Capítulo 7
Hadiya
Me distanciei dele antes que eu cometa um ato impulsivo e beije os lábios bonitos desse homem, que surgiu do nada para me perturbar, que situação, estou desesperadamente necessitanda de sexo, isso é carência de uma noite bem aproveitada na cama, sem dúvida. Inacreditável! Ele se foi e eu permaneci ali me sentindo péssima, por me pegar pensando em um homem comprometido, derramei muitas lágrimas naquele dia e minha única confidente veio até mim para conversarmos.
— Por que você está tão triste, amiga?
— Nada, só pensando no maldito passado que sempre me deixa pra baixo.
— Você precisa voltar para o psicólogo.
— Não quero não, eles vão passar aquele remédio que me deixa lerda e eu estou bem.
— Não sei por que estou com meu coração assim, tão triste amiga. Não sei o que está acontecendo comigo esses dias.
— Por isso mesmo, você sabe que tem que voltar para o médico. Lembra quando você ficou mal com depressão e para piorar ainda tinha pesadelos com sua família, esses pesadelos não voltou não, né?
— Não. — menti.
Tenho tido um sonho recorrente em que me deparo com o corpo de minha mãe e meus dois irmãos, o que me deixa apreensiva imaginando o pior. É angustiante não ter informações sobre aqueles que tanto amamos, no entanto, acredito que um dia descobrirei a verdade por trás disso.
com eles e com meu amigo.
Será que eles estão em segurança? Ou será que há algo de errado acontecendo com eles? E por que Kevin nunca retornou, mesmo quando suas irmãs organizaram uma festa incrível em uma casa de eventos? Fiquei trancada e não sei para onde foi, apenas escutei conversas sobre a festa.
Desconheço o motivo pelo qual apenas o irmão se destacava naquela família, todos os demais eram pessoas ruins. Quando me vejo tomado por esse sentimento ruim, não consigo deixar de pensar nele e na carta, talvez eu devesse lê-la de uma vez por todas.
— Amiga, vou fazer uma coisa. Aproveita que você está aqui para ler a carta, se ele estiver falando coisa horrível eu não vou ficar pior.
— Ah, para Hadiya. Duvido que o menino doce que ia te ver escondido dos pais, ia te falar coisas horríveis. Pega logo a carta, não sei por que você demorou quinze anos para abrir uma carta? Não sei como você conseguiu amiga, essa façanha, eu teria lido no mesmo dia.
— Muito engraçadinha, você sabe muito bem que eu aprendi a ler já quase adulta, né?
— Ah, é verdade, às vezes eu me esqueço disso.
— Eu sei disso, quem nos dias de hoje vai para o colégio pela primeira vez com 15 anos de idade?
— Amiga, você ainda era uma adolescente, não era velha. Para de falar bobagem, tem gente que não sabe ler e é muito mais velha que você. Não se culpe nunca, porque não estudou novinha, me ouviu, dona Hadiya?
— Eu não me culpo por isso.
— Vai logo abrir a carta pelo amor de Deus mulher, acho que estou mais curiosa que você.
— Também acho. Vamos lá...
Procurei a carta e não a encontrei. Oh! Merda, cadê a minha carta? Remexemos o quarto inteiro e nada de carta. Merda, onde eu coloquei a minha carta.
— Amiga, eu não sei, mas acho bom você achar, pois a minha curiosidade já está a tempo de explodir para ver o que seu amiguinho te escreveu. Ele deve ter escrito coisas lindas para você e você nem sabe pelo amor de Deus, Hadiya. Só você mesmo, viu. Não abrir uma carta para não estragar. Ele agora estaria com quantos anos?
— Vinte e seis anos, ele deve estar morando com os pais que se mudaram há muitos anos, já deve ter família e nem se lembra mais do que eu existo. Só de pensar que ele deve estar muito feliz e com família, sinto uma imensa dor no meu coração, eu quero que ele seja muito feliz, mas a ideia dele ter uma esposa, não sei o que pensar.
