Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Operação Cupido

- Você autografaria um desses para mim? - Ron perguntou, com um sorriso charmoso, atirando um exemplar de Romance Por Contrato sobre a minha mesa. - Ai meu Deus, isso é nitroglicerina pura! Eu não acredito que o todo poderoso Jace Kellan autorizou você a publicar detalhes íntimos da vida amorosa de vocês dois.

- Não são detalhes íntimos da nossa vida amorosa - eu olhei para ele, perplexa. - É um romance de ficção com uma leve inspiração na minha vida pessoal.

- Na vida pessoal de vocês dois.

Ron estava certo. Eu havia aberto o jogo sobre o caso de amor tórrido que vivi com Jace Kellan. Nem todas as linhas naquelas páginas eram absolutamente reais, havia muita ficção, porém, o que importava estava lá.... o nosso relacionamento nos mínimos detalhes.

O que Ron não sabia era que Jace não tinha a menor ideia da existência daquele livro.

Há cerca de um mês, Jenna Marshall, minha amiga de infância e uma editora talentosa, me procurou, sem entender por que eu havia abandonado a publicação da história que, ela mesma, havia considerado um sucesso garantido. Ela não sabia do meu romance com Jace e, tampouco, do pesadelo que havia se tornado a minha vida recentemente.

A princípio, eu tinha ficado sem reação. A ideia de virar uma escritora havia ficado enterrada e esquecida em algum lugar da minha mente, entre o sucesso repentino como jornalista, o ataque planejado a Natalie e a tentativa de assassinato a Jace. Mas, enquanto eu escutava o seu tagarelar incessante ao telefone, meu coração foi se enchendo com o desejo irreprimível de retomar o contato com aquele projeto.

A ideia do livro tinha aparecido de maneira inesperada, enquanto eu estava em LA, na casa do meu pai, curando um coração partido. Havia sido uma alternativa para tentar me manter de pé, financeiramente, após eu receber um pé na bunda da Prime. Um pé na bunda justificado quando eu descobri que Rosalie Armstrong, a ex-noiva de Jace, havia assumido a revista.

E é claro, tinha sido, também, uma forma mesquinha de me vingar de Jace, já que eu havia atribuído a ele a culpa por tudo o que vinha dando errado na minha vida.

Mas, agora, aquele livro teria uma outra missão. Ele era parte da minha história de amor com Jace Kellan, o homem que fez meu coração de gelo se quebrar e, então, ressuscitar para a vida. Uma história que havia começado torta e que sequer teve tempo para um final digno.

O nosso "felizes para sempre".

E eu queria contar aquela história. Mais do que contar, queria que as pessoas lessem. Queria que elas se inspirassem, que sorrissem, chorassem e suspirassem com cada linha tirada da emoção avassaladora que ainda me consumia. O meu amor por Jace Kellan.

Eu havia derramado o meu coração naquelas páginas. Não era justo deixar que elas se perdessem assim.

Além disso, eu tinha certeza de que Jace... quando acordasse... não colocaria empecilho a publicação do romance que ele mesmo havia inspirado. Na verdade, não era como se as pessoas fossem capazes de ligar o personagem sexy, arrogante e impassível das páginas ao CEO genial da Kellan Corporation.

Mesmo com o nosso envolvimento tendo extrapolado, severamente, todo os limites profissionais possíveis, tudo o que o público sabia era que eu havia sido a responsável por desvendar o mistério que tinha livrado Jace da prisão.

E, por garantia, eu tinha usado um pseudônimo no livro: Elle Statham. As mesmas siglas de Ed Sheeran, o nome do cantor cuja música havia embalado minha história de amor.

Era fantástico. Nada poderia dar errado.

Lancei a assinatura delicada do meu alter-ego sobre a capa do exemplar, sorrindo diante da evidente empolgação de Ron, meu ex-chefe que, agora, trabalhava ao meu lado. Ele sabia de tudo, conhecia todos os detalhes. Afinal, tinha se tornado o meu cúmplice.

E eu havia me recusado a assumir o cargo de editora-chefe, quando a Prime me especulou para assumir a posição. Eles planejavam demitir Ron e isso eu não poderia deixar nunca. Então, a revista criou mais uma função para mim. Agora, nós dois dividíamos as responsabilidades como editores chefes da Prime, trabalhando em conjunto para o sucesso da revista.

E em pouco tempo, estávamos passando de um fracasso anunciado para um veículo de comunicação de renome no mercado.

