Prólogo
Clã Douglas, Escócia, ano de 1300...
Havena era uma feiticeira poderosa. Mas neste momento não poderia se vangloriar de seus poderes. Estava trancafiada nas masmorras do Castelo Douglas. Não era muito agradável, mas poderia aguentar por um tempo. Não muito. Poderia morrer de frio, ou de fome, ou até mesmo afogada quando a maré subisse e entrasse pelo único vão na parte de cima da parede que servia como janela, para entrar um pouco de luz.
Ela tinha certeza que a intenção era matá-la afogada. Estremeceu-se. Não de frio. Mas de medo.
O Clã Douglas era famoso por suas masmorras impiedosas. Havia 3 tipos de masmorras naquele castelo. Aquela em que se encontrava era a mais famosa, provavelmente por ser única em toda a Escócia, senão no mundo. Era especialmente projetada para matar os inimigos afogados, quando a maré subisse e a água entrasse pelo vão.
Ela poderia passar pelo vão e fugir nadando quando a água subisse, se não fosse pelos grilhões que prendiam seus pulsos e tornozelos à parede.
Deveria faltar pouco para a água começar a entrar pelo vão…
Começou a refletir sobre o trágico momento que a levou àquele lugar.
Nunca pensei que seria pega tão rapidamente.
Seu único conforto era saber que seu filho estava em segurança e à caminho da Inglaterra, onde ela esperava que os highlanders não fossem capaz de alcançá-lo, principalmente um clã tão impiedoso e ambicioso quanto os Douglas, que nem pestanejaram ao matar sua filha mais nova, assim como sua sobrinha de 18 anos, a quem ela criou como uma filha, somente pela ambição de ter um pouco de magia.
Ao mesmo tempo em que pensava, ouviu o som de portas e passos, e logo depois havia três homens analisando suas condições deploráveis. Era o Laird e seus irmãos.
O Laird aproximou-se e falou com ela:
- Sabe quanto tempo falta antes que a maré suba? – Era uma pergunta retórica, ele não precisava realmente de uma resposta, então ela permaneceu calada. – Falta pouco mais de meia hora. Mas embora eu fosse apreciar ver-te afogando, tal não é o meu intuito. Planejo para ti uma morte mais dolorosa do que o conforto que a água oferece. E quando eu acabar contigo, vais preferir nunca ter saído comigo destas masmorras.
Dito isso, ele retirou de seu cinto um punhado de chaves e a soltou.
Levaram-na para fora das masmorras, onde o sol ainda clareava o céu, embora estivesse indo embora. Faltava pouco mais de 2 horas de claridade e logo seria noite.
Foi arrastada até o meio do pátio, onde haviam disposto uma carroça com palha dentro. A colocaram em cima da carroça e a prenderam novamente.
Olhou em volta e percebeu que todo o clã tinha ido assistir ao seu triste fim. Tinha ajudado tantos daqueles que estavam lá, e agora nenhum deles iriam ajudá-la. Embora o que visse no rosto daquele clã não fosse ódio, sabia que ninguém ajudaria.
O Laird Wallace Douglas lhe dirigiu a palavra:
- Só vou lhe perguntar uma vez, feiticeira. Onde está o amuleto?
- Em segurança. – ela respondeu. Não era o que ele queria ouvir, mas ela jamais entregaria algo tão valioso para a sua estirpe. Poderia até apostar que ele não fazia nem ideia do que era o amuleto, ou não teria feito uma pergunta tão idiota, a não ser que ele pensasse que Havena poderia esconder um espelho de um metro debaixo das saias.
- Vou encontrar seu amuleto por conta própria e caçarei toda a sua estirpe!
Depois disso, ateou fogo à palha da carroça, a queimando viva. No entanto, não poderia deixar que matassem toda a linhagem de sangue mágico à qual Havena pertencia. A estirpe Barclay era uma das mais poderosas de toda a Grã-Bretanha.
Pensando nisso, enquanto queimava na fogueira, convocou todos os seus poderes e os amaldiçoou:
- Laird Douglas, a ti eu dirijo esta maldição. Assim como eu perdi minha vida aos 30 anos, amaldiçoado seja toda a tua linhagem, para que nenhum sobreviva mais do que vivi. Tal como minha sobrinha morreu aos 18 anos, asseguro-te que somente uma garota dessa idade poderá poupar o teu nome da extinção. E acima de tudo, do mesmo jeito que ajudei teu clã minha vida inteira, somente o meu sangue poderá salvar o teu!
