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Capítulo 2

Lorenzo

Meus olhos se ergueram das cartas em minhas mãos para os competidores à minha frente. Eu tinha aceitado ir até aquele cassino por obrigação, digamos assim, mas ainda que esse fosse o motivo principal, era divertido ver aqueles idiotas, perdendo tanto dinheiro.

— Lorenzo vai ganhar outra vez, cazzo! — o filho mais velho da família Rossi rosnou, como uma criancinha que não sabia perder.

— A sorte pode estar do seu lado dessa vez, meu caro. — eu disse, zombando do pobre moleque que mal tinha saído das fraldas e se enfiava em um cassino ilegal como aquele, perdendo sua preciosa mesada para pessoas como eu.

— Não me provoque, Lorenzo! Não sou o meu pai. — o moleque teve a ousadia de me responder, e a sorte dele naquele instante, era que eu realmente não levava as palavras de uma criança a sério e, para mim, Paolo Rossi era exatamente isso, uma criança deprimente, que precisava de mais atenção dos pais e por isso se rebelava de todas as formas possíveis.

Bufei.

— Claro, jovem mestre — respondi sem muito entusiasmo e, quando as cartas foram dispostas sobre a mesa, meus lábios se arquearam em uma meia lua perfeita — Céus… — ronronei como um gato — Acho que ganhei outra vez. Royal Flush.

Os olhos de todos na mesa se arregalaram enquanto encaravam minhas cartas, cuidadosamente colocadas sobre a mesa, todos eles estavam com a mesma expressão de desgosto que o Rossi fazia minutos atrás. A expressão que deixava óbvio para qualquer um que os visse, que eles haviam ido à falência após brincar um pouco comigo naquele pequeno cassino.

— Como pode? — o homem de cabelos pretos, que eu nem mesmo me dei ao trabalho de decorar o nome, reclamou — Ninguém é tão sortudo assim! — ele esbravejou e eu tive que me segurar para não rir da sua cara, afinal, não era que a minha sorte fosse descomunal, ou que eu fosse extraordinariamente bom, a situação era apenas que todos aqueles a minha volta eram tão ruins, que nem mesmo muita sorte poderia ajudá-los a me vencer.

— Não chorem tanto, rapazes — os provoquei com a mão sobre as fichas na mesa, que agora estavam praticamente todas acumuladas do meu lado da mesa — Desse jeito, todos vocês irão perder a pouca dignidade que lhes resta.

O rosto do homem à minha frente se contorceu como se ele estivesse prestes a estourar, mas como um mero empregado da família Bonavota, tudo o que ele podia fazer, era abaixar a cabeça e aceitar que sentar-se para jogar comigo foi uma péssima ideia.

Era óbvio que todos aqueles homens me convidaram para jogar na esperança de me depenar em meio a um mera jogatina, talvez, se eles conseguissem me humilhar em meio a um jogo idiota, também pudessem se aproximar mais facilmente em um próximo encontro ou quem sabe... Negociar. Contudo, para me vencer no pôquer, eles precisariam de mais do que truques bobos usados por moleques de rua.

Eu havia crescido com a minha querida irmã, me depenando nas noites de jogos, então vencer aqueles imbecis com rostos tão expressivos, era o mesmo que arrancar um doce da boca de uma criança. Depois da décima partida, foi meio óbvio como eles estavam ferrados e o moleque Rossi foi o primeiro a se exaltar, batendo na mesa e me encarando como se não temesse a morte.

— Isso é um absurdo! Ele está roubando! — Paolo gritou como um verdadeiro moleque mimado e espalhafatoso, o que me fez pensar no que me impedia de puxar a minha arma e enfiar três balas em sua perna para que ele realmente tivesse um motivo para gritar.

Ele é só um moleque — algo me minha mente, que eu suspeitei ser um resquício da minha própria consciência — se é que ela ainda existia — murmurou e apenas por isso, me contentei em apenas sorrir e provocar aquele garoto que não viveria muito se não aprendesse a se portar.

— Já parou para pensar que, na verdade, você só é muito ruim no pôquer? — zombei e Paolo ficou vermelho como um pimentão pela raiva que lhe subia à cabeça.

