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Cap. 04 - Marido ciumento.

Aquela noite nenhum dos dois foi capaz de dormir direito. Repetiram o ato de amor mais algumas vezes, ficaram acordados até quase o nascer do sol, que foi quando decidiram descansar. 

Kate desmaiou, mas Alex estava eufórico com a noite que tiveram, e não conseguiu, de forma alguma, dormir. Ele precisava se levantar para começar o dia. Deveria ir treinar  com os soldados e cumprir suas funções como Laird. Mas a verdade era que não tinha ânimo para deixá-la sozinha na cama depois da noite que tiveram. Ele sabia que Kate estava cansada, fazia só uma hora desde que a moça havia conseguido dormir. 

Alex não queria acordá-la, e também sabia que deveria estar dolorida, ele gostaria de poder fazer alguma coisa por ela. Um gesto atencioso que demonstrasse o quanto apreciou aquela noite. Ele nunca poderia pensar que uma virgem pudesse sentir prazer na sua primeira vez e, naquele momento, o Laird apreciou estar casado com Kate. Era naturalmente fogosa, e ele gostava disso em uma mulher. Ele sentiu uma brisa gelada entrar no quarto e percebeu como a pele dela, ainda nua, se arrepiou. 

Ela estava com frio. 

O fogo da lareira já havia se apagado há muito tempo e agora  permaneciam somente brasas. Alex fechou a cortina e se vestiu, abriu a porta da torre e, do lado de fora, estava um guarda sempre a postos para qualquer coisa que o Laird, e agora, a sua esposa, pudessem precisar. Ele mandou avisar aos criados para que fosse preparado um banho quente para a sua esposa e, enquanto esperava que suas ordens fossem cumpridas, Alex reacendeu o fogo da lareira. 

Pouco tempo depois, os criados entraram, carregando baldes com água para encher a tina, enquanto ele permanecia na cama, junto com Kate, para garantir que nenhum pedaço de seu corpo fosse descoberto. 

Quando todos saíram, ele trancou a porta e foi acordá-la. 

Ela dormia tão bem que Alex não teve coragem de atrapalhar seu sono, então a pegou no colo e a carregou até a sala de banho anexa aos aposentos que, a partir de agora, compartilhavam. Testou a temperatura da água e a colocou na tina. Depois, ele retirou a própria roupa e entrou com ela. 

Aos poucos, ela foi despertando, enquanto Alex pegava um pano e um sabão e a banhava. 

- Hmm, isso é tão bom. – Kate disse enquanto seu marido passava o pano pelo seu pescoço e braços. 

- Achei que fosse apreciar um banho depois de toda a atividade que tivemos à noite. 

- Sim, é muito bom. Sabe o que seria melhor ainda? 

- O que? 

- Se você estivesse dentro de mim, agora. 

Alexander sentiu seu pau ficando duro novamente, mas agora não era hora, ela precisava se recuperar. Ela se virou de frente para ele, montando-o, com as pernas abertas e sentada em seu colo. 

- Kate, não está doendo? - Ele perguntou.

- Um pouco. 

- Então não iremos fazer nada além  de nos lavarmos. 

Ela deu um beijo molhado em seu pescoço, esfregando seus seios naquele peitoral definido. 

- Esposa, esse não é o momento, tenho muitas coisas para fazer hoje. - Alex implorou.

- Vai ser rápido, prometo. – Ela respondeu, manhosa, dando uma mordida em sua orelha que fez Alexander estremecer. 

- Já estou muito atrasado para o treino desta manhã. – Ele falou, enquanto tentava se  soltar de seu abraço e sair da água. – Vai continuar descansando? - ele perguntou.

- Não. Quero descer e conhecer os arredores. 

- Então venha que vou te ajudar a se vestir. 

Não era usual que um marido ajudasse a esposa a se vestir. Na verdade, nunca tinha ouvido falar de um marido que ajudasse sua esposa a se vestir. Geralmente, as senhoras possuíam criadas de quarto, como Rose, justamente para fazerem essa função. Mas Alex sentia que, depois daquela noite, devia se esforçar para agradar a esposa. 

