Cap. 01 - O começo de tudo.
Inglaterra, dias atuais...
Kate estava muito animada com a viagem para conhecer o castelo de Edimburgo. Tinha acabado de completar 18 anos e seus pais lhe deram uma passagem de trem para a Escócia. E o que era melhor, ela iria sozinha!
Desde pequena sentia uma fascinação estranha pela Escócia, e principalmente pelo castelo de Edimburgo.
Parada na estação onde pegaria o trem, olhou seus pais e disse:
- Estarei de volta hoje à noite.
- Ligue se precisar de alguma coisa. - Sua mãe a abraçou, seguido de seu pai.
Ambos estavam meio nervosos com essa viagem, já tentaram até pegar o bilhete da passagem de volta, mas Kate afirmou que presente não pode ser devolvido.
Onde já se viu tamanha ousadia? Como se eu fosse abrir mão do meu sonho logo agora que estava tão perto. Ela pensou, não entendia todo esse drama. Kate sempre foi uma pessoa muito prática e de poucas emoções. Talvez fosse por isso que ainda fosse virgem aos 18 anos…
Ela se desvencilhou do abraço de seus pais e embarcou. A última coisa que lhes disse foi:
- Estarei de volta para o jantar.
- Eu te amo – Sua mãe falou.
Foi a última coisa que ela me disse...
E eu deveria ter dito que a amava também.
Se eu soubesse o que enfrentaria dali em diante, teria dito.
Teria dado mais valor aos meus pais, que sempre me deram tudo.
Como somos tão idiotas quando somos jovens, não?
E é assim que essa história começa…
Sofri muito com a reviravolta que a minha vida tomou, sofri por não poder vê-los novamente, por não ter dito que os amava tanto quanto eles me amavam, e mesmo assim, ainda foi a melhor coisa que me aconteceu.
Kate sentou em sua poltrona para esperar a longa viagem que faria. Colocou os fones de ouvido e relaxou.
______________________________
Desembarcou em solo escocês e até o ar parecia diferente.
Parecia... Mágico.
Ela seguiu junto com alguns turistas que iam para o Castelo. Devia ser perto, uma vez que não pegaram nenhum tipo de transporte.
Quinze minutos de caminhada e Kate já estava xingando até a mãe do infeliz que teve a ideia de ir andando.
Ao que tudo indicava não era tão perto assim...
Foi então que percebeu que tinham acabado de chegar.
O imponente castelo estava logo ali. Era real. Ela realmente estava lá. Não esperou pelos outros. Foi entrando e olhando tudo o que podia, gravando mentalmente.
Subiu escadas e mais escadas. Abriu portas. Adentrou aposentos. Até as gavetas ela fuçou.
Havia uma escadaria que não acabava mais. Ela pensou que levava a uma das Torres do castelo. E era onde estava agora. Subindo e subindo uma escada sem fim.
Parou quando os degraus acabaram e havia uma única porta. Então pensou que a porta poderia estar trancada e se xingou mentalmente por todo o esforço que teve.
Mesmo assim, testou a porta.
Ela se abriu, mostrando um aposento circular. Havia uma cama relativamente antiga e o que Kate supôs que fosse um espelho, com aparência ainda mais antiga. Não era feito de vidro, mas de cobre. E a imagem que refletia estava um pouco embaçada por causa dos riscos que havia nele, ou talvez fosse o pó que atrapalhasse, já que aquele cômodo não parecia ser limpo a muito tempo.
Passou a mão na superfície do espelho, tentando limpar.
E foi então que meu pesadelo começou, ao mesmo tempo em que se iniciava a maior história de amor de todos os séculos.
Eu só queria entender como uma inocente viagem poderia dar tão errado.
Nem eu mesma sabia.
_______________________________________________________
Clã Douglas, Escócia, ano de 1470
Alexander, Laird do Clã Douglas, estava sentado em sua cama, pensando na ordem expedida pelo Rei, e se era preferível se jogar da janela de seu quarto ao invés de cumprir as vontades de Sua Majestade.
Olhou novamente a carta que o rei lhe escreveu, não acreditando no que seus olhos liam.
Era da vontade de Sua Majestade que ele se casasse novamente. Como se não bastasse os seus quatro casamentos anteriores, que terminaram de forma trágica.
E nenhuma das loucas que enfiaram em sua cama foi escolha sua. Não. De forma alguma. O rei escolheu a dedo cada uma delas. E uma se mostrou pior do que a outra. Já estava cansado das péssimas escolhas do rei, gostaria de estar sozinho para o resto de sua vida.
O único motivo pelo qual poderia se alegrar, é que Sua Majestade deixou que escolhesse sua noiva. O que provava que seu casamento não deveria ser por poder, era somente mais um capricho para que ele provasse sua lealdade ao rei da Escócia.