— Você vai ficar morrendo de ciúme se visse seu amor de infância casado?
— Lógico que não, que ideia Lara, eu só pensei nisso, mas não teria ciúme de Kevin de jeito nenhum. Meu desejo é que se ele estiver casado, que seja feliz.
Busquei ansiosamente pela carta, porém não a encontrei. Droga, onde está minha carta? Reviramos todo o cômodo em busca dela, mas ainda não a encontramos. Onde será que eu coloquei minha carta?.
— Colega, desconheço a situação, porém seria interessante investigar, pois estou muitíssimo curiosa para descobrir o conteúdo da mensagem que seu amigo lhe escreveu. É provável que tenha dito coisas encantadoras e você nem faz ideia, Hadiya. Apenas você para essa atitude de não abrir a carta, com medo de estragar algo. Quantos anos ele teria agora, afinal?
Com vinte e nove anos de idade, é provável que ele esteja residindo com os pais que mudaram-se há bastante tempo, já deve ter constituído família e provavelmente nem recorda mais da minha existência. Ao imaginar o quão contente ele deve estar e com uma família formada, um sentimento de tristeza invade o meu coração, desejo sinceramente que ele seja extremamente feliz, porém a perspectiva de ele ter uma esposa me deixa sem saber o que pensar.
— Você vai ficar morrendo de ciúme se visse seu amor de infância casado?
— Claro que não, que absurdo Lara, eu apenas considerei essa possibilidade, mas não sentiria ciúmes de Kevin de forma alguma. Eu realmente desejo que, se ele estiver casado, seja feliz.
A simples ideia me entristece, caso isso seja considerado. Ele tinha um lugar único no meu coração. Mesmo na minha inocência de criança, esse sentimento era genuíno, o mais puro que já experimentei por alguém do sexo oposto.
O menino que costumava me fazer sorrir constantemente, ainda guardo um carinho por ele, mesmo sabendo que nunca mais o encontrarei.
— Muitos anos se passaram sem nenhuma novidade, mesmo quando eu enfrentava maus tratos na residência daquela família, amiga.
— Muitos anos se passaram, Lara. Ele mudou e agora deve ser como os pais, cheios de preconceitos e exploradores de crianças, mas lá no fundo do meu coração, rogo a Deus para que ele mantenha a gentileza, o amor e a bondade que já teve. Que o tempo não tenha o transformado, assim como não me fez desistir e seguir por um caminho diferente. Poderia ter me evolvido, ter me entregado à drogas ou ao crime, mas sempre soube que não queria trilhar o caminho do mal. Meu desejo era apenas aprender a ler e a escrever, e ainda posso cursar minha faculdade, afinal, como você disse, a idade não é um obstáculo. Contudo, seria necessário escolher outra área, pois a paciência para ensinar já não é a mesma. Pensei em uma formação em contabilidade, algo que possa me auxiliar profissionalmente.
— Hadiya, estou realmente impressionado com você. Você é uma vencedora incrível, minha amiga, que mesmo enfrentando desafios, é a pessoa mais incrível que já conheci.
— Ah, não seja tola. Vai me fazer derramar lágrimas sua idiota.
Eu já me encontrava em prantos quando, de repente, percebi que havia perdido completamente o rastro da minha carta. Para onde será que ela foi parar?
Estou saindo agora, depois venho te buscar para irmos juntos para aquela incrível casa noturna, é simplesmente maravilhosa.
— Ai, Lara, estou na dúvida se quero mesmo ir.
— Com certeza é uma ótima ideia sair para se divertir, relaxar e se entregar aos prazeres da vida, como conversamos ontem sobre a importância de relaxar e se entregar a momentos íntimos.
— Ah, sem graça, me convenceu passa aqui então, que iremos.
Após a saída dela, minha mente foi invadida pelo arrependimento, sobre o meu chefe e sua filha, o cuidado que ele dispensa a ela, um pai exemplar e zeloso. É inspirador testemunhar tal dedicação paterna... Reflexão feita, acabo adormecendo durante toda a tarde!
