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Capítulo 05 - Destinos entrelaçados (Parte 5)

JÉSSICA

Naquele instante, sentindo-me sobrecarregada pela intensidade dos acontecimentos, respirei fundo e me afastei da aglomeração. Encontrei um canto tranquilo e me permiti abaixar, deixando as lágrimas finalmente escaparem.

— Eu só queria estar na minha casa, eu só queria estar longe de tudo isso! — Desejei em meio aos soluços, permitindo-me expressar a exaustão e o desespero que se acumulavam dentro de mim. A sensação de querer fugir para um refúgio seguro, onde pudesse encontrar paz e conforto, era avassaladora naquele momento de vulnerabilidade.

De repente, as luzes vermelhas das sirenes das viaturas dominaram o ambiente. A princípio, pensei que talvez fosse uma alucinação, que estivesse sonhando, mas ao abrir os olhos, percebi que minhas mãos e minhas roupas estavam cobertas de sangue. A realidade sombria daquela loucura finalmente se impôs, e eu soube que tudo aquilo realmente tinha acontecido.

Ainda atordoada, levantei-me e me dirigi até o carro do homem que havia acabado de salvar. O delegado de plantão se aproximou e me conduziu até a delegacia para prestar depoimento. Ao chegar, expliquei detalhadamente tudo o que havia acontecido, inclusive compartilhando sobre o encontro anterior que tive com a vítima naquela mesma noite. Após ser escutada, fui liberada, e o rapaz que se apresentara como amigo da vítima gentilmente me acompanhou até minha casa.

Ao chegar em meu apartamento, me livrei das roupas ensanguentadas, girei o registro do chuveiro e deixei a água gelada me banhar. Naquele momento, eu estava tão anestesiada que mal sentia a água em contato com meu corpo. Meu único pensamento era: “Como tudo isso pôde acontecer?” Envolta na toalha, fui até o quarto para pegar o amuleto da sorte que havia ganhado e me dirigi até a varanda, ansiosa para me livrar de toda a tensão que havia se acumulado dentro de mim. O silêncio da noite e a brisa suave me acolheram, oferecendo um breve momento de calma e tranquilidade em meio ao caos que acabara de enfrentar.

Agarrada ao amuleto, em um estalo silencioso, meu olhar se fixou na vista panorâmica deslumbrante da cidade à minha frente. Meus olhos se arregalaram e a mandíbula caiu lentamente enquanto eu tentava processar tudo o que havia passado naquela noite. Meu coração batia forte e minhas pupilas dilataram, absorvendo a magnitude dos eventos que acabara de vivenciar. Diante de mim, o horizonte se estendia em uma vastidão infinita, as luzes da cidade cintilando como estrelas em um firmamento urbano.

Meus cabelos pareciam eriçados pelo vento súbito que soprava pela varanda, e o som da ventania zunindo em meus ouvidos era a única coisa que quebrava o silêncio que me envolvia. Naquele momento de introspecção e contemplação, eu me sentia pequena diante da grandiosidade da cidade, mas também forte e resiliente diante dos desafios que havia enfrentado.

Enquanto o mundo lá fora continuava a girar, eu permanecia ali, firme e determinada, pronta para enfrentar o que quer que viesse pela frente. Segurei o amuleto próximo ao peito, sentindo sua presença reconfortante enquanto me esforçava para encontrar uma posição confortável. Foi então que notei um pequeno pedaço de papel no interior dele. Curiosa, puxei o papel e me esforcei para ler o que estava escrito: "Irei realizar apenas um desejo seu."

"Que absurdo, isso é ridículo!" Ponderava, desacreditada, enquanto deixava escapar um suspiro profundo e jogava o amuleto em um canto qualquer. Mas, aos poucos, um pensamento persistente começou a se formar em minha mente: "E se... bem, não custa tentar!" Decidida a experimentar, levantei-me para pegar o amuleto novamente. Segurei a peça entre os dedos e proferi em voz alta:

— Quero ser rica! Não, eu quero ser milionária, esse é o meu desejo. Após pronunciar minhas palavras, olhei ao meu redor, esperando algum sinal de mudança. No entanto, tudo permanecia igual. Com uma mistura de frustração e incredulidade, acabei pegando no sono naquela varanda. Fui despertada horas depois, revivendo todo o trauma daquela fatídica noite. O homem ferido, as vozes ecoando na minha mente, cada detalhe se repetindo como um filme macabro.

Noites turbulentas tornaram-se uma constante rotina, deixando-me exaurida e emocionalmente abalada. O peso da culpa e da preocupação com o destino daquele homem não me deixava em paz. Com o passar dos dias, a sombra daquela noite assombrou minha vida, interferindo até mesmo no meu trabalho. O impacto emocional era avassalador, obrigando-me a afastar temporariamente das minhas responsabilidades para lidar com as consequências do que parecia ser um simples capricho.

