Capítulo 3 - Brenda
Assim que me aproximei, fui recebida por Melinda que me abraçou apertado.
- Oi minha amiga! Desculpa, mas quem era aquele cara? – Perguntou se referindo ao Matt.
- Deixa a sua amiga quieta Melinda! (A repreende). – Há coisas que devemos nos calar e esperar que o outro se sinta a vontade para falar. Oi querida, você está linda! – Sorrindo, tia Liz me abraça.
Melinda se emburrou e eu ri. As minhas adoradas bruxinhas sentaram-se aonde estavam e o garçom retirou uma das cadeiras da mesa deixando eu me acomodar com a minha motorizada no lugar.
Suspirei e sorri sem humor. Percebi minha tia me analisando mas preferi não falar e nem perguntar nada por enquanto até porque, ela fala as coisas assim tão na lata que chega a dar medo às vezes.
- Aquele que me abordou agora a pouco é meu ex. – Praticamente sussurrei ao falar quem era e abaixei a cabeça.
Melinda quem se manifestou primeiro irritada.
- Para tudo! Aquele cara com carinha de anjo lá fora, é o seu ex, aquele mesmo que fez com que você ficasse assim?
Apenas balancei a cabeça consentindo.
- Melinda Pomeriggio! – Tia Liz a repreende fazendo um gesto de cabeça na minha direção.
- Desculpa mãe. Desculpa amiga! – Ela segura a minha mão e eu levanto a minha cabeça e mesmo triste, tento parecer feliz.
- Está tudo bem. Já não dói tanto quanto antes, afinal, não esperava reencontra-lo depois de tanto tempo agora.
O garçom novamente se aproximou parecendo perceber que o clima havia ficado estranho e fizemos os nossos pedidos.
Quebrando o silêncio com a sua saída para a cozinha, tia Liz é quem fala algo que não esperava ouvir nada por agora sobre a minha vida.
- Querida... (Ela segura a minha mão por cima da mesa e acaricia o dorso da mesma me deixando tensa porque sei bem que ela falará algo e como dizem, “lá vem bomba!”). – Você está ferida, eu sei. Mas, não deixe as más lembranças e ressentimentos te cegar. Já lhe disse que o amor da sua vida está mais perto do que imagina, mas para isso, precisa se libertar dessa prisão de mágoas.
Suspiro e não falei que ela viria com algo que sempre me deixa com medo. Mas sempre fala de amor, eu já risquei isso do meu caderno de relacionamentos. Não creio que o amor seja pra mim.
- Já falei tia, em meu coração não há espaço para isso mais.
Melinda ri e eu a encaro sem entender. Até tia Liz a olha tentando decifrar a risada.
Ela nos olha e meneia a cabeça antes de falar.
- Você falando assim, parece que estou vendo o meu irmão Miguel na minha frente.
Tia Liz sorriu com o que a minha amiga falou e seus olhos ficaram inertes no vazio de repente. Olhei para Melinda que apenas deu de ombros me olhando. De repente, tia Liz voltou ao normal e sorriu.
Mas afinal o que foi tudo isso? Nem me pergunte que eu também não sei, apenas coisas de bruxa como Melinda costuma dizer.
- Você nunca conheceu o Miguel, não é Brenda? – Minha tia me solta uma dessas.
Nem sabia onde enfiar a minha cara naquele momento. Apenas neguei envergonhada.
- Não tia. Ainda não o conheci.
- Ah Brenda, não por falta de oportunidade né amiga?! – Melinda fala revirando os olhos como se estivesse entediada.
Minha tia nos olha com um sorriso largo que não consigo decifrar o porquê. Apenas sorrio de volta e fico na minha. E começamos a conversar outras coisas e agradeço por isso, para não ter que ficar falando sobre alguém que nem conheço.
Conheci Melinda num curso que fui fazer na faculdade da Sicília e eu ainda andava. Nos tornamos amigas imediatamente através de um esbarrão no corredor em que ambas estávamos procurando a sala de administração empresarial que coincidentemente frequentaríamos.
Fiquei por lá durante 2 anos, nos divertimos muito e saíamos sempre juntas e depois retornei para Trento. Continuamos a amizade e nesse período até agora, nunca vi ou conheci Miguel por sempre estar ocupado ajudando o pai na máfia ou nos estudos ou na clínica que os pais montaram para atendimentos médicos e holísticos para a população, já que segundo minha amiga, o irmão pretende ser médico como os pais.
Quando sofri o acidente, Melinda e a sua família foram o meu suporte, estiveram comigo algumas vezes se revezando em vir aqui me ver, mas nunca conheci ou vi o Miguel além de fotos. Ele é muito bonito, lembra muito o pai, meu tio Dan quando mais novo.
Parando para pensar agora, é até estranho isso, mas como minha tia sempre fala, tudo na vida tem o seu tempo e se não chegou, é porque não estava na hora de acontecer.
O garçom volta com os nossos pedidos e nos voltamos a degustar as iguarias que nos foram entregues. Meu estômago revirou na hora e deu aquele grande ronco arrancando risos de todas nós, até o garçom que nos servia, ouviu e disfarçadamente escondeu o riso.
Almoçamos amorosamente e já nem me lembrava de ter encontrado com Matt no estacionamento. Estava leve e tendo a sensação de algo bom estava por vir, só não sabia o quê.
Saímos dali e fomos ao shopping depois. Diante de algumas dificuldades para cadeirantes, conseguimos circular tranquilamente pelas lojas e corredores. O ruim são os olhares reprovadores e piedosos que odeio. Finjo não ligar, e por mais que você tente dizer que não está nem aí, no fundo você está, mas não porque você está naquela condição, mas porque você não quer ser visto como coitadinho digno de pena e nem como alguém inútil.
