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Capítulo 4

Ele ficou sem jeito, apreensivo. Perguntou ao outro se não deveria falar com o patrão antes para evitar BOs. O colega disse que era só levá-la à escola, bem de boa. Todo perdido e com medo, Chacal se aproximou dela.

— Então, tem como chamar o seu pai lá, fazendo o favor, pra eu trocar uma ideia rapidão? Sou novo aqui e não quero fazer mer... nada de errado. Não posso vacilar, entende?

Ela ficou séria o olhando, irritada.

— Deixa, ele me leva. Já que você não quer! Eu não mordo, tá?

Ele ficou mais nervoso ainda.

— Não é isso, pô, eu quero. Mas nem sei pra onde é.

Ela sorriu sutilmente.

— Então aprende.

Foi voltando para casa, gritou ainda do quintal:

— Paiiiii, vem aqui! Rápido! Ele não quer me levar.

Começou a rir o vendo ficar nervoso. Lobo foi saindo rápido.

— O que aconteceu? Qual foi aí?

Ela começou a rir.

— Pai, ele quer sua autorização pra me levar, porque é novo e não confia na minha palavra.

Lobo começou a rir.

— Porra, Chacal, desse jeito vou te dar outra promoção. Na Marcela você pode confiar, na Dabrielly nem fudendo.

— Você vai levar e buscar ela, porque não é fichado, nem tem cara de bandido. Tem habilitação? Não vai bater meu carro, hein?

Ele disse que tinha, agradeceu pela confiança. Marcela mostrou as chaves.

— Vou te ensinar o caminho, entra aí.

Entraram no carro, ela foi dirigindo.

— Presta atenção, só vou te mostrar uma vez.

Ele disse "beleza", estava nervoso com a responsabilidade. Ela já tinha reparado na roupa dele, bermuda, camiseta e tênis, mexeu no som, ficando sem jeito.

— Qual o seu nome?

Ele respondeu ainda sério, só olhando o trajeto.

— Chacal.

Ela silenciou. Quando parou na rua da escola, disse que ele poderia ficar esperando algumas horas. Mandou um áudio avisando o pai. Chacal continuou calado, só concordando. Ela deu tchau e desceu do carro, sabia que todos tinham medo de se aproximar, conversar. Ela mesma não ficava com ninguém de lá, por causa do pai.

Foi para a aula sem saber se ele estava a fim ou não, se estressou com brincadeiras sobre a formatura, estavam falando sobre os pais de algumas pessoas não irem por causa da polícia. Quando saiu, ele estava sentado em uma praça quase na frente, se levantou ao vê-la. Ela ficou encostada no carro esperando, ele destravou as portas.

— Quer ir dirigindo, patroa?

Ela foi entrando do lado do passageiro, não disse nada, estava séria, colocou os fones de ouvido. Ele a achou estranha, diferente, logo perguntou se estava tudo bem, percebeu que ela não ouviu, a levou para casa como deveria.

Ela desceu do carro sem falar nada. Ele foi chamado para almoçar na cozinha e pôde ouvir ela discutindo com o pai, reclamando da realidade deles. Lobo raramente chamava a atenção dela, mas se exaltou, jogando na cara tudo o que dava a ela, perguntou se ela queria ele morto, porque era o que iria acontecer se ele quisesse parar e abandonar os negócios, de uma vida toda.

Nos dias seguintes ela não foi à aula, nem saiu de casa para nada. Chacal foi morar sozinho, depois que virou "soldado – indivíduo responsável pela defesa e ataque bélicos, sempre armado e pronto para participar de qualquer confronto. Com direito até a salário fixo e trabalhando em esquema de plantões". Ele se arriscou em sair da casa do primo. Chacal era confiável e eficiente, seguia as ordens do chefe, não perdia o foco com bagunças. Ele despertava inveja entre os demais colegas, até, vários estavam há mais tempo lá e com menos benefícios.

Ele saiu da casa de Lobo, foi ficar com outras funções, entre elas, proteger o Lagarto e o Lobo quando precisavam sair do morro. Não demorou muito para o pouco de normalidade daquele moço do interior ir embora e dar espaço ao comportamento de marginal. Em semanas, ele fez muitas tatuagens, começou a ficar com qualquer uma, as tratava como putas, fodia com força, as via como um passatempo à toa, nem perdia tempo investindo, era só sexo casual para se aliviar.

No primeiro mês como soldado, derrubou todo tipo de inimigo e virou o cão de guarda deles, qualquer perreco era resolvido por ele, toda vez que alguém queria levar alguma treta para as ideias ou tribunal, ele era solicitado. Cortava a quebrada de fora a fora diariamente, ele ouvia a todos como um advogado, era uma comédia às vezes, tinha briga de vizinho, traição, briga de casal, tudo era tratado com a sua devida importância e respeito, até que o tiravam do sério, às vezes ele era um pouco ignorante.

