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Capítulo 04 - Destinos entrelaçados (Parte 4)

JÉSSICA

Enquanto eu caminhava de volta ao meu lar, um vento repentino e forte varreu a rua, trazendo consigo uma nuvem de poeira que se infiltrou nos meus olhos. Parei por um momento, tentando afastar a irritação esfregando os olhos, mas uma sensação incômoda persistiu, como um grão de areia irritante. Avancei alguns passos e me deparei com o espelho retrovisor de um carro estacionado, onde a luz fraca da rua refletia meu rosto preocupado.

Instintivamente, arregalei os olhos, tentando identificar qualquer objeto estranho, em busca desesperada de alívio para a irritação persistente. Após mais algumas tentativas de limpeza, finalmente senti um grande alívio e respirei profundamente, agradecendo pelo conforto recuperado para meus olhos fatigados. Enquanto me preparava para seguir na direção oposta ao carro, uma voz masculina emergiu da escuridão, rompendo o silêncio da noite.

— Por favor, me ajude, alguém me atacou! — A voz era fraca, quase um sussurro, mas carregava um tom desesperado que fez meu coração acelerar instantaneamente, inundando-me de surpresa e preocupação.

Consciente da vulnerabilidade da situação e sem hesitar, virei-me na direção da voz, procurando a fonte da angústia que ecoava na noite. Naquele instante, observei uma pequena rachadura no vidro do carro, um sinal claro de que algo estava terrivelmente errado. Rapidamente, tentei abrir a porta, mas ela resistiu, como se a própria escuridão que envolvia o veículo se recusasse a ceder.

— Preciso que abra a porta, você consegue fazer isso? — Minha voz transbordava de urgência e compaixão, diante da situação desconhecida que se desenrolava diante de mim. Pouco tempo depois, ouvi o som reconfortante do destravamento da porta, um sinal de que minha ajuda era bem-vinda e necessária.

Enquanto a porta do carro se destravava, meu coração pulsava forte no peito, impulsionado pela urgência e pela incerteza do que encontraria lá dentro. Segurei firme no puxador da porta e deparei-me com o interior do veículo imerso na escuridão, exceto por uma tênue luz proveniente dos postes distantes. Avancei com cautela, meus sentidos aguçados pela adrenalina e pela preocupação.

No banco do motorista, vi uma figura encolhida, em agonia, agarrando-se ao peito com uma expressão de dor agonizante. Seu rosto era mal discernível na escuridão, seus traços contorcidos pelo sofrimento. A camisa social branca que ele vestia estava completamente manchada de vermelho, uma cruel obra de arte feita pelo sangue que escorria profusamente. Seus gemidos ecoavam pela cabine, preenchendo o espaço com uma angústia palpável. Aproximei-me lentamente, temendo assustar ainda mais a pessoa ferida.

— Está tudo bem, estou aqui para ajudar. — murmurei, minhas palavras soando mais como um mantra reconfortante para mim mesma do que para o desconhecido.

Ao me aproximar, pude discernir sua respiração ofegante, revelando a intensidade de sua agonia. Seu rosto estava machucado, manchas escuras e cortes marcando sua pele pálida.

— Quem fez isso com você? — Perguntei, tentando manter a calma diante da situação alarmante.

Ele soltou um gemido abafado, sua voz rouca e trêmula. — Não sei... ele veio do nada... me pegou desprevenido! — Sua narrativa era fragmentada, interrompida por momentos de dor aguda que o dominavam.

A urgência em ajudar era concreta, e enquanto minhas mãos buscavam rapidamente por algo para estancar o sangramento, meu pensamento corria atrás de soluções para a situação. O que quer que tivesse acontecido ali naquela noite, exigia uma resposta imediata e cuidados precisos para garantir a segurança daquele homem ferido.

