Capítulo 06 - Destinos entrelaçados (Parte 6)
JÉSSICA
Casualmente, enquanto mexia na bolsa, acabei me deparando com o cartão que o homem havia me dado naquela noite, antes do reencontro inesperado no veículo. Peguei o mesmo na mão e fiquei o encarando.
— Olha esse cartão! — Mostrei o mesmo para Elena. — A pessoa que me deu ele parecia ser um homem atencioso. Ele era extremamente educado, e gostei bastante de conversar com ele. Por ironia do destino acabei salvando a vida dele. Você viu a notícia sobre o empresário que foi esfaqueado? Espero que ele esteja bem, e quem sabe um dia eu possa encontrá-lo! — Suspirei, compartilhando sobre o encontro inusitado que tivemos naquela noite.
— Não acredito! Você é a mulher que citam na notícia como a grande heroína? Estou pasmem, mas me diga uma coisa, ele é bonito? — Elena perguntou, curiosa para saber mais detalhes.
— Muito bonito e super charmoso! — Murmurei, lembrando-me da imagem marcante daquele homem em minha mente.
— Ele nem deve ser tudo isso! — Miguel, que trabalhava no mesmo setor, acabou se envolvendo no assunto, provocando uma reação em mim.
— Dá licença? Deixe de ser intrometido! — O repreendi, revirando os olhos diante de sua intromissão.
— Depois continuamos conversando sobre isso, a mocréia tá vindo! — Elena apontou o dedo na direção onde a diretora geral estava e correu até sua mesa, evitando qualquer confronto.
— Reunião de última hora. Quero todos vocês no auditório o quanto antes! — Miranda avisou, impondo sua autoridade, e rapidamente todos obedeceram suas ordens, dirigindo-se ao auditório conforme solicitado.
Enquanto caminhava em direção ao auditório, meu pensamento voltou-se para as palavras de Miranda e as consequências de mais um atraso. Determinada a não desperdiçar essa segunda chance, prometi a mim mesma que faria de tudo para manter meu emprego e resolver minhas dificuldades financeiras. E quem sabe, em meio a todas essas turbulências, eu ainda encontraria uma maneira de reencontrar aquele homem misterioso que cruzou meu caminho naquela noite tumultuada.
A tensão no ar era palpável enquanto nos acomodávamos nas cadeiras do auditório, esperando para descobrir qual seria o assunto da reunião de última hora convocada por Miranda. O rumor de que algo importante estava por vir circulava entre os funcionários, deixando todos ansiosos e curiosos. Havia se passado cerca de trinta minutos desde que ela tinha avisado sobre a repentina reunião. Logo, ela subiu no palco e tomou o microfone em suas mãos, captando a atenção de todos os presentes no auditório.
— Bom dia a todos, para quem não me conhece, meu nome é Miranda Yuhan. Como todos já sabem, com o falecimento do antigo dono, a empresa passará por uma rigorosa transição, já que a neta dele decidiu colocá-la à venda! Em breve, o novo proprietário ou proprietária assumirá o poder. Não sabemos com precisão quando isso vai acontecer, contudo, recomendo a todos que estejam preparados para tudo, até mesmo por um possível desligamento do quadro de funcionários. — De imediato, ela olhou na minha direção. — Não fazemos ideia de quem será o novo mentor ou mentora, portanto, recomendo que todos dêem o melhor de si daqui por diante. Preparem um produto com design inovador para apresentar ao homem ou à mulher a quem devemos impressionar. Conto com a colaboração de todos vocês! — Torres, quero que me mantenha informada sobre o progresso da equipe de desenvolvimento. Aliás, quero que você faça a apresentação inicial e final do projeto, então não cometa erros, pois eles não serão tolerados. Lembre-se que seu estágio está em jogo. É agora ou nunca, mostre-me do que você é capaz! — Ela me encarou com uma frieza severa, deixando claro o peso da responsabilidade que recaía sobre meus ombros.
