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Entrevista de Emprego

Mel saiu da lanchonete avistando a mulher mais velha em frente a um carro preto, falava ao telefone e enquanto se aproximava a viu brigar com alguém e desligar o celular, fechar os olhos respirando profundamente antes lhe encarar de novo.

— Está tudo bem? Precisa de alguma coisa? - Perguntou Mirela ainda encarando os olhos verdes de Mel. Ela era bonita, provavelmente seu chefe iria gostar. — Se não precisa, vamos indo. Meu chefe mora quase na entrada da cidade.

— Sério? - Entrou no carro com um sorriso no rosto. O cheiro do automóvel era reconfortante, perfeito para ser sincera. E durante o caminho, parecia melhorar. — Achei que gente rica gostasse de morar de frente para o mar, ou bem no meio da cidade.

— Nem todo rico gosta disso. - Contou a outra — Meu chefe, por exemplo, ele gosta de silêncio, de viver no escuro, não gosta de pessoas, muito menos de falar com elas.

O trajeto durou menos de quarenta minutos o que chegou a ser cansativo para uma pessoa ansiosa como Mel. Estava esperançosa de que finalmente pudesse arrumar um emprego em que lhe ajudasse de uma vez por todas para que não precisasse mais ter que correr de um canto a outro com medo até de sorrir para não ser demitida. O seu irmão precisava daquele dinheiro, da cirurgia, dos remédios, de tudo e ela daria, de um jeito ou de outro.

Logo as duas pararam em frente aos portões de um condomínio. Tudo muito sigiloso com códigos e até senhas para que a o portão pudesse abrir. Quando Mirela comentou sobre seu chefe ser rico, não achou que fosse tanto. As casas daquele lugar eram lindas demais, com espelho e varandas cheias de flores, uma riqueza sem tamanho. Uma casa em frente à outra com cores claras, esbanjando elegância e alegria.

Estava admirada e nem ia esconder isso. Não ia mesmo. Jamais. Seu sorriso só crescia conforte as casas passavam diante de seus olhos, até que as casas mais bonitas começaram a sumir, uma mais distante que a outra, até o carro dobrar outra esquina mostrando agora apenas um caminho longo até finalmente parar em frente a uma casa completamente diferente das que passou.

Mel primeiramente encarou a casa de dentro do carro, era grande, como um grande castelo, desde a fachada a varanda sem cor e sem flores apenas com cortinas negras e vidros que nada podia se ver. Nada ali mostrava alegria, sequer parecia que alguém morava ali.

— Eu tenho que ser franca com você antes de entrar. - Mirela quebrou o silêncio arrumando sua bolsa no ombro e encarou Mel que tentou sorrir, mas alguma coisa lhe dizia apenas para ficar no carro e ir embora. — O meu chefe quer alguém que o sirva particularmente… Mas eu não preciso te contar tudo. Ele pode te falar alguma coisa.

Abriu a porta do seu lado encarando aquela casa velha que já estava enjoada de entrar e sair. Esperou que Mel fizesse o mesmo e juntas seguiram para a entrada. Mirela já era mais que bem-vinda, estava para pegar suas coisas e ir e morar ali uma vez que passava mais tempo naquelas salas do que em outro lugar.

Assim que entrou, Mel encarou primeiramente o lustre enorme no hall, brilhante e aparentemente chique, bem iluminado e podia jurar que aquilo não era um simples cristal.

— Gostou? Tem algumas peças em diamantes, o que o torna único e especial para um colecionador de coisas caras e sem sentido. - Comentou a mais velha. Entraram na sala bem organizada e todo canto ali era decorado e cuidado com todos os detalhes de uma pessoa que gostava de mostrar o quanto era rica, e que tinha mais dinheiro do que podia mostrar.

Contudo, as cores escuras e o silêncio da casa diziam o quão triste ela era, e isso não era uma coisa boa.

— Mirela, você voltou. - Mel seguiu o som da voz que se aproximava e encontrou uma senhora bem arrumada e uniformizada. — Que bom que voltou. O Sr. Levi não parece está de bom humor.

— Eu sei. Mas eu trouxe alguém que vai animá-lo - Apontou para Mei que sorriu dando um pequeno tchau. A senhora a olhou dos pés a cabeça e estreitou os olhos, o que não passou despercebido por Mel que estranhou na hora. — Vamos subir.

Antes de dar o primeiro passo, Mel parou para encarar a senhora que mesmo sem sorrir, lhe desejou sorte.

Sorte para quê?

Quem diabos estava lá em cima?

Hã?

A escadaria com um corrimão de madeira escurava ficava quase de frente para a porta.

