Capítulo 4
Duas semanas depois.
Dante
Odeio sair da cama antes de Eva, mas tinha assuntos pendentes em Verona, além disso Edgar Squared estava começando a me irritar com sua insistência em organizar um casamento no meio do caos que minha vida se encontra por culpa do imbecil de Donzel.
Termino de arrumar as abotoaduras da manga do terno quando vejo minha Ivi se espreguiçar e passar as mãos pelos olhos. Seus cabelos esvoaçantes e encaracolados caiam em cachos soltos por seus ombros e seu delicioso cheiro ainda estava presente em meu nariz. Por mim ignoraria os meus deveres e deitaria ao seu lado apenas para fazê-la gemer meu nome e implorar que eu lhe desse múltiplos orgasmos.
— Esse terno deveria ser proibido por lei. — Ela esfrega as mãos nos olhos me observando com desejo.
— É porque você não sabe o que estou pensando. — Acabo rindo e ela foca sua atenção em mim com um olhar ainda mais quente que o anterior. — O que deveria ser proibido é esse seu olhar faminto. — Pego a carteira e o celular colocando no bolso da calça social e ajusto um dos meus rolex preferidos no pulso me preparando para sair.
— Ultimamente você tem saído cedo. Aconteceu algo? — Ela se senta e deste ângulo tenho uma ótima visão do seu seios cobertos pela renda fina da camisola branca. Tento focar minha atenção em sua pergunta e não no seu corpo ou realmente me atrasaria.
— Alguns problemas com as empresas de Verona que precisam ser resolvidas pessoalmente, além de Edgar me esperando para um almoço, ele quer determinar algumas coisas sobre o casamento de Jack pessoalmente e isso está realmente me irritando. — Confesso.
— Você ainda não está bem com esse assunto, não é mesmo? — Questiona preocupada e nego voltando minha atenção para ela.
— Só não queria ser obrigado a concordar com isso. — Passo as mãos nos cabelos com irritação. — Entretanto não vejo outra saída ou opção, Edgar não quer abrir mão do contrato e está dificultando as coisas, para piorar insiste em marcar uma data.
— Vai dar tudo certo Dan — Eva se levanta e envolve seus braços em meu pescoço enquanto apoio as mãos em sua cintura. Realmente queria acreditar em suas palavras, acreditar que tudo melhoraria, mas não acredito que as coisas sejam tão simples assim, não tenho o otimismo de Eva. — Você é um ótimo líder, um ótimo irmão e Jack sabe disso. Ele sabe que você não pode iniciar uma guerra agora, ainda mais com Donzel dando tanto trabalho.
— Não me agrada essa situação, na verdade, se formos analisar em questão de poder, nem devíamos estar reclamando. Edgar tem poder e respeito, isso significa que expandiremos nossos horizontes para fora da Itália e seremos ainda mais temidos, mas também seremos ainda mais caçados e odiados. Há tantos pontos para se analisar, o lado bom e o lado ruim. Só que pior de tudo isso é ver Jack sofrendo com um casamento não planejado, seria normal isso acontecer com Max e Royal, mas Jack é o quarto então compreendo seu desespero. O que mais me irrita é o fato de que prometi aos três que depois de assumir o poder tudo seria diferente, mas não está sendo exatamente como eu esperava. — Acabo despejando em Eva toda a frustração que vinha sentindo a dias e de certa forma me culpo por sobrecarregá-la, mas observando bem sua expressão e seus olhos ela não parecia me julgar, muito pelo contrário, me entendia. — Continuo com as mãos atadas por Donatel como sempre.
— Tudo tem seu tempo Dan, a sua vez irá chegar e Donatel irá pagar por todo o mal que fez, não deixe que ele tome o que vocês têm de mais belo, que é a lealdade um para com o outro. Ele tentou criar monstros desumanos, mas vocês se uniram e mostraram que juntos são mais fortes. Você pode não perceber, mas existe um pilar de sustentação nessa casa e esse pilar é você que suporta tudo por eles, se ruir eles ruirão, se lutar, eles lutarão.
