Capítulo 9 - Uma visitinha
¤ Por Ashley Cooper | Miami, Flórida 03:12 AM ¤
Estava me coçando para rondar o meu pai sobre os seus motivos de ter visitado a sra. O'Brien. Talvez tenha sido pela gentileza de querer saber se ela estava bem e melhor, depois de tudo aquilo. Eu quase corri para entrar em casa, louca para enchê-lo de perguntas, mas eu respirei fundo, ouvi um barulho vindo da cozinha e segui até lá. Ganhei a atenção do meu pai, que me encarou apenas por dois segundos, antes de voltar a sua atenção para o seu celular.
Eu limpei a garganta antes de falar com ele.
— Vi o senhor saindo da casa da senhora O'Brien – comentei, e ele me olhou de novo. — O que o senhor foi fazer lá?
— Por que quer saber? – ele perguntou, com uma expressão dura. Talvez eu tenha sido muito direta.
— Só queria saber se ela está melhor – dei de ombros, indo lavar as minhas mãos e procurar algo para comer, para tentar disfarçar a minha curiosidade.
— Ela está se recuperando bem, fisicamente – ele respondeu, meio enigmático. — Eu me ofereci para fazer um tratamento psicológico com ela – ele complementou, depois de um tempo.
— Você? – perguntei, sendo pega de surpresa. Eu me recompus e tentei acompanhar o seu raciocínio. — Isso é bom, quer dizer, será muito bom para ela. Por acaso, ela aceitou? – eu quis saber mais.
— Ela relutou um pouco no começo, mas logo aceitou – provavelmente meu pai lembrou à ela o episódio que a levou a ser socorrida até o hospital e a promessa de manter em segredo em troca de procurar ajudar. — Mas ela não queria que o filho soubesse disso também.
— O Dylan?
— Se ele fosse uma criança ainda eu até entenderia e concordaria com essa ideia de privá-lo de um assunto tão sério, mas ele já é quase um homem, assim como o seu irmão mais velho. – Ele desabafou, e eu quis dar mais corda para ele continuar falante, só assim para eu poder me atualizar do que acontece.
— O Steve já sabe da verdade? – eu perguntei sobre o irmão mais velho de Dylan.
— Parece que ele está pressionando a mãe, ele não comprou a ideia de ter sido um acidente qualquer. Provavelmente ele pensa que ela está doente, deve estar pensando em algum diagnóstico mais comum como câncer ou sei lá. Ela está o enrolando. – Ele se encostou no balcão, acariciando a barba, com uma expressão pensativa.
Ele logo se calou e subiu para o seu quarto, e eu também subi para o meu, a fim de tomar um banho e esfriar a cabeça. Era muita coisa para processar.
O meu pai não era o melhor pai do mundo, mas ele era um excelente profissional. Eu não duvido que logo a sra. O'Brien estará se sentindo melhor, e consequentemente ela irá esclarecer as coisas com Dylan, e eu não terei mais que pensar nessa confusão toda como se eu me sentisse culpada por omitir um assunto que não me pertencia. Tudo ficará bem!
No dia seguinte, eu estava batendo papo com a Jane no corredor da escola, ela estava falando o quanto o ex dela era péssimo, e eu estava fingindo que era a primeira vez que escutava aquela ladainha, quando vi o Brendon se aproximar de nós. Eu tentei ignorar a sua existência outra vez como fiz no dia anterior, mas ele foi direto ao querer a minha atenção. Jane notou o clima estranho e inventou qualquer desculpa para sair de perto de nós, me deixando à sós com ele. Eu bufuei estressada, me virando e olhando para ele.
— Sei que está chateada comigo – ele disse, fazendo charme, mas eu não caio na lábia dele como as outras garotas bobas. — Queria me desculpar por qualquer mal entendido. – Cruzei os braços, estreitando o olhar para ele. — Eu só queria te levar pra casa, não ia tentar nada, eu juro! – ele ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo.
— Você é um idiota as vezes – revirei os olhos e ele sorriu.
— Eu vou tentar me comportar melhor – ele disse, piscando o olho pra mim.
Ele nunca vai deixar de ser um cafajeste, e é óbvio que ele estava mentindo. Brendon sempre vai tentar algo em qualquer oportunidade com qualquer garota. Ele não irá ganhar nada comigo sóbria, por isso ele quis tentar comigo bêbada, mas se deu mal.