Enquanto descansava na acolhedora casa da minha tia, eu acompanhava diariamente as notícias sobre o caso, ansiosa por qualquer atualização que pudesse oferecer alguma esperança. Até então, tudo o que havia sido noticiado era sombrio:

O renomado empresário Henry Morales, figura proeminente no mundo dos negócios, foi alvo de um ataque brutal enquanto saía de uma celebração no majestoso edifício Torre do Vale. Os detalhes sobre o paradeiro do possível agressor ainda permanecem envoltos em mistério, lançando uma sombra densa sobre o incidente.

No entanto, uma reviravolta fortuita ocorreu quando uma mulher presente no local encontrou Henry gravemente ferido e agiu rapidamente para estabilizá-lo, impedindo um desfecho fatal até a chegada dos socorristas. Um amigo próximo da vítima suspeita que o incidente possa ter sido uma tentativa de assalto, uma teoria que só intensifica a intriga em torno do acontecimento.

Enquanto isso, as autoridades estão meticulosamente analisando as imagens das câmeras de segurança ao redor do local, na esperança de lançar alguma luz sobre o enigma que envolve o ataque. Os investigadores, trabalhando incansavelmente em sigilo, evitam a divulgação de qualquer informação que possa comprometer as investigações em andamento.

Apesar do cenário sombrio, há um lampejo de esperança: Henry Morales passou por uma cirurgia bem-sucedida, segundo os relatos médicos, o que traz algum alívio em meio à tensão e à incerteza que permeiam essa situação. Ele permanece em coma induzido após a cirurgia, mergulhado em um estado de inconsciência enquanto os médicos monitoram sua condição com cuidado.

A família e os amigos próximos mantêm uma vigília constante ao seu lado, esperando por qualquer sinal de melhora. Enquanto isso, a investigação sobre o ataque continua, com as autoridades dedicadas a encontrar respostas e justiça para o ocorrido. O suspense parece rondar, alimentando a esperança de um despertar e recuperação do renomado empresário.

A notícia de sua estabilização trouxe um alívio momentâneo, mas a consciência de que ele permanecia em coma induzido era uma constante fonte de preocupação. A incerteza sobre seu destino pesava em meus pensamentos, enquanto eu torcia fervorosamente por sua recuperação. Estar distante fisicamente do local do incidente não amenizava minha angústia; ao contrário, aumentava minha sensação de impotência diante dos eventos que se desenrolavam.

Cada atualização trazia consigo uma mistura de esperança e temor, e eu me via mergulhada em um ciclo constante de ansiedade enquanto aguardava por notícias do empresário ferido. O desejo de ver justiça prevalecer e a esperança de que ele se recuperasse completamente eram os fios que mantinham minha mente e meu coração ligados àquele acontecimento que mudou o curso dos meus dias.

Três meses depois. Dezembro de 2017.

Ao despertar abruptamente, fui recebida pelo brilho radiante do sol atravessando a janela do quarto, como se a própria divindade do dia estivesse me acordando. Percebi, com um misto de surpresa e resignação, que meu período de afastamento médico finalmente havia chegado ao fim. No entanto, os resquícios dos medicamentos ainda perduravam, mergulhando-me em um sono mais profundo do que o habitual.

A constatação de que estava absurdamente atrasada para o trabalho fez meu coração disparar numa velocidade assustadora. "Hoje, Miranda vai me esfolar viva!" Era o único pensamento que martelava em minha mente enquanto me apressava em me arrumar, tentando controlar a avalanche de ansiedade que me consumia.

Encarar a ira da minha chefe era uma perspectiva aterradora, mas não havia tempo a perder. Era hora de encarar as consequências do meu retorno tardio à rotina profissional. Não bastava apenas estar atrasada; a vida parecia conspirar para tornar meu dia ainda mais caótico.

Com o celular quebrado e sem qualquer outro despertador à disposição, peguei uma roupa qualquer e corri até o banheiro para um rápido banho. A água gelada que me atingiu era apenas mais um lembrete cruel de que a energia do apartamento ainda estava cortada. Três meses de afastamento haviam se transformado em uma montanha de dívidas crescentes.

Como estagiária, meu salário já era modesto, e o tempo afastada reduziu-o pela metade. Cada pagamento que eu fazia para cobrir o aluguel de um mês deixava outro pendente, alimentando uma espiral de preocupação e incerteza sobre o futuro. Após o banho, me troquei e me deparei com o pequeno papel que prometia realizar apenas um desejo.

Aquela mensagem parecia uma cruel ironia em meio ao caos financeiro e pessoal que eu enfrentava. No entanto, por mais absurdo que fosse, uma pequena faísca de esperança surgiu em meu peito. Talvez, apenas talvez, aquele amuleto pudesse fazer alguma diferença em minha vida.

— Uma ova, nem pra ficar rica prestei! Como se eu precisasse de mais um lembrete das minhas falhas! — murmurei, frustrada, enquanto segurava o papel nas mãos.

