Capítulo 4
Subindo as escadas de serviço, tenho muito cuidado para não deixar cair a bandeja. Não costumo trabalhar como garçonete nessas festas, então não tenho muita prática. Uma vez lá em cima, a música soa muito mais alta, assim como a agitação na sala de jantar.
Felizmente, meu vestido não é muito diferente do das outras garçonetes, então não devo chamar muita atenção. Não é que nenhuma dessas pessoas vá me olhar fixamente. Elas só verão uma bandeja com comida, não a pessoa que a carrega.
Ao chegar ao corredor, procuro com o olhar o rapaz castanho a quem chamo de irmão. Há um pouco de gente aqui, já que é o primeiro evento da temporada. Toda a sala está decorada com muito cuidado, com enfeites especiais e mesas ornamentadas. Todos vestem suas melhores roupas, na esperança de impressionar seu futuro marido ou esposa, ou de provocar a inveja dos outros.
Enquanto abro caminho entre a multidão, colado às paredes para não incomodar os ricos, continuo procurando Edward. As pessoas pegam comida da bandeja, sem sequer murmurar um breve agradecimento. É difícil não revirar os olhos diante desses nobres arrogantes.
Meus olhos finalmente o avistam e, com efeito, ele está dançando com Jane Barnes. E parece absolutamente infeliz. Eu contenho uma risada enquanto o observo, deixando minha bandeja em uma mesa próxima. Ele parece tentar ser educado, mas preferiria estar em qualquer outro lugar, menos ali.
Ele levanta os olhos, examinando a multidão em busca de um lugar para fugir, e seus olhos encontram os meus. Eles se iluminam por um segundo antes de revirar os olhos, indicando que ele está passando por um momento terrível. Encolho os ombros e ofereço-lhe um sorriso amigável. Talvez agora que dançou com pelo menos uma rapariga, a viscondessa o deixe livre pelo resto da noite. Mas, conhecendo-a, isso só a encorajará a dançar com raparigas mais atraentes.
De qualquer forma, ele vai acabar em um clube masculino esta noite.
Com um pequeno suspiro, abro caminho entre a multidão novamente, sabendo que devo voltar para a cozinha antes que Martha Higgins note minha ausência. Conhecendo-a, uma boa reprimenda me espera quando eu descer para a cozinha.
Enquanto caminho pelo corredor vazio em direção à escada de serviço, percebo que deixei a bandeja na sala de jantar. Paro bruscamente, soltando um suspiro de irritação antes de me virar para voltar. Ao me virar, meu corpo colide com outro, quase me derrubando no chão.
— Meu Deus, desculpe! — Começo a me desculpar, afastando-me um pouco da pessoa à minha frente. Ao levantar os olhos, meus olhos encontram olhos verdes e cabelos despenteados. Fico vermelha de vergonha por ter esbarrado em um homem tão bonito.
Ele não responde, mas seu olhar percorre lentamente meu corpo. De repente, sinto a necessidade de sair correndo. —Não se desculpe, querida. Foi um prazer ser atropelado por uma garota tão bonita como você. Essa visão tem nome? —ele pergunta.
Uma pessoa doce e comovente. Que azar o meu! —Charlottelotte Whitmore, senhor —respondo, mantendo uma distância prudente. O corredor está vazio e a última coisa que preciso é que alguém pense que estou fazendo algo impróprio.
— Querida Charlottelotte Whitmore, que nome bonito para uma menina tão bonita. O que uma garota virtuosa como você está fazendo sozinha? — ele continua, com um leve sorriso malicioso nos lábios.
Franzo ligeiramente a testa enquanto começo a planejar minha fuga. A bandeja pode esperar, só preciso descer. —Acho que não percebi seu nome, senhor —lembro-lhe. Meu comentário parece confundi-lo por alguma razão, mas qualquer dúvida de confiança que ele tivesse desaparece rapidamente, substituída por um sorriso encantador.
—Lord Sebastian Blackwood, filho do duque e da duquesa Blackwood —ele se apresenta, estendendo a mão para que eu a aperte. Eu não a aperto.
