Capítulo 3 O casamento
O dia do casamento chegou muito rápido. Todos estavam emocionados, era um matrimônio muito importante que unia duas grandes famílias abastadas, a imprensa estava por toda parte e todos os convidados eram da mais alta sociedade.
Nicole era quem estava mais nervosa entre todos. Não havia voltado a ver Walter desde aquele dia em que ele mostrou sua recusa em se casar e ela prometeu cancelar o casamento.
Pois seu pai não a havia deixado sair para evitar que fizesse alguma bobagem. Ela nem mesmo havia conseguido ver sua amiga, Amanda.
Praticamente, estava prisioneira de seu pai.
O coração parecia que ia saltar do peito, todo o corpo tremia. Em poucos minutos Nicole estaria diante de Walter, vestida de branco, e o que ele pensaria?
Sim, certamente Walter agora estaria mais convencido do que nunca de que ela havia orquestrado todo esse casamento. Neste momento, com certeza ele pensava o pior dela e a odiaria.
Nicole suspirou aflita. Como poderia convencê-lo agora de que não era assim?
Ela caminhou até o espelho e se observou cuidadosamente. Usava um vestido de corpete que se ajustava à sua cintura, estreitando-a, com um decote coração que realçava seus seios.
Uma saia ampla desde a cintura, cheia de bordados com pedras brilhantes e o cabelo delicadamente preso em coque com uma tiara que sustentava o véu branco.
Tinha que aceitar que estava bastante bonita, se não fosse porque Walter não a queria... Nicole sentiu os olhos arderem, enquanto tentava se conter. Supostamente este deveria ser o dia mais feliz de sua vida.
Quando chegou o momento, acompanhada por seu pai e mantendo o olhar baixo, Nicole caminhou pelo corredor da igreja, segurando o buquê de flores e ouvindo a marcha nupcial.
Finalmente, ela levantou o olhar, encontrando-se com Walter observando-a. Ele estava tão atraente como sempre, usando um terno elegante, mas diferente daqueles sonhos onde o noivo a via com amor, Walter a olhava carrancudo e com evidente desprezo.
A cerimônia foi realizada, um beijo seco diante de todos selou o acordo. Todos aplaudiram, Nicole parecia contrariada. Todos pensavam que era pelos nervos, mas Walter não podia nem por um momento simular sua testa franzida?
Os noivos quase não conversaram entre si, pois todo o tempo estiveram cercados por pessoas conhecidas e desconhecidas, parabenizando-os e elogiando-os, até que chegou o momento da primeira dança do casal, onde a pista se esvaziou completamente para os noivos.
— Parabéns, conseguiu o que queria. — murmurou Walter, enquanto no meio do salão, dançando sozinhos, se moviam no ritmo da valsa.
— O quê? — Nicole levantou o rosto, atordoada, sentindo que seu coração dava um forte salto.
— Fingiu ser boa, mas nos manipulou a todos e me obrigou a me casar com você... — continuou Walter com a mandíbula apertada.
— Não, você não entende, Walter, eu pedi ao meu pai para cancelar o casamento, mas...
Nicole olhou ao redor nervosamente, encontrando-se com o olhar severo de seu pai, que a observava à distância. Ela sentiu um arrepio.
Nunca, mas nunca, Nicole podia falar mal de seu pai, nem comentar o que acontecia em sua casa. Essa era outra regra da família, e embora ela agora fosse livre dessa prisão com seu casamento, seu pai mantinha sob seu controle Olivia, sua mãe.
Se Nicole falasse, seu pai se encarregaria de que Olivia pagasse as consequências.
— Você acha que vou acreditar que a única filha dos Matthew, a menina mimada deles, foi obrigada a se casar com o homem que queria? — Walter revirou os olhos com incredulidade. — Por favor, acaso pareço tão estúpido?
A menina mimada dos Matthew? Sim, isso era o que seu pai fazia todos acreditarem, quando a realidade era outra.
— Walter, espera... — murmurou Nicole, sentindo como de um momento para outro perdia o fôlego, ao mesmo tempo que Walter parava no meio da valsa.
