Capítulo 9
Cezar narrando:
— Não quero nem estar presente! partirei para Óvlis hoje ainda! — Estevan resmunga evidentemente amedrontado quando já estamos quase chagando nas areias de Filipinas.
Alguns dias depois que o navio de Filipinas zarpou levando a notícia de nossa morte, nós zarpamos no navio do nosso grupo secreto, o navio Negro, que nos deixou com uma bússola em um barco há algumas horas das margens de Filipinas.
Eu confesso que me arrependi completamente! não vou negar que me pareceu muito atraente a ideia de ver meu pai se culpando pela minha morte, contudo... e a minha mãe? E todo o povo de Filipinas? o que pensariam de mim quando soubessem que tudo não passou de mais uma brincadeira egoístaa do príncipe Cezar? e o mais preocupante de todos... e se meu pai atacar Kahabe em busca de vingança? Todos estes pensamentos não me ocorreram no momento em que deveriam ocorrer. Eu e Estevan pretendíamos esperar um mês para retornarmos, entretanto, depois de nos arrependermos amargamente do que fizemos, viemos no mesmo instante, envergonhados, eu principalmente.
— Terás de enfrentar as consequências junto comigo, Estevan! — irritei-o, mas na verdade eu sei que apenas eu merecerei qualquer castigo que meu pai queira nos dar.
Eu estou preparado para o castigo e à todo momento nunca pensei que não haveria castigo. Mas não contei com o Estevan sendo castigado.
— Eu sou um homem de palavra! se você ainda for ser o rei de Filipinas depois disso, lembre-se de me soltar da prisão quando ocupar o trono! — comentou de forma dramática.
— Meu pai não vai prender você, Estevan, não seja exagerado! você é o único filho do melhor amigo dele, ele te pegou no colo quando você nasceu e te deu a benção dele, ele certamente lamentou a sua suposta morte, — expliquei descendo do barco — e agora finalmente ressuscitamos! — exclamei, molhando os meus pés na água, encaminhando-me para a areia.
Não optamos por chegar pelo porto de Lurhuis, pois, dessa forma chamaríamos muito a atenção e, não queremos isso, não nessas circunstâncias vergonhosas.
— Você precisa de um banho, alteza, se me permite lhe dizer — Estevan zomba fazendo careta, dando a entender que eu cheiro mal.
Gargalhei, realmente os banhos com ervas raras e perfumes luxuosos estão me fazendo falta.
— E você precisa cortar este seu cabelo! está mais duro do que espada de são Jorge! e sem falar que está carregado de piolhos! — zombei e ele me empurrou partindo para cima de mim, e já estamos lutando caídos na areia como de costume.
Eu estou por cima, no comando enquanto ele se defende de mim, de repente Estevan me surpreende usando seus pés e me rendendo pelo pescoço.
— Alteza, lamento informar, mas, eu sempre facilitei para o senhor, porém, agora sou obrigado a pegar pesado visto que posso morrer quando seu pai nos encontrar, quero morrer sendo sincero com vossa alteza! — diz entre risos e eu tento de muitas formas me livrar.
— Seu incompetente! Não me ensinou este golpe! Quando eu for o seu rei irei te prender por me ocultar esta sua façanha! — brinco, realmente muito surpreso.
— Um mestre sábio nunca revela todos os seus segredos! — lanca-me outro golpe, imobilizando os meus braços.
— Alteza? Rei? Solte-o! — somos interrompidos por uma voz doce e tão calma que eu me pergunto se é real.
Estevan imediatamente me solta, então sinto meus pulmões respirarem melhor, estranho, eu nem notei que estava aflito.
Em uma distância de aproximadamente uns vinte passos uma jovem com longos cabelos ruivos que estão voando por causa do vento parece muito aflita e apavorada, está nos apontando uma espada visivelmente muito pesada pra ela. Ela está usando um vestido simples e sem cor, provavelmente é uma plebeia qualquer.
Eu me levanto encarando-a com curiosidade.
Eu me aproximo lentamente com as mãos erguidas para cima em rendição, pretendo me divertir com essa situação no mínimo anormal.
— Está tudo bem! Este aqui é o meu companheiro! — expliquei quase em sílabas para que ela se acalme.
— E que fique claro, eu não estava tentando matar ele! estávamos apenas nos divertindo! — Estevan se defendeu e eu me lembro de que provavelmente ele se divertiu mesmo me fazendo de bobo toda vez que eu me vangloriava pensando ter vencido ele.
— Na verdade, eu estava o deixando ganhar de mim, por isso ele estava se divertindo! — me defendi com o semblante sério e a moça me olha com uma expressão esquisita.
Estevan debocha do meu comentário.
— Eu quero que vão embora com as mãos para cima, os dois! — a jovem proclama tremendo as mãos.
Ela não está me reconhecendo? Estranho! pensei que todo filipiano conhecesse meu rosto...
O que essa jovem faz sozinha em um lugar deserto destes? Não posso negar que não é tão lindíssima, contudo uma moça nunca deveria estar sozinha.
Aproximo-me mais alguns passos.
— E quem pensa que eu sou? Tenha mais respeito com o seu príncipe e seu futuro rei! — estou à uns quatro passos dela agora.
— O meu príncipe morreu! — respondeu afastando-se para trás, mas fica presa por uma rocha, — subam no barco e voltem de onde vieram!
Ela está completamente corada, o que me leva a crer que está bastante nervosa. Pode ser medo, ou pode ser o meu charme natural que a está deixando assim... de qualquer forma ela não vai avançar em mim com essa espada, e por mais que o fizesse, não iria tão longe.
— Então por que me chamou de alteza? — avanço em sua direção, fazendo-a arregalar ainda mais os olhos.
— Ele lhe chamou de alteza! — Apontou para Estevan que ainda estava no mesmo lugar olhando a cena — e você disse que quando for rei irá prendê-lo... por que você seria o rei? planeja uma conspiração contra o rei Luiz? por acaso são de Kahabe? — a moça levantou a espada na altura de minha cabeça, porque estou bem próximo dela agora.
Não sei se acho ela patética ou corajosa.
Eu sorrio com deboche, ela mexe com as sobrancelhas surpresa do meu sorriso e agora percebo que seus olhos são verdes, bom, tanto faz a cor dos olhos dela.
