CAPÍTULO 01 (PARTE 2) - ENCONTRO SUSPEITO
EMMA:
Uma semana depois…
Passaram-se alguns dias desde o infeliz incidente que ocorreu comigo e com o Mark. Graças aos céus, ninguém nos procurou até agora. Olhando pela janela, vi que havia um carro prata, parado do outro lado da calçada. Os passageiros desse carro estão me vigiando. São os seguranças que o Mark disse que iria tomar conta de mim e da Donna. Notei que eles se revezam para ficar de guarda na frente da casa. Nos horários de almoço e jantar, tem as trocas dos turnos. Contudo, tem sempre alguém por perto. Escutei meu celular tocando, o peguei e vi que era o Mark ligando. De imediato, uma onda de alívio e alegria me invadiu. Desde do dia do incidente, não consegui ter contato com ele, e é tão bom saber que ele está vivo, que está bem.
— Você está bem? Quando você volta? — Perguntei com euforia.
— Estou bem, não se preocupe comigo! Estou em um lugar seguro! A Donna virá ao meu encontro! Ela vai precisar de você para cobrir o cargo dela por alguns dias! Já cansei de dizer a ela que não tem necessidade de trabalhar, mas ela é igual a você, teimosa e nunca me escuta! Não precisa ter medo, sempre vai ter alguém te vigiando de longe — explicou.
— Claro que vou! Vai ser bom me distrair um pouco! Ela vai te encontrar quando? — desci as escadas e joguei-me sobre o sofá.
— Ela vem hoje! Você começa no lugar dela amanhã — avisou e respirei fundo, pois pensei que fosse demorar alguns dias até ela ir ao encontro dele. Estou com um certo medo, mas a vontade de sair de casa falou um pouco mais alto.
— Combinado! Eu vou sim — murmurei.
— Logo estarei em casa novamente — encerrou a ligação.
A Donna era proprietária de uma floricultura. Era um negócio antigo da família dela. Passou por várias gerações até chegar nela, era uma herança que ela cuidava com todo amor e carinho. É melhor ir até lá, preciso aprender um pouco, antes que ela vá ao encontro dele. Não quero ficar completamente perdida. A loja fica a cerca de quatro quadras de distância da minha casa. Dá para ir andando tranquilamente. Saindo de casa, observei que imediatamente os meus “seguranças particulares” começaram a me seguir. O ponto positivo é que eles sabem como ser discretos. Eu ficaria espumando de ódio se tivesse que andar com eles do meu lado, no estilo guarda-costas. Caminhando pela rua, retirei o celular da bolsa e dei uma breve averiguada nas minhas redes sociais. Visto que não havia nada do meu interesse, abri a câmera traseira e capturei uma imagem do céu. O mesmo estava magnífico. Guardei novamente o aparelho. Após andar mais alguns passos, fiz uma breve pausa em uma sorveteria. Já faz alguns dias que estou com vontade de tomar um sorvete de chocolate. Peguei uma casquinha e continuei com minha caminhada até chegar ao meu destino final. Entrei no estabelecimento e logo vi a minha cunhada colocando água nas plantas.
— Oi Donna! O Mark me ligou para falar sobre a viagem! Vim aprender, não quero fazer besteiras — avisei assim que passei pela porta.
— Oi Emma! Não tem segredo! Os nomes das plantas se encontram todos nessa pasta, cada nome tem a foto da planta na frente, não tem como errar — explicou amavelmente.
— Ok, espero não fazer nada errado — um certo receio me dominou.
— Qualquer dúvida pode me ligar! Olha Emma, acabou de entrar um cliente! Atenda ele, assim você já começa a colocar em prática — comunicou apontando com o dedo indicador para um homem. Concordei com a cabeça e me movi na direção dele. Era um rapaz incrivelmente lindo, com olhos verdes claros. Seu olhar era extremamente marcante e sedutor. Ele usava um sobretudo preto que deu um toque especial para o seu charme.
— Boa tarde, senhor! Seja bem-vindo! Em que posso ajudá-lo? — Perguntei repleta de simpatia.
— Boa tarde! Estou à procura de Bromélias! Já procurei por toda cidade e não encontrei em lugar algum — de cara percebi seu desânimo.
— Hum, digamos que hoje é seu dia de sorte! Temos Bromélias aqui — o entusiasmo falou por mim, pois fiquei feliz pelo fato dele ter pedido uma planta que conheço.
— Que notícia boa! Pensei que teria que dirigir até Medina para consegui-las — um belo sorriso estampou-se em seu lindo rosto.
— Só um momento, vou pegar para o senhor! — avisei.
