Capítulo 12 Henrique teve uma crise
As aulas da tarde eram poucas, apenas uma disciplina, e após terminá-la Anabela planejava retornar diretamente para casa.
Embora agora tivesse um lugar para morar, ela não possuía muito dinheiro, pois a família Ribeiro acreditava que contanto que lhe dessem comida suficiente para não morrer de fome, ela deveria se sentir eternamente grata.
Anabela saiu do portão da universidade e, enquanto esperava o ônibus, abriu seu celular habitualmente com a intenção de navegar na internet para procurar empregos de meio período nas proximidades. No momento em que ligou o aparelho, sentiu-se um pouco frustrada ao lembrar que os telefones daquela época não eram tão inteligentes, servindo apenas para fazer ligações e enviar mensagens de texto.
Em pouco tempo, um sedan preto parou subitamente em sua frente.
Instintivamente, ela olhou para dentro do veículo e viu a janela do banco traseiro se abaixar lentamente, revelando o rosto profundo e esculpido do homem, com uma expressão habitualmente fria e serena, carregando uma nobreza intocável.
Henrique olhou brevemente para Anabela e disse calmamente:
— Suba no carro.
Anabela ficou momentaneamente atônita, deixando escapar um som de confusão.
O homem franziu ligeiramente o cenho e disse com voz suave:
— Sua saia está com sangue.
Ao ouvir essas palavras, Anabela sentiu o rosto corar imediatamente, olhando para trás em pânico, e de fato havia uma pequena mancha vermelha na parte posterior de sua saia azul.
Embora já fosse setembro, o clima ainda estava quente, e aquela era a única saia que possuía.
Anabela cobriu a mancha vermelha em sua saia com uma das mãos, sentindo-se mortificada por ter sido vista por Henrique naquela situação constrangedora, desejando poder desaparecer no chão.
— Suba no carro! — a voz fria de Henrique soou novamente.
Nesse momento, a porta do motorista se abriu, e Luiz desceu do veículo, sorrindo com gentileza paternal enquanto abria a porta traseira, fazendo um gesto convidativo.
Após refletir por um momento, Anabela decidiu não ser teimosa e subiu no carro constrangida.
Contudo, dada sua situação atual, ela não ousava se sentar no banco, temendo sujá-lo.
Anabela manteve a cabeça baixa, conseguindo apenas se agachar meio curvada, parecendo uma pequena criatura desamparada.
Luiz fechou a porta do carro e se sentou no banco do motorista, virando-se para perguntar a Anabela:
— Senhorita, onde você mora?
— No complexo residencial próximo à Rua do Norte — Anabela respondeu cautelosamente, sentindo-se tão constrangida que não sabia onde colocar as mãos e os pés.
Henrique olhou friamente para Anabela, que estava consideravelmente mais baixa em sua posição agachada.
— Não é desconfortável ficar agachada assim? — perguntou ele.
— Não é desconfortável, está ótimo... — antes de terminar a frase, Anabela, devido ao nervosismo, bateu a cabeça no teto do carro, sentindo dor mas não ousando fazer qualquer som de queixa.
A humilhação veio rápido demais, ela se sentiu um pouco triste, abaixando a cabeça ainda mais e nem sequer ousando respirar alto.
Henrique comprimiu os lábios finos numa linha reta, olhou para ela uma vez, tirou seu paletó e o jogou no banco ao lado.
— Use isto como proteção — ofereceu ele.
Anabela arregalou os olhos com surpresa, seus cílios tremulando como pequenos leques, pois aquele paletó claramente tinha um valor considerável.
Naquele momento, ela estava preocupada até mesmo com dinheiro para comida, e temia manchar aquele paletó caro com sangue menstrual.
Ela simplesmente não tinha como pagar por ele.
Como se percebesse seus pensamentos, Henrique arqueou uma sobrancelha.
— Você acha que eu precisaria extorquir uma estudante? — questionou ele.
Verdade...
Anabela aceitou o paletó, agradeceu e então se levantou cuidadosamente para se sentar naquela posição.
O carro corria pela estrada, e para evitar constrangimento, Anabela manteve o rosto voltado para a janela.
A janela brilhante refletia a silhueta de Henrique, impecavelmente belo, limpo e fresco, mas não perdendo a maturidade masculina.
Como uma pessoa tão excepcional poderia morrer dali a dois anos? Era uma perda terrível.
Logo, o carro parou no cruzamento.
Anabela suspirou aliviada, agradeceu e imediatamente saltou do veículo.
Por alguma razão, Luiz também abriu a porta e desceu, chamando-a.
Luiz hesitou por um longo tempo antes de perguntar:
— Senhorita, você sempre morou aqui? Conhece uma idosa chamada Jaqueline Rocha?
Ao ouvir esse nome, Anabela ergueu o olhar com curiosidade.
— Vocês conheciam minha avó?
— É sua avó? Pode me dizer onde ela está agora? — a voz de Luiz carregava uma pitada de emoção.
Anabela acenou com a cabeça, mas sua expressão se tornou melancólica.
— Minha avó faleceu há três anos.
Por um longo momento, Luiz pareceu ter dificuldade para aceitar a notícia, com o rosto cheio de decepção.
Luiz queria dizer algo mais, mas no final não disse nada, sorrindo gentilmente.
— Chegamos tarde demais. Está bem, menina, pode subir.
Anabela acenou e se virou para caminhar de volta, enquanto uma suspeita crescia em seu coração.
Luiz estava procurando sua avó por causa da doença de Henrique?
Na vida anterior, como não conseguiram encontrar sua avó, Henrique não teve cura e acabou morrendo?
Ela não havia dado nem alguns passos quando, de dentro do carro, chegou subitamente o grito ansioso de Luiz.
— Jovem senhor, o que aconteceu?
— O remédio, onde está o remédio? — Luiz procurava ansiosamente no compartimento de armazenamento do carro.
Ele se lembrava claramente de ter colocado medicamentos de reserva ali, mas por que haviam desaparecido?
Anabela parou abruptamente, correu de volta rapidamente, abriu a porta do carro e entrou, vendo Henrique com uma expressão de dor intensa, o cenho franzido, o rosto pálido como papel, suor frio escorrendo da testa, uma das mãos apoiando a cabeça, com as veias das Costa da mão saltando.
Henrique estava tendo uma crise?
Anabela ficou assustada com aquela cena, instintivamente estendendo a mão para verificar seu pulso.
Alguns segundos depois, Anabela comprimiu os lábios, tendo uma ideia geral da condição física de Henrique, especialmente considerando o cheiro de medicamentos que emanava dele.
Todos aqueles eram medicamentos para tratar... insônia, sonhos perturbadores e fraqueza mental.
Especialmente o diazepam, que indicava que a situação já estava muito grave.
Distúrbios prolongados do sono fazem com que as pessoas se tornem irritáveis e sofram colapso nervoso, e se for tratado apenas como um problema simples de sono, não haverá qualquer resultado.
Pelo contrário, com o acúmulo de tempo, a condição apenas se agravará.
Henrique abriu os olhos, revelando pupilas verdes frias como lâminas, com os cantos avermelhados.
Ele respirava com dificuldade enquanto virava a cabeça, seu rosto coberto por uma camada de melancolia, forçando algumas palavras pela garganta:
— Fique longe de mim!
