Capítulo 5
Radaela o chamou mais de três vezes, com os olhos cheios de lágrimas e o desejo de sumir de tanta vergonha. Ela o sacudiu, e Benedito foi despertando, sentando-se na cama enquanto passava a mão na cabeça.
— E aí, você está melhor? — perguntou ele.
— Cadê minhas coisas? — Radaela respondeu.
Benedito pegou o relógio para ver as horas. — Tá na lavanderia, calma, eu já pego, senta aí.
Radaela ficou quieta, sentou-se na ponta da cama, segurando-se para não surtar. Ele levantou com uma lentidão exasperante, vestiu a roupa e saiu do quarto. Voltou com as roupas minúsculas de Radaela, incluindo a calcinha e o sutiã, e as colocou na cama. Abaixou-se na frente dela, pegou em suas mãos e perguntou:
— Você tá melhor? Tudo bem?
Radaela não se conteve e falou a verdade.
— Não tô bem, quero ir embora, por favor, dá licença para eu me trocar.
Algumas lágrimas caíram sutilmente pelo seu rosto. Ele passou a mão para secá-las, mas Radaela afastou sua mão e repetiu:
— Dá licença, por favor.
Benedito levantou com um olhar de reprovação e saiu do quarto. Radaela se trocou, pensando no que havia acontecido, no que tinha feito, onde tinha ido parar com tanta irresponsabilidade. A ressaca também a estava castigando. Ele bateu na porta, e Radaela permitiu a entrada. Ela pegou suas coisas, indicando que estava pronta para ir embora. Benedito, sem jeito, disse:
— Minha mãe falou que você pode tomar café com a gente.
Radaela balançou a cabeça em negação.
— Beleza, vou te levar embora — disse ele.
Radaela saiu sem ver ninguém, por sorte. Entraram no carro e ele perguntou se ela queria conversar. Radaela disse que não. Ele começou a explicar que não havia rolado nada, que ele não fez nada com ela enquanto estava bêbada, e que só não a levou embora antes porque ela estava apagada. Radaela ficou quieta, ouvindo. Quando chegaram em casa, ela disse:
— Obrigada por ter cuidado de mim, tchau.
Radaela desceu do carro com um pouco de pressa. Ele falou:
— Ra! — Mas ela fingiu não ouvir e entrou em casa. Em menos de dez minutos, ele enviou uma mensagem dizendo que queria conversar mais tarde. Radaela nem respondeu. Foi tomar banho, chegou a se tocar, a examinar suas partes íntimas em busca de qualquer sinal de relação sexual. Fora as marcas roxas, não havia nada visivelmente errado. Ela estaria com dor se tivesse feito algo, afinal, fazia muito tempo sem "dar uma", estava quase virgem. Tentou esfriar a cabeça, relaxar. Já tinha passado tudo mesmo. Sua amiga a repreendeu, deu-lhe um sermão, e com razão. Disse que o cara era gente boa e que ela devia investir.
Radaela ligou para Benedito e perguntou o que havia acontecido, já que estava sem roupa. Ele começou a contar que lhe deram banho na casa da amiga dele, que a roupa molhou, e na casa dele ele chamou a irmã para trocá-la porque ela estava molhada e não dava para dormir daquele jeito. Radaela retrucou:
— Era melhor que você tivesse me visto sem nada. Não ela!
Ele respondeu irônico:
— Vontade não faltou, mas eu gosto das coisas certas. Se você quiser ficar comigo, precisa estar em boas condições para decidir.
A cabeça de Radaela girava com tantos acontecimentos. Benedito a chamou para sair, mas ela recusou, alegando que não dava, que não estava a fim e que tinha tido problemas em casa. Ela se viu refletindo sobre a vida, sobre si mesma, percebendo que aquela não era ela e que nunca mais se colocaria em situações assim. Dias se passaram, mais de uma semana, e Benedito ainda falava com ela diariamente. No sábado, ele ligou a convidando para sair, mas Radaela não quis. Pensou que tudo se apagaria e o assunto dela morreria entre eles, mas o que a aguardava era inesperado. Na segunda semana, ele falou menos com ela. Apesar de ser um pouco grudento e chato, ele era legal no fim das contas. Sua intensidade a incomodava, mesmo ele sendo um ótimo partido e Radaela não querendo nada sério com ninguém.