E era por isso que se casaria com qualquer uma. Pouco importava. Àquela altura da sua vida já tinha se convencido de que todas as mulheres eram loucas. Se casaria com a primeira mulher que encontrasse, só para satisfazer ao rei. E viveria um casamento de aparência. Não se importava se a sua esposa tivesse centenas de amantes, assim como ele também teria.
Ele não entendia por que precisava se casar quando faltava pouco mais de um ano para completar 30 anos e a maldição finalmente se cumprir.
Ainda tinha mais essa para somar às suas preocupações...
Porque essa era a verdade, todos conheciam a maldição lançada contra sua família há mais de um século. E ele já tinha tentado de tudo para reverter, ou retardar. Mas sempre falhou ao tentar encontrar uma solução. E por causa disso, seu clã ficaria sem um Laird.
Pensando bem, talvez fosse bom que o rei tivesse ordenado que se casasse, assim poderia ao menos tentar fazer um herdeiro nesse um ano que ainda lhe restava.
Deixou a carta em cima da mesa em seu quarto e foi procurar sua mãe, para lhe comunicar o decreto do rei.
Saiu pelos jardins, achando que, como sempre a essa hora, Lady Douglas estaria cuidando de suas flores no jardim. Não estava. Foi até sua horta. Não estava também. Estava prestes a perguntar a alguns dos soldados que guardavam a saída, quando aconteceu algo que somente alguém que foi amaldiçoado acreditaria, já que aquilo era a magia em sua essência mais pura.
Uma garota despencou dos céus, bem em seus braços. Ele pensou em segurá-la antes que atingisse o chão, mas estava a uma velocidade que provavelmente não conseguiria segurá-la. E foi o que aconteceu. Quando se chocou contra o seu corpo, ele perdeu o equilíbrio e ambos foram jogados contra o chão. Rolaram pelo gramado, colina abaixo. E só pararam quando chegaram lá embaixo, na entrada do bosque.
Alexander se levantou, aturdido e foi ajudá-la. Ela ainda estava deitada no chão. Desacordada. E com um corte na testa, que sangrava horrores.
Ele pegou-a no colo, tomando cuidado para não piorar seu ferimento. E a levou para dentro do castelo, onde poderia ser atendida.
No saguão de entrada, encontrou sua mãe, dando ordens aos criados.
Gritou por ela e pediu que o ajudasse.
Não esperou para ver sua reação ao encontrá-lo com um corpo parcialmente ensanguentado, e que ainda sangrava. Ele subiu as escadas, correndo, em direção aos quartos.
Pensou em colocá-la em algum quarto na ala das visitas, mas então se lembrou que não havia nenhum quarto arrumado.
Alexander mudou de direção, e a levou diretamente para o seu próprio aposento privado. Era o mais confortável que existia.
Depositou-a em sua cama. Não demorou muito para que sua mãe aparecesse.
- O que aconteceu com ela?! – A dama perguntou.
- Ela rolou a colina. – Ele não poderia dizer que ela caiu do céu, vindo de lugar nenhum, ou ela provavelmente mandariam que queimassem a moça viva. – Provavelmente bateu a cabeça.
- Provavelmente. – concordou.
- O que faremos?
- Esperamos que recupere a consciência, não parece ter sido grave. De onde você a conhece, Alexander? – Sua mãe perguntou.
- Não a conheço.
- E como ela conseguiu passar pelos guardas e entrar? O que será que pretendia?
Droga, ele pensou, eu não havia pensado nisso, mas minha mãe pensa em tudo.
Será que aquela feiticeira tinha más intenções?
Será que a bruxa saberia alguma coisa sobre a maldição que a tanto tempo pairava sobre nossas cabeças?
Embora já tivesse perdido as esperanças de viver mais do que os 30 anos, se um dia tivesse herdeiros, não gostaria que meus filhos tivessem que passar pela mesma angústia que me atravessava desde que descobri que já tinha nascido com prazo de validade.
Alexander decidiu, então, que, embora não fosse certo que a feiticeira soubesse como acabar com a maldição, ela o ajudaria de alguma forma.
Tinha que ajudar. Nem que ele tivesse que implorar.
Pensando em seus planos, não pôde deixar de dizer:
- O rei a mandou.
- A mandou? Com qual finalidade?
- Sua Majestade ordena que eu me case o mais breve possível, e até já escolheu a noiva. – Não era uma verdade completa, mas também não era uma mentira inteira.
- Oh céus! Mais um casamento? – Sua mãe estava pasma. E não era para menos, depois de tudo o que passaram por causa dos outros casamentos fracassados de Alexander. – E a noiva, onde está? Como se chama? A que clã pertence?
- Essa é a noiva. E ainda não sei seu nome. – Só rezava para que a moça já não fosse casada.
