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CAPÍTULO 1

Patrícia.

O vento bate contra os meus cabelos os fazendo dançar, meus batimentos cardíacos estão acelerado e eu posso sentir o meu corpo cheio de calor e adrenalina.

Meu celular está acoplado em um suporte em meu braço e meus fones presos em minhas orelhas, uma música do Kendrick Lamar toca me deixando mais animada.

O dia está parcialmente frio e o vento balança as enormes árvores daquele parque.

Quando meu comandante me disse que eu viria pra Minas Gerais pra fazer a segurança de um juíz endinheirado eu confesso que eu senti muita raiva, porra! Eu sou uma das melhores agentes daquela corporação e é pra isso que eu sou escalada? Não estou me gabando, mas eu posso fazer algo bem melhor, algo que ajude a nossa pátria, mas não, servirei de babá pra um homem adulto.

Eu ainda estou extremamente chateada, mas terei que engolir seco e calar minha boca pra não deixar minha situação ainda pior, acabei de voltar e não quero nem pensar em ser afastada novamente, acho aí sim eu teria um surto daqueles.

Agora o que me resta é me acostumar com essa missão e com essa cidade.

Eu nunca tinha pensado em vir pra Belo Horizonte antes, mas preciso confessar que me surpreendi bastante quando pisei aqui, é uma cidade bastante agradável, as ruas do centro são tomadas por bares e restaurantes pitorescos, sempre a algumas feirinhas com roupas, flores e objetos de decoração espalhadas por vários lugares do centro e o parque municipal que é o meu lugar favorito até agora.

Parei de correr assim que sai do parque, minhas pernas já estão moles e olha que corri apenas três quilômetros, talvez eu tenha perdido o pique nesse tempo que fiquei fora de ação.

Peguei meu celular o tirando do suporte em meu braço, o desbloqueio vendo algumas notificações sobre a tela, revirei os olhos ao ver cinco ligações perdidas do meu comandante, voltei a bloquear a tela e guardei meu celular no bolso.

Decidi andar até a minha nova "casa", eu nunca fui do tipo de pessoa que se importava com posses, eu sempre fui aquele tipo de pessoa desapegada que não se importa com dinheiro e muito menos com luxo, hoje em dia eu tenho uma boa condição e posso pagar por coisas caras, mas eu sempre opto por algo mais simples e despojado, então eu decidi alugar um quarto em uma pensão no centro da cidade, é um lugar pequeno e simples, mas é muito confortável e seguro.

Eu moro em um bairro bem localizado no centro, é um lugar tranquilo com poucas residências e bastante pontos comerciais, ao lado do meu "prédio" a um restaurante e do outro lado um bar.

Passei pela porta passando pelo porteiro que dormia em um sono profundo, subi as escadas indo direto para o terceiro andar, aonde meu quarto fica, tirei as chaves do meu bolso e destranquei a porta girando a maçaneta.

Entrei pela porta, fechei os olhos e dei um suspiro pesado e cansado, meu corpo está moído, minhas costas e meus pés estão me matando.

- Pit Bull!- uma voz soou do nada fazendo meu corpo congelar, minha garganta ficou seca e meu coração foi a mil.

Contei até dez tentando manter a calma, dei um passo pra trás e abri os meus olhos, quando meu olhar se cruzou com aqueles olhos negros marcantes eu senti tanta raiva que eu tive que me controlar.

- você está ficando maluco?! Quem você pensa que é pra invadir minha casa desse jeito...- disse já transtornada.

Marcelo me encara com "aquela" sua expressão séria e superior que ele faz questão de manter, ele está de pé encostado na parede e de braços cruzados.

- eu te liguei, por que não atendeu meus telefonemas?- ele me questionou levantando suas sobrancelhas.

Coloquei meus objetos sobre a mesinha que a ao lado da porta e dei uma risada irônica.

- por que eu teria que atender suas ligações?- questionei de volta, cruzei os brancos também e não desgrudei meu olho dele, se ele acha que me intimida está muito enganado.

Ele revirou os olhos, deu uma risada sarcástica e me encarou como se eu fosse uma criança idiota que não sabe nada da vida.

