#####Capítulo 5
Eimier sentiu um nó na garganta ao encarar o homem à sua frente.
O Duque Maximiliano Blackwood era uma visão imponente, quase irreal sob a luz suave da manhã.
Montado em seu cavalo negro, ele parecia uma figura esculpida pela própria guerra e pelo sofrimento, um homem cujo olhar carregava o peso de mil batalhas.
Ele era belo.
Não da forma delicada que os bardos costumavam cantar sobre príncipes encantados, mas de uma maneira bruta, avassaladora. O rosto era marcado por traços fortes, a mandíbula firme, os lábios severos. Os olhos, de um tom profundo e penetrante, pareciam atravessá-la, absorvendo cada mínima reação sua.
Eimier sentiu um arrepio na espinha ao perceber a intensidade daquele olhar, como se ele pudesse enxergar além do que ela queria mostrar.
O vento bagunçava os fios escuros de seu cabelo, e até a forma como ele segurava as rédeas do cavalo, com força e controle absoluto, transmitia poder.
A postura era rigida, a presença esmagadora.
Ele parecia dominar o espaço ao seu redor sem esforço algum, como se até mesmo a terra reconhecesse sua autoridade.
Eimier tentou respirar fundo, mas sua garganta parecia fechada. Nunca antes estivera tão próxima dele, e agora, cada detalhe de sua feição estava ao seu alcance.
A linha de sua sobrancelha arqueada, a sombra discreta da barba por fazer, o brilho de seu olhar que oscilava entre análise e um interesse enigmático.
Seu coração martelava contra o peito.
Ele era um homem que inspirava respeito e medo na mesma medida.
E, no entanto, havia algo nele que a fazia querer entender mais, descobrir o que havia por trás daquela máscara fria, daquele silêncio carregado de segredos.
Mas, naquele momento, tudo o que Eimier conseguia sentir era a pressão esmagadora de estar sob o olhar de um predador.
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Eimier Valmont
- O que está fazendo aqui, tão afastada do Castelo? - ouviu ao longe, ainda mergulhada em pensamentos.
O bufar do cavalo estalou em minha mente.
A expressão carregada em seu rosto me fez perceber que deixei o Duque esperando. Por tempo demais.
- Perdoe-me, Meu Senhor. - baixei a cabeça com humildade.
- Olhe para mim. - exigiu.
Fitei-o, sentindo meu estômago apertar, como se tivesse levado um soco com a sua beleza sufocante, sem mencionar a aura esmagadoramente dominante.
Não era à toa que era um dos Duques mais ricos e influentes.
- Perdoe-me, Meu Senhor. Hoje era a minha folga e.. - pesei as palavras e optei por uma meia verdade. - E decidi apanhar uma lufa de ar fresco nas terras um pouco afastadas de Blackwood.
- Um pouco afastadas? Tem noção do quanto é perigoso afastar-se tanto do Castelo assim? Sozinha? - seu tom era ríspido, exalava raiva e frustração.
- Perdoe-me, Meu Senhor. - desculpei-me novamente.
- Perdoe-me perdoe-me, porra! - ouvi-o esbravejar enquanto descia do cavalo com maestria.
Encolhi-me e dei um passo para trás quando percebi que caminhava em minha direção.
Respirei pesadamente, o ar queimando meus pulmões, enquanto o medo se formada rapidamente.
Parou no meio do caminho, provavelmente tomando conhecimento do meu estado.
Seu olhar suavizou e suspirou pesadamente.
- Não lhe vou machucar. - soltou. - Qual é o seu nome? - perguntou, fitando-me atentamente.
- Eimier, senhor.
“ Eimier “ ouvi-o testar o nome, perdido em algum pensamento.
- De que casa é? - perguntou.
Arregalei os olhos.
Que casa?
Como assim que casa? Perguntaria isso para as outras criadas?
- O-o que quer dizer, Senhor? E-eu.. - cortou-me de forma ríspida.
- Pense bem na resposta, Eimier. Você é diferente. - com cada palavra proferida, ele dava um passo para frente, e eu para trás. Até que senti o relevo da árvore embater em minhas costas. Estava presa. - Você fala de forma diferente. - mais um passo. - Sua expressão corporal é diferente. - mais um passo. - Até o seu cheiro, é diferente.