— Bem, se me dá licença, meu senhor, preciso voltar para a festa. — Peço desculpas, dando um passo para o lado para contorná-lo, mas ele se coloca na minha frente. — Desculpe-me — digo com firmeza, sem fazer contato visual com ele.
—Deixe-me acompanhá-la. Talvez possamos dançar juntos —diz ele, mas sei que dançar é a última coisa que lhe interessa. —Não, obrigada, meu senhor. Talvez em outra ocasião, mas preciso ir —insisto, tentando passar por ele novamente. Só que, desta vez, ele coloca a mão no meu ombro.
Meu coração acelera e estou pronta para gritar, se necessário. Edward sairia correndo assim que eu gritasse, eu sei. Não me importo se o homem à minha frente é um futuro duque, ele pode ir para o inferno. —Desculpe, meu senhor, não quero que você me toque —digo, sendo direta.
Ele se inclina e seus lábios roçam minha orelha. Sinto um arrepio nas costas e sinto que poderia vomitar. —Acho que você quer que eu te toque. Porque, se não, você não estaria sozinha em um corredor com um homem. —Sua voz é baixa e ameaçadora, me aterrorizando.
— Lord Blackwood, há algum problema? — grita uma voz familiar com força, e eu me sinto aliviada. Edward. Graças a Deus.
Sebastian me solta imediatamente e se vira para encarar Edward. Aproveito para me aproximar rapidamente do meu irmão, me escondendo atrás dele. —Não há problema. Eu não sabia que ela era sua —diz ele com um sorriso zombeteiro, colocando as mãos atrás das costas.
— Se eu te vir assediando a garota novamente, não hesitarei em expulsá-lo da minha casa. Ela não é uma prostituta qualquer. Agora, saia desta sala imediatamente — ordena ele, colocando o braço atrás de mim para me proteger do homem.
Sebastian alisa o paletó antes de passar por nós, voltando para a animada festa. Mas não sem antes me lançar um último olhar ameaçador. Aqueles olhos verdes tempestuosos vão me perseguir para sempre.
Assim que o homem se foi, Edward se virou, segurando meu rosto entre as mãos. —Ele te machucou? —perguntou com um olhar preocupado e apavorado nos olhos. Eu balanço a cabeça rapidamente. —Não, estou bem —asseguro, colocando minhas mãos suavemente em seus pulsos.
— Se ele te machucou, você precisa me contar. Vou desafiá-lo para um duelo imediatamente — ele continua, olhando nos meus olhos para ver se estou mentindo.
—Irmão, não seja tolo. Você não vai lutar com ele. Sua mãe ficaria arruinada se você fizesse algo assim — lembrei-o. — Ele é o único filho de sua mãe. O único herdeiro da fortuna Payne. Se ele lutasse em um duelo e perdesse, estaria morto. Se ganhasse, estaria praticamente morto. Seria banido da sociedade e, se algum dia voltasse, seria preso e executado pelo assassinato de um futuro duque.
Com um suspiro, ele abaixa a cabeça. —Tudo bem, não vou duelar com Lord Blackwood. Mas não terei problema em tirar aquele sorriso pomposo do rosto desse pirralho com alguns socos. —Ele balança a cabeça, ainda muito chateado com o que aconteceu.
Dou um tapinha suave em seu peito com uma risada rápida. Adoraria vê-lo fazer isso. —Então, Jane Barnes, hein? —brinco, querendo esquecer todo o desentendimento com Lord Blackwood. Edward revira os olhos e balança a cabeça. —Não quero falar sobre isso —diz ele, beliscando a ponte do nariz entre os olhos.
Nós dois rimos, sabendo que Edward terá uma longa noite pela frente agora que dançou com uma garota. Agora todas as mulheres elegíveis farão fila para dançar com o filho do visconde.
—Tenho que ir. Martha Higgins vai cortar minha cabeça agora que percebeu que eu saí. Aproveite sua busca por uma esposa —brinco, enquanto começo a caminhar de volta para as escadas da cozinha.
—Charlotte Whitmore — chama Edward, ainda parado no mesmo lugar quando me viro para olhá-lo. — Tem certeza de que está bem? — ele pergunta novamente.
