Eric Lance
Mal posso acreditar que aqui estou, sexta feira a noite, em um bar lotado e não tenho a menor vontade de beber, dançar ou falar com ninguém.
Emma está chamando isso de Efeito Colateral Kellan, porque hoje faz seis dias que aquele desgraçado me deu o bolo.
No dia seguinte ao baile de caridade, fui supreendida por uma mensagem suscinta no celular: Surgiu um imprevisto, sua reunião hoje com o Sr Kellan está cancelada.
Só isso.
Nada de ele sente muito ou gostaríamos de remarcar.
Fiquei tão puta da vida que passei a semana inteira resmungando e descontando em quem ousasse atravessar o meu caminho. E ai de quem se atrevesse a me dar bom dia!
Mas, no fim de tudo, o que adiantou? A verdade é que Kellan tinha brincado comigo. Me feito de gato e sapato, nas palavras da minha mãe. E o pior, eu havia permitido!
Envolvida pela dança dele e por todo aquele clima de sedução barato que o cara tinha criado. Argh!
Onde eu estava com a porra da cabeça?! Normalmente, sou uma mulher racional e perfeitamente controlada. Não me permito ser manipulada pela minha libido. Estou no comando dos meus próprios hormônios desde que tive idade suficiente para dirigir.
Mas foda-se. Quer saber? Se essa situação serviu para alguma coisa foi para me deixar ainda mais focada. Kellan que me aguarde. Agora que estou com os cinco sentidos inteiramente alertas, não vejo a hora de despi-lo de toda aquela pose arrogante e ar presunçoso, e transformá-lo na próxima sensação dos tabloides americanos.
A imagem do empresário algemado na capa dos jornais e revistas faz surgir um sorriso no canto da minha boca.
Eu faço sinal ao barman para que me traga um martini.
Kellan preso por crime sonegação de impostos... ou, quem sabe, melhor ainda: pelo envolvimento em um esquema grande de corrupção. Bom, isso certamente vai me trazer mais do que um pequeno reconhecimento.
Toda essa merda soa como uma passagem direta para um Pulitzer! O meu Pulitzer.
Aliás, como foi que seu assistente descobriu meu numero? Será que isso se enquadra em algum crime federal?
Preciso pesquisar.
- Vem, Oli! Vamos dançar - Emma tenta me arrastar de novo para a pista, mas, definitivamente, não estou no clima.
Minha amiga e eu somos extremos opostos. Ela é loura, mignon, com cabelos curtos e ondulados em um long bob moderninho e charmoso. Eu sou morena, estatura mediana e longos cabelos pretos que se estendem até a cintura. Os olhos dela são esverdeados e os meus, são castanho escuros.
Mas não é só fisicamente que somos diferentes. Emma é vegetariana e adora salada, eu não dispenso um churrasco. Ela adora pop e músicas melosas, eu gosto de rock e batidas mais elétricas.
Enquanto Emma é sonhadora e romântica... bem, eu tenho outros planos.
Separadas somos ótimas, mas juntas somos imbatíveis. Nossa amizade dura desde os tempos de faculdade, quando dividimos um quarto no alojamento da Universidade de NY. Ela se formou em Ciências Políticas, eu em Jornalismo.
Desde que nos conhecemos foi amor a primeira vista.
Agora nós duas temos trinta anos e estamos em busca de objetivos diferentes, mas mantemos nossa amizade como uma prioridade. Por isso, sempre que temos uma oportunidade, saímos juntas para beber e jogar conversa fora.
Como agora.
Ouço o som de uma risada masculina atrás de mim.
Os olhos de Emma se acendem feito dois faróis do outro lado da mesa.
Viro a cabeça para ver quem chegou e sorrio.
É o Eric, o irmão dela. As luzes do bar iluminam diretamente o seus olhos e eles brilham ainda mais, enquanto ele envolve a irmã em um abraço apertado e caloroso.