Desceram as escadas da torre e foram tomar o café da manhã, que, a esta hora, já havia terminado. Passaram mais tempo no quarto do que imaginaram. 

Sentados na mesa, enquanto as criadas chegavam com a comida, o Laird pensou ter visto alguns olhares hostis mal disfarçados entre a criadagem, dirigidos a Kate, mas como os criados nunca deram nenhum tipo de problema com nenhuma das antigas senhoras do castelo, ele pensou que fosse sua imaginação, pois mesmo tendo passado só uma noite desde que se casaram, ele já estava se sentindo um pouco superprotetor demais em relação à sua esposa. Mas a verdade é que, dessa vez, ele rezava para que o casamento durasse até o dia da sua morte. 

Kate era especial e ele não tinha intenção alguma de deixá-la partir, mesmo que não acreditasse em toda aquela besteira de vir do futuro. Ela poderia alegar que veio do inferno e, mesmo assim, ele jamais a deixaria partir. 

Alex se despediu de sua esposa e foi para o campo de treino. Não tinha dormido nada, mas, de forma alguma, se sentia cansado. Muito pelo contrário, sentia que tinha forças para treinar o dia todo, até chegar a hora de deitar na cama e voltar a ter Kate em seus braços. 

- Como foi a noite com sua nova esposa? – Logan perguntou. 

Ele era o comandante da guarda do Laird. O primeiro em comando, depois do laird. Era nele em quem Alexander confiava para tratar de assuntos sérios. Tinham a mesma idade, foram criados praticamente como irmãos. Eram irmãos de armas. Seu pai foi comandante do antigo laird e, quando ambos morreram, foi natural que ele  ocupasse  o lugar de seu pai enquanto Alex ocupava o lugar do seu próprio pai. 

- Melhor do que imaginava. – Ele respondeu, como se fosse algo sem importância, não queria dar a impressão de que estava ansioso para voltar a encontrar Kate, embora estivesse mesmo. 

- Não tem medo de que ela aproveite que você está treinando para poder se matar? – Ele estava brincando, mas Alex não pôde deixar que essa imagem se infiltrasse em sua mente, lhe causando uma náusea súbita. – Ei, Alexander, eu estava brincando. 

Mas já era tarde para fingir que ele não se importava com ela. Alex não conseguiu esconder o seu próprio terror com aquela perspectiva. Agora, ele precisava sair de lá e procurá-la, garantir que estivesse bem. 

Deu meia volta, guardando sua espada e saindo do campo de treino sem dar  ouvidos ao que Logan dizia. Nesse momento, ele só precisava encontrá-la. 

_________________________________________________________

 A ideia original de Kate era conhecer todo o castelo, mas depois de cinco minutos andando pelos corredores, essa ideia pareceu bem idiota. 

Tudo em que ela conseguia pensar era na ardência em seu sexo. 

Decidiu ir para fora, tomar um pouco de ar. 

Sentada na grama, a ardência diminuiu para um leve latejar. 

Suportável. 

Ela ficou ali, sem fazer nada, por um bom tempo, somente pensando na noite passada. 

- Bom dia, Senhora. 

Kate levou alguns segundos para perceber que havia um soldado falando com ela e que ele não tinha um rosto hostil, muito pelo contrário, parecia respeitoso. 

- Bom dia, soldado. Como se chama? 

- James, Senhora. Fui designado para protegê-la todas as vezes que sair do castelo. A senhora quer conhecer o vilarejo e os arredores? - James perguntou.

- Talvez mais tarde, agora não me sinto muito bem para andar. 

Kate foi sincera demais em sua resposta e só percebeu o erro que cometeu quando viu o rosto corado do homem. Ele tinha entendido o sentido de sua frase. Não é que Kate tivesse muitos pudores, mas tinha que se lembrar de que não estava mais no século XXI. 

Teve vontade de rir do seu desconcerto, mas se controlou. 

- Então James, já que é meu guarda particular, por que não se senta para a gente conversar e me explica o básico sobre o clã? 

