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Capítulo 2: A festa

Posso não gostar de festas, mas quando vou a uma, vou para arrasar, porque adoro chamar atenção.

Vendo como estou pelo espelho fico satisfeita com meu vestido preto, reto na frente apenas delineando minha cintura e aberto nas costas com faixas coloridas seguindo a ordem das cores do arco-íris todas entrelaçadas que tiram qualquer simplicidade do vestido e coloco meu salto amarelo fluorescente. Quanto a maquiagem passo apenas um iluminador e brilho labial para destacar meus lábios.

Saio do meu quarto sem nem me preocupar com a bagunça que se formou enquanto me arrumava (fora a que já estava) não que eu seja uma pessoa relaxada, apenas é desnecessário perder meu tempo com isso.

Passo pelo quarto do meu irmão Augustus vendo-o agarrado com Julia, o que me dá uma pontada de inveja, nunca soube o que é ter alguém além da família e o sortudo é logo o mais mimado pela mamãe.

Nem imagino o que se passa na cabeça dela, porque entre os três filhos ela sempre foi mais severa comigo me colocando em cursos desnecessários aqui e ali, fazendo com que a maior parte do meu tempo eu estivesse ocupada.

Isso durou tempo o bastante até meu pai ver que estava me fazendo mal e interferir ao dar um basta nessa doideira. Até porque, se dependesse de mim e do meu orgulho nunca que eu iria pedir para ela ir mais leve comigo.

Quando enfim desço as escadas não consigo ignorar a decoração estonteante do nosso salão de festas.

Cristais estão pendurados por todo o teto, dando a sensação de que estrelas brilham acima de nós e o lustre no centro apenas engrandece a visão; nas mesas cobertas por um tecido azul claro há placas de cada constelação e uma música suave ronda o ambiente; mas nada disso chega aos pés da mesa do bolo: enorme e retangular com um bolo de quatro andares que mais parece o céu estralado com uma lua cheia enorme no centro do topo, ao redor vários docinhos temáticos em formato de lobos.

Comprimentos alguns convidados que me felicitam e procuro por Caio, meu melhor amigo, mas só vejo o tio dele Luan com seu companheiro.

- Oi Luan, você está lindo nesse terno! – digo após um forte abraço em que o afasto um pouco para vê-lo por completo. Seu terno é de um azul tão escuro que os formatos de luas pelo terno todo quase passam despercebidos mas o tom contrasta perfeitamente com sua pele preta.

Depois olho para Philip ao seu lado que também veio da alcateia Lua Solar da Austrália. Sempre gostei de seus olhos bicolores, por causa da heterocromia, um é castanho escuro e o outro é castanho claro que se sobressaem diante de sua pele clara e cabelo loiro longo estilo surfista.

- Philip como foi a viagem de vocês dois? – pergunto enquanto pego sua mão e o encaro sonhadora, imagina uma viagem romântica desse nível...

- Foi ótima anjo, Maldivas é especial. - diz feliz enquanto olha de esguelha para Luan e sorrindo igual bobo. – Você deveria...

Perco o raciocínio de qualquer coisa que esteja falando e, quando ele termina de falar, me despeço saindo de fininho ao ver Caio de costas em um canto mais afastado das pessoas, vestindo um terno slim vermelho escuro que marca sua bundinha irreconhecível.

Pulo de surpresa em seu pescoço e bagunço seus invejáveis cachos perfeitos de anjinho que puxou da mãe, para falar a verdade ele todo é fiel a mãe, desde os olhos castanhos claros até a personalidade leve e engraçada, pois Lucas (seu pai) é um homem muito sério e fechado, apesar de ter a mesma aparência amigável de seu irmão Luan.

- Adivinha quem é? – grito ao mesmo tempo que tampo seus olhos. Okay, ainda sou um pouco infantil, mas não dá pra esperar que eu envelheça do dia pra noite.

- Um hipopótamo! - responde animado e dou um beijo estalado em sua bochecha.

Ganhei este apelido quando Luan e Philip nos levaram ao zoológico e a atração principal era uma Hipopótamo chamada Ângela que me encantou tanto compartilharmos de nomes parecidos que só saí de lá com uma réplica dela em pelúcia, com quem dormia todas as noites – e ainda tenho escondida em meu closet. Desde então ele me chama assim quando quer infernizar minha vida.

