Capítulo 2 Arrumar minha vida?
A família Matthew jantava ouvindo a conversa animada de Henry, o pai de Nicole e chefe da família. Ele só tagarelava sobre o quão satisfeito estava com o próximo casamento de sua filha.
Enquanto isso, Nicole baixava o rosto cada vez mais a cada palavra dita por seu pai.
Olivia, esposa de Henry e mãe de Nicole, havia notado que sua filha não estava bem. O brilho de seus olhos havia se apagado, seu rosto pálido parecia um pouco avermelhado e inchado. Ela não conseguia parar de pensar que algo havia acontecido com Nicole.
— Filha... Você está bem? — De repente, no meio das palavras de seu marido se auto-elogiando, Olivia o interrompeu.
— Olivia! Que grande falta de respeito é essa?! Por que você me interrompe, mulher?! — gritou Henry franzindo a testa. Olivia o ignorou, concentrando-se em sua filha.
— Eu... bem... — balbuciou Nicole quase se engasgando com a garfada que tinha na boca.
— Se ela está bem?! — interrompeu Henry. — Ha! Claro que está bem, acabei de arrumar sua vida, ela vai se casar com o herdeiro de uma família importante!
— Arrumar minha vida? — murmurou Nicole para si mesma, para depois levantar o rosto com os olhos lacrimejantes e olhar para seu pai. — Isso não é verdade.
Nicole sentia o coração despedaçado, todas as suas ilusões haviam se quebrado, somado à vergonha e humilhação que sentiu naquela mesma manhã com Walter, que não saía de seus pensamentos.
Ela jamais teria respondido ao seu pai daquela maneira, considerando o homem que ele era e seu temperamento, mas naquele momento, o coração e a mente de Nicole eram uma confusão.
— O quê? — Henry a olhou confuso.
— Pai, eu... Não quero me casar com Walter Gibson, você tem que cancelar esse casamento. — soltou Nicole sentindo como o coração se contraía.
Olivia e Henry olharam para sua filha, impressionados.
— O quê?! Você está louca?! Você tem que se casar com ele! Acaso não está feliz?! Você vai se casar com o homem que queria, não é mesmo?! Deveria estar me agradecendo, filha ingrata!
"O homem que eu queria? Será que todo mundo sabia que eu estava apaixonada por Walter?", pensou Nicole, sentindo-se envergonhada. "Será que fui tão óbvia que todo mundo sabia? Que vergonha." Ela baixou o rosto por um instante, respirou fundo e depois o levantou com determinação.
— Não posso, não posso me casar com Walter! — gritou Nicole levantando-se de seu lugar com lágrimas nos olhos. — Porque ele...! Ele não me quer, não quer se casar comigo, Walter me disse!
Fez-se um minuto de silêncio, o ambiente ficou cada vez mais tenso, só se ouvia a respiração agitada de Nicole.
Henry parecia ponderar a situação com uma expressão cada vez mais irada, mudando o tom de sua tez branca para uma avermelhada. Olivia observava sua filha com uma profunda tristeza.
— Besteiras! — Henry quebrou o silêncio batendo com força na mesa, fazendo Nicole e Olivia se estremecerem. — Não importa o que esse imbecil diga, você vai se casar com ele, tudo já está arranjado!
— Mas ele não me quer, pai! — insistiu Nicole.
— E daí?! Desde quando é importante que ele te queira ou esse amor estúpido num casamento? Isso é negócio, menina tola. — cuspiu Henry, menosprezando as palavras de Nicole.
— É que...
— Você gosta desse imbecil, não gosta? Então isso deveria ser suficiente para você ser feliz, garota ingrata! Faça o papel que deveria como mulher e o conquiste, sirva para alguma coisa! — gritou Henry olhando Nicole com desprezo.
— Mas, papai... — murmurou Nicole respirando fundo.
— Não quero ouvir mais sobre isso, Nicole... — rosnou Henry levantando o dedo indicador e usando um tom ameaçador.
— Eu... não... não concordo, não posso fazer isso, pai... Não vou me casar. — afirmou Nicole com os punhos cerrados ao lado do corpo.
Pois ela já havia tomado uma decisão e disse a Walter que cancelaria esse casamento.