Era longa, mas a vista de cima era ainda melhor. Dava para ver a sala completamente além de uma mesa grande num canto afastado. Talvez algumas portas fosse a da cozinha que dava para ver dali, mas podia-se notar o quanto tudo estava bem arrumado e cuidado por pessoas profissionais que claramente dariam sua vida para pagar qualquer escultura, vaso ou quadro daquele lugar.

Seguiu Mirela por um corredor passando por mais portas do que esperava alguns quadros na parede e até de uma família antiga, ou seria a do dono daquela casa tão grande? E em falar em casa grande, porque não havia ninguém no lugar? Tão vazio e silencioso.

Ah, mas é claro. Ele não gostava de gente, então não deveria ter ninguém, mas aquele silêncio também era devastador. Mirela parou em frente a uma das portas e virou para Mel novamente, com um belo sorriso no rosto, disse:

— Eu vou entrar primeiro. Você fica e espera um pouco. Vou apenas anunciar e dizer que está aqui e pronta para sua entrevista. Logo, logo vou descer qualquer coisa só voltar e descer as escadas que estará livre, tudo bem?

Mel apenas balançou a cabeça já sentindo uma energia pesada demais para continuar parada ali.

Mirela fechou as portas atrás de si vendo o homem a frente nem mesmo se importar para sua presença. A cadeira de couro negro estava virada para a mesa onde só se via as costas da mesma e os cabelos negros que caiam ao redor de sua nuca. As cortinas do lado esquerdo estavam bem fechadas, mas havia uma pequena claridade onde parou apenas por não gostar de viver na escuridão como aquele homem maluco.

— Sr. Santiago. - Chamou o homem que não virou. Tinha que se segurar para não surtar de vez. Trabalhar para aquele homem era complicado. Sobreviver com aquela atitude mimada de não querer ver as pessoas ou simplesmente olha-las como se não fossem nada. — Eu trouxe uma pessoa.

— Uma pessoa. - Ele virou de repente largando as folhas em suas mãos e levantou devagar de sua cadeira. — Que outra decepção você acha que trouxe?

— Quer saber de uma coisa? Eu não ligo nem um pouco se você começar a gritar e surtar porque algumas pessoas não querem fazer o que você manda. - Cruzou os braços.

— As garotas que você trouxe eram mais obedientes do que o necessário, eu não quero um-.

— Olha, olha, olha, para de falar um pouco. Tem uma garota atrás da porta que precisa de um trabalho e você precisa de uma empregada. Ela é bonita, divertida e gente boa. Você vai explicar o que quer, e se ela quiser pode muito bem ficar e te venerar. Mas eu quero férias, quero um momento, quero dias para ficar em paz.

— Se eu não tenho paz, você também não vai ter paz. - Bradou do outro lado batendo contra a mesa, Mirela nem se assustou. Já tinha se acostumado com os surtos do homem em sua frente.

— Eu vou embora, e mandá-la entrar. - Avisou ao homem que começou a sair de trás da mesa. Não queria nem ficar para ver no que ia dar. Talvez outra xícara de um café quente e forte pudesse fazê-la mais feliz. Saiu do quarto procurando por Mel, talvez aquele troglodita gostasse da menina. — Mel, você pode entrar.

— Tem certeza? - Parou diante da porta e sorriu meiga — Eu ouvi gritos.

— Tenha apenas paciência, e se ele disser alguma coisa que não gostar, é só correr.

Mel tentou falar alguma coisa, mas acabou apenas deixando que a mulher passasse com um sorriso no rosto para ir embora. Mel respirou fundo e depois soltou mantendo toda calma possível. Não precisava se sentir nervosa já que tinha feito tantas e tantas entrevistas que nem precisava mais decorar o que falaria. Abriu a porta devagar visto que havia um silêncio grande lá de dentro.

Assustou-se ao reparar numa cama do outro lado além de itens tão pessoais. Será que a entrevista seria no quarto do homem? Para quê?

Quando abriu toda a porta avistou de longe uma mesa grande de madeira e enfim, um homem sentado em sua cadeira. Sua face ficou vermelha ao notar que os olhos lá de dentro vinham em sua direção com curiosidade. Entrou de uma vez extremamente menos confortável do que lá fora.

O quarto era escuro, apesar das janelas serem grandes cobertas por cortinas grossas, no entanto, havia uma pequena fresta deixando um pouco da luz do sol entrar ali.

Era sombrio e até difícil de sentir bem parada ali. Caminhou mais um pouco parando diante da mesa. O homem era bonito de fato, alto e os cabelos negros contornavam o rosto másculo com uma pequena barba por fazer. Era charmoso e apesar de ignorar, Mel sentiu o corpo tremer, e suas pernas pesaram quando o viu afastar a cadeira para se levantar.