Sua atitude me deixou um tanto nervosa. O suor escorria pela minha testa, e eu mal conseguia engolir a água que havia acabado de bebericar na garrafa. Puxei alguns botões da gola da camisa, que estava praticamente me enforcando, e apenas concordei com a cabeça, tentando disfarçar a tensão que sentia no momento.
— Peço que continuem sentados. Acabei de ser informada que o novo proprietário chegou! — Ela avisou, e um pequeno alvoroço se formou entre os funcionários, que permaneceram ansiosos em seus assentos, aguardando a próxima informação.
Todos estavam curiosos para saber quem era a tal pessoa, e de repente, através da multidão expectante, avistei um rosto familiar se aproximando do palco - era o mesmo homem cuja vida eu havia resgatado naquela noite fatídica. Eu me sentia estranha, era como se o vínculo entre nós tivesse sido selado naquela noite de aflição.
— Caramba, eu não acredito, qual a probabilidade disso acontecer? — Exclamei em voz alta, a surpresa evidente em minha expressão.
— O que foi? — Elena, que estava sentada ao meu lado, perguntou, inclinando-se para escutar melhor.
— Ele é o rapaz de quem eu te falei, o que me deu o cartão e que eu salvei a vida dele! — Sussurrei, tentando manter a discrição enquanto compartilhava a revelação.
— Tá brincando comigo? O filho da puta é muito lindo! — Rapidamente coloquei minha mão na boca de Elena, tentando contê-la antes que ela continuasse falando.
— Que linguagem. Ficou maluca? Ninguém pode saber que conheço ele, vai acabar gerando fofocas indevidas! Nem sei por que fui te contar isso! — Revirei os olhos, lamentando ter compartilhado aquela informação.
— Tá bom, me desculpe. Mas ele realmente é muito lindo, um colírio para os olhos e parece ser bom de cama também! — Cochichou, provocativa.
— Pelo amor de Deus, cale essa boca! — Revirei os olhos novamente, desejando profundamente que ele não se lembrasse de mim, enquanto tentava manter a situação sob controle.
"Céus, espero que ele não se lembre de mim! Talvez ele não se recorde, afinal, estava inconsciente; não há como lembrar. Apesar de tudo, fico aliviada em saber que ele sobreviveu, que está bem! Que ironia, há apenas momentos atrás eu ansiava por um reencontro com ele e agora estou tomada pelo medo." Pensei, segurando alguns papéis diante do meu rosto, tentando me esconder e disfarçar minha ansiedade.
— Peço a atenção de todos! — Miranda voltou a falar, sua voz ecoando pelo salão. — Este é o senhor Henry Morales, o novo proprietário da empresa! Por favor, fiquem de pé para darmos as boas-vindas a ele! — Ela ordenou, e todos, num gesto uníssono, se levantaram para aplaudir o homem que agora liderava a empresa.
Henry, com sua postura responsável e autoritária, ajustou a gravata no pescoço com um gesto preciso antes de iniciar seu discurso. O ambiente silenciou quase que instantaneamente, dando destaque à sua presença imponente no palco. Sua voz, firme e cativante, ecoou pelo espaço enquanto ele transmitia suas palavras com clareza e convicção.
— Bom dia a todos, muito obrigado pela atenção e pela recepção calorosa! Eu estava trocando algumas palavras com a Miranda e ela me falou sobre alguns projetos em andamento. Estou bastante ansioso para ver as sugestões das equipes. A empresa irá passar por um processo de fusão com a filial de outra indústria que me pertence. No momento, não pretendo fazer grandes alterações nos setores, as mudanças acontecerão gradativamente, e vocês nem vão sentir muita diferença. Por enquanto, é só isso que tenho a dizer. Em breve, farei outra reunião com vocês! — Ele sorriu, sua presença carismática preenchendo o ambiente, e foi aplaudido novamente, os funcionários demonstrando seu apoio à nova direção.