Eu sempre tive uma queda pelo Eric. Nós chegamos a ficar juntos algumas vezes, mas não foi adiante. Ele é do tipo familiar, um cara que planeja se casar e ter filhos, e eu sou uma máquina de trabalhar, como meus amigos dizem.
- Olha, Oli, quem chegou! Nosso terceiro pontinho - Emma grita acima da música, com um sorriso vibrante.
Eric estudou conosco na NYU. Apesar de ser quatro anos mais velho, nós três costumávamos ser inseparáveis. Emma nos chamava de os três pontinhos, como em um sinal de reticências. Uma amizade que nunca chegaria ao fim.
Ele se aproxima. Depois se inclina e sorri na minha direção.
- Olha só se não é a próxima ganhadora do Pulitzer - provoca, com um postura confiante que faz onze entre dez mulheres no bar torcerem o pescoço para olhar.
Eric é grande, ombros largos e pernas enormes e bem torneadas. Um homem para muitos talheres como diria minha avó.
Seus olhos me observam, divertidos e maliciosos.
- Você é muito gentil - eu levanto uma sobrancelha. - No momento, estou tão distante do Pulitzer quanto do Oscar de melhor atriz. O que você está fazendo aqui? Como está sua mãe?
Eric faz sinal para o garçom. Puxa a cadeira ao meu lado e fica de frente para a irmã.
- Está bem. Ficou em tratamento por algum tempo, mas
Nossos braços se encostam de leve, quando eu giro o resto da bebida no fundo do copo.
Eric me olha e eu atiro o meu cabelo para o lado, sobre o ombro, consciente do trecho de pele visível atraindo sua atenção.
Aquele olhar me deixa arrepiada.
De repente, meu corpo fica muito consciente dos oitenta quilos de puro músculo ali, bem ao meu alcance.
Emma parece distraída da paquera casual entre seu irmão e eu. Ou isso, ou talvez simplesmente esteja sendo discreta. Mesmo não sendo a cara de Emma.
Os dois irmãos são britânicos. Vieram juntos da Inglaterra, há quase dez anos, para estudar em NY. E nunca mais voltaram. Bom, pelo menos não até um ano atrás.
Pelo sorriso estampado no rosto de Emma, ela está mais do que feliz em ver Eric de volta. Não podia ser de outra forma. Os dois são completamente apaixonados um pelo outro.
- Ele passou o último ano em Cambridge, cuidando da nossa mãe que estava doente - ela lembra, dando um gole na sua bebida cor de rosa enfeitada com um guarda chuvinha.
- Espero que esteja melhor - eu digo, pedindo ao barman outro martini para mim. - Uísque?
Eric assente e eu acrescento a bebida ao pedido.
O tempo passa rápido enquanto conversamos. Eric conta sobre a sua estadia em Cambridge e seus planos ao voltar para a cidade de NY. Ele é policial. Investigador de polícia. Seu cargo foi devolvido assim que retornou.
Está quente no bar. O ar condicionado não consegue dar vazão a superlotação. Eu enrolo o meu cabelo e o jogo sobre o ombro, enquanto Eric assiste, aparentemente fascinado.
Emma vai até o banheiro e eu aproveito para perguntar mais sobre a sua mãe.
- Ela é dura na queda - ele dá de ombros, com um ar nostálgico na expressão. Posso apostar que morre de saudades, mas não quer bater nessa tecla. - Praticamente me expulsou de lá. Disse que eu precisava voltar e viver minha vida. Ela tem razão. Apesar de ter nascido lá, eu me sinto em casa aqui. E não há lugar melhor do que o nosso lar, não é?
- Não mesmo, Totó - eu concordo, atenta a forma como ele me toca, quase sen querer, toda vez que vai pegar a bebida. - Está no apartamento da Emma?
- Não, eu recuperei meu antigo apartamento com o proprietário - Eric faz um sinal para o barman trazer outro uísque com gelo. - Aquele no Brooklyn. Você lembra?
É claro que me lembro.
- Sim, eu acho que estive lá uma vez.
- Você acha?