Sai à procura das plantas, tentando fazer tudo do jeito que a Donna ensinou. Após cerca de dez minutos, finalmente consegui encontrá-las. Enquanto separava as Bromélias, acabei tropeçando e caindo entre elas. Puta merda, tinha que ser eu. Que vacilo foi esse? Me preparando para levantar, vi o cliente estender sua mão na minha direção, no intuito de me ajudar. O meu olhar foi atraído diretamente para os seus lindos olhos verdes que, de imediato, se fixaram nos meus. Juro que por uma fração de segundos, fiquei fora de mim. Céus, os olhos dele são os mais lindos que já vi. Não me recordo ter visto como os dele antes. Voltei à realidade, respirei fundo, e estendi minha mão para aceitar sua ajuda. Ao tocar em sua pele, grandes calafrios percorreram o meu corpo. Foi como se uma descarga elétrica estivesse passando por cada músculo, por cada parte do sistema nervoso que meu corpo possui. Surgiu em mim uma onda de apavoramento, me fazendo ficar confusa, e inesperadamente, comecei a sentir-me inquieta perto dele.
— Me desculpe! Sou um pouco desastrada! Hoje é meu primeiro dia, estou aprendendo como funcionam as coisas! Estou aprendendo hoje, para ficar sozinha amanhã — expliquei tentando me recompor das sensações estranhas que acabei de ter.
— Nossa, que perigo! Vão ter coragem de deixar você sozinha para fazer atendimento? — Segurou-se para não rir.
— Vou pegar sua encomenda — dei um sorrisinho meio sem graça e saí. Esse com certeza foi o sorriso mais falso e forçado que já dei em toda minha vida. Quem faz esse tipo de brincadeira com alguém que nem conhece? Meu inconsciente surgiu me alertando. Peguei as Bromélias, e entreguei elas ao homem que persistia em me encarar descaradamente.
— São 30 dólares — ele me observou com um olhar sombrio e repleto de sedução, enquanto me entregava uma nota de 100 dólares. — Não tenho troco! Você pode aguardar um pouco? Vou trocar e já volto — arqueei a sobrancelha.
— Pode ficar com o troco — insistiu em me encarar. Ele não tirou os seus olhos de cima de mim, nem sequer por um segundo, e isso me incomodou bastante.
— Não, não posso aceitar! Vou trocar e já te entrego — continuei insistente.
— Então deixe como crédito para mim! Quando precisar comprar alguma planta, pagarei apenas a diferença — disse gentilmente.
— Claro, vou fazer um vale compras! Me fale seu nome, por gentileza, senhor — rapidamente peguei uma caneta.
— É Thomas, e cá entre nós, me sinto um ancião quando me chamam de senhor! Daqui por diante, prefiro ser chamado de Thomas — um olhar extremamente hipnotizante surgiu em sua face. Ele deu uma leve piscada. Tornando-se mais charmoso que nunca. A minha atenção não focou mais no vale compras. Não consegui desviar minha visão dos lindos olhos verdes claros, que tanto me atraíram. Me perdi inteiramente no olhar sombrio que ele possui. Respirei fundo, tentando voltar à realidade, e fazendo o possível para não desviar o foco do maldito vale compras.
— Certo, Thomas! Qual seu sobrenome? — Perguntei com a voz falha.
— Coloque apenas Thomas! Tenho certeza que se lembrará de mim quando voltar! Então, apenas Thomas basta! — Concluiu extremamente convencido de si. Puta merda. Que cara convencido. Contudo, ele tem toda razão. Com certeza me lembrarei dele, não tem como esquecer destes lindos olhos claros e marcantes. E geralmente, não tem rapazes tão atraentes desse jeito pelas redondezas, se tivesse, com certeza iria me lembrar. Meu inconsciente surgiu mais uma vez para me perturbar.
— Legal! Aqui está, Thomas! Você tem um crédito de 70 dólares conosco — entreguei-lhe o vale compras e percebi o quanto minhas mãos estavam suando frio e tremendo. Tremendo como nunca havia visto antes. Elas tremeram tanto, que cheguei a cogitar a ideia de ter o mal de Parkinson.
— Sei Bellissima — um sotaque diferente que me soou muito familiar saiu de sua boca.
— Desculpe, não entendi — estreitei os olhos, bastante confusa.
— Você é muito linda, é assim que se diz em italiano! — Explicou, me encarando.
— Hum, muito obrigada — meu coração estava prestes a explodir, senti minhas bochechas coradas. Ele é italiano. Será que é familiar daquele senhor? Acho que não. Talvez seja apenas uma coincidência. Ele é muito simpático para ter qualquer vínculo com aquele velho asqueroso. O meu lado detetive apareceu na jogada.
