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#####Capítulo 4

O retorno a Blackwood foi silencioso.

A carruagem seguia firme, as rodas cortando a estrada de terra como se o caminho fosse uma extensão de suas próprias frustrações.

Maximiliano sentava-se contra o assento, os ombros tensos, os olhos fixos no vazio enquanto o vento soprava através da janela entreaberta. Selene, ao seu lado, permanecia calada, como uma sombra que ocupava o espaço sem realmente fazer parte dele.

Havia algo desconfortável no ar, algo entre eles que não podia ser expresso em palavras.

Maximiliano olhou para ela de soslaio, mas foi apenas por um breve momento.

A mulher que ele tivera na noite anterior, em busca de algum alívio, parecia agora uma estranha. O toque, os suspiros, o calor de seus corpos... tudo parecia vazio.

Como um eco distante que não se conectava à realidade de seus sentimentos.

“ O que estou buscando? “ pensou, uma sensação de inquietação se instalando em seu peito.

O sexo com Selene havia sido uma tentativa de afastar os fantasmas que o atormentavam. No calor do momento, ele havia procurado libertação. Uma maneira de, talvez, silenciar as lembranças de Isabella e Anthony, de esquecer a dor e a raiva que o consumiam. Mas, no final, nada disso o havia curado.

O prazer físico havia sido efêmero, uma chama que se apagou antes mesmo de deixar um vestígio de luz. Sua mente continuava a vagar por memórias não resolvidas, pela raiva que fervia em suas veias sempre que lembrava os Valmont e o destino trágico de sua família. Ele havia tentado se libertar, mas a verdade era que ele estava ainda mais preso.

Maximiliano respirou fundo, tentando afastar a sensação de vazio que o envolvia.

Selene... ela é bonita, mas... ela não é o que eu preciso. Não é o que eu busco. Não sei por que ainda insisto.

Eu preciso de algo mais do que isso. Algo que eu não sei nomear.

Enquanto a carruagem seguia pelo caminho, Maximiliano fechou os olhos por um momento e as imagens de sua infância, de sua família e de suas perdas, inundaram sua mente. O sorriso de Isabella, o olhar de seu filho Anthony... e então, o brutal assassinato que lhe havia sido imposto. A guerra com os Valmont, a morte de seu pai e seu avô... tudo isso o consumia constantemente.

Ele lembrou-se das palavras de seu pai, sempre aconselhando-o a nunca permitir que o coração se perdesse em desejos fugazes, em distrações.

“ Mas como posso evitar quando a dor me consome? “ Ele pensava.

Ele estava à beira da desesperança, ainda marcado pela dor de suas perdas, e as tentativas de se distrair com Selene pareciam ser um mecanismo de defesa para não enfrentar a realidade.

É assim que minha vida será, então?

Perguntou-se, pela primeira vez, com mais força.

Preso a essas sombras, a essas relações vazias, tentando preencher um buraco que nunca vai se fechar?

A carruagem começou a subir a colina que levava a Blackwood, a mansão que agora era sua, mas que parecia um lugar vazio. Ele não sentia a familiaridade das paredes de seu castelo. Não sentia segurança ou consolo ali.

Olhou para Selene mais uma vez, que parecia absorta em seus próprios pensamentos, como se não fosse mais relevante para ele, e um suspiro escapou de seus lábios.

Ela não é a resposta.

A conclusão era clara em sua mente.

Ela nunca será.

Maximiliano sentiu uma leve dor no peito, uma sensação de perda, mas não sabia de onde vinha. Era como se, ao se afastar de Selene, estivesse se afastando de si mesmo, de tudo o que ele havia acreditado ser o certo, o esperado de um homem de sua posição. Ela era parte do que ele pensava ser uma solução, mas agora ele sabia que precisava ir além.

A carruagem chegou à entrada de Blackwood e Maximiliano, ainda imerso em suas reflexões, desceu sem pressa, como se o peso de suas próprias decisões fosse mais do que ele poderia suportar.

O peso de sua solidão estava se tornando mais evidente, e ele sabia que, apesar de toda a riqueza, de toda a nobreza ao seu redor, nada ali poderia preenchê-lo.

