Capítulo 03 - Mulheres, a equação que nem cálculo avançado explica
Depois da conversa que tiveram no quartinho do zelador - coitado do Sr. Fitz - Emma marcou a primeira aula de Daniel para aquela tarde - por insistência dele, e não dela. Uma vez que Daniel parecia desesperado para começar a entender a matéria.
E quando Emma perguntou sobre o motivo de sua ansiedade, ele apenas disse:
- Estou frito se reprovar.
Emma não acreditava que Daniel pudesse estar tão mal assim naquela matéria, afinal, ninguém conseguia chegar em Cálculo Avançado, se não fosse, no mínimo, excelente em resolver equações.
E, sim, ela estava absurdamente estupefata de que Daniel realmente quisesse estudar com uma mulher, ao invés de ser apenas uma desculpa para que ele conseguisse levar uma garota até seu quarto e a convencesse a ficar nua na cama dele. Mas, então, novamente, eles não estavam falando de qualquer garota, mas de Emma Moore, a única aluna do campus por quem ele não parecia sentir sequer um mínimo interesse em levar para a cama. Emma precisou se recordar disso.
E era por isso que, naquela tarde, ela entrou no Jeep de Daniel e pegou uma carona até a casa dele. Eles precisavam aparentar serem um casal, de qualquer forma. Além disso, qual era o sentido de ir andando até a casa dele, quando ele já estava indo para lá?
A casa dele aparentava ser como a dela - uma casa classe média - embora ela devesse admitir que parecia de muito bom gosto. Nada tão requintado quanto a casa de Hunter, que ficava em um dos bairros mais nobres, e muito longe de pertencer à periferia.
Hunter era mesmo um esnobe, e Emma, por muito tempo, pensou ter tirado a sorte grande quando ele finalmente a notou e pediu para sair com ela. Mas sabia que, na verdade, ela estava com excesso de azar. Nunca deveria ter se envolvido com alguém como ele. Nunca deveria ter pensado que Hunter Galles um dia pudesse se interessar por ela.
Embora Emma namorasse com ele, nunca se sentiu confortável de frequentar os lugares que ele, e os amigos dele, frequentavam. Eram caros demais, exclusivos demais, e Emma nunca parecia se encaixar naquele mundo “VIP”. Talvez já fosse um sinal de que Hunter Galles não era para ela.
Daniel estacionou em frente a casa, enquanto Emma admirava, atônita, aquele belo jardim bem cuidado, enquanto o jardim de sua própria casa parecia feio e abandonado em comparação com aquele - mas Emily Moore nunca levou jeito para jardinagem, e ela trabalhava muito para ter tempo para essas coisas.
O som da porta do motorista batendo a tirou de seus pensamentos, e Emma tirou o próprio cinto para descer também. Mas, antes que tivesse tempo para colocar a mão na maçaneta, Daniel já estava ao seu lado, abrindo sua porta e ajudando-a a descer como um perfeito cavalheiro.
Perfeito demais para ser real. Ela se recordou das palavras de seu pai descrevendo Hunter, e franziu o cenho, perguntando a si mesma se, se ela fosse namorada de verdade de Daniel, se ele a trataria com a mesma consideração.
Era provável que não. Foi a conclusão a que ela chegou.
Ela tinha que admitir, no entanto, que chegou a soltar um leve suspiro ao pegar na mão dele e ser guiada para fora.
Um suspiro de surpresa. Ela tentou se convencer.
Daniel a guiou para a porta da frente e, antes que ele pudesse abri-la, a porta foi escancarada, mostrando uma mulher com leves sinais de envelhecimento, talvez na casa dos cinquenta anos.
- Você não deveria estar trabalhando? - Daniel perguntou, educadamente, enquanto a mulher analisava Emma da cabeça aos pés, sem qualquer vergonha.
Emma começava a sentir-se incomodada, quando a mulher voltou seu olhar azul safira para Daniel e respondeu:
- E perder a primeira vez que você traz uma garota em casa para “estudar”? - Ela fez aspas com as mãos, deixando claro que não acreditava em uma palavra que Daniel lhe disse.
Emma o fuzilou com os olhos, porque era tudo culpa da reputação que ele tinha com as mulheres. Se ele soubesse manter o próprio pau dentro das calças, então esse momento embaraçoso não estaria acontecendo.