Eu vi Merlia passar pelo o corredor, do nosso lado, e Brendon também percebeu ela passar.
— É aluna nova? – ele quis saber.
Eu dei de ombros, já estava arrependida de ter pensado na possibilidade de juntar os dois para deixar o meu caminho livre com o Dylan. Mas, ao olhar de novo na direção da pequena diabinha, eu notei ela perto do meu amado, conversando com ele outra vez, e isso me fez voltar para o meu plano inicial.
— É sim, aliás ela te achou muito bonito – eu disse, observando ela finalmente sair de perto do Dylan e ir embora.
— Você sabe que não é dela que eu gostaria de ter uma chance – quando eu voltei a olhar para o Brendon, eu notei que ele estava se referindo à mim. Eu suspirei, cansada das insistências dele comigo.
— Sinto muito, mas não vai rolar, eu gosto de outra pessoa – ele bufou.
— Já tô ligado nisso – ele olhou na mesma direção que eu estava olhando, onde Dylan estava. Agora, era o Noah quem estava ao lado dele, e estranhamente o Noah nos encarava enquanto conversávamos.
— Então, você devia tentar com quem também esteja interessado em você – eu joguei verde, e com isso eu fui embora dali.
Fiquei encucada com o olhar esquisito que o Noah me encarava ao conversar com Brendon, e por isso fui até ele e o Dylan. Eu cheguei perto dos dois e ao sorrir educadamente para os dois, foi impossível não notar o clima estranho que estava ali. Dylan estava com uma carranca azeda, enquanto que o Noah parecia preocupado.
— Bom dia, meninos – eu disse, tentando ser gentil. Contudo, apenas o Noah me respondeu, forçando um sorriso, enquanto que o Dylan foi embora, me ignorando como sempre fez.
Que estranho. Eu pensei que as coisas tinham mudado entre nós dois. Ele parecia ter destruído o muro que ele mesmo construiu entre a gente, no dia em que me ajudou quando eu estava bêbada, fora o abraço que ele me deu no hospital. Pensei que ele tinha mudado o seu pensamento sobre mim. Mas ao o que parece, nada mudou. Ele voltou a me ignorar, enquanto está dando atenção para sua mais nova amiguinha, Merlia.
Noah ficou sem graça com o clima, e eu resolvi poupá-lo do constrangimento, indo embora também.
Mais tarde naquele mesmo dia, comentei com Meg tudo o que aconteceu.
— Eu não me importo de ela gostar dele, muitas garotas desse colégio babam pelo o Dylan, mas se ao menos ele ignorasse ela... – desabafei, enquanto lanchava meu suquinho de frutas.
— Assim como ele ignora você? – ela debochou, me fazendo encará-la com ódio. — Eu não tô querendo ser maldosa, só estou sendo realista!
— Ser realista... – eu repeti, enquanto meditava.
Eu observei o Dylan do outro lado do refeitório, e ele ainda estava com a sua expressão fechada, como se estivesse bravo. Noah falava ao seu lado, e ele nem parecia prestar atenção no amigo. Será apenas um mal humor passageiro? Se sim, o que será que o deixou aborrecido? Terá sido algo sobre a sua mãe ou o seu irmão? Odeio ficar curiosa.
Assim que cheguei em casa, eu comi qualquer coisa e fui para a varanda. Fiquei olhando para a casa de Dylan, pensando na ideia de ir visitar a mãe dele. É óbvio que eu não tinha apenas o interesse de descobrir o que poderia estar acontecendo, eu também queria ser prestativa assim como o meu pai estava sendo, queria oferecer a minha companhia e a minha ajuda caso ela precisasse.
Poderia aproveitar que Dylan ainda estava na escola, treinando com os garotos. E foi exatamente isso o que eu fiz.
Eu respirei fundo e subi as escadas da varanda, e bati algumas vezes na porta, que logo foi aberta. A sra. Elizabeth O'Brien sorriu abertamente assim que me viu, e eu sorri de volta.
— Ashley, querida! – ela me puxou para um abraço caloroso, e eu retribui gentilmente.
— Como vai? – perguntei, notando que ela vestia uma blusa de mangas longas, provavelmente para não deixar visível o seu machucado.
— Eu estou ótima, querida! Vamos, entre! – ela me chamou, e eu sorri, aceitando.
