Capítulo 3.
Mas por que eu ainda estava casada com ele?
Bem, talvez porque eu já tenha sido apaixonada por ele. Porque na faculdade, quando eu era jovem e estúpida e achava que o amor era para sempre, eu o via como meu futuro.
Nós nos conhecemos na Universidade de Colúmbia. Ele estava no último ano do curso de finanças e já andava por aí como se tivesse planejado toda a sua vida.
Eu estava no segundo ano, com os olhos arregalados e ambiciosos, estudando jornalismo com o tipo de fome que só podia vir da crença de que eu poderia mudar o mundo.
Ele era confiante, charmoso e sem esforço, o tipo de cara que fazia você se sentir sortuda só de ter a atenção dele. E assim ele era. Ele tinha tudo. Lembro-me que naquela época ele tinha cabelos compridos, sempre um pouco desgrenhados, usava jaquetas de couro sobre moletons, parecendo alguém que pertencia a um mundo diferente daquele em que estudava. Ele tinha um sorriso de menino, um brilho nos olhos como se estivesse sempre descobrindo algum segredo. E, meu Deus, eu me apaixonei por ele.
Agora eu realmente gostaria de não ter caído.
Éramos o casal mais poderoso da época. Jovens, ousados, cheios de paixão. Ele me pegava na biblioteca tarde da noite e me beijava sem sentido no meio do campus, como se não pudesse se conter. Nossos dormitórios eram muito pequenos, muito apertados para a forma como nos devorávamos, então fugíamos para o carro dele, para salas de aula vazias, para qualquer lugar onde pudéssemos ficar sozinhos.
E o sexo? Era bom. Não, era incrível. Não conseguíamos tirar as mãos um do outro. Era caótico, desesperado e consumia tudo, do tipo que me fazia pensar que o amor seria sempre assim.
Mas e agora? Agora nem sequer nos tocamos, nem sequer nos olhamos direito.
Não consigo me lembrar da última vez que ele olhou para mim como costumava olhar, como se precisasse de mim.
O sexo se tornou algo que simplesmente... não existe mais entre nós. Não porque brigamos por causa disso, não porque fizemos um acordo tácito para parar de tentar. Ele simplesmente desapareceu, como todo o resto.
E mesmo assim, eu fiquei. Talvez porque sair significasse admitir que não éramos mais os mesmos. Que havíamos nos tornado algo que eu nunca pensei que seríamos: confortáveis, mas distantes. Casados, mas não realmente juntos.
Ou talvez porque, há três anos, eu quase o perdi.
Eric estava lutando contra algo que eu não conseguia entender. O homem que antes parecia tão invencível, tão seguro de si, havia desmoronado diante dos meus olhos. Ele estava se afogando em algo sombrio: drogas, álcool, qualquer coisa que pudesse usar para escapar.
E eu fiquei. Fiquei durante as noites sem dormir, as mentiras, a reabilitação. Porque eu achava que, se aguentasse o suficiente, se eu o amasse com afinco, poderia ajudá-lo a encontrar o caminho de volta.
E ele encontrou. Ele melhorou. Ele melhorou. Mas algo entre nós nunca deu certo.
Eu fiquei porque não sabia mais o que fazer.
Se eu fosse embora...
Para onde eu iria?
Minha conta bancária não é compartilhada, mas isso não significa muito. Quase não tenho economias, graças aos meus pagamentos atrasados, e mal conseguiria sobreviver meio dia em Nova York sozinho. Aluguel, alimentação, contas: tudo isso se acumula muito rápido.
Será que eu voltaria para meus pais em Wyoming, para a casa que jurei que nunca mais voltaria?
Já posso ouvir a voz de minha mãe, com a decepção permeando cada palavra. Imagine: uma mulher de 10 anos, falida, divorciada, rastejando de volta para casa como um fracasso. Não. Eles não gostariam disso. Meu pai não falaria muito, mas o silêncio seria pior. O tipo de silêncio que carrega julgamento, mesmo sem palavras.
Não, eu não posso.
Então vou ficar.
Porque sair não se trata apenas de sair deste casamento. É sobre tudo o que vem depois. O desconhecido, o medo, a solidão. A possibilidade de que talvez, apenas talvez, eu me arrependa.
E o arrependimento? Acho que não posso me dar a esse luxo.
Katy
Eu disse a mim mesma que não escreveria para ele tão cedo. Eu estaria muito ansiosa. Óbvia demais.
Então esperei. Um dia inteiro. Bem, metade de um dia. Bem, só até a noite. Era razoável, não era? Nem muito rápido, nem muito desesperado.
Sentei-me no sofá, com o telefone na mão, tamborilando os dedos na coxa antes de finalmente digitar a mensagem:
Katy: Oi, Zane, só queríamos que você soubesse que gostaríamos de dar continuidade ao seu recrutamento. Bem-vindo à equipe.
Simples. Profissional. Totalmente normal. De forma alguma influenciada pelo fato de eu estar incrivelmente atraente, encharcado na porta da minha casa ontem à noite.
Apertei o botão enviar.
E então esperei.
E esperei.
Sério? Uma hora inteira? Não era nem uma mensagem longa.
Atualizei minhas mensagens sem motivo. Talvez ele não as tenha visto? Talvez eu não estivesse perto do telefone dele? Talvez...