Suspiro, sabendo quais lembranças exatamente ele quer evocar agora. Eric não é fácil. Quando quer alguma coisa, ele vai até o fim e pode acabar jogando um pouco sujo às vezes. Nesse ponto somos bem parecidos. Em todo o resto, somos diferentes.
- E você, mesmo emprego, mesmo apartamento?
- E mesmos sonhos - acrescento.
Ele ri, aquela risada rouca e sexy que todo mundo adora nele.
- É claro. Ser rica, famosa e temida. O terror dos criminosos de colarinho branco - bufa, fingindo desprezo.
Dou uma gargalhada.
- Fazer o que? O sucesso é o meu potinho de ouro no fim do arco íris.
Ele e eu conversamos por quase uma hora. A maior parte gira em torno de amenidades, como o clima frio em Cambridge e como NY foi tomada por uma onda de violência nos últimos meses. Falamos sobre tudo e sobre nada, enquanto pessoas vém e vão do bar, incluindo Emma, que precisa acordar cedo amanhã.
- Toma conta dela, Eric - ela ergue uma sobrancelha, apontando na minha direção. - Ela é durona, mas não tem um pingo de juízo.
- Deixa comigo - ele se inclina para receber um beijo carinhoso da irmã e bagunça o seu cabelo de leve.
Quando me dou conta, já se passou mais de meia hora que Emma foi embora e há oito copos vazios sobre a mesa. Metade são meus.
Quando o barman traz a conta, eu me levanto e Eric faz o mesmo, me segurando pelo braço. Eu me sinto levemente tonta, mas não é para tanto. Seu gesto de preocupação me faz rir.
- Sou de família irlandesa - digo, piscando para ele - Quatro martinis inocentes não fazem nem cócegas.
Ele balança a cabeça, impressionado ao me ver de pé sem titubear.
- Você é mesmo surpreendente, Olivia. Por que não me deixa levá-la em casa? - propõe.
- Não precisa - asseguro, deixando minha parte da quantia sobre a mesa, apesar dos protestos de Eric. - Emma é uma boba, eu estou bem.
Recolho minha pequena bolsa de couro Gucci sobre a mesa. Foi um presente do meu pai no meu último aniversário e eu a adoro. Pensar no meu pai parte o meu coração. Ele vive sozinho na Califórnia desde que ele e minha mãe se divorciaram. Apesar de ainda serem grandes amigos, sei que por ele, os dois ainda estariam juntos. O amor do meu pai pela minha mãe é do tipo que só se encontra nos livros. Mas infelizmente, as coisas não deram certo entre os dois e eu só posso lamentar.
Quando ergo os olhos para Eric, sinto brotar um desejo familiar. Me imagino abrindo os botões daquela camisa azul clara, que combina tão bem com os seus olhos, um a um, para ver se continua com o mesmo tanquinho musculoso de quando deixou NY.
Sei que provavelmente é o álcool falando alto, mas meu lado impulsivo não sabe ouvir um não. Assim como nunca recuso um desafio.
Além disso, Eric é um tesão. Não tenho como negar. E ao contrário de Jace Kellan, não tem nada de cínico, mentiroso ou enigmático.
- Droga.
- O que foi? - ele franze as sobrancelhas.
- Nada - garanto, com um sorriso forçado. - Só um pouco de dor de cabeça - de maneira nenhuma vou despejar meus problemas com o Kellan sobre ele.
Eric assente, mas não parece convencido.
- Sei que você não precisa de um guarda costas, mas eu dormiria melhor se me deixasse te levar até em casa.
A proposta de Eric parece gentil e inocente, e por um momento eu fico torcendo para estar errada. Depois sou atingida em cheio por um baita remorso, porque sei que se ficarmos juntos, eu irei fazê-lo sofrer mais do que ele a mim.
Eu aceito sua oferta e pegamos um táxi até o meu apartamento. Eric sobe comigo no elevador em um silêncio constrangido.
Andamos juntos pelo corredor, lado a lado, e quando chegamos em frente ao meu apartamento, eu procuro as chaves na bolsa sentindo seus olhos o tempo todo sobre mim.
