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Bianca
Acordei ainda um pouco tonta, mas a sensação logo passou. Antes de ir ao banheiro, vi meu celular cheio de notificações: e-mails do trabalho, mensagens da minha mãe e do Marcos. Suspirei, larguei o aparelho na cama e decidi que veria tudo depois, com calma.
Tomei um banho rápido e vesti uma roupa leve. Na sala, encontrei apenas Meliane e a babá — Isa devia estar no salão.
— Oi, onde está a Isa? — perguntei, só para confirmar.
— Foi pro salão — respondeu a babá.
— Olha só quem tá aqui, o amor da dinda! — sorri, pegando Meliane no colo. Usei minha voz de bebê e beijei sua barriguinha, arrancando dela uma gargalhada deliciosa. Nada no mundo era melhor do que ouvir aquela risada.
•••
Passei a tarde inteira com minha afilhada. Almoçamos, vimos desenhos e brincamos até que decidi ir até a casa da Amanda.
No caminho, senti o peso dos olhares. Homens, mulheres… parecia que todo mundo do morro tinha tempo sobrando para observar a vida dos outros.
Suspirei de alívio quando finalmente cheguei. Toquei a campainha e, como se fosse castigo do destino, quem abriu a porta foi ele: Perigo.
Confesso que queria esquecer o que aconteceu ontem. Onde eu estava com a cabeça para me envolver, nem que fosse por um instante, com um cara como ele?
— Tá viajando, garota? — ele resmungou grosso, e eu revirei os olhos.
— A Amanda tá aí? — perguntei, tentando soar o mais fria possível.
— Tá — respondeu, abrindo espaço para que eu passasse. Ouvi a voz da Amanda na cozinha e caminhei até lá. Fiz questão de desfilar, consciente de que Perigo estava me observando.
Na porta da cozinha, me virei e o peguei me olhando quase babando. Segurei o riso vitorioso, mordi o lábio e sorri convencida.
Amanda e eu passamos horas conversando até que, no fim da tarde, Isa também se juntou a nós. Decidimos ir para um pagode no morro e, para minha infelicidade, lá estava ele de novo: Perigo.
Durante toda a noite, senti o olhar dele queimando na minha pele. Um animal faminto encarando a presa. Claro que eu provoquei, não vou negar. E, sim, eu gostava da tensão, do jogo perigoso. Mas a parte responsável de mim gritava: no fim, isso vai dar merda.
•••
O sábado foi tranquilo. E hoje, domingo, decidimos todos ir à praia. E quando digo todos… sim, inclui o senhor “todo perigosão”.
Me arrumei caprichando mais do que o normal. Vesti um biquíni azul-claro justinho e, por cima, um short jeans curto. Olhei no espelho e admirei a beldade que sou.
Enquanto caminhava até a sala, ouvi o celular tocar. Na tela, “amor”. Respirei fundo antes de atender.
— Oi, amor — falei, jogando o celular no sofá ao lado da Isa.
— Oi, tudo bem? — Marcos perguntou do outro lado da linha.
— Tudo ótimo. Tô morrendo de saudade do meu lindo. — Falei alto, de propósito, só para Perigo ouvir. Vi quando ele revirou os olhos e bufou, e sorri vitoriosa.
— Você tá aí? — a voz de Marcos soou desconfiada. Droga. Isa caiu na risada.
— Sim, sim… desculpa, tava anotando umas coisas aqui pra Isa — inventei, me afastando antes que ele percebesse a mentira. Isa ria ainda mais alto.
•••
O dia na praia foi leve e divertido. Brinquei com as crianças, Amanda estava grudada no Figo e Perigo bebia e conversava com um cara que chamam de HG. Imagino que seja Hugo, mas não perguntei.
Por incrível que pareça, Perigo não me lançou um único olhar.
E por que isso me incomodou? Boa pergunta. Talvez eu tivesse me acostumado demais com a implicância dele. Talvez eu tivesse começado a gostar desse jogo perigoso.
Quando Amanda me contou que estava grávida do Figo, o sub-dono do morro, confesso que tive medo por ela. Mas conhecendo os irmãos… Figo parecia ser um cara legal. Já Perigo… ele era outra história: um bipolar, filho da mãe.
