Capítulo 3
Dante
— O que de tão urgente você tinha para falar comigo Rocco? — Questiono ao descer do Jaguar e caminhar em sua direção não tão animado quanto gostaria, já que precisei deixar Eva no meio da madrugada para vir ao porto.
— Encontramos três rapazes rondando as docas, pareciam ter interesse na carga do “Solar”, mas tudo já foi transferido para os galpões de distribuição.
— As cargas das Filipinas já estão prontas? Quero o navio em alto mar o mais rápido possível.
— Estamos terminando de fazer o carregamento da carga principal senhor, faltam apenas alguns containers para a partida do navio.
— Ótimo, quanto mais rápido sair, menos chances de sermos interceptados. — Afirmo e o vento frio da madrugada faz meus cabelos balançarem.
— Estão amarrados no pátio de carregamento próximo às embarcações onde os encontramos. — Rocco indica o caminho do píer onde os containers ficavam empilhados prontos para o embarque e desembarque de carga.
— Estão lúcidos? — Questiono e ele concorda.
— Sei que gosta de fazer o serviço pessoalmente, não tocamos nele mais do que o necessário.
Caminho em direção aos dois homens amarrados em cadeiras no meio do pátio e ergo a sobrancelha encarando Rocco ao ver que o terceiro era apenas um garoto de no máximo quinze anos.
— O que o garoto faz aqui? — Questiono enquanto o vento gelado bate contra minha pele quente, mas isso não faz diferença, afinal Donatel nos obrigava a treinar nus sobre a neve e frio intenso, temperaturas baixas comparada aquilo são realmente agradáveis.
— Estava com os dois homens, acredito que usariam o menino para passar por buracos menores se fosse necessário.
Estreito meus olhos duvidando que esse seja o real motivo, mas não queria entrar em detalhes no momento, pouco me importa o que os trouxe até ali, quero respostas sobre seu chefe e não sobre suas vidas pessoais ou os motivos de utilizarem uma criança para o serviço.
— Quem lhes permitiu andar pelo meu território? — Paro em frente à cadeira do que parecia ser o mais velho e ele apenas me ignora, mas o rapaz alguns metros adiante treme com a minha voz.
Faço um movimento com a cabeça e Rocco acerta o rosto do homem com um soco que geme erguendo o olhar em minha direção.
— Vou perguntar mais uma vez. — Falo pacientemente. — Quem lhes permitiu andar pelo meu território?
Como não recebo resposta, sacou minha arma e atiro no meio da testa do homem fazendo o som ecoar pela noite por estar sem silenciadores. O barulho faz o jovem se assustar e tremer ainda mais não conseguindo disfarçar seu medo e desespero.
— Vamos tentar com esse agora. — Volto minha atenção para o outro homem que aparenta ser um pouco mais jovem que o anterior, mas não tanto quanto o rapaz que me olhava com medo e desespero ao lado dele.
Apoio o cano da arma no queixo do homem fazendo ele olhar para mim contra sua vontade, a ira que dança em sua face só me motiva e me instiga a continuar, era prazeroso demais ver o medo dançando em cada poro do seu corpo.
— É você que vai entregar seu chefe? — Questiono e ele ri cuspindo em meu pé.
— Pode me matar, não vou falar nada.
— Todos dizem isso até provar do meu verdadeiro poder. — Puxo uma faca do coldre preso em meu peito e antes que possa ter o prazer de cortá-lo o rapazinho assustado entrega os fatos.
— Somos homens de Tizzano.
— Cala boca Rafaelle. — O homem diz e acerto a lateral da sua cabeça com força deixando-o atordoado demais para falar ou interferir em meus negócios.
— Rafaelle, correto? — Questiono e ele balança a cabeça afirmativamente.
— Vou falar tudo o que quiser, mas não mate meus amigos. — Treme ao olhar o cadáver que era arrastado para ser enviado de presente a Tizzano.
— As coisas não são do seu jeito Rafaelle. — Giro a faca e seus olhos seguem meus movimentos. — Mas quem sabe posso pensar no seu pedido se me der informações realmente valiosas sobre Tizzano e seus planos.
— Você é o dragão não é? — Ele volta o olhar para minha arma e maneio a cabeça em concordância balançando a mão para que prossiga. — Depois do que aconteceu na festa as vendas de Tizzano caíram drasticamente e você parou de oferecer “Coca” de qualidade, ele está sendo obrigado a comprar produtos de baixa qualidade, batizado e por isso está sendo obrigado a vender para escória a preços baixos.
— Para sua idade você sabe muito não acha rapaz? — Questiono e ele ri balançando o ombro.
— Eles me tratam como lixo sem valor pela minha idade e esquecem que meus ouvidos ainda funcionam.
— Se te tratam como lixo porque defende esses imbecis. — Aponto a arma para cabeça no homem que Rocco segurava pelos cabelos selando sua boca com uma fita. Minha conversa agora era com o rapaz que pelo visto sabia bem mais do que todos imaginavam, mas sempre assim, adolescentes são tratados como lixo em certas organizações, mas eles se esquecem que para crescer e ser os melhores você precisa ser moldado desde pequeno esse é um fato inegável.
— Eles foram os únicos que me deram uma oportunidade, por isso estou aqui.
