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Capítulo 2.

Ele exalou pelo nariz, como se estivesse tentando não parecer muito aliviado.

Recostei-me em minha cadeira, cruzando os braços. -Mas o problema é o seguinte, Zane, esse trabalho? É muita pressão. Prazos apertados. Clientes que mudam de ideia a cada dois minutos. Um chefe que às vezes se esquece de comer e sobrevive apenas de cafeína.

Seus lábios se contraíram. - E você? -

Dei de ombros. - Quem mais? -

Seu sorriso se alargou, só um pouco. Apenas o suficiente para me fazer notar como sua boca era bonita.

Concentre-se, Katy.

-De qualquer forma", limpei a garganta, "o que o faz pensar que pode lidar com tudo isso?

Dessa vez, ele nem sequer hesitou: "Porque preciso desse emprego", disse simplesmente. "E eu não falho nas coisas que preciso."

Pisquei os olhos.

Pisquei os olhos. Essa foi uma resposta muito boa.

Por um segundo, fiquei olhando para ele, sentindo algo que eu realmente não deveria sentir no meio de uma entrevista de emprego.

Seus olhos verdes me olhavam com firmeza.

Voltei a olhar para o currículo, principalmente para não olhar na cara dele.

Bati meus dedos na mesa. -Bem, você não é completamente inútil", eu disse, agindo como se não estivesse impressionado.

-Por que você quer esse emprego? -

Ele se inclinou ligeiramente para a frente, apoiando os antebraços na mesa. -Como eu disse, preciso de estabilidade. Mas, mais do que isso, quero trabalhar em um lugar onde minhas habilidades sejam realmente importantes. Sei que posso contribuir aqui.

Confiante. Muito bem.

Arqueei uma sobrancelha. E por que eu deveria contratá-lo? De todas as pessoas que se candidataram, o que faz de você a melhor?

Ele cerrou os lábios por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. Depois se inclinou para trás e exalou.

-Porque não estou procurando apenas um emprego", disse ele. Estou procurando algo em que eu possa crescer. Tenho a experiência, as habilidades e a motivação para oferecer exatamente o que é necessário. E eu trabalho duro, muito duro. Você não se arrependerá de ter me contratado.

Eu o observei, observando como ele cerrava levemente a mandíbula, como se estivesse falando sério em cada palavra. E, de alguma forma, acreditei nele.

Pousei minha caneta. -Tudo bem, por mim tudo bem", eu disse, fingindo não estar impressionado. E quanto você espera de salário?

Ele hesitou por meio segundo antes de responder. - Qualquer que seja o salário padrão para esse trabalho. -

Inclinei minha cabeça. - Você não tem um número em mente? -

Ele me deu um sorriso tímido. -Preciso de um emprego agora. O dinheiro é secundário para mim.

Pisquei os olhos. Bem, isso foi inesperado.

A maioria das pessoas teria dado um número, pechinchado, ou pelo menos tentado conseguir um pouco mais. Mas ele? Ele só queria o maldito emprego.

Bati meus dedos contra a mesa, observando-o por mais um momento. - Anotado - eu disse finalmente. - Tudo bem, agora terminamos.

Ele exalou, relaxando ligeiramente os ombros. E eu certamente não achei isso atraente. Não. Nem um pouco.

Fechei meu laptop e empurrei minha cadeira para trás. - Deixe-me falar com meu chefe e o informaremos em alguns dias. -

Ele também se levantou, passando a mão pelo cabelo ainda úmido. Aquele cabelo preto, intenso como a porra. Parecia irritantemente bom assim bagunçado.

-Obrigado, senhora", disse ele.

Eu juro por Deus. Com essa porra... Senhora.

Antes que ele pudesse morder a isca, hesitou por um segundo e depois perguntou: -Você quer meu número? -

Pisquei os olhos. O quê?

- O quê?", repeti, totalmente despreparada.

Seus lábios se contraíram, quase como se ele estivesse se divertindo com minha reação. - Sabe, para que possa entrar em contato comigo se decidir me contratar. -

Ah, claro. Certo.

Assenti, pegando meu telefone sobre a mesa. Mas quando eu estava prestes a abrir a lista telefônica, ele se aproximou. Muito bem.

-Você não se importa se eu mesmo colocar o telefone, não é? -Sua voz baixou um pouco - suave, profunda, quase zombeteira.

Eu deveria ter lhe dito que não. Eu deveria ter dito a ele para escrever. Mas eu disse?

Não.

Ele já estava estendendo a mão, roçando os meus dedos enquanto tirava o telefone de mim. Quente. Grandes. Um pouco áspero.

Soltei um suspiro lento enquanto o via escrever seu nome.

-Zane Reed", ele leu enquanto eu lhe devolvia o telefone.

Seus olhos se fixaram nos meus. - Não se esqueça. -

Oh, confie em mim. Não me esquecerei.

Quando abri a porta, ainda estava chovendo. Muito forte. Cortinas de água estavam caindo, encharcando as ruas, fazendo com que tudo parecesse escorregadio e escuro.

Encostei-me na porta, com os braços cruzados, sentindo uma pontada de preocupação antes de conseguir me conter. Ufa.

- Você veio a pé até aqui? - perguntei, olhando para sua camisa ainda encharcada.

Ele balançou a cabeça, passando a mão pelo cabelo úmido. - Não, de carro. -

- Onde você o estacionou? - Inclinei levemente a cabeça, fingindo não olhar para ele.