- Nós vamos realmente estudar, mãe.
- Ah, Dan, não me venda essa história porque eu não compro essa. Eu te conheço, meu filho. - Ela riu - O que vocês vão estudar? Anatomia? Eu não sabia que você mudou o seu curso para medicina. - Ela zombou.
É, parece que a Srª Baker tem o mesmo senso de humor de seu filho. Agora sei quem Daniel puxou em seu humor ácido e sarcástico. É bom para ele provar um pouco do próprio veneno. Emma refletiu.
- Na verdade, - Emma interferiu, antes que as coisas se tornassem ainda mais constrangedoras para ela - é Cálculo Avançado.
- Foi essa a desculpa que ele deu para te comer? Bom, - a Srª Baker deu outra análise minuciosa nela, antes de acrescentar - você é sexy e legal demais para saber algo sobre números.
Emma pensou se deveria dizer “Obrigada”, mas, por via das dúvidas, preferiu ficar em silêncio.
- Entrem - A Srª Baker continuou, saindo do caminho deles, e acrescentando - e fiquem à vontade para fazerem onde quiserem. Eu preciso voltar ao trabalho agora.
Ela pegou sua bolsa e saiu correndo, não dando a eles a chance de perguntar o que ela quis dizer com “fazerem”. Obviamente, ela não quis dizer no sentido de “fazerem equações matemáticas complicadíssimas”. Na verdade, estava mais para “fazerem sexo onde quiserem sem que vocês precisem se preocupar com a minha presença”.
Emma pensou em pegar suas coisas e sair correndo daquela casa, tamanha era a sua vergonha, enquanto Daniel a guiava até o andar de cima, - até o quarto dele - para que pudessem fazer - digo, para que pudessem calcular - equações matemáticas.
- Me desculpe por isso. Eu juro que apenas disse a ela que você vinha me dar uma força. - Daniel começou, quebrando a tensão que pairava entre eles.
Ela sentiu vontade de dizer “Então talvez você não devesse ter dito nada.” mas, ao invés disso, apenas perguntou:
- Ela é sempre assim?
- Na verdade, costuma ser pior. - Ele respondeu com sinceridade - Ela provavelmente pegou leve achando que eu tinha sentimentos por você, afinal, como ela mesmo disse, eu nunca trouxe qualquer uma das minhas conquistas para casa.
Conquistas?! Emma pensou, irritando-se. Era assim que ele chamava as mulheres com quem dormia?! Para ele, não passavam de “conquistas”?! Ela não sabia o motivo para sentir-se tão, completamente, insultada por aquele termo tão pouco lisonjeiro, e antes que ela pudesse encontrar um motivo para colocar a culpa de sua evidente irritação, jogou os seus livros e a sua bolsa sobre a escrivaninha, e falou:
- Será que você consegue se conter e parar de chamá-las desse jeito?!
- De que jeito? Conquistas? - Ele a provocou.
- É! - Ela rosnou, de mau humor por ele ter acabado de fazer algo que ela pediu, naquele exato instante, para que ele não fizesse.
- O.K., calma. - Ele ergueu as mãos, em sinal de paz, recuando um passo, apenas como precaução, só para o caso dela decidir atacá-lo.
Mas que droga! Talvez eu nunca venha a realmente saber o que se passa na cabeça de uma mulher. O que tinha na cabeça de Emma Moore para estar defendendo as mulheres com quem ele dormiu quando, ele tinha certeza, se fosse em outro momento, ela não pensaria duas vezes antes de falar mal de todas elas e, inclusive, chamá-las de termos piores do que “conquista”. Daniel pensou, embora não se sentisse corajoso para expressar seus pensamentos em voz alta.
Emma suspirou, acalmando-se, antes de perguntar:
- Para onde você as levava se não trazia para casa? - Sua curiosidade era sincera, e deixou Daniel ainda mais apreensivo. Essa mulher é bipolar? Ele pensou, antes de responder:
- Para o motel mais próximo.
- Eca.
- O quê? O que há de errado com motéis?
- São sujos e nojentos. - Emma respondeu, abrindo todos os seus livros sobre a mesa e organizando-os.
