Capítulo 7
Rei Luiz Cezar narrando:
Estou com os dentes cerrados e as mãos grudadas no punho, irado. Não consigo entender como foi que o meu plano deu tão errado assim, estava tudo muito bem arquitetado e combinado com o general, isso me cheira a traição.
— Explique muito bem para mim, general... como isso aconteceu? — perguntei segurando as lágrimas, tentando me manter forte.
O general respira fundo, é visível o pânico e arrependimento em suas expressões.
— Vossa majestade conhecia o príncipe Cezar... ele era difícil... — ouvi-lo dizer sobre o meu filho no passado, me destrói por dentro, mas não deixo transparecer, infelizmente entramos em guerra contra Kahabe. — Ele desceu do navio com Estevan e foram resgatar os soldados sozinhos...
Levanto-me da cadeira chocado com tamanha incompetência de Haian.
— ESTÁ EXPLICADO, GENERAL! A CULPA É SUA! VOCÊ SABIA O QUE TINHA DE FAZER E SIMPLESMENTE O DEIXOU IR SOZINHO? — Questiono alterado, com lágrimas tristes escorrendo pelo meu rosto.
Como eu pude confiar o meu filho à um homem tão fraco como o general?
— Ma-majestade, ele não me ouvia! — exclamou apavorado.
— Ou talvez você quisesse que ele morresse, não é isso? você está preso, general! Desobedeceu uma ordem direta do seu rei! GUARDAS! — dois guardas que estavam de guarda do lado de fora do meu gabinete entram — Levem-no para as masmorras! — encarei-o, ele me devolve um olhar de compreensão.
A minha vontade é de mandar executá-lo, entretanto, acredito que mantê-lo vivo é um castigo ainda pior.
Eu tinha tantos planos para o meu filho. Meu filho querido. Por que eu não o instrui direito? Eu deveria ter prestado mais atenção em você.
(...)
Depois do episódio perturbador no gabinete eu vim até os soldados que estavam reunidos do lado de fora do castelo aguardando minha conversa com o general. É quase possível apalpar a fúria e cede por vingança emanando dos meus homens.
— KAHABE DECLAROU GUERRA CONTRA NÓS! ELES TIRARAM O HERDEIRO DE FILIPINAS DE NÓS, E TIRAREMOS TUDO DELES! — Grito com ódio, levantando as mãos pra cima.
— Éh! Éh! Éh! — esbravejam de volta com a mesma fúria que eu.
Meu teimoso e amado filho... como isso foi acontecer? Garth me traiu... Garth não sabe o que arrumou para a cabeça! Antes que eu morra irei fazer minha última tarefa nesta terra... vingar o príncipe herdeiro de Filipinas!
QUARENTA DIAS ANTES...
Cezar narrando:
— Não deveríamos fazer isso, Cezar! — Estevan choramingou atrás de mim.
Estamos sondando nosso navio, Haian está no local combinado... nas costas das ruínas abandonadas.
— Vá, soldado! — Digo para um dos cinco soldados que Estevan e eu resgatamos com a ajuda de kahabeanos companheiros meus... não foi difícil como eu pensei.
Estevan e eu sempre navegamos até Kahabe para nos divertir, o povo kahabeanos sabe muito mais da vida do que os Filipianos. Eu e Estevan participamos de um grupo de lutas aqui em Lusem, um grupo secreto e que vez ou outra faz serviços em benefício de cada integrante, como eu ainda nunca havia precisado de nada eu os contatei para ajudar-me a resgatar meus soldados e o mensageiro. Estavam todos em prisões de luxos e sendo bem tratados... estranho, muito estranho, entretanto eu não estou familiarizado com essas situações.
— M-mas, alteza... não virá conosco? — O soldado questionou, confuso.
— Soldado, como é o seu nome? — pergunto segurando em seus dois ombros.
— Matias, senhor — Respondeu olhando-me nos olhos.
— Bom, soldado Matias, infelizmente, o príncipe Cezar e seu amigo Estevan morreram em combate heroicamente ao resgatar seus fiéis soldados... entenderam? — questiono, fitando um por um dos soldados presentes.
— Sim — todos assentiram nervosos e confusos.
— E não pense em me desmentir! se eu souber que alguém desconfia de que estou vivo eu irei procurar vocês seis! — ameacei empurrando o barco deles para a água.
Eu e Estevan ficamos rindo abanando as mãos em despedidas para os soldados que nos devolviam a despedida nervosos e aflitos.
— Eu acho que não deveríamos fazer isso! — Estevan repete atrás de mim.
— Eu lhe dei a escolha de decidir se ficaria comigo ou se iria com eles! — lembrei-o, com tom de acusação.
— Eu estarei com você para o que der e vier, você sabe... — respondeu e se afastou em direção ao cavalo.
Loucura absoluta. Estamos forjando a nossa morte. Isso causará um choque em todos os Reinos.
Isso é necessário, infelizmente. Meu pai precisa entender que tudo tem consequências. Eu não sou uma peça de xadrez que ele pode mover conforme a sua próxima jogada.
Dias atuais...
Rei Luiz Cezar narrando:
— Por que tinha de ser tão teimoso, meu filho? — estou lamentando profundamente sob a pintura do meu filho, em minhas mãos.
Na pintura ele está sorrindo... um sorriso natural de livre e espontânea vontade, não um sorriso debochado o qual ele sorria na maioria do tempo. Ele está correndo em Rajão pelos jardins do castelo. Esta pintura foi tirada pelo pintor Juan Carlos, o melhor pintor de Filipinas, o melhor por que ele tem memória fotográfica e suas pinturas podem ser facilmente confundidas com uma imagem real. E agora Cezar limitou-se à lembranças nem tão boas, não nos comunicávamos com muita frequência, fui muito duro com ele, confesso.
Deposito o quadro de Cezar em seu lugar e me encaminho até os aposentos da minha rainha, ela está desolada e não quer falar comigo, já se passaram dois dias desde que recebemos a notícia de que nosso amado filho morreu e ela ainda não saiu do quarto dela.
Respiro fundo e dou três leves batidas na porta larga de seu quarto. Ela normalmente passa suas noites em meus aposentos, mas em dias ruins ela passa no dela.
— Majestade, e-eu lamento ter de passar-te este recado novamente, mas, a rainha ainda não deseja vê-lo... — a jovem serviçal repete a mesma coisa todas as vezes que venho aqui.
— Dê-me licença — passo por ela, entrando sem a permissão de Davina.
Preciso conforta-la.
Encontro-a em uma situação completamente angustiante, está sentada em uma cadeira olhando para a janela que mostra o horizonte triste e nublado em que se encontra hoje, suas vestes estão amarrotadas, o que em dias normais ela nunca permite, seus cabelos estão cortados na altura dos ombros, e ela está demasiada pálida com olhos fundos. Assim que percebeu a minha presença os seus olhos se inundam em lágrimas.
— Saia, por favor, já me trouxe muitas dores... — pediu em soluços.
Isso me desmonta ainda mais por dentro. Meu filho e minha esposa são partes de mim. E ela está certa, fui eu, eu quem matei o meu filho.
