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Reconhecimento

Bela já  tinha chegado à escola. Era um dia especial, as crianças estavam de folga por causa da reunião de preparação do passeio à reserva florestal. Esse passeio faz parte dos trabalhos para a feira de ciência, a matéria de biologia terá uma chamada especial sobre animais selvagens da reserva, neste ano, e Bela está muito entusiasmada. Todos acham que será ótimo!

De repente uma voz possante cumprimenta a todos com um bom dia sonoro. Todos olham para a porta da sala. Bela sentiu aquele aroma que tanto gostava, pão de canela, mas dessa vez veio com um toque amadeirado que não conhecia. Olhou em direção ao aroma já com um enorme sorriso no rosto e viu o homem mais incrível que já  conhecera. 

Miguel veio seguindo o aroma maravilhoso de torta de maçã com canela e findou chegando à escola e ao grupo que prepara o passeio. Olhou o grupo e encontrou o sorriso que tanto amava, Mesma dona do aroma que vinha seguindo. Franziu a testa sem perceber que fazia uma cara séria e carrancuda em resposta ao sorriso tão lindo que recebia.

Bela não entendeu a expressão do homem e se entristeceu fechando o sorriso e ficando sem graça. 

– O que foi Bela, você deu um sorriso tão bonito e depois fechou a cara.

Nesse momento Miguel se aproximou e ouviu a pergunta.

– É que senti o aroma que mais gosto e que sinto sempre pela manhã, pão de canela, ele está  misturado com um toque amadeirado,  mas ficou melhor ainda, só  que virei para ver quem trazia esses pães maravilhosos e …

– Deu de cara com a minha carranca, desculpe.

Bela virou-se rápido e quase caiu, se não  fosse ele a apoiá-la.

– Desculpe-me. – Ela falou chorando e endireitando o corpo.

– Tudo bem, estamos quites agora. Meu nome é Miguel, sou padeiro.

– Ohhh! Então é por isso, esse aroma.

– Creio que sim, me perdoe a carranca, eu sou assim mesmo.

O que ela não sabia é que ele reconheceu ela como sua companheira de alma e ficou tão surpreso, que brotou um sentimento contrário nele pelo fato dela ser humana. Não podia negar que se apaixonou desde o primeiro momento que a viu e que só não tinha percebido seu aroma por causa da mistura de tantos aromas exalados pela padaria. Não sabia o que fazer com a recente e mais importante descoberta de sua vida, aquela que esperou por mais de dois séculos.

Por outro lado, Bela sentia seu coração acelerado e não entendia o porquê de sentir-se tão agitada, diria até emocionada. Seus olhos estavam fixos nos dele que também a encaravam. Até que ouviram um pigarro e disfarçaram, olhando para o lado e dando de cara com o prefeito da cidade, que tinha um sorrisinho torto na  cara.

– Bom dia prefeito, – disseram os dois juntos.

– Bom dia! Pelo visto você encontrou o que tanto esperava, hein Miguel?

– O que está insinuando prefeito? Talvez seja melhor ficar calado não acha?

O prefeito fechou a cara e não respondeu. Bela só observou aquele colóquio estranho entre os dois, sem entender nada. O que será que o padeiro estava procurando e o que veio fazer na escola?

A diretora achou melhor desfazer aquele clima e iniciar a reunião.

– Já que todos  chegaram, vamos resolver logo a organização da visita à reserva. 

– Ok – disse o prefeito – pedi ao Miguel que viesse para nos orientar sobre a rota a seguir. Para quem não sabe, ele é vizinho da reserva e conhece muito bem tudo por lá. Nessa época do ano, com as chuvas, as estradas e caminhos da reserva ficam enlameados e por isso é bom ter alguém que conheça as rotas para nos orientar sobre os lugares mais secos.

Bela admirou o homem alto, forte, bonito, com penetrantes olhos cinzas ou seriam prateados. Podia jurar que ficavam prateados de vez em quando. Ele parecia ser bom em tudo que faz. 

– Então Miguel, aproxime-se. Temos um mapa da reserva, com todos os caminhos existentes, venha dar uma olhada.

Miguel se aproximou e depois de discutirem e marcarem os locais em que poderiam passar, ele orientou sobre o material de segurança que precisarão levar e quais os melhores meios de locomoção. No caso das estradas que chegam até a reserva, não pode ser um ônibus comum, pois estão muito precárias. Essa era a luta constante entre o prefeito e ele. Só o centro da cidade estava bem cuidado, as estradas e caminhos vicinais, estavam sem qualquer manutenção. Não têm sinalização, a vegetação cresce desordenada e invadem as vias e os buracos enlameados prosperam.

O prefeito não se pronunciou, apenas concordou com tudo e pediu uma cópia do itinerário. A todo momento olhava para Bela, notando o interesse dela no homem lobo, se perguntava se ela saberia o segredo dele. Seria muito bom acompanhar o desenvolvimento desse relacionamento, ainda mais sabendo que um lobo não vive sem sua companheira depois que a encontra, depois de marcá-la, se ela morre, logo em seguida ele sucumbe também.

Saíram todos da reunião satisfeitos, o passeio ficou marcado para dali a duas semanas e Miguel se propôs a ajudar no que fosse possível, desde que não fosse depois do trabalho na padaria. Ele seguiu de volta pelo mesmo caminho que fizera antes e aproveitou para entabular conversa com a professorinha, sua companheira. Precisava conhecê-la melhor antes de revelar seu segredo e a importância da vida dela para ele e vice-versa. Não gostou dos olhares do prefeito, iria vigia-lo melhor dali pra frente.

– Então professora Bela. Esse é seu nome ou apelido? – se aproximou dela perguntando.

– Meu nome é Isabela. Sou professora de biologia e vou acompanhar meus alunos à reserva.

– Você tem jeito de professora mesmo, além de ser linda. – Ousou elogiar.

Ela riu com vontade, ele ficou em dúvida da causa do riso solto dela.

– Qual o motivo da risada? – Perguntou ele.

– Desculpe, não é você. É que nunca ninguém me chamou de linda. Eu mesma não me acho uma beldade.

– Sei... você quer é mais elogios...ou então o espelho da sua casa é cego.

Ela riu mais ainda e ele parou para ficar contemplando sua amada. Ela é muito especial e mesmo que seja humana, não vai desistir dela.

– Senhor padeiro, o senhor me faz rir e eu adoro isso!

– Que bom que te agrado em alguma coisa.

– Não só em alguma coisa, suspeito que tem algo em ti que me agrada muito mais.

– Agora estou curioso.

– Por acaso você trabalha naquela padaria da rua de trás da praça?

– Padaria Irmãos Lobos? Sim, eu sou o padeiro de lá. – Respondeu sorrindo, já imaginando a reação dela.

– Ah, meu Deus! É você que faz aqueles pães deliciosos, que como todo dia no café da manhã? Viu, eu sabia que tinham mais coisas. Porque gosto dos pães e do aroma que deixam em você.

– Qual aroma que você sente exatamente?

– Do pão que mais gosto: canela. Mas em você fica canela amadeirada. 

Sentiu a vibração de seu lobo, eufórico por sua fêmea os ter reconhecido também. 

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