Suas palavras me pegam desprevenido e a tensão em meu corpo diminui, envolvo meus braços em minha cintura deixando um beijo leve em seus lábios ao perceber que ela tinha razão, mas estava errada em um ponto.
— Você tem razão em tudo o que disse Eva, mas errou em um ponto. — Seu sorriso se alarga e eu o observo sem entender. — O nosso pilar é você querida. — Deixa um demorado beijo em minha testa. — Se pensa que no passado fomos unidos como somos hoje, está enganada, claro, sempre sustentamos um ao outro, mas tudo mudou drasticamente depois da sua chegada. Você nos torna mais humanos, mais sensatos e menos explosivos, isso porque abre nossos olhos sem medo de jogar a verdade em nossas caras.
Acabo rindo e balançando a cabeça.
— Ok, talvez eu seja uma viga que sustenta o pilar, no caso você. Eles até podem me ouvir, mas a última palavra sempre será sua. — Faço um biquinho.
— Eu sou a porra do chefe Ivi, eles me devem respeito, mas você sabe que jamais negaria algo a você. — Faço uma careta ao perceber o poder que Eva tem sobre mim, o poder que na verdade eu deixo ela exercer sem medo ou limites. — Inferno, desde quando deixo você me comandar dessa maneira?
— Desde sempre — Diz enquanto arruma minha gravata disfarçando sua expressão audaciosa e nego fingindo indignação.
— Poderia ao menos fingir e negar. — Uso um tom de repreensão fazendo com que ela ria ainda mais. — Safada, teimosa e sapeca. — Mordo sua orelha e ela apoia o rosto na curva do meu pescoço.
— Dan.. — Repreende se afastando um pouco.
— Ivi, hoje à noite será o aniversário de Max e Royal, a casa está uma bagunça com os organizadores do evento, não fique por aí sozinha, não confio nas pessoas que entram e saem, apesar de tudo ser revistado e fiscalizado, nunca sabemos o que Donzel está planejando. — Deixo um beijo em sua testa.
— Na verdade, queria falar com você sobre isso, vou precisar dos meus documentos. Você pegou todos eles no dia da festa e não me devolveu.
— O que está planejando?
— Comprar o presente de Max e Royal, vou precisar da minha identidade e dos meus cartões, além de um carro. — Me observa com aquele típico olhar que amansa meu coração, mas não negaria a ela ir comprar presentes para os meus irmãos se essa era sua vontade, apesar de achar algo desnecessário para Royal, sei que Max adora esse tipo de coisa.
— Pode pegar qualquer um deles desde que você não doe nenhum para o desmanche. —Repreendo me lembrando do Jaguar. — E não saia sozinha, mesmo que saiba se defender prefiro que leve um segurança com você
— Não vou dar seus carros a ninguém, só fiz aquilo porque estava com raiva e outra, a culpa foi única e exclusivamente sua.
— Agora a culpa é minha?
— Totalmente sua — concluí.
— Ok, realmente foi minha, fui um idiota e só de lembrar sinto raiva, mas Eva, não saia sozinha. Donzel está esperando um único deslize para atingir seus objetivos e você sabe que se ele colocar as mãos em você, destruirei o mundo se for necessário para te ter sobre minha proteção novamente. — Afirmo para deixar claro o meu nível de possessão, foda-se se isso parece exagerado ou doentio, talvez realmente fosse, mas pouco me importo, essa era a realidade, se alguém encostar em Eva com o sentido de ameaça matarei sem pensar duas vezes. Já vivemos muito tempo longe, não passaria um segundo da minha vida sem ela novamente.