- Não, senhora. Eu não posso.

- Sim, você pode. E pelo amor de Deus, pare de me chamar de senhora! 

- E como devo chamá-la? Milady? 

- Me chame de Kate. 

- Isso não seria correto. 

Kate já estava farta de tantas regras. 

- Não dou a mínima para o que é correto. Sente-se, é uma ordem! 

Ele suspirou e se sentou, de frente para ela. 

- O que gostaria de saber sobre o clã? 

- Absolutamente tudo. Me conte sobre a vida das pessoas do clã. A função que cada um desempenha. Essas coisas. 

- Certo. Lady Josephine é a mãe do laird, era quem cuidava da fortaleza, mas penso que, agora que o laird se casou, espera que a senhora comece a exercer essa função. 

Puta merda! O que eu poderia entender sobre cuidar de um castelo?! Kate pensou.

- E o que, exatamente, espera-se que eu faça? 

- Não tenho certeza, senhora. Penso que seja melhor que pergunte à mãe do laird. 

- Sim, está certo, continue. 

Ele passou a falar sobre cada membro do clã, relatou que todas as manhãs os soldados treinavam em turnos, que a cozinheira não gostava que ninguém permanecesse na cozinha se não fosse exclusivamente para ajudar, que cada pessoa possuía uma função diferente, mas que, desde que a curandeira faleceu, de velhice, todos andavam muito preocupados, enquanto o laird procurava, em vão, outra curandeira. Muitas mulheres estavam prestes a dar à luz e não haveria quem pudesse ajudá-las quando a hora chegasse, assim como não teria quem atendesse aos soldados feridos. Ele falou sobre a extensão do clã, sobre o lago com a água cristalina e até mesmo sobre os outros casamentos do Laird. 

Quatro vezes o homem foi casado! Kate espantou-se.

Isso não era para qualquer um… 

James também falou sobre algo bem interessante. 

Uma maldição que rondava o clã há mais de um século, e o desespero da família do Laird, que tiveram que enfrentar muitas perdas trágicas. James não entrou em muitos detalhes nem sobre os antigos casamentos e nem sobre a maldição. Como Kate não acreditava muito nessas coisas de maldições e também não queria saber sobre os antigos amores de meu marido, não insistiu em nenhum dos dois assuntos, pensou que, se fosse importante, ou a afetasse de alguma forma, Alex lhe diria. 

A hora do almoço chegou, e Kate percebeu que gostava de sua companhia.

Quando estavam se levantando para irem almoçar com o resto do clã, ela decidiu perguntar: 

- James, por acaso sabe por que os criados me olham como se eu estivesse fedendo? 

Ele riu e disse: 

- Porque és inglesa. 

- Odeiam os ingleses, verdade? 

- Sim. 

- E por que? 

- Por vários motivos, não sei se entenderia todos eles. 

- Então me diga os motivos que acredita que eu entenderia. 

- Bom... O principal motivo é que és inglesa, e às inglesas não lhe agradam trabalhar, somente sabem tomar chá e fofocar. 

Kate pensou sobre o que James disse. Obviamente, isso não era verdade, no século XXI, mas talvez ele tivesse razão sobre as inglesas daquela época. 

- Então, está me dizendo que pensam que somente  irei dar ordens? 

Ele assentiu. 

Ainda estavam do lado de fora do castelo, quando escutaram uma voz grave e mal-humorada dizer: 

- Onde estavas? 

James e Kate se viraram e viram um Alexander muito irritado. 

Por um minuto, ela não sabia se ele se dirigia a ela ou a James, até que este respondeu: 

- Estava aqui mesmo, laird. Precisas de algo? 

- Não falei contigo, soldado, mas já que perguntou, preciso que pares de flertar com a minha esposa, será que és capaz disso?! 

James ficou vermelho, enquanto Kate soltava uma exclamação de indignação. 

Mas que tapado! Só estávamos conversando! Ela pensou.

Então Alex voltou sua atenção para ela, ignorando completamente o soldado, que logo percebeu que foi dispensado e saiu depressa do campo de visão do Laird, antes que Alexander resolvesse matá-lo. 

