sobre o tapete felpudo cor de rosa. Estou sentada de pernas cruzadas diante da mesinha branca de centro, feita em mármore, onde meu notebook me encara como uma hidra de muitas cabeças. No topo do documento, aberto no Word, está escrito em Arial 20: O Homem por Trás de Tudo. Um título audacioso, que nunca será aprovado por Kellan, é claro. Por isso mesmo, o coloquei. Que se foda, deixe que ele tenha algum trabalho.

- Missão cumprida, o que mais? - pergunto, deixando escapar um bocejo. O relógio marca uma da manhã e eu acordei cedo demais para continuar produtiva a uma hora como essa.

Meu apartamento é pequeno, mas aconchegante e muito bem decorado em tons de branco, dourado e rosa pálido, minha paleta preferida de cores. Fica próximo a Manhattan, o centro comercial de NY, o que é perfeito. A manutenção de um imóvel desse lado da cidade é cara, mas eu nem posso imaginar como seria morar em outro lugar. Aqui estou perto do trabalho, de Emma e do agito da cidade, embora isso também signifique estar distante da família.

Antes de viver ali, morei boa parte da minha vida com os meus pais, em LA. Meu pai, Andrew Newman, um piloto de aviões aposentado, ainda vive lá, na mesma bela casa confortável perto de Malibu. Eu tinha dezesseis anos, quando ele e minha mãe se divorciaram. Embora a decisão tenha acabado comigo, optei por me mudar com a minha mãe para NY. Hoje visito meu pai com bastante frequência, mesmo estando distantes. Minha mãe Natalie Goode, tem um restaurante de comida irlandesa em Staten Island. O lugar é o seu orgulho e eu faço o possível para que permaneça assim, ajudando com tudo o que eu posso quando a situação aperta para o lado dela.

Eu quase esqueci de Emma ao telefone, quando ouço sua voz metálica cruzar o fio e chegar aos meus ouvidos.

- Agora é fácil. Minta - meu yang louro diz, sem hesitação. - Minta, Olivia. Porque se você disser tudo o que você realmente pensa sobre esse homem, se deixar sua hiper sinceridade fluir, você vai estar ferrada de mil maneiras possíveis. Esse cara vai te comer viva no café da manhã. Jace Kellan é uma lenda de Wall Street - ela lembra, recorrendo . E é claro que ele vale menos do que uma moeda falsa de cinco centavos, mas sem uma confissão de culpa, como você vai provar?

As palavras de Emma esmagam meu coração com o peso de um bloco de concreto. Ela está certa. Como sempre coberta de razão. Emma sempre foi a voz da serenidade no meio de um campo de batalha, mas hoje ela também é a voz da consciência. Alta e clara. Minta, Olivia. Porque se você não mentir, além de ter falhado com a sua revista, vai ter falhado com sua mãe, seu pai, seus avós, tios e com você mesma.

Eu venho de uma família enorme e irlandesa, cujo patriarca, meu bisavô, mudou-se para NY fugindo dos prejuízos causados por uma guerra civil. Minha bisavó, uma mulher de origem humilde, embarcou com ele em uma das jornadas mais fascinantes da qual ouvi relatos. Benjamin e Ethel são meu orgulho e também meus anjos protetores. Eu não tenho uma relação muito especial com a religião, mas sinto que se alguém olha por mim de algum lugar, são meus antepassados. Os oito filhos do vovô Ben e da vovó Ethel morreram, alguns bem jovens de fome ou vítimas de doenças causadas pelas condições miseráveis nas quais viveram assim que chegaram a cidade. A única sobrevivente é minha avó, Bertha Goode, de quem eu herdei o gosto por vinho e o péssimo temperamento.

- Eu fiz um rascunho - gesticulo em direção a tela acesa do notebook, como se Emma estivesse ali e não em sua própria casa. - Mas é deprimente. Com exceção do título - eu corrijo. - O título é muito bom.

- Apague o título e deixe o resto - ela sentencia com a voz sonolenta. - Se é deprimente, é bom. Quer dizer que vai salvar seu emprego.

- Mas vai mandar a minha dignidade para o lixo.

- Quem se importa com dignidade? Somos cidadãs de Manhattan, meu bem. Vivemos para perder nossa honra.

Conversar com Emma, mesmo pelo telefone, é sempre um conforto. Seu bom humor me distrai dos problemas, mas dessa vez, uma nuvenzinha negra fica pairando sobre a minha cabeça para me lembrar desse dia que foi um desastre. Jace Kellan conseguiu foder comigo sem nem ao menos tirar minha roupa.

- Então eu devo mesmo meter o rabo entre as pernas e dar ao Kellan o que ele quer? - resmungo como um bebê chorão.