- Obrigada pela...
Antes que eu termine de falar, ele segura o meu rosto e me imprensa contra a parede, colando os lábios nos meus em um beijo ardente. Minha bolsa vai parar no chão, suas mãos nos meus cabelos. Eric é intenso, febril. Eu nunca o senti tão apaixonado quanto agora.
Eu retribuo suas investidas, deixando o sentimento de culpa em segundo plano. Não posso negar que senti falta da nossa química. Enfio minha língua devagar na sua boca e deixo ele chupar, envolvendo-a com os lábios, arranhando com os dentes, enquanto corro as pontas das unhas pelos seus braços musculosos por cima da camisa, ouvindo-o grunhir alguma coisa incompreensível.
- Eric, por favor - peço, espalmando a mão sobre o seu peito para impedir que ele avance mais e tenhamos que lidar com consequências dolorosas depois. - Vamos parar por aqui.
- Eu não quero parar - ele sussurra dentro da minha boca. - Por favor, Oli. Eu sei que você também quer...
Eric desce as mãos pela lateral do meu corpo, apertando a minha cintura bruscamente, e arrancando um gemido alto dos meus lábios. Suas mãos deslizam mais para baixo, agarrando minhas coxas por cima do vestido preto de renda. Ele puxa o tecido para cima, revelando a pele por debaixo dele, e suas mãos envolvem minhas pernas, apertando sem gentileza alguma.
- Vamos deixar as coisas como estão- digo, virando o rosto. Seus lábios passeiam pela lateral do meu pescoço, deixando um rastro que queima a minha pele. - Você já deixou claro que não sou seu tipo...
- Você é o meu tipo, sou eu que não sou o seu - ele me corrige, avançando para atacar minha boca de novo com a sua. Eu me esquivo novamente, vendo o desejo dele crescer através dos seus olhos que cintilam ferozmente. - Mas eu mudei, Oli. Não tenho mais as mesmas prioridades.
Eu sorrio, incrédula. Já ouvi essa conversa antes, quando nos envolvemos pela primeira vez. Eric é doce, terno e um romântico compulsivo. Não o vejo de outra forma que não seja em cima de um altar, trajando fraque enquanto coloca um anel no dedo da sua alma gêmea.
- Não mesmo? - sorrio, com uma dose de cinismo inevitável.
- Não.
- E quais são suas propriedades agora?
- Entrar nesse apartamento e foder você todinha a noite inteira - ele rosna no meu ouvido.
A promessa me faz sentir uma contração dolorosa entre as pernas. Faz um tempão que eu não transo, pelo menos dois meses. A tentação de ceder as palavras dele fica martelando sobre cada osso do meu corpo, cada vez mais irresistível.
O telefone toca na minha bolsa, me chamando de volta para a realidade. Eu me desvencilho de Eric, mas seus braços cheios de músculos parecem duas barras de ferro ao redor do meu corpo, espalmadas na parede.
O numero é desconhecido. Tento atender, mas a ligação se perde e não vai para a caixa postal.
Eric me beija novamente, roubando minha concentração.
- Me deixa entrar e cumprir minha promessa - pede, mordendo a minha boca e arrancando um suspiro involuntário. - Vou fazer você lembrar de mim pelo resto da sua vida, assim como nunca pude esquecer de você, Oli.
O telefone vibra na minha mão e eu desvio a atenção de novo para o aparelho. Uma mensagem. Enquanto Eric se ocupa com as alças do meu vestido, eu abro-a e leio o que está escrito.
Sua reunião com o Sr Kellan foi remarcada. Neste domingo, às 8h, pontualmente. Palace Hotel, 455 Madison Avenue.
Meu grito ecoa pelos corredores do prédio.
Estou prestes a ter um orgasmo e nada tem a ver com o homem que está tirando a minha roupa.
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N/A: Oii! Quero agradecer e dar as boas vindas a todos vocês que tiraram um tempinho para ler essa história. Obrigada pelo carinho!