— Que não vai fazer? — Henry olhou Nicole fixamente, com os olhos semicerrados, e apoiou as palmas das mãos sobre a mesa. — Muito bem! — bufou. — Não se case, mas saiba o que estou perdendo com sua recusa: a fusão de duas empresas importantes para nos tornarmos uma potência, os grandes lucros, o status, o poder...
— Não... não me importo... Estamos bem assim, somos muito ricos... — balbuciou Nicole, sentindo-se nervosa. Um arrepio percorreu suas costas. Será que seu pai havia aceitado assim tão fácil?
— Quanta insolência há nesta casa... Nem minha filha nem minha esposa me respeitam! — Henry voltou a bater na mesa com mais força. — Não vai se casar, mas então terá que me pagar tudo o que estou perdendo...!
— O quê? — O rosto de Nicole se descompôs de surpresa.
— Isso mesmo e não só isso, terá que me pagar tudo o que investi em você e em sua criação: clínicas, estudos, luxos, roupas e comida. Acho que essa última vai ser a mais cara! — gritou Henry olhando sua filha de cima a baixo com raiva.
— Henry, você não pode fazer isso! — Olivia se levantou impressionada.
— Não posso?! — respondeu Henry. — Consegui um marido para esta filha ingrata! Que homem se interessaria por ela?! Olhe para ela! É gorda e aparentemente estúpida!
— Henry, chega! — Olivia se aproximou indignada.
— Cale-se! — Henry deu um tapa em sua esposa.
— Papai! — Nicole imediatamente correu para o outro lado da mesa, abraçando sua mãe, que segurava o rosto avermelhado. — Está bem, aceito, eu farei, trabalharei muito duro e te pagarei cada centavo que você investiu em mim e tudo o que perdeu com este negócio!
Com o corpo trêmulo, Nicole se agarrava à sua mãe, tentando protegê-la de outro surto de seu pai. Ela esperava outro golpe, no entanto, Henry apenas respirou fundo e se endireitou, ajeitando o terno.
— E você acha que eu deixaria tão fácil assim? — perguntou Henry com um tom sarcástico e um sorriso macabro de lado. — Eu mesmo me encarregarei de que você não consiga emprego! Ninguém vai te contratar! Nem como empregada doméstica você vai servir! Você só foi um fardo, uma mocinha mimada e mal-educada que não pensa nos pais nem no seu futuro! A única coisa que você serve nesta vida é para comer e engordar! Quem te quereria assim?! Hein?! Quem te daria emprego?! Menina tola!
Henry deu mais um passo à frente, fazendo Nicole e sua mãe tremerem, que fecharam os olhos esperando outro golpe.
— Escute bem, Nicole! — gritou Henry com gesto ameaçador. — Você vai se casar com Gibson, mesmo que seja a última coisa que faça, porque se não fizer...! Juro que vou me encarregar de tornar sua vida muito miserável e algo bom sairá de tudo isso: você vai perder muito peso quando viver como mendiga na rua, sem meu dinheiro, sem minha comida e sem trabalho, porque não permitirei que te contratem nem como uma prostituta barata!
Nicole levantou o olhar para seu pai com as lágrimas já correndo pelas bochechas. Ele falava sério. Se havia algo que ela sabia sobre seu pai, era que ele cumpria suas ameaças.
— E não só você pagará as consequências, menina estúpida... — murmurou Henry se aproximando mais de sua filha. — A inútil da sua mãe também pagará por não servir com seu único propósito de me dar um herdeiro digno, um com quem eu não tivesse que ficar negociando para tirar algum proveito! Só pôde me dar uma filha e não pôde ser uma linda pela qual os milionários brigariam! Não! Teve que me dar uma filha gorda e tola que ninguém quer, nem mesmo seu suposto amigo!
Nicole olhou para seu pai com raiva, com tanta raiva. Ela queria dizer algo, queria ser mais forte, mais independente para se livrar daquele homem e depois ajudar sua mãe.
Mas a verdade era que só sentia o medo que suas ameaças haviam deixado, então Nicole só pôde apertar a mandíbula e, assim que seu pai se virou, certo de que havia conseguido seu objetivo com suas ameaças, tanto Nicole quanto Olivia desataram a chorar desesperadamente.