- Você já foi em um? - Daniel perguntou, curioso pela resposta dela, afinal, ela falava com a certeza de quem já tinha ido, mas ele não conseguia imaginá-la em um lugar como aquele, apenas para trepar. Não, ele imaginava que Emma Moore deveria ser dessas pessoas que precisavam marcar data e hora, em sua agenda super lotada, para transar.
- Não. São sujos e nojentos. - Emma repetiu, arrancando-o de suas divagações.
- Você não pensaria nessas coisas se estivesse no motel comigo. Não teria tempo para pensar em qualquer coisa que não fosse no meu pau entrando e saindo da sua vagina. - Daniel a provocou, aproximando-se, perigosamente, dela.
Emma não sabia o motivo, - afinal, aquele era Daniel Baker - mas aquela imagem a excitou ao ponto dela ter que cruzar as pernas para aliviar a queimação entre elas.
- O que foi? Te deixei molhada? - Daniel sussurrou em seu ouvido, arrepiando-a.
- Se não parar com essa merda agora, eu vou embora. - Ela avisou.
- O.K. Então, por onde começamos?
- Por que você não me diz o que você sabe fazer e o que você não sabe?
Ele ergueu uma sobrancelha, malicioso e deu o seu sorriso mais sacana antes de dizer:
- Eu sei fazer de tudo. Por que você não me diz do que gosta e do que não gosta?
Emma bufou e retrucou:
- Pelo amor de Deus, eu estou falando das equações!
- Ah, bom, sobre isso, tenho muitas dúvidas…
Daniel abriu o livro e começou a dizer o que sabia e o que não tinha muita certeza de como fazer, antes que Emma realmente se irritasse com as suas provocações e fosse embora.
Passaram-se alguns minutos em que ela explicou a ele o que sabia e, depois, passou alguns exercícios para que ele resolvesse sozinho. Ela estava parada, ao lado dele, observando-o resolver as questões, quando decidiu perguntar, casualmente:
- Nenhuma delas nunca se importou em ir para o motel e depois serem descartadas?
- Não. Eu nunca prometi amor eterno ou um relacionamento duradouro e elas nunca pediram isso, era apenas sexo, e todas vieram de boa vontade.
- Mas eu ouvi pelo campus que elas…
- As mulheres - ele a interrompeu - tendem a acreditar naquilo que elas mesmas têm como a verdade absoluta, coisas que existem apenas em suas cabeças fantasiosas. Eu nunca prometi um relacionamento e, mesmo assim, elas vieram até mim, implorando para serem comidas. Então, não, nenhuma delas se importou em ter apenas uma noite no motel mais próximo. O choro e os gritos da manhã seguinte são apenas dramas por terem acreditado em suas próprias “verdades absolutas” retiradas de suas mentes dementes. - Daniel explicou, voltando sua concentração para o enigma à sua frente, - a equação, não a mulher diante dele.
Emma fez uma careta de desgosto com aquela explicação medíocre, como se não concordasse nem com meia palavra que ele havia dito.
- O quê? - ele perguntou - Acha que estou errado?
- Bem, certo você não está. - ela retrucou.
- E por quê? Só porque eu não tenho uma namorada não significa que eu precise viver em celibato!
- Espero o dia em que verei algum idiota tratar a sua filha com o mesmo descaso e frieza com que você trata essas garotas. Acaso não vê que todas elas têm um pai, e que um dia essa vida pode se voltar contra você?!
- E eu espero que a minha filha não saia dando para qualquer um por aí, em qualquer motel barato, porque, se ela for assim, então ela merece ser tratada dessa maneira! - Daniel retrucou, irritando-se.
- Sim, mas também não é certo…
- Shhh! Estou tentando me concentrar. - Ele a interrompeu, encerrando aquele assunto.
Eles ficaram novamente em silêncio enquanto Daniel terminava os exercícios e entregou para que Emma os corrigisse. Só então, mais calmo, ele voltou a falar:
- Eu não espero que uma princesinha que só teve um homem entre as pernas entenda o meu modo de viver a minha vida. Mas não se preocupe, eu tenho a intenção de te mostrar como um homem e uma mulher podem se divertir juntos, pelo tempo que durar o nosso relacionamento.
- Nós não temos um relacionamento. - Ela o lembrou.
Daniel foi salvo de ter que explicar o que quis dizer com “relacionamento”, quando o seu celular tocou.
- Alô? - Ele atendeu, no ato.