- eu sou seu comandante, seu superior, é sua obrigação manter contato comigo!- ele afirmou de forma soberba.

Dei os ombros dando uma gargalhada.

- eu te conheço muito bem, pode falar logo qual sua intenção...não tenho todo o tempo do mundo.- disse sem nenhuma paciência.

Ouvi o barulho das suas botinas em minha direção, pude sentir o cheiro forte do seu perfume.

- Patrícia...- ele disse mais calmo, sua voz soou baixa.

Fechei os olhos dando uma risadinha e balancei a cabeça.

- se você saiu do rio achando que teríamos algo, sinto em te informar, mas você perdeu a viagem...- disse com toda minha franqueza.

Quando eu terminei de falar ele me puxou juntando nossos corpos, pude sentir o seu hálito o cheiro do seu hálito que tem um cheiro forte de cigarro.

- por que você não está atendendo minhas ligações?! Eu estou sentindo sua falta...- ele disse calmamente.

Não pude conter o riso ao vê-lo encenando daquela forma, Marcelo é um verdadeiro troglodita que não aceita um não como resposta, essa é mais pura verdade.

- Marcelo, eu não vou transar com você, caí na real!- disse sendo franca e direta.

Ele bufou afastando seu corpo do meu, sua "calma" rapidamente foi pro espaço.

- Pit Bull, você acha mesmo que eu iria sair do rio de janeiro apenas pra ir pra cama com você? lá tem puta mais gostosa que faz bem melhor que você e olha que dá muito menos trabalho.- ele respondeu mostrando sua verdadeira face, o tom da sua voz foi sarcástico e irônico.

Não senti nenhum um pouco ofendida, nessa altura do campeonato palavras de um homem insignificante como ele jamais me afetariam.

O que eu fiz?! Dei uma risada olhando bem nos olhos dele.

- você acha mesmo que essas palavras me machucam?! Marcelo, eu só fui pra cama com você porque eu estava bêbada e carente, coitadinho! Você achou mesmo que eu iria sentir algo por um troglodita que tem o ego maior que o pau?! Coitadinho!- respondi com um sorriso enorme e irônico.

Sua expressão irônica e superior foram embora no mesmo segundo, ele me encarou com um semblante odioso e com os olhos pegando fogo, o seu corpo ficou ainda mais rígido e ele chegou a fechar os punhos.

- Pit Bull... Você não deveria me tratar com tamanho desrespeito.- ele disse entre dentes.

Dei uma risada nervosa mantendo nosso contato visual.

- Marcelo, você é meu superior sim, mas eu não sou sua cachorrinha pra você me tratar como uma, me trate com respeito que eu também te respeitarei...pare de agir como se aquela foda tivesse sido algo tão especial, aquilo não passou de uma noite, cai na real!- falei tudo que tinha vontade.

Marcelo é o meu superior, ele me treinou e sempre acaba de designando pras missões, alguns meses atrás a gente acabou transando e desde então ele não sai do meu pé, ele é um obsessivo e bruto que acha que tudo tem que sair da maneira que ele quer.

Eu não sou como a maioria das mulheres, não vivo minha vida baseada em um conto de fadas esperando um príncipe encarando perfeito que venha me salvar de algo horrível, se eu estou correndo perigo eu mesmo me tiro do perigo, não sinto necessidade que homem algum tenha que fazer algo pra mim, eu já sou suficiente!

Marcelo já está começando a confundir as coisas, já está totalmente fora do limite.

Ele deu um passo a frente, pegou meu braço com força e chegou com sua boca bem próxima da minha.

- eu sou chefe, você ganharia tanto ponto comigo se fosse mais boazinha?! Você tem tudo pra subir cada vez mais, mas é tão desobediente...- ele diz com um sorriso malicioso nos lábios.

O bafo de cigarro que saiu da sua boca fez meu estômago embrulhar e minha vontade foi vomitar na cara do filho da puta, mas eu me segurei.

- Marcelo, você sabe o por que das pessoas me chamarem de Pit Bull?- o questionei dando um sorriso irônico.