- E você, esposa, deveria honrar os votos que trocamos na capela. 

- Estávamos só conversando. Queria saber coisas sobre o clã. E ele foi a única pessoa que se mostrou gentil comigo! ​

- Quando quiser saber alguma coisa sobre o meu clã, venha perguntar a mim. Sou seu marido e a partir de hoje responderei todas  as suas perguntas! Você está proibida de conversar com os meus soldados! 

- Pois conversarei com quem quiser! James me deu mais respostas na última hora, do que você desde que cheguei! 

- James?! Já estão com toda essa intimidade?! 

Ai Céus, que dor de cabeça era esse homem... Ela pensou.

- Você está proibida... 

De novo essa palavra... Já ia mostrar pra ele em quem ele poderia mandar... Kate rosnou, mentalmente, enquanto retrucava, em voz alta:

- Você não me proíbe de nada! E se eu quiser mostrar os peitos para os seus soldados, eu mostro, porque os peitos são meus! – Isso fez com que o pátio ficasse em silêncio. Ela percebeu que a discussão estava acalorada e que essa última parte praticamente foi dita aos berros. Haviam somente soldados por perto e todos olhavam para ela, chocados. Alex parecia que mataria alguém de tão furioso que estava. Então Kate percebeu algo em sua expressão que lhe chamou a atenção. 

- Alex... – Kate o chamou – Está com ciúmes? 

- Mas é claro que não! 

Dito isso, ele entrou no castelo, deixando-a sozinha lá fora. 

Depois da refeição, ela já estava preocupada em arranjar o que fazer para não morrer de  tédio, pensou em falar com Lady Josephine, mas, levando em conta a forma como a olhou durante o almoço, achou que não seria uma boa ideia. Decidiu deixar essa conversa para outro dia. Enquanto isso, ela poderia encontrar o que fazer fora do castelo. James tinha dito que havia muito o que  ajudar na vila, e era para lá que Kate iria de tarde. 

Alex ainda a olhava feio, como se a acusasse, em silêncio. Kate notou que todos perceberam que o laird estava descontente e que a culpa era dela, sendo assim, os olhares hostis ficaram ainda mais evidentes e mal disfarçados. 

Mas ainda estava para chegar o dia em que Kate se sentiria intimidada por qualquer um. 

Ela caminhou pelo pátio até sair da vista dos guardas, caminhando na direção  que James disse que ficava o vilarejo. 

Ao chegar na vila, Kate teve a percepção de um outro lado da vida naquele castelo. As pessoas eram mais humildes e gentis do que os empregados do castelo. 

Ela começou a perceber que servir o Laird era uma grande honra que poucos tinham e isso os fazia pensar que eram superiores ao resto do vilarejo. Enquanto caminhava, percebeu muitos olhares amistosos e curiosos. Kate não sabia se eles sabiam quem ela era, ou se tinham alguma noção do que se passava dentro das muralhas do castelo. Embora não parecessem passar fome, era notório que tinham mais necessidades do que os criados que dormiam dentro do castelo. 

Olhando em volta, viu casas de madeira e palha que pareciam ter sido construídas pelos próprios moradores. Então algo veio à mente dela. 

Kate certa vez leu um livro sobre a história e desenvolvimento da Escócia, e lembrava-se bem de uma passagem do livro que dizia  ser função do laird zelar pela segurança e comodidade dos vilarejos que pertenciam ao seu clã. Mas esse vilarejo parecia não ser tão bem cuidado. E isso soava contraditório em sua cabeça. Ela não imaginava que Alex, um homem que a amou tão apaixonadamente na noite anterior, pudesse ser tão negligente em outros aspectos. Algo estava errado nessa história, e Kate descobriria o que era. 

Enquanto olhava tudo em volta, anotava mentalmente o que eles pareciam precisar, e traria do castelo da próxima vez que viesse. 

As pessoas pareciam receosas em se aproximar, mas mantinham sorrisos amigáveis. Havia um senhor de idade avançada, um pouco mais distante, carregando um balde com água, que parecia pesado demais para ele. 

