2 Alice
Não precisei sequer colocar os pés para fora do aeroporto para
sentir que aquele lugar representava o meu futuro, a minha salvação.
Não importava o quanto fosse difícil — eu enfrentaria qualquer
obstáculo só para ficar ali, longe do destino que Luca havia traçado
para mim.
Eu deveria pegar o táxi que me levaria até a casa da amiga da
minha tia, mas preferi ser cautelosa. Conheço muito bem o meu pai.
Se ele arrancasse qualquer informação da Sara, eu estaria de volta à
Polônia antes do sol nascer.
Luca era um assassino. E só por isso, o medo de ele descobrir
que Sara me ajudou me corroía por dentro. Não acreditava que ele
chegaria ao ponto de matá-la — afinal, estava em um país onde não
confiava em ninguém além de si mesmo —, mas não podia contar com
a sorte.
Minha tia havia juntado, com muito esforço, uma quantia
razoável. Mesmo contra minha vontade, ela me entregou esse dinheiro
antes da minha partida. Partir sem ela já havia sido doloroso o
suficiente. Sair levando o que ela juntou com tanto sacrifício, ainda
mais. Mas era graças àquela quantia que eu conseguiria me manter
por um tempo.
Buscar um emprego era minha segunda prioridade. A primeira
era encontrar um lugar para ficar. Por isso, ainda no país de origem,
pesquisei na internet por quartos para alugar. Foi difícil. Sabia que não
podia confiar em qualquer um — não era tão ingênua assim. Pedi,
então, que a garota com quem conversei viesse me encontrar no
próprio aeroporto.
Havia muitas opções de aluguel, mas a maioria era com
homens — e essa era uma possibilidade que eu descartei
imediatamente. Julia, por outro lado, era brasileira, estudante
universitária, e tinha praticamente a minha idade.
Eu estava nervosa. Era a primeira vez que me encontrava
sozinha, tão longe de casa, sem conhecer absolutamente ninguém.
Minhas mãos suavam, e meu coração batia descompassado.
No convento, aprendi muitas coisas. Valorizavam muito o
ensino. Além da Bíblia, também estudávamos todas as matérias
escolares. Eu não era a única garota por lá e até fiz algumas amigas
— até o dia em que meu pai me encontrou e nos obrigou a fugir para
outro país.
Meu amor pelas línguas nasceu ali, com a irmã Lurdes. Ela era
inglesa e falava três idiomas. Sempre a considerei a mais inteligente
de todas. Foi ela quem me ensinou inglês e espanhol. Depois, quando
fomos para a Polônia, tentei aprender mais dois: alemão e mandarim.
Mas confesso que o mandarim era mais complicado do que física
avançada.
Por incrível que pareça, vi meu nome escrito em uma placa nas
mãos de uma mulher de cabelos cacheados, tingidos de vermelho. Ela
sorria de orelha a orelha. Quando me aproximei, parecia prestes a
saltar de tanta empolgação.
Aquela animação acabou me contagiando. Nunca havia sido
recebida com tanto entusiasmo. Julia parecia ser uma colega de quarto
divertida. Pelo menos era a impressão inicial.
— Alice! Eu estava tão ansiosa! Ai, meu Deus, nem sei o que
dizer! — exclamou com um entusiasmo quase infantil. Curioso,
considerando que ela nem me conhecia.
— Obrigada pela recepção — respondi, tímida e um pouco
envergonhada.
— Desculpa, é que eu nunca tive uma colega de quarto. Mas as
coisas apertaram por aqui, então precisei abrir essa vaga no meu
apartamento — explicou, falando tão rápido que eu mal conseguia
acompanhar seu inglês. Mas me esforcei para entender. — Sabe, um
cara esquisito se candidatou antes de você. Não queria um homem
morando comigo. Meu irmão teria um treco. Mesmo assim, fui
encontrá-lo. Fiquei morrendo de medo de ser golpe, sequestro, essas
coisas. No fim, fingi que ia ao banheiro e fugi! Depois lembrei que, na
descrição do anúncio, deixei meu endereço... fui muito burra! Ele podia
bater lá e... sei lá, me matar! Mas graças a Deus, nada disso
aconteceu.
Fazia menos de dez minutos que nos conhecíamos, e eu já
sabia mais sobre Julia do que sobre várias pessoas com quem convivi
por anos. Pelo menos tive certeza de que ela não era uma assassina
nem faria de mim uma escrava sexual.
— Estou animada para conhecer tudo por aqui — comentei,
forçando um sorriso. Ainda tentava processar a história surreal que
acabara de ouvir.
— Não se preocupa! Vou te mostrar tudo. O bom é que vamos
estudar na mesma universidade. Talvez nossos horários não batam,
mas já é alguma coisa. Ah, e preciso te alertar sobre alguns garotos da
faculdade...
Ela falava bastante — e rápido —, mas eu não me importava.
Nunca tive uma amiga que realmente conversasse comigo. No
convento, as garotas limitavam-se a falar sobre orações ou sobre a
vida antes de entrarem para a vida religiosa.
Enquanto caminhávamos para fora do aeroporto, Julia
continuava a contar histórias sobre a faculdade e suas desventuras
com colegas de classe. Eu me concentrava em entendê-la e, ao
mesmo tempo, me preocupava com a possibilidade de ela morrer sem
ar — de tanto que falava sem parar.