— Torres, venha até aqui, por gentileza! — Miranda chamou pelo meu sobrenome, fazendo-me encolher na cadeira, a tensão se acumulando em meus ombros. — Jéssica Torres, preciso de você aqui! — Ela liberou um falso sorriso, seus olhos penetrantes me encontrando de longe. Relutantemente, levantei-me e fui até eles, segurando os papéis na frente do rosto, buscando um refúgio temporário atrás deles. — Mas o que há de errado com você? — Ela puxou os papéis da minha mão, expondo-me ao olhar inquisitivo do homem ao seu lado. — Esta é a Jéssica, ela é uma das nossas estagiárias e deixei-a responsável pelo projeto da equipe de desenvolvimento. Ela me deve isso, não é mesmo, Torres? — Miranda falou, seu tom carregado de implicância, enquanto eu mantinha a cabeça baixa, desejando estar em qualquer outro lugar naquele momento.
— Prazer, eu sou o Henry! — Ele rapidamente estendeu sua mão para me cumprimentar, sua expressão amistosa contrastando com a tensão ao meu redor.
— Oi, eu sou a Jess… Jéssica, mas parece que você já sabe disso! — Revirei os olhos ao olhar na direção de Miranda, minha voz um tanto quanto nervosa diante da situação desconfortável.
— Acredito que vamos nos dar muito bem! Quero que venha até a minha sala depois da reunião, temos muito o que conversar. Quero saber todos os detalhes sobre esse projeto! — Ele liberou um sorriso sutil, o brilho nos olhos denotando entusiasmo genuíno.
— Mas já? Eu não elaborei nada ainda! — Arqueei a sobrancelha, meu tom refletindo surpresa e uma ponta de preocupação.
— Não se preocupe, podemos fazer isso juntos! — Ele mordeu discretamente seu lábio inferior, um gesto que me fez engolir em seco, uma onda de nervosismo percorrendo-me.
— Pode ficar tranquilo, senhor Morales. Em alguns minutos ela estará lá, não é mesmo, Torres? — Miranda se envolveu na conversa, forçando-me a concordar com a cabeça. — Todos estão liberados, podem voltar ao trabalho! — Ela ordenou e, rapidamente, os colaboradores começaram a se movimentar, o burburinho do escritório retomando sua intensidade habitual.
"Meu Deus, o que eu faço agora? Será que ele se lembra de mim? E pra piorar tudo eu não tenho nenhuma ideia em mente. Estou literalmente lascada, agora a minha demissão vem, sem sombras de dúvidas!" Ponderava, sentindo o peso da incerteza e do medo do desconhecido.
O turbilhão de pensamentos invadia minha mente enquanto eu lutava para manter a compostura diante da iminente reunião com o novo proprietário da empresa. As dúvidas ecoavam em minha cabeça, e o receio de que ele se lembrasse de mim aumentava a cada segundo. Afinal, como poderia esquecer aquele encontro tão marcante, onde minha vida e a dele se cruzaram de maneira tão inesperada? Ao mesmo tempo, a falta de uma ideia sólida para apresentar ao senhor Morales adicionava uma camada extra de preocupação.
Eu me sentia desamparada, como se estivesse prestes a enfrentar uma batalha sem armas ou estratégias. E o medo da demissão, flutuava sobre mim como uma sombra ameaçadora, só intensificando minha agonia. Afinal, não havia como ignorar a pressão que Miranda colocava sobre meus ombros, lembrando-me constantemente do risco potencial que meu estágio enfrentava.
Tentei reunir minha coragem e pensar em soluções, mas cada tentativa parecia levar a um beco sem saída. O desconhecido à minha frente parecia uma muralha intransponível, e eu me sentia totalmente despreparada para enfrentá-lo. Respirei fundo, tentando acalmar os nervos, mas a sensação de desamparo persistia.
No entanto, mesmo diante da incerteza, uma chama de esperança queimava dentro de mim. Eu não desistiria sem lutar. Afinal, minha sobrevivência na empresa dependia disso. Era hora de enfrentar meus medos de frente e encontrar uma maneira de superar os desafios que se aproximavam.