Ninguém parecia notar que o senhor precisava de ajuda. 

Kate ainda era a atração principal do vilarejo. 

O velho era franzino e tropeçava com o peso do balde. 

Ela se aproximou dele e parou em sua frente. Ele parou e a olhou, confuso, ainda segurando o balde. 

Kate tentou fazer uma reverência o melhor que pôde - ela ainda era terrível nisso - e ouviu exclamações de surpresa das pessoas que a observavam. 

Talvez, não fosse tão comum que a senhora do castelo reverenciasse um aldeão. 

Ela falou: 

- Me chamo Kate, sou a nova senhora do clã Douglas. 

- Sou Luís, minha senhora. Precisa de algo? 

- Me chame de Kate. Para onde leva esse balde? 

- Para minha casa, senhora. Gostaria que lhe levasse água até o castelo? – Luís parecia confuso com a súbita curiosidade de sua Senhora, mas se mostrava muito respeitoso. 

- Não é necessário. O que eu gostaria mesmo é que todos me chamassem de Kate. Pode tentar? 

- Sim, senh... Quero dizer, sim, Kate. 

- Ótimo – Kate sorriu – E me dê esse balde. Vou ajudá-lo antes que se machuque. 

Ela sabia que ele iria protestar, mas não lhe deu oportunidade. Tomou o balde de sua mão e fez sinal para que fosse na frente e lhe mostrasse o caminho. As pessoas pareciam não acreditar no que viam, mas já estava na hora de algumas coisas mudarem naquele clã. 

Kate jamais suportou que houvesse qualquer tipo de discriminação entre ricos e pobres, e isso era muito notório no ano em que estava agora. E, afinal, qual seria a vantagem de ser a nova senhora do clã se ela não pudesse mudar e melhorar algumas  coisas por ali? Ela tinha acabado de dar um passo, era um gesto de gentileza. As pessoas da vila não pareciam muito familiarizadas com este tipo de gesto, mas logo elas iriam se acostumar e aprender a tratá-la, não como uma superiora, mas como uma igual. Ela tinha noção de que as desigualdades não acabariam naquele ano e nem naquele século, mas a sua parte, por aquela gente, - a sua gente, agora - ela estava fazendo. 

E, além de conseguir alguns amigos, também poderia coletar informações sobre o  clã. 

Juntos, andaram por algumas ruas e, depois de um tempo, Luís parou e  passou a caminhar ao lado dela. Ele parecia muito grato por não ter que carregar o balde, assim como muito surpreso por ter sido logo a esposa de seu Laird a lhe oferecer ajuda, quando ninguém mais parecia notá-lo. 

- Você mora sozinho? – Ela perguntou. 

- Não, moro com minha filha e meu genro. 

- E nenhum deles pode ir buscar água para você? 

- Meu genro passa o dia todo na lavoura, para poder nos sustentar. Geralmente, quem buscava a água todos os dias era a minha filha, mas agora ela já não consegue. 

- Por que? 

- A gravidez está muito avançada, já não consegue fazer quase nada, mas tenta ajudar no que pode. 

- O que  você pode me dizer sobre o clã? - Kate mudou de assunto.

- Não muito, na verdade. A vida na vila é bem simples e quase não temos contato com as pessoas dentro do castelo, a não ser quando precisamos pagar os impostos. Quase nunca vemos o laird. Embora algumas pessoas tenham familiares que trabalham dentro do castelo e contam algumas fofocas que descobrem. Sabemos, por exemplo, que o laird foi casado diversas vezes, mas essa é a primeira vez que temos o prazer de ver a esposa do nosso laird. Muitos acreditavam que todas  as esposas  do laird eram mulheres esnobes demais para aparecerem na vila, outros acreditavam que o laird as proibia de sair do castelo. A tua presença aqui mostra quão diferente és das antigas senhoras, assim como também demonstra que o laird não as proibia de aparecerem na vila. 

- Na verdade, não sei o que meu marido pensa de que tenha vindo até a vila. 