— Ei, se acalme, não vou sair sozinha, tudo bem? Prometo. Sou teimosa, eu sei, mas reconheço meus limites, além disso não quero preocupá-lo. — Deixa um leve beijo em meus lábios enquanto seguro sua cintura puxando seu corpo próximo ao meu intensificando nosso beijo, mas logo me afasto recordando dos meus deveres.
— Realmente tenho que ir — Falo a contragosto meu único desejo era arrastar Eva para cama e permanecer ao seu lado a manhã toda, mas antes de ir retiro seus documentos da minha carteira entregando para ela e junto deixo um dos meus cartões. — Pode usar para comprar o que você quiser.
—Obrigada! — Ela sorri segurando os documentos e os cartões beijando meus lábios mais uma vez.
— Se não fosse Edgar e a porcaria do helicóptero me esperando iria beijar seu corpo todo e te enlouquecer em cima daquela cama. — Deixo claro apertando seu quadril contra minha virilha permitindo que ela sinta minha ereção e o desejo acumulado entre minhas pernas.
— Dante. — Ela ofega enfiando os dedos entre meus cabelos, nossos lábios se encontram em um baque surdo e minha língua invade sua boca em um beijo sedento, mas logo me afasto e me despeço seguindo o meu caminho.
Eva
Ao sair do quarto e descer as escadas vejo a loucura que aquela casa se encontra. São móveis fora do lugar e pessoas arrumando a decoração, seguranças andando de um lado para o outro atentos às pessoas que trabalham.
Acredito que ninguém tentaria invadir essa casa sabendo a quantidade de seguranças que Dante tem, somente eu fui louca o suficiente para tentar essa proeza, mas meu objetivo desde o início era fazer parte da máfia, atacar isso aqui é a mesma coisa de pedir para morrer.
Saio a procura de algum segurança que possa me levar a cidade, mas a realidade é que não conheço nenhum deles bem o suficiente para ditar ordens, além disso todos parecem ocupados demais.
Um pouco chateada com a demora observo o relógio em meu pulso e vejo que estou perdendo tempo, mas uma brilhante ideia surge em minha mente quando vejo Jack estacionar sua moto em frente às escadas.
— Jack! — grito e ele volta sua atenção para mim.
Desço as escadas com pressa e me recordo que tem me ignorado essas ultimas semanas depois da nossa conversa no jardim, mas agora não dá para simplesmente virar as costas e fingir que ele não está olhando. Praguejo em silêncio e me aproximo mesmo assim.
— Achei que você estava evitando contato depois que fui um babaca. — Ele retira o capacete e sorrio involuntariamente ao ver seus cabelos despenteados protestarem por ficarem presos naquele lugar apertado.
— Hum, você mereceu, mas eu não estava te evitando e sim o contrário, por isso não conversei mais com você, achei que precisava de um tempo, então resolvi me afastar. — Dou de ombros fazendo uma careta para disfarçar meu desconforto e mágoa, ainda estava um pouco chateada com suas palavras e ainda mais chateada por ele não ter falado comigo todos esses dias.
— Não foi intencional, só achei que você não quisesse mais conversar comigo depois de tudo que eu disse. — Encolhe os ombros feito uma criança e sorrio negando com a cabeça.
— Fiquei magoada com sua distância, mas de nada adianta ficarmos brigados, além disso, sinto sua falta, Max e Royal sempre estão ocupados com algo e raramente os encontro para conversar, os empregados dessa casa quase não conversam com medo que Dante arranquem suas cabeças e Teresa vive me dando sermão.
— Wow, não deixe Dante ouvir você falando isso, não quero levar uma surra por sua culpa, ele sabe ser ciumento quando quer. — Entra na defensiva e faço uma careta.
Dante realmente sabe ser ciumento quando quer, mas não acredito que ele sentiria ciúmes dos irmãos. Ele sabe que tenho um grande carinho por Jack e que jamais o trairia, afinal, o amo desde que me conheço e mesmo negando esse sentimento por tanto tempo ele ainda permanecia adormecido dentro do meu peito.