Outra coisa que não demorou para acontecer foi a mudança no agora relacionamento sério da Dabrielly. Ela queria sempre estar no meio de bagunça e o Lagarto não gostava, tinha ciúmes dela, estava ficando com fama de corno. Ele nunca a proibiu de nada, mas a castigava pelas ações, a ignorando. As agressões verbais vindas dela eram frequentes e sempre na frente de outras pessoas. Lobo ajudou o Lagarto a fazer um super aniversário para Dabrielly, chamaram MCs, fecharam as ruas, colocaram até decoração, um bolo enorme. Ela estava animada, quase obrigou o Lagarto a dar uma aliança de ouro e a pedi-la em noivado no meio da festa.

O Aniversário de Dabrielly e o Encontro Inesperado

Fizeram em uma quadra fechada. Naquela semana, Dabrielly e Marcela se pegaram saindo no tapa por causa de um vestido. Marcela encomendou o vestido para a formatura, e sua irmã o pegou para usar no aniversário. Lobo ignorava as duas às vezes, não tinha paciência para as mesmas brigas de sempre.

Marcela estava incomodada na festa, porque foi obrigada a ir e ainda teve que ver Dabrielly com o seu vestido. Ela foi de calça pantalona preta, cropped de paetê prata, frente única, papete preta e prata, maquiagem forte com bastante brilho nos olhos e batom nude.

A maioria dos caras estavam chapados curtindo. Um dos últimos a chegar foi Chacal, estava virado do avesso, de mau humor, porque teve problemas na biqueira e arrebentou a mão batendo em um cara. Foi todo arrumado de roupas novas: calça jeans, camiseta Polo verde, tênis Nike, boné da Oakley e o perfume que agora era seu, importado.

Marcela estava preparando sua bebida, não pegava nada da mão de ninguém, sempre desconfiada. Ele se aproximou cabisbaixo, pegou um copo, encheu de vodca. Estava bem ao lado dela e nem falou "oi". Logo ouviu, ao dar as costas:

— Chacal? Oi, né?

Daquele jeito nada amigável, ele voltou para trás.

— E aí, só de boa, patroa? Tem que pagar a bebida?

Ela se aproximou séria, colocou na mão dele uma sacolinha com gelo dentro.

— Não, né, toma. Sua mão tá toda machucada.

Há muito tempo ninguém era tão gentil espontaneamente. Foi inesperado como um tapa na cara. Ele agradeceu desconcertado, saiu andando, bebendo, e foi sentar. Ela o observou bebendo, fumando e olhando para ela a noite toda, sério.

Quando ela estava indo embora, ele saiu correndo atrás, foi fazer a escolta, dispensou o cara que ia levá-la. Foi andando ao lado dela, meio sem jeito.

— Não curtiu a festa? Tá cedo ainda. Qual foi, pô, não vai me dar uma moral?

Ela continuou andando séria.

— Não sei, você não gosta de conversar comigo, tem medo.

Ele começou a rir, levemente alterado e bêbado.

— Se pá, né, fazer o quê. Nem todo mundo tem a mesma sorte que você. De poder escolher a dedo.

Ela sorriu surpresa.

— Não entendi.

Ele esticou a mão para a ajudar com um degrau.

— Você é a princesa do gueto, se destaca sempre no meio das outras.

Aquilo foi mais agradável de se ouvir que as batidas do pancadão que estava estralando. Os dois começaram a rir. Ele disse que estava devendo a ela. Marcela já começou a observar o caminho, pensando em quem estava olhando os dois a sós.

— Chacal, por que está andando atrás de mim, hein? Vai devolver o gelo? Foi de graça, relaxa. E eu não preciso de escolta.

Ele estava armado como sempre, começou a rir, todo simpático.

— Não, pô, derreteu tudo, vim agradecer na moral, valeu. Você é muito gente boa! Fica de boa, tem escolta particular num lugar ruim desses e ainda reclama, que isso, princesa?

Ela começou a rir, percebeu que ele estava diferente bêbado.

— Então tá, o que acha de me falar seu nome? Me conta o que aconteceu com a sua mão.

Ele parou de rir, pensativo.

— Ah, não. Deixa pra lá. Depois que entrei nisso, perdi tudo, meu nome, família, mas não tô reclamando. Eu gosto!

Ela não gostou muito, ficou confusa. Estavam chegando na casa dela. Ele falou que a carga preciosa estava entregue. Ela entrou sem dizer nada. Ele nem voltou para a festa, foi dormir pensando nela, a achava inacessível, porém rolava um interesse.

No dia seguinte, a festa continuou. Lobo saiu cedo, Dabrielly estava adorando ser o centro das atenções. Fez o pai quase obrigar a irmã dela a ir. Já estava passando o horário de almoço. Chacal estava de plantão na casa do Lobo, quando a Marcela estava saindo de casa distraída mexendo no celular, com uma amiga junto, ouviu logo atrás:

— Oooo, patroa, bom dia pra nóis, traz um almoço aí pra mim. Cê tá me devendo mesmo. Te fiz uma escolta fora do meu plantão.

Ela se virou para trás rindo.

— Fez porque quis, eu não pedi.

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