Capítulo 10 - Noite do Karaoke
¤ Por Ashley Cooper | Miami, Flórida 02:33 PM ¤
Quando eu estou dançando, o mundo parecia entrar em pausa na minha cabeça. Não existia o abandondo da minha mãe, nem a indiferença do meu pai e muito menos a rejeição de Dylan. O mundo era colorido e vibrante, e ele girava em torno de mim, enquanto eu deslizava os meus pés pelo o salão.
Às vezes eu sou competitiva demais, mesmo se o prêmio não valer a pena. Eu posso estar arriscando a minha paz a troco de nada. Mas o que será da vida, sem emoção ou desafios para me chacoalhar pelo os ombros de vez em quando? A minha vida pacata não teria graça alguma se tudo tivesse sido fácil desde o começo.
Os dias tem se passado rapidamente, como se eu piscasse e literalmente o dia terminava e começava de novo. É estranho, porque dizem que o último ano do ensino médio costuma demorar mais do que os outros, e nesse passo eu sentia que não estava aproveitando quase nada.
Pelo menos tem sido legal conversar com alguém depois da escola, quase todos os dias eu e a sra. O'Brien nos encontramos, ou na minha casa ou na dela, para comermos e conversamos. Não era sempre, mas eu via no rosto dela a diferença que algo tão simples lhe fazia. Eu imagino que ela sinta falta de alguém para conversar e ficar à toa, já que Dylan não aparenta ser tão falante, e fora o fato de ele passar a tarde toda treinando no colégio.
Por falar nele, ele parou de me fazer cara feia, o que era uma novidade. Ele não parecia de mal humor como antes. Eu senti saudades de provocá-lo, de olhar nos olhos dele e insinuar o meu interesse. Mas quando eu paro e observo aquela intrometida da Merlia se esgueirando ao lado dele para ter a sua atenção, eu fervia de raiva. Não era tão frequente, mas mesmo assim, ela parecia mais próxima dele do que um dia eu já fui. Provavelmente ela já conversou mais com ele desde o começo das aulas, muito mais do que eu e ele interagimos a minha vida toda!
— Vai ter karaoke essa noite, você tá dentro? – Meg me perguntou, tirando a minha atenção da mesa onde Dylan almoçava com Noah.
— Quem vai? – perguntei, terminando o meu prato.
— A galera de sempre – ela deu de ombros.
Nesse momento, Jane sentou conosco.
— Vocês acreditam que o Gabriel andou falando mal de mim por aí? – ela disse, parecendo revoltada. Eu e Meg nos entreolhamos.
— Jura? – A novela de Jane e Gabriel iria se repetir, é sempre assim. Eles terminam e depois voltam.
— Disse por aí que eu terminei com ele só pra eu poder pegar o Ton! Mas e ele, que nem esperou terminar comigo, e me traiu?! Canalha! – ela reclamou.
— Não adianta falar mal dele e depois voltar com ele – avisei.
— Essa foi a última vez! – eu ri, voltando a observar Dylan. Mas como ironia do destino, Merlia apareceu bem na frente, e se sentou com a gente também.
— Oi, meninas, eu ouvi falar em um karaoke essa noite... – ela comentou, olhando para mim animada. Eu suspirei cansada.
— Tô dentro! – Jane avisou, se animando.
— A gente também – Meg respondeu por nós duas, e eu sorri confirmando.
A noite, eu escolhi um vestido de veludo preto, que desenhava o meu corpo perfeitamente. Para complementar, eu pus uma jaqueta de couro preta e uma bota da mesma cor. Eu olhei no fundos dos meus olhos, e jurei a mim mesma que iria me divertir, e tentar esquecer de todo aquele estresse que me rondava e que tinha nome e forma.
Eu peguei minhas coisas e desci a escada, notando o meu pai na nossa sala de estar, ele parecia esperar alguém ou alguma coisa.
— Pai? – chamei, e ele me olhou dos pés à cabeça.
— Já vai sair? – ele perguntou, voltando a olhar pela a janela.
— Vou, Meg já está quase chegando... – ele não tirava os olhos da janela. — Tá tudo bem? – eu quis saber.
— Sim, só estou olhando o tempo – ele respondeu, e obviamente aquela resposta não me convenceu. Mas, eu não poderia insistir em uma resposta melhor, ele iria se estressar, e não demorou muito para Meg buzinar na minha porta. — Não chegue tão tarde – ele avisou, antes de eu sair.
Eu me apressei e logo entrei no Sedan.
— Uau, você está linda! – eu disse, dando de cara com o look brilhante da minha melhor amiga.
— E você não está nada mal também – ela piscou fazendo charme.
Nós buscamos Jane no caminho, e consequentemente também pegamos Merlia em sua casa. Ela vinha falando o quanto estava animada para o karaoke, já que, segundo ela, nunca participou de um antes.
— Meninas, quais são os garotos que estão solteiros, só pra eu saber...? – Jane perguntou, fazendo todas nós rirem.
— É hoje que ela se vinga do Gabriel! – eu comentei, fazendo ela rir.
— Tem o Ton, o Brendon... – Meg foi ditando.
— E também tem o Dylan – Merlia disse, me deixando muda de tanta raiva. Por acaso, ela não tira ele da cabeça?!
— O Dylan não conta... – Meg respondeu, provavelmente notando minha mudança de humor súbita.
— Mas por quê? Quando eu perguntei à ele sobre namoradas, ele me respondeu que era solteiro! – ela comentou.
— Chegamos! – Jane mudou de assunto.