— Não estou atrapalhando a senhora? – perguntei, para ter certeza que ela estava sozinha.
— Que nada, eu estava limpando algumas tralhas velhas do sótão, mas já acabei!– ela me levou até a sua sala, e sentamos no seu sofá. Ela sorria para mim o tempo todo, parecia animada por me ver, e isso me deixou contente.
— Queria ter vindo visitá-la antes, queria dizer que qualquer coisa que a senhora precise pode me ir chamar, sempre estou em casa – dei de ombros.
— Você é muito gentil – ela respondeu, pegando na minha mão. — Você fica muito sozinha em casa, não é? Seu pai disse que você está acostumada a cuidar de tudo – ela e o meu pai falaram de mim?
— Pois é...
— Então, que tal fazermos companhia uma para a outra de vez em quando? – ela parecia contente em propor aquilo.
— Eu adoraria! – eu sorri, e ela bufou satisfeita.
— Eu fiz um bolo de chocolate! – ela me puxou até a sua cozinha, e se deixou levar me contando algumas histórias de viagens suas em família, enquanto lanchávamos o seu bolo delicioso.
O jeito que ela falava comigo parecia que sempre tínhamos esse hábito. Ela contou histórias engraçadas dos seus filhos, de como eles implicavam sempre com tudo. Contou que Dylan, quando mais novo, tinha a mania de querer competir o tempo todo com o irmão, as melhores notas ou até mesmo o tempo de terminar a refeição. Era a cara do Dylan fazer essas coisas. Ele sempre teve esse instinto de ser o melhor. Ser o capitão do time deixava isso bem claro.
Quando eu estava terminando o meu pedaço de bolo, ela estava contando de como ele dava trabalho para tomar banho, dizia que ele odiava, e eu não estava me aguentando de tanta risada que já tinha dado. Quando ouvimos a porta da frente bater, eu soube que ele tinha chegado.
— Mãe? – ele chamou, antes de aparecer na cozinha e me notar ali. Eu respirei fundo, tentando parar de rir, e acenei educadamente para ele, que apenas ficou me olhando. Provavelmente ele estava confuso em me encontrar na sua casa.
— A sua amiga veio me fazer companhia, querido, quer comer uma fatia de bolo com a gente? – sua mãe o convidou.
Eu nem percebi o tempo passar, meus olhos bateram no relógio da parede, e eu soube que estava perto da hora do meu pai chegar. Eu voltei a observar Dylan, notando sua roupa de treino que usava, estava suada, colada em seu corpo, assim como os seus cabelos estavam molhados e colados na testa, e mesmo assim, ele era o homem mais lindo que já vi.
Nem percebi ficar boquiaberta com a visão, os olhos dele estreitaram para mim, e eu ouvi um pigarro de sua mãe chamando a minha atenção.
— Eu preciso ir, ainda vou preparar o jantar, e meu pai está quase chegando! – eu me levantei, tirei meu prato da mesa, e sorri para a mulher que também se levantou.
— Você também cozinha?! – eu sorri acenando positivo. — Então, temos muitas receitas para trocar ainda! – ela me deu uma piscadela.
— Com certeza – eu sorri e fui saindo da cozinha, passando perto do corpo de Dylan, que ainda estava parado no mesmo lugar, assistindo o que acontecia. — Até outra hora, tenham uma boa noite! – e me apressei para sair dali, ouvindo a sra. O'Brien também me desejar boa noite, antes de fechar a porta atrás de mim.
Eu gostei disso, gostei da companhia dela, gosto de fazê-la rir, sinto que assim estou ajudando de alguma forma. Tinha me esquecido do quão legal ela é. Nem parece que ela tem depressão, mas é mesmo uma doença silenciosa, e poucos conseguem identificar. Poderíamos ser amigas, e em troca vou me sentir mais próxima de Dylan como um brinde, mesmo que ele tenha voltado à me afastar. Era óbvio a sua surpresa em me ver ali, na sua casa, e conversando com a sua mãe. Não sei se ele irá gostar disso, e por isso eu sai rapidamente de lá, fiquei com receio de ele fazer alguma ceninha desnecessária na frente de sua mãe. Mas eu estava mais do que disposta à continuar com as visitas. Dylan terá que me engolir, e com sorte ele irá se apaixonar pela a minha simpatia!