Aproximou-se, a quase um palmo de distância.
Puxou uma lufada de ar, seu rosto ainda que distante do meu pescoço, mas ainda assim o sentia perto.
Podia sentir o ar quente quando expirou, só para puxar outra lufada de ar generosa.
- Doce. Morangos. - soltou como quem desfia um segredo ao vento, sem dar-se conta de que tinha ouvidos por perto. - Agora diga-me, Eimier, a que Casa pertence e por quê está se passando por uma criada? - foi directo, ríspido.
- Ashford, senhor. Embora não seja considerada uma casa. Não possuímos terras nem riquezas. - respondi, de forma sincera. Essa era a verdade sobre a minha mãe.
- Então explique-me, Eimier Ashford, por que motivo você parece da Nobreza? - seu olhar atento parecia uma lupa, enxergando dentro do meu ser.
Pesei a resposta mais de uma vez, sua expressão deixando um aviso de que não admitiria mentiras, e acima de tudo, que saberia se eu mentisse.
- E-eu.. - um nó se formou na minha garganta, mas forcei-me a continuar. - Eu cresci com a minha mãe, um pouco longe daqui. Minha mãe engravidou do seu amor e este partiu para longe, não sendo mais visto. Então, minha mãe criou-me sozinha. - Mordi o lábio, tentando manter a postura e controlar a respiração. - Sempre me ensinou a cultivar bons hábitos de leitura, por isso minha pronuncia soa diferente. - soltei um riso leve, sem graça, na tentativa de esconder a tensão que sentia ao falar com o Duque, e acima de tudo, esperando que isso suavizasse o peso da conversa. - Ela ensinou-me a falar de forma mais cuidadosa. Ela dizia que poderíamos não ter riquezas, mas não seríamos analfabetas.
Ele olhou para mim com um semblante sério, mas algo em seu olhar indicava que estava absorvendo cada palavra.
Estudava seu rosto e suas expressões, como se procurasse alguma gafe na minha história.
- E você sabe andar a cavalo? - a pergunta veio firme, direta, enquanto apontava para o cavalo preso a árvore.
Seu olhar perfurava o meu.
Observei o leve inclinar da cabeça para a esquerda, como se pesasse a minha história, claramente duvidando as minhas palavras.
Abri a boca para responder, mas hesitei por um segundo longo demais. Meu nervosismo se denunciava.
- S-sim. - mordi o lábio, na tentativa de controlar minha respiração. - Sim. Ajudava-a nas tarefas do Casarão em que trabalhava. Era curiosa e aprendi a montar, facilitando assim o trabalho dela. - soltei.
“ Hm “
Bufou para o ar e deu um passo para trás, roçando os dedos na barba por fazer.
Parecia pesar as minhas respostas em uma balança mental, tentando decidir se acreditava nelas ou não.
Deu dois passos à frente, reduzindo a distância entre nós de forma tão sutil quanto ameaçadora.
Sua mão, forte e rápida, fechou-se ao redor do meu pescoço, sem apertar o suficiente para me sufocar, mas me prendendo completamente no lugar. Meu corpo congelou!
- Só mais uma dúvida, Eimier Ashford. Por que diabos está tão nervosa, se está dizendo a verdade? - sua voz era baixa e potente e o olhar penetrante me fez estremecer.
- E-eu.. O senhor é assustador. - respondi sem hesitar, a sinceridade transparecendo, pelo menos parcialmente.
Ele piscou duas vezes, como se não esperasse essa resposta, e, então, me soltou abruptamente.
Afastou-se de mim e, surpreendentemente, sorriu.
Um sorriso que poderia ser um tanto sedutor, mas também carregava um toque de frieza, expondo dentes brancos e perfeitamente alinhados.
Era impossível que ele pudesse ser ainda mais atraente.
- Você, Eimier Ashford, é uma bela surpresa.
Sua voz soou mais suave, mas havia algo em sua expressão que me fazia sentir que ele ainda estava calculando cada palavra que eu dissera.