Assobiando.
Zane: Ótimo! Quando posso começar?
Mal respirei fundo antes de responder.
Katy: Que tal amanhã, de manhã?
Zane: Está bem.
Ok? Pronto? Sem emojis desnecessários? Sem palavras extras? Apenas... Zane: Está bem?
Bufei e joguei meu celular para o lado.
Zane: Ótimo. Tudo bem. Eu não estava pensando em sua voz ou em como seus dedos roçaram os meus na porta. Definitivamente, não estava.
Eu estava contratando um novo funcionário. É isso aí.
...E então?
Alguns minutos depois...
Eric girou a chave na fechadura e entrou. Sem cumprimentos, sem sorrisos, apenas com a mesma energia monótona que ele sempre trazia para casa.
- O que há para o jantar? -perguntou ele, mal olhando para cima enquanto tirava os sapatos.
Suspirei. - Que tal pedirmos comida para viagem? -
- Está bem. -
- Tailandês, chinês ou McDonald's? -
- McD.
-Ugh, ok. -Peguei meu telefone e pedi o de sempre: hambúrgueres, batatas fritas e refrigerante.
Comemos em silêncio. Bem, eu comi sozinha enquanto ele se concentrava no jogo de futebol na TV. Como foi seu dia? O que você fez hoje? Apenas mastigar, engolir e ocasionalmente gritar para a tela.
Chato.
Depois de nos limparmos, nos preparamos para dormir. O ar entre nós parecia diferente; não que ele estivesse sempre cheio de emoção, mas esta noite, o silêncio parecia mais denso.
Ele se sentou à escrivaninha, folheando papéis e escrevendo.
Eu me encostei na porta. - No que está trabalhando? -
-Uma apresentação", ele murmurou sem olhar para mim por um segundo.
- Por quê? -
- Promoção. -
Ah, essa. Aquela. A que ele estava perseguindo há mais de um ano. Mas, de alguma forma, a má sorte, ou talvez apenas o mau momento, ficou no caminho.
Aproximei-me dele por trás, colocando as mãos em seus ombros e pressionando levemente meus dedos em seus músculos. Meus lábios roçaram seu pescoço enquanto eu sussurrava: "Uma pausa?
Seus ombros ficaram tensos. -Pare, Katy", ele gaguejou, encolhendo os ombros. Estou tentando trabalhar.
Dei um passo para trás e o calor subiu em meu peito. - Tudo o que você faz é trabalhar. -
-Sim, porque alguém tem de pagar as contas", respondeu ele, com a voz embargada.
Cruzei os braços. -Eu também trabalho, você sabe.
Ele zombou. -Ah, é? Quando foi seu último pagamento, Katy?
Abri a boca e a fechei. Oh, merda! Lá vamos nós de novo.
Eu sabia exatamente onde isso ia dar. A mesma briga de sempre. O problema com meu emprego era que eles não eram muito regulares com os pagamentos. Às vezes, atrasavam semanas ou até meses. E Eric adorava jogar isso na minha cara.
- I... - Comecei, lutando para encontrar as palavras.
Ele balançou a cabeça, exasperado. -Eu tenho implorado para que você pare com isso e arrume um emprego de verdade. -
-Eu não quero.
-Então você estará basicamente trabalhando de graça, Katy.
Suas palavras me magoaram mais do que eu queria admitir.
A discussão se intensificou: as vozes se elevaram, palavras afiadas foram lançadas como facas. Toda vez que eu tentava me defender, ele contra-atacava com lógica, números e sua frustração crescente.
Até que, finalmente, eu simplesmente desisti.
Rolei, me arrastei para a cama e me enrolei de frente para a parede.
Mordi o lábio, tentando conter as lágrimas, mas elas vieram mesmo assim.
Silenciosas. Lentas. Quentes em minhas bochechas.
Adormeci assim, soluçando baixinho, sentindo-me menor do que nunca.
NA MANHÃ SEGUINTE
Acordei com os dígitos vermelhos do meu despertador piscando: AM.
Droga.
Eu já deveria estar no trabalho. E hoje, mais do que nunca, eu deveria mostrar a agência a Zane.
Resmunguei, esfregando as têmporas ao me lembrar por que o despertador não havia tocado: eu havia me esquecido de programá-lo. Porque eu estava ocupada demais chorando para dormir.
Perfeito.
Eric, como sempre, já havia saído sem o café da manhã. Nenhum bilhete. Nenhuma mensagem. Ele simplesmente tinha ido embora.
Forcei-me a sair da cama e apressei minha rotina matinal. Um banho rápido, mal escovando o cabelo úmido, e depois fui direto para o guarda-roupa.
Coloquei um suéter preto justo de gola alta e combinei-o com uma calça bege de cintura alta e modelagem fina com um cinto elegante. Clássico, profissional, mas elegante. Completei com brincos de ouro, um relógio e saltos de couro que me deram altura suficiente para sentir que eu tinha minha vida planejada.
Alerta de spoiler: eu não tinha.
Peguei minha bolsa, minhas chaves e saí correndo pela porta.
Quando cheguei ao meu escritório (minha pequena câmara de sanidade pessoal trancada), mal tive tempo de respirar quando bateram na porta.