Nós saímos do carro, e eu aproveitei a brisa fria daquela noite para respirar fundo e acalmar os meus nervos. A noite só estava começando. O letreiro do bar estava aceso, e parecia que a galera do colégio já havia chegado. Assim que entramos, eu pude reconhecer a maioria dos alunos. É óbvio que por onde eu passei, a minha beleza e charme chamaram atenção da maioria dos garotos.
Eu vi o Noah de longe, e me perguntei se o Dylan veio também, mas quem estava ao lado do Noah esta noite era uma garota do segundo ano, já conversei um pouco com ela na escola, ela era bastante meiga e muito gentil, será que estavam se conhecendo melhor?
Escolhemos uma mesa no meio do bar, daria para observar ao redor e aproveitar a música, enquanto interagimos com todos os outros. Eu pedi uma cerveja, e Jane me acompanhou, enquanto que Meg e Merlia ficaram no refrigerante.
Mais ou menos uma hora depois, eu vi Dylan atravessar a porta e chegar no bar. Senti um frio na barriga quando nossos olhares se colidiram. Ele foi para a mesa do Noah, que ainda estava com a garota. Fiquei lhe observando de longe, e de vez em quando ele retribuía o olhar. Tinha algo a mais, quando ele me olhava, eu não sabia o que poderia ser. Não sabia identificar se era algo bom ou não. Ele parecia sereno. Quando eu pensei em ir até ele, o karaoke começou, e obviamente eu entrei na fila junto com as meninas.
Jane fez todos rirem com a sua voz desafinada, ela fez dupla com o Ton, o que deixou tudo ainda mais engraçado. Eu estava me abastecendo de mais cerveja, e logo Meg também entrou na brincadeira, cantando Guns 'n Roses. E logo chegou a minha vez.
Eu estava ansiosa, e concordei em cantar uma música mais romântica. Eu queria dedicá-la, secretamente, à Dylan. Queria olhar em seus olhos e recitar os versos. Quando eu subi no palco, depois de combinar tudo direitinho com os músicos, eu olhei para a multidão na platéia, sorrindo para a maioria que prestava atenção em mim. Quando meus olhos bateram na mesa do Dylan, eu quase explodi de puro ódio. Lá estava a maldita Merlia ao seu lado. Os dois conversavam, enquanto eu estava ali parada, feito uma idiota, olhando aquela situação.
Eu suspirei, nervosa, tentando acalmar os batimentos do meu coração, e acenei para os músicos começarem à tocar. Quando o solo da guitarra chamou a atenção de todos, eu soltei a minha voz.
— I put a spell on you... – "eu lancei um feitiço em você", eu cantei para Dylan, quando seus olhos bateram em mim. — Cause you're mine – "pois você é meu".
Ele parecia levemente surpreso, ao me assistir. Não sei se era por me ouvir cantar tão bem, ou se era pela a letra da música. Minha voz era sutil, um tom mais calmo e sensual. As vezes eu fechava os meus olhos, quando era duro demais para mim enxergar aquela mulherzinha ao seu lado. O meu sangue fervia em minhas veias, eu conseguia sentir o calor suar a pele do meu pescoço, e por isso eu coloquei o meu cabelo de lado, e voltei a abrir os meus olhos. Eu estreitei o olhar para a minha platéia, e era claro o quanto todos estavam gostando da minha apresentação.
Eu não vou ser modesta. Eu estava arrasando! A melodia na guitarra combinava com o tom da minha voz doce e afeminada.
O guitarrista veio para perto de mim, e encostou as suas costas nas minhas, e ali eu soltei o meu agudo, finalizando a música, e recebendo palmas e mais palmas em seguida. Eu sorri para todos, agradecida, mas não consegui forçar mais animação do que essa. Ainda estava com raiva pela a aproximação de Merlia e Dylan. Por que ele chutava todas as outras garotas que chegavam perto, mas ele permitia essa ao seu lado? O que ela tinha de tão especial? Mas que inferno!
Eu tomei o resto de cerveja da minha garrafa e segui para o banheiro. Precisava retocar o meu batom. Eu ignorei o olhar de algumas garotas dali, e apenas me concentrei em melhorar a minha aparência. A minha cara não estava nada boa, não tinha muito o que fazer. Fiz um coque em meus cabelos, molhei minhas mãos e passei no pescoço, para aliviar a minha temperatura corporal, e não me demorei para ir embora, aquele lugar fedia à xixi.
Eu procurei as garotas assim que saí do banheiro, encontrei Jane agarrada à Ton, os dois se beijavam como se o mundo fosse acabar. Meg estava de conversinha com um dos músicos, e eu não queria nem checar se Merlia ainda estava pendurada no Dylan, para evitar mais dores de cabeça. Ou seja, eu estava sobrando naquele lugar.
Abaixei a cabeça, e escapei pela a multidão, preferindo tomar um ar fora daqui. A noite estava linda, e o céu estava brilhante de estrelas. O vento frio refrescava o meu corpo, enquanto tentava esvaziar a minha mente. Eu chequei o meu celular, e notei outra ligação perdida da minha mãe. O que será que essa mulher queria comigo? Talvez eu devesse retornar a ligação e descobrir o que tanto ela queria falar comigo. Pode ser importante – dei de ombros.
— O seu pai tem visitado a minha mãe – ouvi uma voz masculina atrás de mim, e fiquei boquiaberta ao notar que era o Dylan. Ele veio com as suas mãos guardadas dentro dos bolsos da sua calça, jogando os ombros com charme, caminhando tranquilamente até chegar perto de mim, ficando ao meu lado. — O que eles andam fazendo juntos?