Radaela estava trabalhando, linda, meiga, tirando pó, quando viu Dimas entrar. Ela fechou a cara, sinalizou para outra colega atender e se afastou para trás do balcão. Ele a chamou e disse à colega que Radaela sabia o que ele sempre comprava e que ele havia esquecido. Sem responder, Radaela pegou o produto, colocou-o na frente dele, virou as costas e saiu. Ele a seguiu, pedindo algo e puxando assunto.
— O que você quer comigo? Me respeita, estou no meu trabalho e não quero falar com você — Radaela confrontou-o.
Ele teve a audácia de pegar na mão dela, e Radaela sentiu o corpo todo formigar. Ele começou a falar: — Me desculpa, eu não fiz por mal, as coisas foram acontecendo, eu queria te conhecer melhor.
Radaela respondeu: — Você não está mais com a Betina, então?
Ele falou, cheio de graça: — Eu e ela não é sério não, estou de boa! Quero um tempo com você.
Radaela pensou naquele homem que a fazia arrepiar só com o olhar. Balançou a cabeça em sinal de "não", deu uma risadinha e falou que ia pensar, cheia de graça e louca para ficar com ele.
Radaela foi adicionada a um grupo de WhatsApp com todos eles, várias pessoas. Era o aniversário da menina com quem ela fez amizade, a que a ajudou no banheiro. No começo, Radaela apenas lia as conversas. Todos estavam animados, falando de festa, bebida, mandando fotos. Um dia, Radaela mandou "boa noite" e um cara perguntou quem ela era. Outro disse: — Carne nova no pedaço. — Betina respondeu: — Tem boi na linha, fulano, essa aí é aquela que deu PT lá que todo mundo viu a foto.
Radaela respondeu: — Que foto?
Betina mandou um monte de risadas, e o rapaz mandou emoticons rindo, mas ninguém respondeu à pergunta de Radaela. Logo mudaram de assunto. Radaela resolveu sair do grupo. A dona do grupo, a amiga que a ajudou, a chamou no privado e disse para Radaela não dar bola para Betina, pois ela tinha ciúmes do irmão com todas as meninas com quem ele ficava. A amiga disse que Radaela tinha que ir ao aniversário dela, que a galera tinha gostado dela. Radaela respondeu que ia ver e perguntou que foto dela tinham mandado no grupo. A amiga disse que era uma foto normal do perfil e que tinham tocado no assunto da menina que estava com eles e passou mal. Ela colocou Radaela no grupo de novo. Radaela estava com tanto ranço da Betina que queria acabar com ela. Sua vontade era ficar com Dimas e fazer a irmã dele saber. Quase não falou com Benedito nos dias seguintes. Dimas estava no mesmo grupo, pegou o número dela lá e a chamou no privado.
— Oi, minha linda — mandou ele.
— Só agora resolveu mandar mensagem? Passei meu número há meses na farmácia para você — Radaela respondeu.
— Como assim, não sabia seu número, não, gata? — ele falou, surpreso.
Conversaram um pouco e ele a chamou para sair.
— Quer ficar comigo mesmo? Então a gente se vê no aniversário da sua amiga — Radaela propôs.
Ele respondeu: — É BO para mim. Betina e Benedito vão estar lá…
— Eu não me importo — Radaela respondeu, com a voz firme.
Ele apenas deu risada. Radaela, com um plano de vingança em mente, pensou: "Então vou fazer com ele o que ele fez comigo na festa, vou ficar com ele e ir ficar com outro para todo mundo ver e fazer ele de idiota." Ela mandou uma mensagem para Benedito perguntando se ele ia ao aniversário. Ele confirmou e se ofereceu para lhe dar carona.
