Capitulo 2 - Brenda
Agora estou aqui, levando a minha vida e hoje em dia sei me virar muito bem sozinha.
Mas confesso que quando soube que estava presa a uma cadeira de rodas, me revoltei. E ei de cumprir o que prometi. Cumprir a mim, mas também cumprir aos dois principalmente a quem me devia respeito, Matt.
Se naquele dia em que marcamos juntos e eu não tivesse chegado mais cedo, provavelmente estaria andando hoje em dia, mas não posso prever se aconteceria algo assim comigo ou não.
Hoje, irei me encontrar com a minha amiga Melinda. Ela é uma bruxa aqui na Itália ao qual chamamos de Strega. Ela veio da Sicília onde os pais moram. Eles além de bruxos são da máfia.
Mas não são nada convencionais do que costumamos ver e para ficarem juntos passaram por muita coisa. Não só ela, como a tia Liz sua mãe, falam que minha vida irá mudar e terei a coragem que necessito para dar uma guinada de 360°.
E que antes de realmente ficar com o amor da minha vida, passarei por algumas lições que me tornaram mais forte. Confesso que não me atrai em nada essa história de amor pois, desde que eu e Matt terminamos, resolvi colocar um muro no meu coração cercado de cerca elétrica para ninguém entrar.
O tio Dan que é casado com a tia Liz, ele é o homem mais sincero e verdadeiro que conheci, é o que as vezes, me faz querer quem sabe deixar o amor invadir o meu coração.
Meu pai após o acidente, me deu um carro personalizado para deficientes físicos e eu mesmo dirijo e ando para onde eu quero sem precisar de ninguém para ser o meu motorista, o que acho maravilhoso.
Apesar de ser uma cadeirante, detesto ser dependente de alguém.
Chego ao restaurante em que vou me encontrar com a minha amiga e já a avisto de longe sentada numa mesa próximo as grandes vidraças e sorrio ao ver quem está ao seu lado. Minha tia Liz. Amo essas duas!
Elas veem que cheguei e acenam. Retribuo. Melinda chama um rapaz que acredito ser um garçom que solícito, vem na minha direção para me ajudar. Infelizmente para sair do meu carro, preciso de alguém para colocar a minha cadeira de rodas para fora.
Mas é claro que você deve estar se perguntando, já que você mora sozinha, como faz para sair do carro se não mora com ninguém? Existe o zelador no prédio onde moro e nos tornamos amigos. É um senhor de meia idade que também é pai de um casal que não mora com eles por estarem na faculdade, mas ele sempre foi um ótimo funcionário e amigo. Me ajuda sempre que chego do meu trabalho a sair do carro colocando somente a cadeira mas, se dependesse dele, me colocaria sentada e sairia empurrando até me deixar no meu apartamento.
Só que vejo ao longe, o garçom ser interrompido por alguém o fazendo ficar parado no meio do caminho sem graça.
Não consigo reconhecer quem é, até que os meus olhos não acreditam quando o vejo. Depois de anos, o que diabos ele está fazendo aqui de novo?
Aliás, não me importa! Afinal, ele tem a família dele que ainda ficou aqui e não me interessa mais o que Matt está fazendo aqui.
O vejo se aproximar sorrindo, mas a minha cara eu sei que não é nada boa. Aperto o botão do porta-malas e o idiota segue feliz até lá. Traz a cadeira até a porta do motorista e bate no vidro ao tentar abri-la.
Destravo a porta que logo se abre e aquela maldita voz invade os meus pensamentos.
- Oi Brenda! Você está ainda mais linda.
O fuzilo irritada e rapidamente disparo.
- Poderia se afastar para que eu sente na minha cadeira?
- Oh... – Sem graça, ele se afasta.
Devido ao nervosismo de estar perto dele, nem me dei conta de que a cadeira precisava estar travada. Quando forcei o meu corpo para o assento, ela deslizou.
Antes que eu me chocasse ao chão, senti braços fortes me amparando.
- Você está bem? – Seus olhos emitiam preocupação.
Mas a minha raiva era tanta que fui rude.
- O que você acha? Uma aleijada como eu estaria bem se você tivesse travado a cadeira seu imbecil!
Seu olhar era triste, e abaixou a cabeça desviando o olhar. Droga! Me senti péssima agora, mas o que eu posso fazer se por culpa da sua traição, estou fadada a essa vida.
- Me desculpa.
Foram as únicas palavras que consegui ouvir antes dele me colocar sentada na cadeira. Dou uma lufada de ar e o encaro enquanto ele bate a porta do meu carro.
- O que você quer Matt? Pensei que estava longe pra nunca mais voltar!
- Eu... (suspira profundamente) – Voltei porque quero recomeçar e consertar meus erros. – Ele olha para a minha cadeira com tristeza.
Os seus olhos se encontram aos meus. Sinto meu corpo enrijecer e todo aquele amor que sentia por ele que estava enterrado lá no fundo parece que despertou. Senti meu coração disparar nesse momento. Merda de corpo e coração traidor.
Fomos interrompidos quando tive a coragem de falar algumas verdades.
- Senhorita, me desculpe mas vim ajuda-la.
Olhei para o rapaz ao meu lado e me dei conta de que era o garçom. Respirei fundo e o agradeci alegando que a cadeira por ser elétrica não precisava, mas o mesmo fez questão de me acompanhar, acho que percebeu que o clima estava estranho ali entre nós.
Girei a minha cadeira e a movimentei para frente até ouvir novamente Matt falar.
- Brenda, eu queria conversar ainda com você.
Parei a cadeira e por cima do ombro o respondi.
- Não temos nada para conversar. O que é passado, está no passado. Viva a sua vida...
Suspirei e ergui a minha cabeça seguindo até o restaurante onde minhas duas amigas me esperavam e o garçom, ah, esse foi em silêncio ao meu lado.
Eu não esperava sinceramente ter esse reencontro e acreditava fielmente que estava curada de tudo o que senti nesses últimos anos.
A dor, a frustração e os questionamentos de, “por que?” ou de como tudo aconteceu e até que ponto nos perdemos nesse emaranhado que a minha vida se tornou, não tenho essa resposta e provavelmente não a terei.
“Gasp”. Suspiro cansada pois, sinto que isso não acabou ali. Pelo que conheço de Matt, ele jamais deixará de me procurar ou de conversar o que tanto quer.
Eu preciso encerrar esse ciclo e talvez fosse uma boa conversarmos para encerrar esse capítulo das nossas vidas, mas não sei se quero, não sei se consigo, pelo menos não por enquanto.
Estava tão perdida com os meus pensamentos, que não percebi quando o garçom parou a cadeira próximo a porta de entrada do restaurante, até ouvir a sua voz ao longe num tom de preocupação.
- A senhorita está bem?
- Uhn?! Desculpe, estava distraída. O que foi que disse?
O garçom esboçou um sorriso e me olhou como se me analisasse.
- Eu perguntei se a senhorita está bem?
Sorri minimamente e assenti.
- Sim, eu estou bem. Obrigada por perguntar.
Com um leve aceno de cabeça, o rapaz abriu a porta travando-a embaixo e me conduziu até o interior do restaurante.