Maximiliano parou por um momento na escada, olhando para o horizonte.

Será que essa dor algum dia passará?

Será que vou me libertar de tudo o que me prende? Ele se sentiu perdido, sem direção.

Sabia que não poderia continuar assim, se afundando na raiva, nas frustrações e nos desejos vazios.

Ele caminhou em direção ao castelo, mas a verdade era que, por dentro, ele estava mais distante de Blackwood do que nunca.

Então, em vez de adentrar o Castelo, caminhou em direção aos estábulos.

Montou em seu cavalo preto, e sem soltar uma palavra, saiu.

********

Eimier Valmont fazia uso de sua folga.

Seria aniversário de Elora, sua mãe. E a solidão em seu peito apertou ainda mais, consumindo-a, como em todos outros dias.

Eimier cavalgava com o coração pesado, a cada passo do cavalo o peso da saudade de sua mãe aumentava.

O vento passava pelos seus cabelos, mas não conseguia afastar a sensação de vazio que a consumia por dentro.

A manhã estava fria, mas a dor da perda de Elora era ainda mais gélida.

Ela sempre fora uma mulher forte, mas hoje, nas terras afastadas do Castelo, Eimier sentia a fragilidade de ser apenas uma filha órfã, com saudades de um amor que nunca mais voltaria.

Ela sabia que ninguém poderia entender o quanto aquele lugar significava para ela. As árvores altas pareciam acompanhar suas emoções, seus galhos balançando suavemente como se as próprias folhas sussurrassem os lamentos dela. Cada centímetro daquele campo parecia marcado pela memória de sua mãe.

Esta parte das terras de Blackwood, tinham uma semelhança absurda com a pequena Mansão onde vivia com sua mãe.

O cheiro do solo úmido, das flores silvestres ao redor, tudo a trazia de volta para os momentos que passou ao lado de Elora, antes que o destino cruel as separasse.

Enquanto cavalgava, não era apenas o vento que acariciava sua pele, mas também o calor das lembranças da mãe, que ecoavam em sua mente, como sussurros de contorto.

Mas, ao mesmo tempo, sentia-se vazia. Sem ela, Eimier se sentia deslocada, como se estivesse flutuando entre o presente e a saudade, sem saber para onde se dirigir.

Ela tinha que manter a compostura, mas dentro de si havia um tumulto, uma tempestade de emoções que ela mal conseguia controlar.

Parou próxima a uma árvore, e aí, prendeu o seu cavalo.

Recostou-se sobre a mesma e sentou-se, finalmente permitindo-se a afundar o rosto nas mãos e chorar.

Lágrimas caíam livremente, na tentativa de dissipar a angústia que sentia.

Era em vão.

Inútil.

Via-se sozinha neste mundo, sem ninguém a quem recorrer.

“ Deuses, por que sois tão cruéis? “ - perguntava. O que havia feito ela, para merecer tamanha crueldade?

Sentia que o tempo passava, os céus abriam lentamente e os raios de sol, antes tapados pelas nuvens, ameaçavam iluminar as vastas terras.

Levantou-se, decidindo recolher-se, quando avistou a chegada urgente de um enorme cavalo preto.

Era como uma besta, e quem o montava, fazia jus ao título.

Duque Blackwood.

Pânico a envolveu rapidamente.

O que fazia ele aqui?

Tinha a certeza que ficaria em Dunewood.

Era a sua folga, mas estava muito afastada do Castelo, e mais, usando um dos cavalos do Duque.

Embora este em particular fosse usado pelos seus homens e não necessariamente por ele, não competia a uma criada fazer uso do mesmo!

Apressou-se, tentando desfazer o nó e montar no cavalo.

No que estava a pensar? Pretendia fugir do Duque?

Poderia ser mais estúpida?

“ Pare. “ - a voz ecoou fria, fazendo cada fio no corpo de Eimier estremecer.

“ Olhe para mim “. - ordenou, autoritário, com um aviso implícito de que não queria ser contrariado.

Virou-se lentamente e o fitou.

Abriu a boca e tão logo voltou a fecha-la.

A sensação era esmagadora.

O Duque a fitava atentamente, com o olhar carregado e expressão indecifrável.

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