— Presumo que erraram então, já que está abrindo o bico feito um papagaio assustado.
— Apenas estou fazendo o que acho certo, não gosto do chefe, nunca gostei, por mim ele poderia ter morrido a muito tempo.
— Bom, nesse ponto nós concordamos, deveria tê-lo matado naquela noite. — Afirmo, mas saber que Eva havia fugido junto do meu Jaguar foi dois socos certeiros na boca do meu estômago.
— Tizzano quer aumentar suas terras....
— Huum… — O homem amarrado e amordaçado tenta se soltar e avançar no jovem que contava tudo, mas se cala.
— Apague ele antes que eu lhe dê um fim de uma vez por todas. — E vejo Rocco acertar uma coronhada na parte de trás da sua cabeça o desmaiando.
— Você disse que não machucaria… — O corto.
— Não recebi nenhuma informação realmente relevante até agora — Cruzo os braços impaciente.
— Tizzano quer aumentar suas terras e nos mandou em busca de carregamentos para serem roubados. Ele reconhece seu poder e sabe que sem grana e homens não tem chances contra você.
— Em primeiro lugar, a área de Tizzano se limita a casa dele e nada mais, Veneza, Pádua, Florença, Milão e toda a Itália é minha. Vocês sabem que devem respeito a mim, que vivem porque eu quero que vivam e só aproveitam da boa vida que têm porque eu deixo. Tizzano errou ao tocar na minha mulher e continua errando ao achar que pode entrar no meu território e pegar aquilo que é meu, mas se ele quer jogar dessa forma, por mim tudo bem.
— Ele está desesperado, não sabe o que fazer para ter a vida que tinha. Tizzano está endividado e quase perdendo a casa, não tem economias ou de onde tirar, por isso está tentando roubar o que é seu.
— Ele é um perdedor de merda, completamente ridículo. — Guardo minha arma no coldre em minha cintura. — Rocco, mande o homem morto como brinde para Tizzano e despache esses dois juntos, de cabo nos dois.
— Te contei tudo, mesmo assim vai nos matar? — Pergunta com indignação.
— Você me deu tudo o que eu queria, não tem mais valor para mim. — Afirmo abotoando o sobretudo. — Além disso é tagarela demais, entregaria fácil a minha posição por ser uma figura pública e social.
Apesar de que ninguém acreditaria em um adolecente de quinze anos, mas eu sei que muitos rumores rondando o meu nome para correr o risco de pôr mais uma pulga atrás da orelha da sociedade, não que eu me importe com isso, mas vamos evitar maiores complicações, já tenho dor de cabeça demais com Donzel.
— Não vou falar nada, eu juro.
Acabo rindo da sua mentira.
— Se não morrer por minhas mãos, vai morrer pelas dos seus próprios amigos quando eles contarem o que fez.
— Então me recrute, eu posso ser útil no futuro, nunca quis ficar com Tizzano, mas tenho grande respeito por você Dragão, reconheço o meu lugar e a minha posição.
— Então deveria saber que é melhor morrer do que se juntar a mim. — Afirmo e ele arregala os olhos surpreso com minhas palavras.
— Senhor, o que vamos fazer com o garoto então? — Rocco questiona e pondero a situação.
— Entregue-o para a Cobra, ele avaliará o potencial do garoto, se for negativo já sabe o que fazer. Quanto aos outros, deixem na porta de Tizzano e façam uma visitinha pessoal em sua residência mostrando quem manda. Se houver resistência apague aquela escória do mundo e tudo que esteja envolvido com ele.
— Sim senhor. — Rocco concorda e o menino continua me olhando desconfiado, porém com certo brilho de respeito no olhar e quem saiba Royal não vê potencial no garoto, nunca se sabe o que iremos encontrar.
— Tem notícias de Edoardo? — Questiono a caminho do meu carro.
— Nada ainda, mas ele fará algo em relação aos policiais.
— É claro que fará, somos nós quem banca as campanhas políticas dele. — Afirmo e Rocco ri retirando uma pasta de dentro do seu sobretudo.
— Mattia pediu para entregar ao senhor, informou que em breve terá uma reunião no Palazzo Di Pergolas, em Verona, e sua presença será essencial. Ele entra em contato em breve.
— Obrigada Rocco, deixo o restante em suas mãos.
Entro no carro seguindo de volta para casa, muitas informações para um único dia e minha cabeça estava explodindo, sem contar que preciso entrar em contato com Edgar para adiarmos o casamento de Jack, além disso, antes que o casamento ocorra preciso convencê-lo a aceitar a porcaria dos fatos.
Procuro dispersar os pensamentos focando minha atenção no horizonte, o sol começava ganhar seu espaço entre a escuridão e os raios dourados iam se mesclando ao negro iluminando tudo a sua volta.
Se nossas vidas tivessem o mínimo de luz possível, talvez tudo pudesse ser diferente, mas essa é uma mera ilusão de uma mente cansada, afinal, escuridão e trevas tem uma grande diferença. A escuridão sempre receberá luz por mais branda que seja, mas a treva é tão densa que não se sabe onde começa ou termina. Esse é o nosso mundo, nossas vidas, a nossa alma, um burraco negro que consome tudo e todos que se opõem ao seu caminho.