- Decoração bonita – aponto pra tudo ao nosso redor e enquanto beberica o champanhe seu lábio se mexe um pouco com o gosto ruim, apenas rio de sua tentativa forçada de gostar dessa bebida.

- Pelo visto não tão agradável quanto o champanhe. – zoo dando um soco fraco em seu ombro, ou não tão fraco já que ele faz cara de dor.

- Há Há – revira os olhos. – Ia até te atualizar das coisas no conselho, mas depois dessa vou deixar que descubra por si mesma.

Arregalo os olhos e imediatamente grudo no seu braço fazendo cara de pedinte.

Poucos podem fazer parte do círculo restrito que é o conselho para manter sigilo de todos os assuntos importantes – apesar da fofoca correr rápida pela alcateia eles conseguem manter isso em segredo até terem uma decisão firme do que quer que discutem.

- Eu não vou te largar até me contar tudinho. – não tenho muitos planos mesmo mas ele nunca resiste por muito tempo ao que peço.

- Sabe o que eu ouvi no conselho da alcateia? - nego curiosa e balanço seu braço freneticamente e ele bebe um pouco mais pra criar clima enquanto apenas quero que ele solte logo a fofoca. - Seu pai quis coloca-la como beta.

- Não brinca! - pulo batendo palmas e me animando com a ideia, posso não querer ser alfa, mas sempre gostei de trabalhar no escritório com meus pais e adoraria ajudar meu irmão e a alcateia. – Finalmente alguém confiando alguma responsabilidade a mim.

Já consigo me imaginar sendo nomeada beta no conselho, a cara de orgulho dos meus pais e a animação dos meus irmãos em ficarmos juntos no cargo...

- Mas sua mãe discordou veemente – meu sorrisinho bobo e de desculpas se desfaz na hora - e sabe como é seu pai, faz tudo que ela quer sem questionar... - não acredito que ela fez aquilo comigo, nossas conversas de que algo grande me aguarda e o fato de eu sempre deixar claro sobre eu querer ser beta, de também fazer algo pela família.

- Isso é tão injusto! - dou um passo para ir na direção da minha mãe, pronta pra arrumar briga, mas sou impedida por Caio que me segura pela cintura. - me solta, preciso ter uma conversa séria com ela.

- Deixa eu terminar... - olho em seus olhos dando a chance da dúvida e paro estática na sua frente diante de sua expressão séria porque vejo o quão importante é. - Eles me escolheram como futuro beta.

Fico perplexa, apenas de boca aberta querendo assimilar essa informação.

Sempre fomos inseparáveis e muitos próximos, compartilhávamos os segredos um do outro sem vergonha alguma ou pudor por sermos de sexos diferentes, afinal, ele sempre foi meu irmão por escolha. Mas olhando em seus olhos agora penso em qual aspecto não o conheço e não acredito que nunca percebi que ele sempre quis isso, pois vejo a verdade tímida em seus olhos.

- Me desculpa, Angie. – murmura como se tivesse me roubado algo ou perdido minha confiança.

Abraço-o apertado, querendo transmitir todo orgulho que sinto, apesar de no momento estar muito mal por não ter sido escolhida, ele merece que eu comemore sua conquista, mesmo que eu tenha que afundar meu rosto em seu ombro para esconder a tristeza que sinto.

Entendo o porquê dele querer ser beta, é uma posição de respeito e seu pai Lucas é sério e severo desde que me conheço por gente, deve estar orgulhoso do Caio, sem contar que ele é perfeito para isto. E não há nada melhor que o reconhecimento paterno...

- Tá de brincadeira! - falo mais alto que o necessário e por ele forço a pouca animação que sinto. - Estou feliz por você. Que amiga seria eu, se não ficasse? - dou um abraço rápido nele. - Agora vamos dançar para comemorar!

Pego sua mão levando-o à pista – há humor algum que não seja resolvido com música - e como o ritmo é sensual, balançamos o corpo de forma sexy e lenta, quase colados um no outro.

De repente rimos quando o ritmo é trocado por uma batida forte que percebemos ser de uma banda de K-POP, a qual, com toda certeza, foi escolha da Julia, a companheira do meu irmão.

Mas a diversão acaba quando uivos são escutados e o portão do salão é aberto bruscamente por um lobo acinzentado que rapidamente se transforma em uma mulher toda ensanguentada que de olhos arregalados grita com uma expressão de puro terror no rosto:

- ESTAMOS SENDO ATACADOS!

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