A tentação de queimá-lo com um isqueiro passou pela minha mente, mas após um momento de reflexão, acabei desistindo. Em vez disso, simplesmente amassei o papel e o joguei em um canto qualquer do quarto, permitindo que a decepção e a amargura se dissipassem junto com ele. Era hora de enfrentar mais um dia desafiador, mesmo que minhas esperanças tivessem sido momentaneamente frustradas. Saí de casa às pressas, correndo para pegar o metrô e chegar à empresa onde trabalhava.

De longe, avistei o letreiro que anunciava: "Marketing Nova Era." Tentei me misturar entre os outros funcionários ao entrar, na esperança de passar despercebida pela equipe de liderança. Desejava fervorosamente sumir dos olhares deles, mas, para minha desgraça, a primeira pessoa que cruzou meu caminho foi Miranda.

— Está atrasada, Torres! — Ela berrou, sua voz ecoando pelo corredor da empresa. — Quero você na minha sala agora! — Miranda saiu pisando duro, e eu imediatamente a segui, sentindo o coração acelerar com o temor do que viria a seguir. — Feche a porta quando entrar! — Seu tom ríspido deixava claro que algo sério estava para acontecer. Assenti com a cabeça e fiz o que ela ordenou, adentrando a sala com um nó na garganta. — Depois de dias afastada, mais uma vez você perdeu a hora, infelizmente terei que te demitir. Sabe quantas pessoas estão lá fora esperando por uma oportunidade de estágio aqui na empresa? — Ela disparou assim que entrei, sua expressão séria e implacável.

— Miranda, por favor, não faça isso! Eu preciso muito desse emprego, não fiz por mal, eu estava tomando remédios controlados. Estou atolada em dívidas, meu aluguel vai vencer em breve, já fazem três meses que cortaram a energia do meu apartamento e meu celular quebrou, dá uma olhada! — Coloquei o aparelho sobre a mesa dela, suplicando por compaixão, sentindo o desespero me sufocar.

— É a sua última chance, Torres! — Ela bufou, sua expressão suavizando levemente diante das minhas palavras desesperadas. — Se chegar atrasada mais uma única vez, já sabe o que vai acontecer! — Ela analisou o aparelho e me devolveu. — Pegue um smartphone da empresa e fique com ele até você comprar outro! — Encarou-me com desdém e saiu da sala, deixando-me com um misto de alívio e temor pelo futuro incerto.

Fechei meus olhos por um instante, deixando-me envolver pelo alívio que inundava meu ser. Apesar de todas as dificuldades e do medo do futuro incerto, o fato de Miranda ter me dado uma nova chance era um fio de esperança que eu agarrava com todas as minhas forças. Respirando fundo, prometi a mim mesma que não desperdiçaria essa oportunidade, determinada a mostrar meu valor e superar todos os obstáculos que se apresentassem no meu caminho. Era como se cada pequeno alívio fosse apenas uma pausa temporária antes de enfrentar novamente as adversidades da vida adulta.

— Vai ficar aí? Tem muito serviço à sua espera. Vamos logo com isso! — Ela voltou de repente, e me apressei em ir até o setor onde trabalhava, sentindo os olhares curiosos dos colegas sobre mim.

Eu mal havia passado pela porta e os olhares de todos se voltaram para mim. Elena, que era minha melhor amiga, logo se aproximou.

— Merda, pensei que ela tinha te demitido. Ela estava furiosa com você! De novo atrasada? O que aconteceu com você? Eu fui na sua casa quase todos os dias nos últimos meses e te liguei inúmeras vezes! — Ela disparou, visivelmente preocupada.

— Não sei como, mas ela me deu uma última chance! — Suspirei, aliviada por compartilhar a notícia com alguém próximo. — Eu não estava muito bem, o médico me afastou e eu passei um tempo na casa da minha tia. Estou sem celular! — Mostrei o aparelho quebrado, explicando minha situação.

— E agora? Como vamos fofocar? — Elena fez uma imensa careta, mostrando sua preocupação com a falta de comunicação.

— A Miranda me falou para pegar um smartphone da empresa e ficar com ele até comprar outro! — Coloquei a bolsa sobre a mesa e sentei-me na frente do computador. — Cortaram a energia de casa, e acho que em breve serei despejada se não conseguir pagar o aluguel! — Passei as mãos sobre o rosto, sentindo o peso das preocupações.

— Poxa, que situação difícil. Se quiser, pode ficar na minha casa! — Elena ofereceu, de forma educada, mostrando-se solidária com minha situação.

— Você quer dizer na casa dos seus pais! — Arqueei a sobrancelha, conhecendo bem a situação financeira dela. — Estou pensando seriamente em voltar a morar com minha mãe e com meu pai! O que me irrita é saber que todo meu esforço terá sido em vão! — Suspirei, sentindo-me derrotada pela adversidade da vida.

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