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5

Assim que Letícia e seu acompanhante se retiraram, Marina ficou sozinha com Hector. A tensão no ar era evidente, e ela tentou evitar seu olhar, mas os olhos verdes dele estavam fixos nela, como se estivessem dissecando cada camada de sua alma.

Hector recostou-se no sofá, a postura relaxada contrastando com a intensidade de seu olhar. Depois de um momento de silêncio desconfortável, ele finalmente falou:

— Sabe qual o problema de garotas como você, Marina?

O tom dele era casual, mas cada palavra soava como um golpe. Marina ergueu os olhos, tentando manter a postura, mas a firmeza de sua expressão vacilava.

— O que você quer dizer com isso? — Ela respondeu, tentando soar firme, mas sua voz saiu mais baixa do que pretendia.

Hector inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, os olhos brilhando com um misto de diversão e desprezo.

— São cegas quanto à realidade do mundo — continuou ele, a voz baixa, mas carregada de significado. — Até acho bonitinho essa sua síndrome de princesa Isabel, achando que está salvando alguém com seus atos de “bondade”.

Marina franziu o cenho, sentindo uma onda de indignação, mas Hector não deu espaço para sua reação.

— Mas não consegue esconder ou disfarçar seus preconceitos — ele disse, a voz tornando-se mais cortante. — Você é como todos os outros da sua classe, Marina. Olha para quem está fora do seu círculo como se você fosse superior.

Marina sentiu o rosto esquentar, uma mistura de vergonha e raiva borbulhando em seu peito.

— Isso não é verdade… — começou ela, mas Hector interrompeu com uma risada baixa e fria.

— Ah, claro que é — retrucou ele, inclinando-se ainda mais perto, até que seus olhos ficaram quase no mesmo nível dos dela. — Você devia saber que os maiores criminosos não estão reformulando bairros precários, eles sentam em suas cadeiras de couro, usando ternos, igual ao seu pai.

As palavras atingiram Marina como um tapa. Ela abriu a boca para responder, mas nenhum som saiu. As acusações de Hector eram um golpe direto no coração de tudo o que ela acreditava saber sobre sua família e sobre si mesma.

— Você não sabe nada sobre meu pai — murmurou, mas sua voz soou fraca, quase como se estivesse tentando convencer a si mesma.

Hector se recostou novamente, observando-a com o mesmo sorriso de escárnio que parecia ser sua marca registrada.

— Talvez não saiba — ele disse, dando de ombros. — Mas talvez ele não seja tão diferente de mim quanto você gostaria de acreditar.

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Marina sentia as palavras de Hector ecoando em sua mente, abalando todas as suas certezas.

Marina saiu da área VIP com passos firmes, o rosto quente de raiva. Cada palavra de Hector ainda reverberava em sua mente, fazendo sua indignação crescer a cada segundo. Passando pela multidão do clube, ela parecia um raio, cortando o ambiente com sua presença. Algumas mulheres a observaram com olhares de puro ódio, sussurrando entre si, mas Marina não se importou. Ela só queria sair dali o mais rápido possível.

Do lado de fora, o ar fresco da noite bateu em seu rosto, mas não foi suficiente para acalmar o turbilhão de emoções dentro dela. Marina sacou o celular e pediu um carro pelo aplicativo de carona, torcendo para que chegasse logo. Enquanto esperava, abraçou a si mesma, tentando afastar o desconforto.

Foi então que ouviu passos se aproximando. Três garotas surgiram das sombras, caminhando em sua direção com uma energia que fez o estômago de Marina se revirar. Na frente delas estava Cíntia, uma mulher que exalava confiança e hostilidade.

— Ora, ora, se não é a princesinha do Hector — começou Cíntia, com um sorriso venenoso.

Marina deu um passo para trás, o coração acelerado.

— O que vocês querem? — perguntou, tentando soar firme, mas sua voz tremeu levemente.

Uma das garotas riu alto, um som carregado de desprezo.

— Queremos entender como alguém como você conseguiu chamar a atenção dele — respondeu, apontando para Marina com o dedo. — Você é horrível.

— Nem mesmo sabe andar em um lugar como aquele — acrescentou a outra, olhando Marina de cima a baixo.

Cíntia deu um passo à frente, os olhos brilhando com uma mistura de raiva e diversão.

— Não se preocupe, querida — disse ela, com a voz perigosamente baixa. — Garanto que você não terá a atenção de homem algum depois de hoje.

Foi então que Marina viu o brilho de um canivete nas mãos de Cíntia. O pânico tomou conta de seu corpo enquanto ela recuava instintivamente, sentindo o coração bater forte contra o peito.

— O que você está fazendo? — perguntou, a voz embargada pelo medo.

— Vou te ensinar a ficar no seu lugar — disse Cíntia, aproximando-se com o canivete em punho.

As outras duas garotas bloquearam a saída de Marina, impedindo-a de fugir. Ela sentiu o pânico tomar conta de si, mas também uma onda de indignação e sobrevivência. Ela precisava pensar rápido antes que fosse tarde demais.

Marina sentiu o corpo reagir automaticamente. Os anos de aulas de autodefesa, que pareciam adormecidos, retornaram ao seu cérebro como uma tempestade de reflexos. Ela respirou fundo, analisando a situação rapidamente. O foco estava em Cíntia, que avançava com o canivete. As amigas dela ficaram imóveis, esperando o espetáculo que achavam que veriam.

Quando Cíntia se aproximou para atacar, Marina desviou para o lado com agilidade, agarrando o pulso da mulher em um movimento preciso. Com um giro rápido, desarmou Cíntia, fazendo o canivete cair no chão com um som metálico. Antes que ela pudesse reagir, Marina torceu o braço dela para trás, aplicando a pressão exata para causar uma fratura.

Cíntia gritou de dor, caindo de joelhos no asfalto, segurando o braço machucado. As outras duas garotas recuaram, os rostos transformados pelo medo. Marina ergueu os olhos, confiante, pensando que sua reação era o motivo da mudança de atitude delas.

Mas então ela ouviu um som de passos firmes atrás de si. Quando se virou, viu Hector, de braços cruzados, observando a cena com um sorriso enigmático no rosto. Atrás dele, três homens altos e musculosos o acompanhavam, claramente seus seguranças.

— Você é mesmo uma caixinha de surpresas, Marina! — Hector comentou, a voz carregada de diversão, mas também de uma autoridade que fez a espinha de Marina se arrepiar. — Mas já chega de causar por hoje, não é?

Ele fez um gesto com a mão, e um dos seguranças se aproximou para ajudar Cíntia, que ainda chorava de dor no chão. Marina observou a cena, tentando decidir o que fazer, mas a aproximação de Hector roubou sua atenção.

— Vou te dar uma carona. Venha. — Hector ordenou, o tom firme, sem espaço para questionamentos.

Marina abriu a boca para protestar, mas algo na maneira como ele a olhava, como se fosse impossível desobedecê-lo, a fez hesitar. Relutante, percebeu que não tinha muita escolha. Engolindo sua resistência, ela seguiu Hector até o carro que o aguardava, o coração ainda acelerado pela adrenalina do confronto.

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