Com cuidado meticuloso, examinei seus ferimentos, buscando sinais de lesões graves. Num impulso de desespero e adrenalina, aproximei-me, e então percebi o horror da situação: uma quantidade alarmante de sangue, o suficiente para manchar o interior do veículo e revirar meu estômago em náuseas. Com um esforço sobre-humano, consegui remover o rapaz do carro e o deitei cuidadosamente de lado na calçada áspera e fria.

Uma crise de pânico começou a se apossar de mim, meu coração batendo descompassado e minha respiração tornando-se superficial, difícil de controlar. Sentei-me próximo ao homem, lutando contra as ondas de tontura que ameaçavam me derrubar a qualquer momento. Ao observar mais de perto o rosto pálido e ensanguentado diante de mim, uma sensação de horror me invadiu, fazendo meu corpo gelar. Aqueles olhos sem vida e aquele rosto contorcido pela dor eram excessivamente familiares. Era o rapaz com quem havia esbarrado no bar, Henry era o nome dele.

Seu rosto agora marcado não apenas pela casualidade de um encontro, mas também pelo destino trágico que unia nossos caminhos naquela noite fatídica. No entanto, apesar da sensação de familiaridade, algo parecia diferente nele agora. Seu semblante estava mais abatido, e havia um ar de desespero que não estava presente no momento em que nos encontramos no bar.

Um pensamento sombrio passou pela minha mente, sugerindo que talvez pudesse ter evitado essa tragédia se tivesse feito algo diferente naquela noite. Mas agora não era hora para remorso ou auto-recriminação; era hora de agir rapidamente para tentar salvar sua vida, se ainda fosse possível. Sem hesitação, avaliei rapidamente sua condição e percebi que ele estava lutando para respirar. Ao auscultar seu peito, notei uma diminuição nos sons respiratórios de um dos lados, um sinal preocupante de algo terrivelmente errado.

Suspeitando de um pneumotórax, meu coração acelerou e meus olhos se arregalaram com a urgência da situação. Decidi erguer cuidadosamente a camisa dele para avaliar a gravidade dos ferimentos, e o que vi me fez engolir em seco. Marcas profundas e sangrentas adornavam seu torso, indicando claramente que ele havia sido atacado com violência. “Facadas”, pensei horrorizada, sentindo um arrepio percorrer minha espinha diante da brutalidade dos ferimentos.

Foi então que a urgência da situação me impulsionou à ação. Corri na direção do hotel mais próximo, a adrenalina pulsando em minhas veias enquanto me esforçava para manter a calma. Empurrei a porta do estabelecimento e corri até a recepção, minha voz ecoando com urgência enquanto pedia por ajuda.

— Por favor, eu preciso de ajuda, tem um homem ferido na calçada, do outro lado da rua! Preciso que chamem uma ambulância! — Gritei desesperadamente, minha voz ecoando pelo saguão do hotel, buscando qualquer ajuda disponível. — Onde tem uma cozinha próxima? — Indaguei, sentindo a urgência da situação me dominar a cada segundo.

— Dois lances de escada acima! — A recepcionista respondeu, sua expressão revelando a preocupação diante da gravidade da situação.

Sem hesitar, corri como nunca antes em minha vida, cada passo impulsionado pela necessidade de agir rapidamente e salvar uma vida. Subi os lances de escada às pressas, minha respiração irregular e o coração martelando no peito. Ao chegar ao salão, avistei algumas pessoas que pareciam estar em uma comemoração e imediatamente busquei os utensílios necessários.

Peguei uma faca de ponta fina, um frasco de álcool em gel para desinfecção, um punhado de canudos e alguns guardanapos para estancar o sangue. Cada movimento era feito com determinação e urgência, enquanto me preparava para enfrentar a terrível realidade da situação na calçada lá embaixo. Todos no salão voltaram suas atenções para mim, surpresos com minha presença repentina, e não era para menos.