— Seu… Seu… — ele continuou a resmungar, como se procurasse por um xingamento apropriado para me chamar. Um que não condenasse sua pobre família a desgraça, o que provava que, por mais burro que fosse, ele ao menos tinha um pouco de bom senso.

— Senhor Rossi — me levantei da cadeira, cansado daquele papo sem sentido e dos surtos da criança que a família Rossi havia superprotegido — Sinceramente, estou cansado de brincar com os senhores por hoje, então não se estresse, está bem? Eu vou me retirar, então talvez o senhor tenha uma chance de ganhar.

Os olhos daqueles homens se viraram para mim como olhos de águia, eles claramente estavam se perguntando quanto tempo viveriam, caso tentassem algo contra mim, mas por amor às suas próprias vidas, eu sabia que não fariam isso. Então, arrastei a mão sobre a mesa, puxando as fichas para mim e as joguei sobre o balcão da recepção, após caminhar até a saída.

— Deposite todo o valor na minha conta. — ordenei a gerente do cassino que me encarou com um grande e sugestivo sorriso.

— Deseja mais alguma coisa, meu senhor? — ela me perguntou, mantendo seu sorriso no rosto e inclinando o busto para a frente, deixando ainda mais aparente seus seios siliconados e eu bufei.

Com ambas as mãos no bolso, me virei para sair dali. O sorriso e o rosto daquela mulher, sequer valia o terno de giz preto, que eu usava naquele momento, um verdadeiro Alexander Amosu. Graças a isso, nem mesmo me dei ao trabalho de respondê-la e saí dali.

Eu deveria chamar o motorista, deveria apenas seguir as regras e tomar cuidado, afinal, meu próprio território tinha se tornado uma bagunça nos últimos anos, mas por um momento, ao sair pela porta do cassino, me vi encantado com o céu noturno, como há muito eu já não admirava. Aliás, havia parado de admirar muitas coisas dessa vida fazia tempo.

Enquanto encarava aquela imensidão negral, foi quase como se eu pudesse voltar no tempo, para antes da minha vida se tornar um verdadeiro caos. Respirei fundo, tentando obter um pouco de ar fresco, à medida que andava em direção ao estacionamento e, para minha surpresa, senti uma presença atrás de mim.

Me virei rapidamente e agradeci pelos anos de treinamentos pesados e torturantes que havia recebido, ou teria facilmente sido acertado pelo homem que avançou sobre mim com uma faca.

— Porca puttana! — rosnei, cerrando os dentes, enquanto lutava contra aquele imbecil e, antes que me desse conta, estava cercado por pelo menos cinco homens, sem ter a mínima noção de onde esses filhos da puta saíram.

Eu só precisava de um segundo para puxar minha arma, mas o problema era que, contra cinco facas, não tinha exatamente tempo para isso. Eu estava ocupado, tentando escapar. Derrubei dois enquanto pulava sobre os carros e, correndo pelos becos e vielas, despistei o terceiro, ao mesmo tempo que puxava minha arma da parte interna do teto. Eu só tinha que esperar o momento certo e, com dois disparos, teria me livrado daquele problema irritante, ao menos foi o que eu pensei, contudo, isso foi antes de ver um dos homens que me atacaram surgindo com uma arma em suas mãos.

Meus olhos se arregalaram e puxei o gatilho, mas ele também já havia feito o mesmo, e o tiro me acertou em cheio no peito.

Eu grunhi com a dor lasciva que me atingia e, antes que o último deles tivesse a chance de completar o trabalho do amigo, atirei. Um tiro perfeito bem no meio de sua cabeça. Sem dó, sem piedade ou misericórdia. Me agarrei à parede e minha arma caiu quando comecei a me arrastar para o beco mais próximo e escuro. Ofegante, buscando ar para os meus pulmões, caí, sem nem ao menos saber onde estava. Precisava sobreviver, precisava permanecer acordado.

Eu não podia morrer ali, não assim.

Com isso em mente, apertei meu peito com uma mão e, ofegando com a dor, ouvi uma voz feminina ecoar em meus ouvidos, mas a voz parecia muito longe e, assim, meus olhos foram pesando e minha consciência se distanciando.

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