Ele cerrou os olhos, me encarou com uma certa dúvida e levantou as sobrancelhas.

- existem alguns boatos que quando eu me estresso eu acabo mordendo certa parte do corpo da pessoa e acabo arrancando tudo...agora imagina se acabar me dando um surto e eu acabo arrancando esse pinto nojento?! Seria uma pena, você não acha?!- disse entre dentes.

O sorriso que estava em seus lábios sumiu aos poucos, ele me soltou e afastou seu corpo do meu, ele arrumou sua postura e deu um passo pra trás.

- eu quis vir pessoalmente fazer uma análise, queria vê com meus próprios olhos se está realmente apta pra voltar pra ativa...- ele se embolou nas próprias palavras.

Revirei os olhos sem acreditar naquela história ridícula pra boi dormir.

- não, você veio me perseguir mais uma vez... Marcelo você já está passando dos limites, eu juro que irei te denunciar por assédio e perseguição caso você continue me perseguindo dessa maneira!- fui franca.

Sua postura mudou no mesmo instante, ele me encarou com os olhos arregalados e balançou a cabeça freneticamente.

- Patrícia, não faz isso...eu juro que nunca mais irei invadir sua privacidade, eu não sei aonde eu estava com a cabeça!- ele diz tudo de uma vez, de forma afobada.

Desde quando nos tivemos aquele lance ele vem me perseguindo de maneira absurda, ele simplesmente se acha no direito de invadir minha vida pessoal e profissional por causa de algumas noites de sexo.

- você vai embora daqui agora, vai me deixar trabalhar em paz e não irá me importunar por motivos fúteis nunca mais, você vai ter que me respeitar por bem ou eu terei que ensinar a como respeitar uma mulher após ouvir um não?!- o questionei levantando uma sobrancelha.

Ele acenou com a cabeça afirmando imediatamente.

Caminhei até a porta abrindo a mesma.

- sai daqui, e por favor não me incomode com algum assunto que não seja remetente a minha missão!- falei olhando em seus olhos.

Ele me encarou com frieza, acenou com a cabeça e caminhou até a porta saíndo pela mesma.

- pode deixar, não voltarei a te incomodar...- consegui ouvir ele dizer.

Me virei batendo a porta com toda minha força.

Eu sempre fui uma ótima agente e sempre tratei o meu comandante com todo o respeito, mas de uns meses pra cá a perseguição do meu comandante ficou insuportável eu mal consigo trabalhar e viver, eu não vejo saída a não ser dura e direta.

Na corporação sempre houve assédio e desrespeito, mas nunca de uma forma tão evasiva, desconfortável e agressiva, eu não tenho dele, tenho de mim, de acabar fazendo uma loucura sem pensar.

Soltei um suspiro de alívio, passei as mãos por meus cabelos e caminhei até minha cama, ali me abaixei e puxei um baú o arrastando pra mim, abri o mesmo e tirei as almofadas que estavam na parte superior deixando minhas armas a vista, peguei minha AK-47 e a coloquei em cima da cama.

- você faria uma grande estrago, garotinha!- afirmei encarando a mesma - é uma pena não poder usá-la!- disse e voltei a guardar a mesma.

Peguei minha pistola ponto quarenta e coloquei sobre a cama, peguei munições e voltei a guardar o baú novamente.

Me virei olhando o relógio na parede e senti um certo frio na barriga, algo me diz que essa missão me trará algo novo, talvez algo surpreendente.

Abri minha cômoda e tirei meu uniforme da mesma, minhas botinas e meu coldre, logo depois corri para o banheiro, fiz minha higiene como de costume, me troquei e prendi meus cabelos em um rabo de cavalo justo e contido, coloquei meu coldre em minha cintura e logo depois minha arma.

Parei em frente ao espelho e fiquei um bom tempo apenas me analisando, talvez eu tenha mudado bastante de alguns meses pra cá, tanto por fora tanto por dentro, talvez eu seja uma nova mulher e talvez essa missão seja necessário pra acrescentar algo em minha vida, a única coisa que eu realmente espero é executar o trabalho com maestria.