Isso, em grande parte, graças a Jace, claro. Se ele não tivesse confiado a mim o material que sentenciava o fim da corrupção empresarial dentro da sua própria empresa, a revista teria afundado em poucas semanas.

- O que você me diz de uns mojitos depois do trabalho? Por minha conta - Ron ofereceu. - Precisamos comemorar o sucesso estrondoso que está sendo esse livro.

- Você e Jenna estão confiantes demais. Isso tudo pode perder força nas próximas semanas. É só mais um romance erótico entre milhares, eu ainda nem sei no que vai dar - suspirei, jogando as costas contra o encosto da poltrona giratória vermelha. Eu tinha recebido um escritório enorme, que ainda estava decorando ao meu gosto. - Sobre os mojitos... eu lamento, Ron. Estou sem cabeça para isso.

- Ah, Olivia! Se não fizer isso por você, faça por mim - ele curvou os lábios para baixo, apoiando ambas as mãos sobre a minha mesa. - Preciso extravasar a tensão das últimas semanas.

- Algum problema com Ted?

- Quem é Ted? - Ron bufou, indignado, depois cobriu o rosto com as mãos. - Eu tenho um dedo podre para homens, juro por Deus. Não vamos falar desse destruidor de corações, por favor.

- Tudo bem. Mas eu vou ficar te devendo esses mojitos - sorri, mexendo no mouse para desbloquear a tela do computador, ao mesmo tempo em que chegava uma mensagem qualquer na minha caixa de e-mail.

- Você vai ao hospital de novo?

- Sim.

Ele ficou em silêncio por algum tempo.

Eu quase terminei de responder o e-mail antes que Ron falasse outra vez:

- Ele tem sorte. O Jace. Você sabe disso, não é, garota? Ele tem sorte por ter alguém como você.

As palavras dele tocaram meu coração profundamente .

- Você acha mesmo isso? Acha que ele tem sorte?

- É claro que eu acho- Ron sorriu. - Você é uma leoa, Olivia. Nunca abandona as pessoas que ama.

Isso era verdade.

Ron estava coberto de razão.

Eu iria até as últimas consequências por Jace.

***

Eu tinha me esquivado de Ron, mas nunca conseguiria escapar de Emma.

Quando Emma Lance metia alguma coisa na cabeça, dificilmente, alguém podia tirá-la. Por isso, minha visita a Jace no hospital havia sido cancelada com sucesso e eu estava, agora, no Bonnie Bar, um lugar incrível no Queens.

O visual era espetacular. Sofisticado e, ao mesmo tempo, descontraído. O jardim externo contava com um varal de lâmpadas, que tornavam o clima mais aconchegante. Mesas de madeira e guarda sois vermelhos, espalhados por um pátio de paralelepípedos, compunham o ambiente.

- Eu juro por Deus que não aguento mais, Olivia! Eu vou acabar rolando pelos corredores com aquela metida e é você que vai ter que pagar pelo meu advogado.

Emma estava tendo problemas com sua nova colega de trabalho. Ela prestava assessoria econômica e financeira em uma empresa grande no centro de Manhattan. Minha amiga era do tipo doce, romântica e muito inteligente. Ela também era muito mais amigável do que eu, por isso, aquela atitude não combinava nada com Emma.

- Que história é essa de rolar pelo corredor? - eu balancei a cabeça, rindo. - Parece que eu estou ouvindo outra pessoa falando, não você.

- Isso porque ela desperta o meu lado mau.

Emma não tinha um lado mau. Ela era como Dorothy do Mágico de Oz, só que mais tagarela e com um long bob moderninho.

Minha amiga acenou, alegremente, para o garçom do outro lado do pátio.

- Hoje os drinques são por minha conta, mas amanhã você é quem paga.

Eu quis dizer a ela que não voltaria amanhã, mas me contive. Emma estava determinada a me arrancar da fossa e ela acreditava que isso só seria possível me arrastando pelos melhores clubes e bares da cidade. Exatamente como fazíamos antes.

Quem disse que Dorothy não gostava de tomar umas margaritas com as amigas?

- Ai meu Deus, olha quem está aqui!

Eu mal tive tempo de virar a cabeça, antes de uma sombra enorme surgir ao meu lado.

As mãos de Logan estavam enfiadas nos bolsos da calça e havia um sorriso caloroso em seu rosto.

Eu abri um sorriso cordial.

O inspetor Logan Mars e eu havíamos tentado emplacar um romance no passado, quando Jace e eu estivemos separados. Depois disso, ele se afastou do caso de Rosalie e Theodore Armstrong, que era aquilo o que, fatalmente, nos mantinha ligados. Então, nossa comunicação havia se perdido, embora eu soubesse que ele continuava trabalhando na delegacia.