— Posso saber seu nome, Bela moça? — Perguntou educadamente.
— Claro que sim, me chamo Emma — senti uma certa desconfiança, mas acabei respondendo.
— Que belo nome! E qual seu sobrenome, Emma? — Indagou prestando atenção em cada movimento meu.
— Apenas Emma, isso basta — uma ironia notável ficou estampada no meu rosto, e nesse momento, ele me analisou. Acredito que tenha ficado com uma certa curiosidade sobre mim.
— Foi um grande prazer conhecê-la — caminhou na direção da porta.
— Igualmente, Thomas — soltei um longo suspiro. Estranhamente, fiquei pensando e pensando. Remoendo por dentro. Algo inexplicável me faz querer falar meu sobrenome para um estranho. Como isso é possível? O meu pai sempre me ensinou a nunca confiar em estranhos, e aqui estou eu, me abrindo inteiramente com um.
— Campbell — gritei quando ele estava prestes a abrir a porta para sair, e neste momento, ele bloqueou seus passos, ergueu uma sobrancelha e me observou um tanto confuso. — Meu sobrenome é Campbell — expliquei e ele assentiu com a cabeça.
— Então, te vejo por aí, Emma Campbell — um lindo sorriso surgiu nos seus lábios. Me assustei quando a Donna surgiu atrás de mim de repente.
— O que foi isso, Emma? — Observou-me com uma expressão nada amigável.
— Que susto, Donna! Não foi nada demais, ele apenas perguntou meu sobrenome e eu resolvi falar, só isso! — Expliquei meio sem jeito.
— O rapaz é muito bonito, mas não fui com a cara dele — resmungou e revirei meus olhos.
— Muito me admira você dizer isso! Esqueceu que é noiva do meu irmão? Ninguém vai com a cara dele nessa cidade — cruzei meus braços e ergui uma sobrancelha.
— Não vou ficar discutindo com você agora! Estou com saudades do Mark! Fecha a loja pra mim? — Donna perguntou.
— Claro que fecho, pode ir — concordei de imediato.
Tranquei as portas da floricultura. Conectei o fone de ouvido no celular e os coloquei nas orelhas. Procurei por uma música animada, e segui de volta para casa, cantando, dançando e fazendo caras e bocas. Ao chegar no portão, Donna já estava de saída. Ela despediu-se de mim de um jeito estranho, dando a entender que ficaria fora por muito tempo.
— Eu volto assim que possível, deixe minha floricultura inteira e se cuide — abraçou-me forte
.
— Quando você chegar, terei lançado uma bomba lá dentro — gargalhei.
— Não se atreva a fazer isso — acabou rindo da minha brincadeira e logo entrou no carro.
**********************************
Hum, estou com uma baita fome, mas com uma tremenda preguiça de cozinhar. Acredito que uma pizza cairia muito bem. É isso que vou fazer, comer uma pizza. O trajeto até a pizzaria era curto e dava para ir caminhando. Repeti o ritual anterior, com o celular e o fone de ouvido. Não tem nada melhor que caminhar ouvindo músicas, e acompanhar com uma bela cantoria. Claro que não pode faltar uma dancinha para completar. Eu particularmente, adoro. Ao chegar no estabelecimento, resolvi me sentar para comer. Escolhi uma mini pizza no sabor marguerita. Vi de longe os meus seguranças. Eles sentaram-se em uma mesa não muito distante da minha. Poderiam até se sentar comigo, mas sei que provavelmente, meu irmão deve ter dado ordens explícitas para não se envolverem comigo de forma alguma. Assim que terminei de comer, paguei a minha conta, e antes de voltar para casa, dei uma rápida passada pela farmácia. Preciso comprar um medicamento que me dê sono. Estou com muita dificuldade para conseguir dormir, devido a tudo que aconteceu. Portanto, espero mesmo que o remédio funcione. Para um efeito mais rápido, decidi tomá-lo na própria farmácia. Me retirei do local e continuei minha caminhada de volta pra casa. Apesar de tudo, hoje estou me sentindo um pouco mais leve. A distração com a floricultura, a caminhada e as músicas, tem me feito um bem danado. Aproveitei o momento para apreciar a chegada da noite em Seattle. Assim que passei pela porta, já estava me sentindo sonolenta. O meu estômago ficou bastante pesado, afinal de contas, comi feito uma louca. Comi tanto, que quase não consegui voltar andando. Graças aos céus o medicamento que tomei já começou a fazer o efeito desejado, e felizmente, consegui adormecer.