Emma tentou ouvir o que a pessoa do outro lado dizia, suspeitando de que fosse alguma mulher que conseguiu o telefone dele através de uma amiga, ou algo assim. Ela disse a si mesma que era apenas mera curiosidade, principalmente quando Daniel levantou-se e saiu do quarto para conversar, fechando a porta atrás de si.
Daniel voltou alguns minutos depois, com um olhar de dúvida em seu rosto.
Podemos continuar? - Emma perguntou, sentada na cama dele, cansada de esperar.
Não, nossa aula acabou, por hoje. Estamos saindo. - Ele respondeu.
Ah, tudo bem. Quando quer que eu volte? - Ela perguntou, um pouco decepcionada por estar sendo expulsa da casa dele porque ele aparentemente tinha “algo melhor para fazer”.
Emma não precisava que Daniel repetisse outra vez que era para ela sair da casa dele. Rapidamente, juntou seus pertences, jogou tudo dentro de sua mochila e foi para o corredor, fazendo o mesmo caminho que a levou até ali.
Amanhã, tudo bem por você? - Daniel respondeu, tendo que correr para acompanhar os passos apressados dela.
Então, até amanhã. - Ela se despediu dele, parada na porta de entrada, segurando alguns livros contra o peito, como se fosse um escudo contra ele.
Ele que não ouse tentar se aproximar de mim. Emma pensou, imaginando que Daniel tentaria ao menos despedir-se dela com um beijo em sua bochecha, como era comum de se fazer entre amigos. Mas eles não eram amigos, eles não eram nada um do outro, eles mal se conheciam. E Emma, embora tivesse se arriscado a ficar em um quarto sozinha com ele, ainda não confiava em Daniel Baker tão perto de si. Ou talvez ela não confiasse em si mesma.
Mas ele não se aproximou dela, e, enquanto Emma esperava que, ao menos, ele se despedisse dela, o silêncio tornou-se constrangedor. Ela já estava começando a se afastar, quando Daniel disse:
Ei, espere aí. Como assim, “Até amanhã”? Eu disse que nós vamos sair.
Sair? Tipo, sair juntos? - Emma perguntou, confusa.
É.
Mas não vamos mesmo! - Ela exclamou, virando-se e tentando correr, mas Daniel foi mais rápido e a pegou pela cintura, levantando-a no ar com extrema facilidade, o que a surpreendeu - O que você está fazendo?! Me ponha no chão! - Ela esperneou.
Daniel não lhe deu ouvidos, seguindo em direção ao próprio carro, com o corpo de Emma ainda sobre seu ombro, como se ela fosse um saco de areia.
Ele colocou-a sentada no banco do carona e trancou-a, seguindo para o lado do motorista enquanto Emma, respirando agitadamente, perguntava:
Posso saber para onde estamos indo?
Daniel a encarou, como se a analisasse, como se se perguntasse se deveria contar a ela ou não. Por fim, ele suspirou e disse:
Se eu disser a verdade, você vai surtar?
Surtar?! O que isso significa?! Eu deveria surtar?! - Ela exclamou, se descabelando.
Bom, isso responde a minha pergunta. - Daniel colocou a marcha e saiu da vaga - É melhor então que seja uma surpresa.
Para onde estamos indo?! - E quando ele não respondeu, ela gritou - PELO AMOR DE DEUS, NÃO DIGA QUE ESTÁ ME LEVANDO PARA UM MOTEL, SE NÃO EU…
Não se preocupe, - ele a interrompeu - dormir com você sequer passou pela minha cabeça.
Ai. Emma pensou, fazendo uma careta. Ela podia não ter qualquer sentimento por ele, mas isso não significava que o ego dela não estivesse ferido naquele momento. Afinal, ela era a única mulher com quem Daniel Baker parecia não sentir tesão.
Então? - Ela perguntou, tentando disfarçar a sua autoestima ferida - O que eu deveria dizer aos meus pais, se eles chegarem em casa e não me verem por lá?
Considere isso um sequestro. - Ele respondeu.
Sequestro?! É isso o que eu deveria dizer a eles?! - Ela bufou, indignada.
Não, - Daniel deu uma risadinha - para eles você pode dizer a verdade.
E qual é a verdade?!
Que você está saindo com o seu namorado.
Porra, essa não é a verdade. - Emma soltou, suspirando em frustração.