-A um quarteirão de distância", disse ele, se mexendo em seus pés.

Soltei um zumbido suave, batendo os dedos em meu braço. - Tem certeza de que não vai se molhar antes de chegar lá? - Meus lábios se curvaram no canto.

- Acho que vou sobreviver. -

-Que pena", brinquei de leve. Teria sido interessante assistir.

O que eu acabei de dizer?

Ele soltou algo que era quase uma risada e balançou a cabeça. - Vou sair do seu caminho agora. -

Afastei-me da porta e me aproximei um pouco mais. -Dirija com cuidado, Zane", eu disse, ignorando a sensação estranhamente agradável que senti ao ouvir seu nome.

Sua mandíbula se retesou por um momento, seus olhos verdes se fixaram nos meus. E então, seus dedos roçaram os meus enquanto ele alcançava a maçaneta da porta. Um segundo. Talvez menos. Apenas o suficiente para provocar uma pequena faísca em minhas costas.

Seu olhar se desviou - fugaz, quase imperceptível - antes de ele sorrir. SORRISO.

Ele saiu para a chuva e eu observei como, de alguma forma, sua camisa ficou ainda mais molhada.

Nossa.

Fiquei ali parada por um segundo, olhando para a chuva. Meu coração ainda estava batendo muito rápido.

Fechei a porta e me encostei nela.

Que droga. Fodido. Que inferno.

Imediatamente peguei meu telefone, meus dedos se contorceram antes mesmo que meu cérebro pudesse compreendê-lo.

Rick atendeu no segundo toque.

-Sim? -Sua voz soou grogue, como se ele tivesse acabado de interromper um cochilo. Não me importei.

-A entrevista acabou", eu disse, ainda colada à porta e sentindo o fantasma persistente de Zane.

-Isso foi rápido", murmurou Rick.

Sim, de jeito nenhum. Porque eu não conseguia pensar direito.

Engoli, forçando-me a soar normal. Profissional. Maduro. Como se eu não estivesse mais imaginando aquela camisa molhada agarrada a ele do jeito certo.

-Ele é bom", eu disse, limpando a garganta. Zane Reed ... Solteiro... -Por que eu disse isso em voz alta? -Excelentes qualificações, experiência e um currículo sólido. Parece levar a sério o trabalho. -

Rick grunhiu. -E você tem certeza de que ele é a pessoa certa?

Fechei os olhos por um segundo e exalei pelo nariz. Fica melhor em mim? Ah, fica bem em você.

Eu ainda podia ver sua mandíbula cerrada, seus olhos baixos por um momento, como se ele estivesse olhando através de mim. Como se ele soubesse.

-Sim", eu disse, minha voz um pouco ofegante. Acho que ele é perfeito para o trabalho.

Rick suspirou. -Acho que ele é perfeito para o trabalho. Se estiver tudo bem para você, ofereça o emprego a ele. Mas tenha certeza de que está falando sério sobre isso também.

Oh, eu estava falando sério.

- Eu farei isso", disse enquanto verificava minhas mensagens.

No momento em que desliguei, caí no sofá, olhando para o teto como se ele tivesse todas as respostas.

Porque, minha nossa senhora.

Eu estava tão fodido.

Katy

Eric, meu marido há cinco anos, ainda estava trabalhando. Ele é gerente de banco. Ele sempre foi do tipo que precisava de descanso, e eu sempre o deixei ter seu tempo. Ele trabalhava muito, e eu não tinha o direito de reclamar da rotina que ele nos impunha. Mas hoje, eu não podia deixar de sentir que estava vivendo na sombra da minha própria vida.

A cozinha estava silenciosa, e o cheiro familiar do crepúsculo rapidamente preencheu o espaço quando comecei a tostar o pão na frigideira e a fazer ovos mexidos. Eu não precisava mais pensar sobre isso. Era um roteiro que eu podia executar sem esforço, sem sentido. Os ovos chiavam na frigideira, e eu olhava para eles sem realmente vê-los. O cheiro da manteiga, o som do cozimento: era tudo o que eu tinha. Tudo o que eu podia fazer.

Não era que eu não amasse Eric. Eu o amava. Ele era um bom homem. Mas ele nunca abriu as portas para mim, nunca se lembrou do nosso aniversário, nunca demonstrou afeto beijando minha testa. Mas em algum ponto do caminho, ao longo dos anos, eu perdi algo. Ou talvez nunca tenha existido. Aquela faísca. Aquele fogo.

Não sei quando ela se apagou. Talvez tenha sido depois do primeiro ano, quando a empolgação de ser um recém-casado se esvaiu. Ou talvez tenha sido depois do terceiro, quando a realidade de nossa rotina estagnada e confortável tomou conta. Mas, em algum ponto do caminho, eu me vi acordando ao lado de um homem que não conhecia mais. E pior, alguém que eu realmente não queria conhecer.

Coloquei café em uma xícara e o vapor subiu em redemoinhos delicados. Olhei para o relógio: PM. Eu iria para casa em breve e, quando voltasse, seria como qualquer outra noite. Como qualquer outro dia.

Eu costumava gostar dessas noites, adorava o silêncio, mas agora? Agora, parecia vazio.

Eu quero mais. Não sei como dizer isso. Mas está lá, todas as manhãs, todos os dias, me atormentando.

Eu quero mais.

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