Eu era uma intrusa com as roupas manchadas de sangue, segurando utensílios que não me pertenciam. O silêncio tenso pairava sobre o salão enquanto eu me apressava de volta até o homem ferido, cada passo ecoando com urgência e desespero. Quando me aproximei, não hesitei em arrancar a camisa dele, estourando os botões que a prendiam. A funcionária do hotel que estava na recepção chegou logo atrás de mim, seu rosto revelando o choque e a angústia diante da cena.

— Meu Deus, ele está morto? — Perguntou ela, sua voz tremendo com a possibilidade aterradora que se apresentava diante de nós.

— Não, ele ainda está respirando! — Respondi rapidamente, mas minha voz foi interrompida pelo longo suspiro do homem, seguido pelo silêncio. O desespero apertou meu peito enquanto eu tentava manter a calma diante da emergência. — Acho que ele teve um pneumotórax, eu preciso fazer algo para salvá-lo! — Exclamei, sentindo o peso da situação sobre mim como um fardo insuportável.

— Você sabe o que está fazendo? É médica por acaso? — A funcionária perguntou, sua voz ecoando com incerteza e preocupação.

— Não sou, mas estudei alguns anos de medicina e sei o que precisa ser feito! — Respondi com firmeza, tentando afastar minhas próprias dúvidas enquanto enfrentava a decisão crucial diante de mim. — Eu preciso perfurá-lo para aliviar a pressão no peito, caso contrário, ele morre!

“Não, isso é muito perigoso, o que eu sei? Se cometer qualquer erro, ele vai morrer e serei responsável por isso! Eu não tenho habilidade ou experiência, mas não posso deixá-lo morrer!” Ponderava, em um tremendo conflito interno, sentindo o peso da responsabilidade e a urgência da situação pesarem sobre meus ombros como um fardo insuportável.

Cada batida acelerada do meu coração ecoava minha angústia crescente, enquanto eu lutava para encontrar uma solução para o dilema que se desenrolava diante de mim. Ao ver que o homem não mostrava qualquer sinal vital, meu coração afundou em desespero, mas a determinação ainda queimava em mim.

Encarei a faca que havia pego e, com as mãos trêmulas, a esterilizei meticulosamente com álcool em gel, meu único aliado na luta contra o destino cruel que se desenrolava diante de mim. Cada movimento era feito com a urgência e a precisão de quem sabia que cada segundo contava, e cada decisão poderia significar a diferença entre a vida e a morte.

— Preciso de um canudo esterilizado, com urgência! — gritei, apontando na direção onde os canudos estavam, e a funcionária prontificou-se em fazer o que pedi. Rapidamente, ela retirou um canudo da embalagem e o esterilizou com álcool, em seguida, entregou-o para mim.

— Meu Deus, espero que isso dê certo! — A funcionária tapou os olhos, incapaz de suportar a angústia do momento.

Com as mãos trêmulas, peguei a faca e o canudo esterilizado, cada movimento impulsionado pela urgência e pela esperança desesperada de salvar uma vida.

— Preciso que essa área seja iluminada! — Avisei, minha voz ecoando com urgência e determinação, enquanto a mulher prontamente acendeu a lanterna do celular, projetando uma luz tênue sobre a cena.

Meu coração batia descompassadamente, a luz vacilante da lanterna iluminava o rosto pálido do Henry, enquanto eu me preparava para o que estava por vir. Cada detalhe da cena estava eternizado em minha mente, e eu sabia que não poderia hesitar. Com o coração martelando no peito e a consciência da responsabilidade esmagadora sobre meus ombros, eu estava ciente de que deveria improvisar uma traqueostomia de emergência com os recursos disponíveis: uma faca e um canudo de plástico.

Apesar do tremor em minhas mãos, eu me forcei a manter a calma e a concentração, sabendo que cada movimento era crucial para a sobrevivência do homem ferido. Com as mãos firmes, fiz um pequeno corte no pescoço do rapaz para aliviar a pressão no tórax e permitir que o ar escapasse. Era um momento de pura agonia e esforço, mas não havia espaço para hesitação. Coloquei o canudo sobre o corte, improvisando uma via de ar para ajudar a restaurar a respiração.