Radaela não sabia o que vestir. Queria ir bonita e atraente, mas sem parecer vulgar. Pediu ajuda à sua amiga e comprou um body decotado vermelho, um colar de pedras, e vestiu um shorts justo de lycra preta. Cortou o cabelo, fez as unhas, sobrancelhas e depilação. Estava decidida a agir sem remorso. Marcou com Benedito.
O grande dia chegou. Benedito foi buscá-la junto com sua irmã, a qual Radaela considerava chata.
— Oi — disse Betina, sem muito entusiasmo.
— Oi — Radaela respondeu da mesma forma.
Benedito, super simpático, a elogiou logo de cara e perguntou se ela queria uma cerveja quando passaram na adega. Betina interveio:
— Não quero trocar ninguém bêbada hoje não, viu!
Radaela riu e respondeu: — Pode deixar, agora o Benedito já pode fazer tudo, ele cuida de mim se precisar.
Ele deu risada, e Radaela não pegou bebida nenhuma. Ao chegarem, havia poucas pessoas. Radaela cumprimentou a todos, e a dona da casa a apresentou a quem ela não conhecia. Ela ficou perto de Benedito e Betina. Ele não a tinha beijado nem a tocado. Radaela pensou: "Pronto, estou na zona dos amigos, ele desistiu de mim." Sem beber, as coisas não estavam muito animadas até que Dimas chegou. Assim que o viu entrando, Radaela mandou uma mensagem para ele:
— Vai rolar mesmo? Vim só para te beijar hoje!
Ele respondeu, olhando para ela de longe: — Se depender de mim, mas é lógico, vou te beijar inteira, quero ver você se derretendo na minha boca hoje.
Radaela tomou um pouco de caipirinha para se soltar. Quando começou a tocar funk, ela foi dançar com as meninas. Betina também estava na pista. Radaela se sentia radiante, segura de si, muito bonita, e percebeu que estava incomodando algumas das outras garotas presentes. À medida que a festa encheu, Radaela ficou observando Dimas discretamente e o sinalizou para saírem. Ele foi na frente, e Radaela fingiu atender uma ligação, afastando-se do grupo. Ninguém notou nada, havia bastante gente.
Lá fora, Dimas a puxou pela cintura para um cantinho escuro. Naquele momento, Radaela se arrependeu de seus planos. Nos braços dele, sentiu-se mal, não queria mais aquilo, e pensou no que aconteceria se alguém os visse. Trocaram um beijo rápido e intenso. Ele tirou "o negócio" e pediu para ela chupar. Radaela disse que alguém podia ver. Ele falou rindo:
— Botou pilha, agora vai dar para trás?
Radaela o instigou um pouco, batendo "uma" para ele, dizendo que poderia ser a noite toda se fossem embora juntos. Ele disse, puxando o cabelo dela:
— Assim fica difícil, hoje não dá, tô com a Betina!
Radaela deu mais um beijo e falou: — Então vai lá ficar com ela a noite toda. Sozinha não vou ficar!
Ela se soltou e saiu andando, voltando para a festa. Ele ficou um tempo lá fora. Ao se aproximar do portão, Radaela deu de cara com Betina e a amiga dela, a mesma que os tinha visto abraçados no estacionamento outro dia. Betina perguntou o que Radaela estava fazendo lá fora. Radaela disse que estava tentando falar com a mãe, pois havia tido um problema em casa. A amiga de Betina viu Dimas vindo e perguntou:
— Dimas, o que você está fazendo aí?
Radaela, disfarçando enquanto entrava na festa, respondeu: — Ahhh, ele me emprestou o celular para eu fazer uma ligação.
Betina foi na direção de Dimas e começou a abraçá-lo. Radaela continuou voltando para a festa, com a amiga de Betina a acompanhando. Ela parou antes de chegar perto das pessoas e confrontou Radaela:
— O que está rolando entre vocês dois?
Radaela respondeu, fazendo-se de boba: — Eu e o Benedito?
— Não — a amiga disse. — Eu já vi você com o Dimas outro dia. Olha, não vou falar nada para ninguém do que vi, mas você está fazendo merda. Fica esperta, se você está fazendo algo ou pensando em fazer, isso não vai dar certo!