- Oi, Logan. Como vai? Há quanto tempo.

Logan estava usando jeans e um suéter preto, que realçavam seus olhos azuis. Definitivamente, não estava a trabalho.

Estava mais bonito do que nunca e, outra vez, eu estranhei o fato de não sentir nem uma maldita borboleta fazer cócegas na minha barriga.

- Oi, Olivia - sua voz grave chegou até mim, ao mesmo tempo em que ele se inclinava para beijar o meu rosto. - Tudo bem, Emma?

- Sim e você, como vai, inspetor? Por que não se senta com a gente?

Logan olhou de Emma para mim, com uma expressão vacilante.

Eu me segurei para não chutar a canela dela por baixo da mesa. Não porque ela não merecesse, mas porque, com certeza, ele não merecia.

- Eu não quero incomodar vocês.

- Você não está incomodando - Emma riu, olhando para mim com uma falsa preocupação. - Não está. Não é mesmo, Oli?

- É claro que não. Sente-se, Logan.

O inspetor puxou uma cadeira na ponta da mesa, exatamente entre Emma e eu.

O garçom se aproximou e pedimos nossas bebidas - gim para ele, margaritas para nós duas. Logan revelou que tinha planos de se mudar para o Michigan, dentro de algumas semanas, caso recebesse uma promoção no departamento. Ainda não era nada certo. Depois disso, Emma engrenou uma conversa animada sobre casos policiais emblemáticos que ela tinha visto em um programa de televisão.

O tempo inteiro, eu não parava de checar o visor do celular. Era a primeira vez que eu não visitava Jace, desde que ele havia levado o tiro. A primeira vez, em dois meses, que burlava a minha rotina diária: sair da Prime e dirigir por quase meia hora até o Hospital Presbiteriano, onde ele estava internado.

Eu me sentia péssima. Mas, muito além disso, eu sentia que estava perdendo alguma coisa.

Havia me habituado a sentar ao lado dele na cama e segurar sua mão, noite após noite. Eu falava por horas, contando sobre o meu dia, falando futilidades, rindo de coisas sem a menor importância. Outras vezes, eu só chorava baixinho, implorando que ele voltasse para mim.

- Oli, você ouviu isso? - Emma voltou a rir alto sobre alguma coisa que eu nem imaginava. - Ouviu o que o Logan disse sobre aquele filme novo no cinema? Olivia adora filmes de terror.

Ele ergueu uma sobrancelha, cético.

- É verdade, Olivia?

Eu assenti, murmurando uma resposta, e meus olhos se voltaram de novo para o celular, quase sem eu perceber.

- Olivia? - Emma chamou. Havia uma fúria assassina em seus olhos - Logan está falando com você.

- Ah sim, o que foi que você disse? - eu perguntei e ele desviou o olhar para o copo de gim sobre a mesa. - Me desculpem, eu estou tão cansada. Acabei não vendo a hora passar. É tarde, preciso voltar para casa.

Emma me encarou, de boca aberta.

- Mas Natalie está com Bertha, hoje. Você não precisa ir, agora.

- Eu sei, mas vou acordar cedo amanhã - justifiquei, dando um último gole na minha bebida. - Obrigada pela companhia, vocês dois.

- Só mais um pouco, por favor - ela fez beicinho. - Por mim...

Eu não podia dar nenhuma brecha a Emma. Ela acreditava mesmo que estava em uma intervenção.

Que irritante.

- Sinto muito. Por que vocês dois não ficam e bebem mais uns drinques?

- Nós dois? Sem você? - ela me olhava, indignada. - Eu pensei em pegar uma carona de volta. Como eu vou voltar para casa?

- Logan também está de carro, não está? - perguntei, levantando da cadeira e colocando a bolsa no ombro.

- É claro - ele assentiu. Eu nunca tinha visto alguém tão desconfortável e me sentia horrível por isso. Mas Emma deveria se sentir muito pior, afinal, aquilo tudo era sua culpa. - Eu dou uma carona a Emma, não tem nenhum problema.

- Ótimo, obrigada. Cuide-se, Emma. Boa noite, Logan.

Ela abriu a boca para protestar, mas eu já estava virando as costas e não arrisquei olhar de novo para trás.

Se Emma era esperta para me envolver em um encontro casual com Logan, ela também precisava ser esperta o bastante para sair sozinha dele.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.