Feito isso, o corpo de Henry reagiu; ele se ergueu em uma posição sentada, seus olhos semicerrados denotando confusão e fraqueza. Uma inspiração profunda encheu seus pulmões, e seus olhos se encontraram com os meus, transmitindo uma gratidão silenciosa e inexplicável. Mas a recuperação era fugaz, e em questão de segundos, ele cedeu ao cansaço e se deitou novamente.

Ele agora era capaz de respirar melhor, e eu o coloquei em uma posição estável enquanto monitorava sua condição, cada batida de seu coração ecoando com a promessa de vida renovada. Enquanto aguardava a chegada da equipe médica de resgate, eu tremia de alívio e emoção, lutando contra a vontade avassaladora de chorar diante do milagre que acabara de presenciar.

— Meu Deus, ele não está respirando, você o matou? Socorro, tem um homem morto aqui! — A funcionária saiu gritando em desespero, suas palavras ecoando pelo ambiente e chamando a atenção de um grupo de pessoas curiosas que logo se aproximou. Não demorou para que os paramédicos, acompanhados da multidão, chegassem ao local.

— Ele está vivo, acabei de constatar que o quadro dele está melhor do que antes! — comuniquei em voz alta, tentando acalmar os ânimos exaltados e oferecer alguma esperança diante da confusão que se instalara.

A tensão no ar era palpável, mas minha voz ressoava com confiança e certeza, alimentando a crença de que o homem ferido ainda tinha uma chance de sobreviver.

— Henry? É o meu amigo Henry Morales, quem diabos fez isso com ele? Chamem a polícia! — Um homem se aproximou, claramente em estado de pânico, sua voz trêmula ecoando pela rua.

— Henry Morales, o proprietário das indústrias Gold? — Outro rapaz perguntou, seus olhos arregalados com a surpresa da revelação.

— Ele mesmo. Precisamos da polícia aqui com urgência! — O homem pegou o celular e se afastou, determinado a buscar ajuda para seu amigo em perigo.

Enquanto isso, o médico que havia acabado de chegar dirigiu sua atenção para mim:

— Qual é o estado do paciente? — Ele perguntou, sua expressão séria e profissional.

— Eu controlei o pneumotórax e estanquei o sangramento, mas ele precisa ser levado para o hospital o mais rápido possível! — Respondi, transmitindo a gravidade da situação enquanto me esforçava para manter a calma e o controle da situação. O tempo era precioso, e cada segundo contava na luta pela vida de Henry Morales.

— Você é médica? — Uma enfermeira perguntou, admirando minha habilidade em uma situação tão crítica.

— Não sou, só fiz alguns anos de medicina! — Respondi humildemente, reconhecendo minhas limitações, mas grata por ter conseguido ajudar.

— Parabéns, jovem, sua agilidade salvou a vida desse homem! — O médico elogiou e se retirou rapidamente, acompanhando a maca com o paciente em direção à ambulância.

Nesse momento, o Rapaz que parecia ser íntimo da vítima se aproximou de mim, sua expressão misturando gratidão e curiosidade:

— Quem é você? Como o encontrou? — Ele perguntou, seus olhos buscando respostas para o enigma que acabara de presenciar.

— Eu estava caminhando e escutei o pedido de ajuda dele! — Expliquei, ainda sentindo a adrenalina do acontecimento pulsar em minhas veias, cada detalhe daquela noite gravado em minha memória eternamente.

— Estou profundamente agradecido por ter salvado a vida dele. Preciso que aguarde para dar seu depoimento à polícia! — O homem franziu o cenho e se distanciou para atender o celular que começara a tocar, deixando-me sozinha com meus pensamentos e a intensa emoção do momento.

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