Ele era incrivelmente alto, e mesmo que estivesse longe, podia-se ver o quanto aquele homem malhava para ter aqueles ombros largos que mesmo com a camisa largada ao seu corpo, notava-se cada músculo dividido.

Já do outro lado, o homem encarava a mulher daqui com certa curiosidade. Aonde que Mirela havia olhado para a garota baixa, de cabelos ruivos e com uma pele tão branca que parecia não ver um sol há anos e a cidade quente que hora ou outra rachava o chão de tão quente era responsável pela cor saudável em algumas pessoas, menos na pequena menina. Além das roupas nada luxuosas, onde, ou de onde tinha saído aquilo?

— Bom dia. - Ela disse empinando o nariz. Ao menos a voz dela era bonita. Ele saiu de trás da mesa rodeando a mesma com passadas pequenas, queria entender e estudar cada pedaço daquela criatura bonita, em todo caso. — Eu, vim pelo… Bom, ela me trouxe pelo emprego.

Estava nervosa e não iria negar, e quanto mais ele se aproximava, menos a voz saia, as palavras fugiam de sua mente. Pôde notar mais de perto a cor dos olhos, era lindo, mais bonito do que qualquer pessoa.

— Da onde você é? - Questionou, a garota corou como se fosse uma grande adolescente… Isso era charmoso, bem diferente das outras garotas que adentraram seu quarto naquela semana. Céus, a menina ali não era nada do tipo que dormia em sua cama.

— Do norte da cidade. De um lugar onde tem barulho e luz, um lugar onde parece ter vida, bem diferente daqui. - O homem levantou as sobrancelhas, surpreso.

— O que? Acha que não tem luz o suficiente? Quer dizer que algo está morto? Que? Eu? - Apontou para si. — Tá dizendo que aqui não tem animação? - Ela balançou a cabeça, assentindo. — Eu não gosto de barulho.

— Deu para notar - desviou o olhar, e vendo que ele não disse mais nada, voltou a encará-lo encontrando uma face confusa, — Digo… Eu acho que ninguém iria querer se aproximar de um lugar assim.

— Ainda sim, você está aqui. - Ela suspirou agarrando a alça de sua bolsa, pronta para correr. Mordeu os lábios que eram delicadamente observados por ele. A garota era bonita. Embora não fossem nada comparadas as mulheres que estiveram ali durante todo aquele mês. — Eu sou Levi Santiago, aposto que escutou meu nome por aí em algum lugar, as pessoas gostam de falar.

— Na verdade não. Não ando acompanhando tanto assim o mundo dos famosos. Mas eu queria dizer que estou aqui para preencher a vaga de emprego. A Sra. Mirela disse que precisava de alguém para servi-lo em particular e eu tenho experiência. - Ele estreitou os olhos, descruzou os braços se aproximando mais da garota dando uma leve volta.

Seu cheiro era doce, um perfume barato qualquer, tinha certeza. Mas como ela tinha experiência para o que ele queria? Ela não parecia ser aquele tipo de mulher, era doce e linda. Mas as aparências enganam, não é? Hora essa…

— Eu não acho que você se encaixe no que eu procuro. Por favor, saia e chame Mirela para mim. - Ela ergue uma sobrancelha, o que foi? Ela não iria obedecer. — Peço com toda delicadeza do mundo, para você sair e mandar aquela mulher entrar. - Foi debochado enquanto voltava para seu lugar.

— Espera, como é que é? - Ele parou voltando-se para ela. Odiava quando não atendiam aos seus comandos ou questionavam algo que ele ordenava, encarou-a novamente, agora com mais curiosidade em saber o que diabos ela ainda estava fazendo ali. — Eu disse que tenho experiência e já trabalhei servindo outros lugares. E eu… Eu… Eu preciso do emprego. - Deu um passo a frente sabendo que podia até está fazendo besteira, mas não pensaria duas vezes se fosse para salvar seu irmão. — Eu preciso do emprego então se me der uma chance, prometo não decepcionar.

— Você quer mesmo a vaga de emprego, meu bem? - Ela demorou a balançar a cabeça concordando, o tom da voz dele tinha mudado, estava mais grave e charmosa. O que era aquilo? Algum tipo de hipnotismo? Era normal sentir o corpo arrepiar mesmo quando foi tocada?

— Sim. Eu quero. - Afirmou forte e determinada, e ele riu um sorriso que a desaminou completamente. Não era gentil, mesmo que parecesse tão bonito.

— Então tira a roupa.

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