A única coisa que acredito que todos como eu e em outras condições, queiram o que damos aos outros, é o respeito às adversidades.
Por mais que passe o tempo, não ligo para o que pensam, mas sim pela forma como agem. Deveriam apenas passar como se eu fosse alguém normal como de fato sou, somente tenho uma condição física especial.
Melinda estava louca para entrar numa loja e lá vamos nós para que ela compre um tal amuleto que disse que era algo que quando visse iria me apaixonar.
Sempre rio muito com a minha amiga, a quem considero uma irmã. Sei que posso ter problemas por falar assim da minha amiga a quem considero tanto, mas amo aqueles que me cercam e Melinda é uma delas.
Enquanto ela está no provador, de repente me sinto observada. Tia Liz está ao meu lado e se arrepia. Ela me olha estranho e acabo tendo um mau pressentimento.
- Tia, senti uma coisa esquisita agora. Não sei explicar!
Ela sorri, mas vejo no seu olhar preocupação e fala.
- Minha querida, toda a escuridão sempre há uma luz no fim do túnel e o passado só está de volta para consertar os erros, mas o seu futuro já está traçado e cabe a você segui-lo e ser feliz ou querer se afundar.
Estreitei os olhos achando aquilo estranho e resolvi tentar sondar ainda mais sobre o que aquilo significava.
- Tia, é...
Antes que pudesse perguntar, a cortina do provador se abre e Melinda sai dele com um vestido azul lindo a deixando mais bonita do que é.
- Tcharan! O que acham? – Com sua entrada triunfal, minha amiga faz caras e bocas virando-se para o grande espelho na sua frente.
Sorrimos para ela e aprovamos o modelo do que disse querer usar para impressionar um garoto que está interessada, gerando uma certa discussão entre mãe e filha me arrancando altas risadas que até me vi tão leve que nem lembrava mais da sensação horrível que senti agora a pouco, mas não deixei de pensar no que minha tia falou e sinto que tem a ver com a volta do Matt.
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Em algum lugar da Itália...
- Socorro! Pare por favor! Não me machuque. – Suplica.
Rindo, o homem de porte alto e atlético, com cabelos ondulados castanhos, sorriso encantador, olhos de cor âmbar escurecidos pelo seu ar sombrio, em toda a sua plenitude e conjunto da obra vestido num terno preto de três peças sob medida, se aproxima do homem que tropeçou e caiu pela enésima vez após apanhar e conseguir escapar das suas mãos.
Seu ar imponente não tinha pressa em se aproximar. Para ele parecia até um jogo de gato e rato que o divertia.
O homem extremamente assustado, recua arrastando o seu corpo naquela viela suja e escura até sentir as costas se chocaram com a parede fria e tremer.
Sorrindo de lado, o homem se abaixa numa mínima distância. Ao esticar uma das mãos na sua direção, o homem estremeceu e instintivamente levou os braços ao seu rosto como proteção.
- Eu não vou fazer nada mais. Já disse. Eu quero saber quem o mandou e se me disser, prometo deixá-lo ir.
A voz embargada pelo medo do homem, gaguejou e o pânico estava tão instaurado que não hesitou mais abrindo a sua boca para contar-lhe.
- Seu... pai...
Para o belo rapaz não era novidade que o seu pai estava mandando mais um dos novos seguranças para protege-lo, porém, teimosamente, não concordava com aquilo. Queria ter uma vida longe sem deixar tão evidente as condições que a família possuem.
O jovem rapaz se levantou. Já havia conseguido o que queria e como prometido, poupou o homem que respirou aliviado ao afastar-se.
De repente, o seu telefone toca. Já sabendo quem seria, não titubeou em atender ao retirar o aparelho do seu paletó.
Sorriu ironicamente atendendo logo em seguida.
- Pappa, já disse que não preciso de seguranças. Esse que fora mandado foi mais rápido em arrancar o que precisava. – Debocha.
Um barulho estrondoso ecoou do outro lado da linha. Era óbvio que o pai estava extremamente irritado ao jogar um dos vasos do seu escritório na parede. Um pouco menos estressado, suspirou.
- Moleque! Eu já disse que você mesmo sabendo se defender e com o que possui não pode andar por aí sem proteção. Senão, vou manda-lo de volta para casa.
O rapaz revira os olhos soltando uma sonora gargalhada. Por mais que o pai estivesse irritado e longe da família numa viagem de negócios, sabia que o pai só o estava ameaçando. Mas... Não poderia contar com a própria sorte, precisando assim, usar dos seus velhos argumentos.
- Perdoe-me pappa. Mas eu não quero seguranças me rondando tão perto, o meu tio está sempre comigo. Se colocá-los, peça que se mantenham distantes e discretos.
Suspirando pesadamente, o pai que já não aguentava mais ter que entrar nessa guerra com o seu filho, se dá por vencido.
- Está bem. Mandarei que façam isso. E cadê o maledetto do seu tio?
Sorrindo e olhando para o relógio de pulso, dispara.
- O senhor sabe bem, a essa hora... está dormindo depois de uma farra.
Agora era a vez do outro lado da linha o pai revirar os olhos. Continuaram uma animada conversa até que o rapaz retornou aonde estava pegando das mãos do motorista que já o aguardava com a sua mochila em mãos. Mais tranquilo, seguiu para a faculdade fazer a sua palestra.