- Ele não sabe? 

- Não. Não foi comunicado da minha decisão, ou, provavelmente, não teria deixado que viesse desacompanhada. 

- Não te preocupa a reação do laird quando descobrir? 

- Não. A verdade é que não me importa. - Kate sorriu e ele retribuiu o sorriso. 

- És diferente da maioria das senhoras dos clãs. 

- Sim, sou. E gostaria que me tratasse como uma igual. Agora somos amigos, não? 

- Sim, Kate. Somos amigos. ​

Eles chegaram em sua casa e entraram. 

Luís lhe disse onde colocar o balde, que já estava começando a deixar sua mão dormente por causa do peso. 

Era uma casa simples e bem pobre. Deveriam passar muita necessidade. E não era para menos, moravam três pessoas naquela cabana, mas parecia que somente uma tinha condições de trabalhar, e logo teriam mais uma boca para alimentar. E por falar nisso, Kate pensou, teria que ver com Alex a questão da curandeira, ela teve uma ideia, mas não sabia se seria bem aceita por ele. 

A filha de Luís chamava-se Megan e, pelo tamanho de sua barriga, Kate entendia porque não poderia ter ido buscar a água. Ela perguntou a Megan: 

- Quanto tempo falta para nascer? 

- Pouco mais de um mês. 

Pouco tempo para encontrar uma nova curandeira. Kate pensou. Se seu marido não desse um jeito nessa situação, ela teria que apressar as coisas. 

- Quando entrar em trabalho de parto, mande alguém me avisar. – Kate falou, arriscando tomar decisões que, talvez, não estivessem em sua alçada. 

- Por que? 

- Entendo um pouco de cura, e penso que posso ajudar. E espalhe a notícia para os outros aldeões. 

Megan a olhava em dúvida, não acreditando que a senhora do clã pudesse  entender sobre coisa alguma, mas, quando a hora chegasse, junto com a dor, e ela percebesse que Kate seria a sua única opção, ela mandaria alguém chamá-la, Kate tinha certeza. 

A verdade era que Kate não só entendia um pouco sobre cura, como também era fascinada pelo tema. Tinha a intenção de cursar medicina quando o verão acabasse, já tinha até sido aceita em algumas universidades em Londres. Além do mais, sua mãe era cirurgiã e Kate aprendeu muitas coisas com ela, desde como tratar algumas enfermidades com ervas até a costurar pessoas. Embora nunca tivesse participado de um parto, sua mãe tinha explicado o que fazer em uma situação dessas. Ela passou um tempo com Luís e Megan e prometeu fazer uma visita em breve, depois, despediu-se e seguiu seu caminho rumo ao castelo, antes que escurecesse. 

- ONDE ESTAVAS? – Kate ouviu alguém gritar quando transpunha a muralha do castelo. 

Era Alex. Ela suspirou, e respondeu, tranquilamente:

- Fui até a vila. 

- E por que não fui comunicado da sua saída?! 

- Porque não queria que soubesse. 

- O que foi fazer lá, sozinha?! 

- Fui conhecer as pessoas e ver em que situações viviam. E vou ser bem sincera quando digo que pensei que você fosse um laird melhor para o seu povo. 

Kate podia perceber que estava passando dos limites, mas precisava desabafar e lhe jogar na cara que enquanto ele brincava de lutinha com seus soldados, o seu clã praticamente passava fome. 

- Vamos conversar no quarto. – Ele disse, a puxando pelo braço. 

Eles subiram, em silêncio, as escadas. Alex parecia raivoso, mas Kate estava igual ou pior, então, não deu a mínima para todo aquele drama que seu marido estava fazendo, ou para o fato dela estar encrencada ou não. 

Agora, eles iriam esclarecer alguns assuntos de extrema importância. Kate pensou. Principalmente sobre esse casamento. 

Já estava mesmo na hora de colocarem tudo em pratos limpos. Kate exigiria uma posição sua, como Laird, referente à todos os assuntos que ela pensava serem negligenciados por ele, e não pouparia nas acusações. 

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