— Só vou te dizer uma coisa, Nicole, algo que você já sabe: não te amo e nunca te amarei, então não espere nada de mim como seu marido. — murmurou Walter com um olhar frio e severo, para depois se virar e ir embora, deixando Nicole no meio da pista, sob o olhar curioso e surpreso de todos os presentes.
Dois anos depois...
— Parabéns, Nicole! — gritou Brenda enquanto as duas taças de vinho se chocaram.
— Obrigada. — assentiu Nicole sorrindo levemente para depois tomar um gole de sua taça.
— Ah, tire essa cara, Nicole, anime-se! Você está se formando, fez sua especialização, conseguiu, amiga, e com honras. — sorriu Brenda cheia de orgulho.
— Sim, eu sei e realmente estou muito feliz... — Nicole suspirou pesadamente deslizando o olhar para o topo do balcão, onde descansava seu celular. — Mas...
— Mas você não consegue parar de pensar naquele homem, não é? — concluiu Brenda revirando os olhos com fastio. Nicole apertou os lábios numa careta triste. — Até quando, Nicole, esse homem não merece nenhum dos seus pensamentos...
— Brenda... Ele é meu marido...
— Seu marido? — Brenda levantou uma sobrancelha. — Só no papel... Me desculpe, amiga, mas já te disse antes que você não deveria considerá-lo como tal... Você está casada há quanto tempo? Dois anos? — Nicole assentiu. — E o que seu suposto marido fez nesses dois anos? Te ignorou, te menosprezou, só foi frio e cruel com você...
— Não, é que... Você sabe que é complicado... — murmurou Nicole suspirando pesadamente.
— Complicado...? Ele te tratou de manipuladora, de oportunista, de interesseira e no resto do tempo em que não te trata mal, é porque te deixou sozinha. Como se consideraria um marido assim? — perguntou Brenda um pouco irritada. Nicole suspirou pesadamente.
— Sabia que não deveria ter te contado nada disso, você não entende... — Nicole se virou, carrancuda, concentrando seu olhar na taça de vinho.
— Não entendo? Então você teria preferido continuar escondendo? Continuar guardando tudo isso dentro de você?
— Não, mas...
— Nicole, me diga uma coisa... Depois de tudo o que você passou nesse casamento e das rejeições do seu suposto marido, o que você esperava hoje? Você foi embora por seis meses para fazer sua especialização e até agora, ele nunca te ligou, nem te procurou...
— Bem... eu... eu pensei... — Nicole baixou o olhar, sentindo um nó na garganta. — Pensei que se eu me afastasse por um tempo, ele sentiria minha falta, mesmo que fosse um pouco... — Nicole voltou a olhar para seu celular. — Ontem deixei uma mensagem para ele, contando sobre minha formatura, tolamente me iludi que ele chegaria ao evento ou pelo menos me ligaria para me parabenizar, mas...
— Como sempre, não te enviou nem uma mísera mensagem... — concluiu Brenda, irritada. Nicole fechou os olhos, envergonhada. — Ai, amiga, até quando você vai continuar apaixonada por esse homem? Walter Gibson não merece seu amor, nem um pouquinho... — Brenda pegou a mão de Nicole com carinho. — É hora de você superá-lo, aproveite que se formou, que já pode começar a trabalhar, se concentre em si mesma, torne-se uma mulher empoderada e poderá conseguir o que mais deseja, ajudar sua mãe...
Nicole assentiu com tristeza, deixando entrever um leve sorriso. Era verdade, ela havia conseguido, havia terminado sua especialização e assim poderia obter um cargo importante na empresa de sua família.
Ela sabia o quão ambicioso seu pai podia ser, que havia aproveitado que Olivia continuava em seu poder para continuar manipulando a vida de sua filha.
Então ia trabalhar duro, ia se esforçar. Nicole estava decidida a comprar a liberdade de sua mãe para libertá-la daquele homem.
Enquanto Nicole repasava seus planos futuros, o telefone que estava sobre o balcão começou a tocar, fazendo seu coração sobressaltar.
Nicole olhou para Brenda por um instante. Era muito tarde, quem poderia estar ligando naquela hora? Ambas observaram o aparelho. Na luz da tela do telefone acesa, destacava-se o nome de Walter, seu marido.