Sai dali caminhando em direção a porta, sai pela mesma a trancando e desci as escadas, quando cheguei ao "térreo" encontrei o porteiro ainda dormindo, bati no balcão e ele acordou assustado, com os olhos arregalados e olhando para os lados.

- não quero ser chata e muito menos ignorante, mas o seu trabalho deveria ser controlar quem entra e quem sai desse prédio... inclusive tive uma visita indesejada que conseguiu entrar em minha casa, realmente espero que isso não se repita.- falei seria, mas tentando ser não ser grossa.

Ele ficou me fitando sério, mas parece que não entendeu muito bem o meu recado.

- entendeu?- perguntei.

Ele afirmou com a cabeça, mas sua expressão disse o contrário.

- sim senhora!- ele respondeu com a voz carregada de sono.

Não falei mais nada, apenas me dirigi até a garagem.

Subi em minha moto e liguei a mesma arrancando dali, quando senti o vento em meus cabelos e aquela adrenalina gostosa eu tive certeza que aquela missão valeria a pena.

Pilotei por mais ou menos uns dez minutos, a mansão do juiz fica localizada na Pampulha, um bairro muito bem localizado de Belo Horizonte que tem várias mansões.

Entrei pelo portão principal quando minha passagem foi liberada e estacionei minha moto junto aos outros carros.

- Senhora Vilella?- um homem perguntou assim que desci da moto.

O encarei e acenei com a cabeça.

- Eu sou Douglas, sou agente e também estou escalado pra segurança do senhor Araújo...- ele disse estendendo a mão, apertei sua mão e acenei com a cabeça.

- muito prazer, como o senhor é mais experiente gostaria que me deixasse a par de como tudo funciona, tudo bem pra você?- perguntei levantando uma sobrancelha.

Ele acenou com a cabeça no mesmo momento e deu um sorriso fraco.

- com certeza, quero que saiba que será um prazer trabalhar com alguém tão bem recomendada como a senhora!- ele diz de uma forma afobada, como se eu realmente fosse muito mais experiente que ele.

Coloquei as mãos para trás e o encarei de relance e tentei varrer o local ao meu redor, a parte exterior da mansão é bem grande, com várias câmeras de segurança e nos muros a cerca elétrica.

- posso te fazer uma pergunta?- disse já perguntando.

Ele afirmou com a cabeça.

- por que ele precisa de duas pessoas pra fazer sua segurança? digo dois agentes, você me entende?- perguntei.

Ele me encarou e deu uma risada.

- você não leu nada sobre o caso, não é mesmo?!- ele disse em um tom brincalhão.

Coloquei meu olhar sobre ele e afirmei com a cabeça.

- confesso que não me aprofundei muito...- confessei pois não acho que a necessidade, não acho que o caso seja complexo.

Ele deu um sorriso pequeno e acenou com a cabeça.

- ele está julgando um caso bastante complexo, você foi muito bem indicada por já ter feito sozinha a segurança de uma juíza...- ele diz se referindo a um caso que peguei assim que entrei.

Dei um sorriso amarelo com seu comentário, eu não estava tão feliz quando eles com aquele caso, ficaria mais feliz em estar infiltrada em algo mais excitante.

- sim, já estou a caminho!- uma voz masculina puxou totalmente a minha atenção, achei que seria mais algum segurança ou um funcionário, mas eu estava enganada.

Meu foi diretamente pra um homem sério, alto é forte.

Ele é um homem estranho, a expressão que ele carrega em seu rosto é totalmente indescritível, ele não é um homem feio, muito pelo contrário.

É um homem alto, parcialmente forte e muito atraente, suponho que ele tenha um metro e noventa, o seu corpo é malhado, não um corpo exagerado, é  forte e bonito, os seus cabelos são castanhos e lisos e os seus olhos são castanhos, uma cor bonita, o seu rosto tem traços fortes e marcantes, ele é comum, mas algo nele chama minha atenção de um jeito estranho, diferente e irritante.

Ele olhou na "nossa" direção, afastou o celular da orelha e me encarou com uma intensidade que fez o meu corpo ficar quente e arrepiado, eu me senti como se estivesse nua e aquilo me deixou inquieta e sem ar...

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