O suspiro de Emma do outro lado da linha não deixa dúvidas.

- É isso aí. Eu sinto muito, Oli - ela balbucia antes de um sonoro bocejo. - Da próxima vez, tá legal?

- Da próxima vez - eu repito, deprimida.

Depois de desligar o telefone, encaro a tela por mais alguns minutos antes de voltar a trabalhar no lixo que precisarei entregar a Ron pela manhã, com minha assinatura embaixo. Isso após a aprovação de Kellan, é lógico. Mas como ele não iria aprovar? Eu basicamente repeti tudo o que já foi dito a respeito do profissional renomado e seu cérebro instigante. Argh!

Quando termino, estou diante da coisa mais tediosa que já li na vida. Mas Emma tem razão. Não existe uma saída, estou numa sinuca. Achei que fosse o taco, mas eu sou a bola. Kellan é o taco com certeza e vai me ricochetear pela mesa com vontade. Minhas únicas opções são deslizar direto para o buraco ou bater de um lado para o outro e aguentar as consequências.

Se não tivesse tanta coisa em jogo...

Respiro fundo. Sinto a criatividade borbulhar dentro de mim como um caldeirão de água fervente. Encho outra taça de vinho e faço uma careta para o endereço eletrônico de Kellan na parte superior do email, o mesmo registrado no seu cartão esnobe na caligrafia rebuscada em tinta dourada. Em vez de apertar o botão de enviar na caixa de saída do meu outlook, pressiono Alt e Tab no teclado, e deixo a imaginação fluir para a ponta dos dedos em outro documento. Esse muito diferente salvo em uma pasta confidencial do computador.

**

De quatro, ela deixou ele foder sua boca repetidamente. Forte, rápido... forte, rápido. Seu pênis grosso e ereto deslizava para dentro e para fora, enquanto ela salivava com o desejo reprimido daquela semana, servindo copos de café ao chefe exigente e mau humorado.

"Chupa... isso. Quero ver você engolir tudinho, garotinha desobediente".

Ela chupava e se deliciava, enquanto ele ditava ordens que a deixavam enlouquecida. O CEO era pretensioso e arrogante, mas exalava poder e isso a excitava mais do que tudo. Seus olhos negros e dominantes continham um mar de segredos que ela adoraria desvendar, mas, no momento, se render aos prazeres que ele oferecia, parecia o suficiente.

De início, ela ficou alerta com a possibilidade de alguém entrar na sala e flagrá-la pagando um boquete para o seu chefe no sofá do escritório. Mas então, sua mente relaxou e ela começou a aproveitar o momento tanto quanto ele.

"Vou gozar na sua boquinha carnuda... vou encher ela de porra. É isso o que você quer? Ah, quero gozar em você todinha... diz o que você quer. Diz - ele rosna, tirando o pau da sua boca e arrancando dela um gemido de lamentação.

"Quero que você me coma. Quero que me foda em cima da sua mesa... senhor".

Os olhos dele se acendem com um brilho primitivo.

Ela sente suas pernas tremerem e o coração disparar, quando ele a pega no colo e atira sobre o ombro de repente. O chefe dá um tapa forte na sua bunda antes de deitá-la de costas na mesa do escritório, atirando para os lados qualquer coisa que atrapalhe sua foda...

**

Uma garrafa de vinho e algumas horas depois, meu desejo de matar Jace Kellan parece parcialmente aplacado. Em seu lugar, um alívio momentâneo percorre minhas veias. O alívio de saber que coloquei para fora todo e qualquer pensamento indecente que passou pela minha cabeça nos últimos dias com aquele miserável. Chamo isso de exorcismo. E, puta que pariu, Kellan é um encosto persistente, porque ainda assim, depois de todas as perversões, todas as fantasias alucinantes nas doze mil quinhentas e quarenta e oito palavras digitadas naquele documento, eu ainda quero trepar com ele.

Fecho o documento logo após salvá-lo na minha área de trabalho. Estou com uma vontade danada de fazer xixi. Quando tento levantar, as paredes ganham vida e se mexem lentamente, abrindo e fechando o espaço ao meu redor. Que merda. Então lembro que não comi nada nas últimas doze horas, mandando bebida para dentro sem um pingo de responsabilidade.

Sei que depois do xixi, tudo o que vou conseguir fazer é cair na minha cama e apagar até o meio dia. Mas não tem importância, depois eu me viro com o meu chefe. Anexo a entrevista ao email e aperto o botão de enviar, cambaleando até o banheiro enquanto xingo em voz alta Jace Kellan, sua boca perfeita e toda a merda arrogante que parece nunca parar de sair de dentro dela.

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