— Dante não bateria em nenhum de vocês por causa disso.
— Você já testou a paciência dele ou foi parar na cadeia por burrada e quase colocou o segredo da família em risco por bobeira? Não. Então obviamente não sabe o que é ver o dragão em fúria. — Ele nega rindo.
— Foi merecido então?
— Foi, quando somos jovens queremos mostrar que podemos ser poderosos e sagazes. — Encolhe os ombros segurando o capacete apoiado em sua perna.
Acabo rindo, mas um pequeno aperto no peito me faz suspirar.
— Senti mesmo sua falta, sabe? Você é um dos meus únicos amigos nesta casa. — Sussurro sentimental demais até mesmo para o meu gosto e vejo Jack me observar preocupado.
— Sei que fui um idiota e não deveria ter te tratado daquela forma, achei que você não ia querer mais aproximação. — Me observa pensativo e acabo rindo da sua maneira de se desculpar.
— Vocês são muito importantes na minha vida Jack, são como meus irmãos e eu jamais me afastaria de vocês — Confesso e ele desvia o olhar indeciso.
— Eu sei, você também é como uma irmã para mim e acho que é por isso que acabamos sendo protetores demais, mesmo sabendo que você tem capacidade suficiente para se proteger sozinha, me sinto no dever de fazer isso por você. — Balança os ombros e acabo rindo mais.
— O que faço com esse bando de homens na minha vida? — pergunto mais para mim do que para ele
— Ame-os. — Ele ri.
— Claro seu idiota, você só fala isso porque é um deles. — Acerto seu braço e ele se encolhe rindo.
— Temos que ser espertos às vezes. — Ele se posiciona na moto indicando que estava de partida, mas antes de colocar o capacete chamo sua atenção.
— Jack espere. Você está ocupado agora?
— Não, na verdade acabei de chegar, vou guardar a moto.
— Gostaria de comprar um presente para Max e Royal já que hoje é o aniversário dos dois, mas os seguranças estão ocupados. Dante me fez prometer que não sairia sozinha e já me arrependi de ter concordado, então que tal você me acompanhar? — Ergo as sobrancelhas e ele recua na defensiva.
— Ele não está errado Eva, Donzel está atrás de vocês, não seja imprudente. Por mais forte que você seja, Donzel não é o tipo de homem que joga limpo.
— Sei disso e não quero brigas com seu irmão, ele é muito cabeça dura, não que eu seja diferente, então já dá para imaginar que as coisas sempre são complicadas.
— Por favor, não brigue com ele, quando isso acontece quem sofre somos nós, o mal-humor de Dante triplica e ele joga trabalho em nossas costas para o mês inteiro. — Jack faz uma careta e acabo rindo, mas com um certo nível de pena.
— Vou me lembrar disso, mas realmente quero comprar um presente para os meninos e para isso preciso sair — afirmo convicta cruzando os braços.
Jack puxa a gola do sobretudo enquanto diz:
— Em hipótese alguma deixe a águia passar dos portões do forte sozinha, ordens da pantera. — Ele solta a gola com um sorriso no rosto. — Agora você não pode sair sozinha.
— Pantera? Águia? São codinomes que eu não conhecia. — Olho confusa.
— Não é somente Dante que leva o nome de um animal. Usamos na maioria das vezes para não utilizar os nossos verdadeiros, já que em certas situações colocaria em risco os segredos da família.
— Compreendo, mas vá logo buscar um carro, pois já que me impediu de sair, vai me levar. — Sorrio e ele balança a cabeça rindo.
— Tudo bem, odeio ficar em casa quando há organização de festas. — resmunga.
— Estarei te esperando aqui. — Afirmo animada.
Com um pequeno aceno de cabeça Jack coloca o capacete e dá a partida na Panigale indo em direção ao galpão da garagem. Não demora para retornar com um Porsche 918 Spyder de cor cinza chumbo nada discreto.
