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4

Bianca

— Homem doido… — murmuro, vendo ele sair. Que fique claro: ele tem todo direito de sentir raiva por ter sido traído. Mas matar o cara e espancar a mulher até quase deixá-la inconsciente? Isso não é atitude de homem traído, é coisa de psicopata.

Amanda me contou os detalhes depois que consegui acalmar o Felipe e colocá-lo para dormir. Ele chorou tanto que não foi difícil fazê-lo apagar.

— A mina foi muito burra mesmo, hein… — comento com Amanda. Não que eu concorde com o Perigo, mas… trair um traficante, na casa dele, na cama dele? É pedir pra morrer.

Pouco depois, o próprio Perigo chamou alguns homens. Não demoraram a chegar. Um deles carregou a mulher ensanguentada, provavelmente para o hospital. Outros três arrastaram o corpo do cara que ele matou.

Mesmo trabalhando numa clínica, quase nunca vejo corpos. E, quando vejo, não é com sangue espalhado daquele jeito. Então, quando vi o homem sem vida sendo carregado como se fosse um saco de batata, minhas pernas tremeram.

— Será que vai ter baile? — pergunto, tentando mudar de assunto. — Tu falou que o Perigosão é o chefão daqui, né?

— Duvido que cancelem. É uma das maiores fontes de renda. É no baile que eles mais vendem droga. — Amanda responde. Mesmo estando aqui há pouco mais de um mês, já sabe de tudo.

Conversamos sobre várias coisas, rindo e matando a saudade. Quando Isa aparece com Meliane no colo, minha sobrinha corre na minha direção, gritando “tia Bia”. Amanda finge indignação e todas caímos na risada.

— Fazer o quê, né? Se eu sou a tentação da criançada… — brinco, convencida.

•••

A tarde passa rápido. Agora estou na casa da Isa, onde nós duas nos arrumamos para o baile. Depois encontramos Amanda, e iremos juntas para a quadra. Como Amanda previu, o baile não foi cancelado. Aposto que até o próprio Perigo vai dar as caras.

Depois de muito pensar, escolhi um vestido vermelho justo, colado ao corpo e aberto nas costas. O comprimento mal passa da metade das coxas — sei que vai subir quando eu estiver dançando. Por ser decotado atrás, a frente é um pouco mais comportada, mas ainda assim impossível de passar despercebida.

Quando Isa também termina de se arrumar, tiramos uma foto e postamos. Me arrependo na mesma hora: Marcos me liga perguntando onde estou indo. Minto dizendo que vou a uma balada com Isa. Ele não gosta que eu suba o morro, e, mesmo não podendo me proibir de nada — afinal, sou adulta — não quero brigar com ele.

— Bora? — pergunto a Isa assim que desligo.

— Eu já estava pronta há um tempão. Só tava esperando você terminar de se explicar com o Marquinhos — ela provoca, me fazendo revirar os olhos.

Hoje a caminhada até a quadra parece mais curta. Talvez eu esteja me acostumando. Em minutos chegamos, e, como sempre, o lugar está lotado.

Atravessar a multidão até o bar é uma missão quase impossível, mas conseguimos. Sem pensar, peço um shot de tequila e viro de uma vez.

— Uhhh! — grito quando a garganta queima.

— Bora pro camarote. — Isa diz, segurando uma cerveja.

— Vai indo, te encontro lá. — respondo, e ela segue.

O camarote é melhor: menos gente, bebida de graça. Mas a pista… a pista é uma loucura.

Depois de alguns shots, meu corpo pede a música. Quando percebo, já estou descendo até o chão como uma funkeira profissional. Se meu pai ou Marcos me vissem, cairiam duros.

Logo sinto os olhares em cima de mim. Talvez eu devesse beber mais, porque agora a atenção me deixa envergonhada. Sei que o vestido deve estar subindo demais, e provavelmente pareço uma prostituta.

Mas parar? Nem pensar. Continuo dançando cada batida como se minha vida dependesse disso.

Quase quarenta minutos depois, o cansaço vence. Antes de voltar ao camarote, vou ao bar mais uma vez. Recuso os convites de vários homens que se oferecem para pagar minha bebida e compro minha própria cerveja.

Subo. Me arrependo. O clima no camarote está pesado, parece um velório em vez de um baile funk.

E então o vejo. O tal Perigo. Talvez seja a bebida, ou talvez ele realmente esteja mais arrumado, mas… está lindo. Um verdadeiro deus grego.

Desvio o olhar quando percebo que estamos nos encarando. Para piorar, ele tem uma mulher rebolando no colo, como se estivessem sozinhos.

— Morreu alguém, por acaso? — brinco ao chegar perto das meninas.

Mas sinto. Ele não para de me encarar. Seus olhos percorrem meu corpo como se pudessem me despir.

— Minha roupa tá incomodando a sua visão, é? — provoco, irritada. — Eu, hein… — viro a bebida de uma vez.

— É melhor tu ficar na tua, vadia. — ele rosna, me ameaçando.

Qualquer outra pessoa tremeria. Eu, não. Talvez eu seja louca. Mas não sinto medo dele.

— Menina, cuidado com esse cara. — Isa alerta. Dou de ombros. E sorrio de canto ao ver que ele dispensa a mulher que estava no colo.

Arrasto as meninas comigo para a pista, mas antes preciso passar no banheiro. Ainda bem que estou no camarote, porque o da área comum deve estar insuportável. Da última vez que vim, as meninas me mostraram o caminho, então vou sozinha.

O banheiro não está lotado nem nojento. Mesmo assim, não gosto de ficar ali. Faço tudo rápido, lavo as mãos e saio.

Só não esperava ser puxada de repente e prensada contra a parede.

É ele. Perigo. Seus olhos famintos descem direto para os meus seios. Seu corpo pressiona o meu, e eu fico sem reação.

— Tu gosta de provocar, né? — sua boca está tão perto da minha que engulo em seco. Tento me convencer: empurra ele, volta pra pista.

Mas antes que consiga me mover, seus lábios invadem os meus.

E, mesmo sabendo que não devia… eu correspondo.

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