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Sequestrada pelo Lobo

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Deypi
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Resumo

Bela acreditava estar realizando seu sonho de vida: se formar na faculdade de biologia, morar em uma cidade do interior, lecionar na escola municipal e só faltava viver um grande amor e formar uma família.  O que ela não esperava é que essa cidade pacata, fosse parte de uma Alcateia e que um acontecimento, fosse virar sua vida ao contrário. Agora estava amordaçada, amarrada e deitada num catre dentro de uma cela fetida. Não compreendia o que estava acontecendo e o que ganhariam com uma pessoa sem dinheiro, sem graça e que ninguém sentiria falta. Até que a porta se abre e o homem que entra é a maior surpresa e o que ele fala a deixa aterrorizada. 

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Introdução

O relógio ainda nem despertou e já estou de pé. Concluo minha rotina diária ao acordar e corro a janela da cozinha. Olho para fora, já com um sorriso largo no rosto, fecho os olhos sentindo os primeiros raios de sol do dia aquecendo meu rosto.

É frio nessa época do ano, estou de casaco e o calor do sol, apesar de fraco, é muito bem vindo. Aspiro o ar com gosto pois sei o que vou sentir. Sim! Aqui está ele, o melhor aroma do mundo: pão fresquinho saindo do forno.

Ouço um assobio e olho pra baixo, avistando João com um saquinho de papel contendo pãezinhos quentes para mim. Jogo a sacola plástica amarrada numa cordinha de nylon, que chegando embaixo, ele pega e coloca o saquinho com os pães, agradeço, puxo e levo até a mesa.

Ponho água no fogo para fazer o café e vou até o saquinho, abro e inspiro o aroma delicioso. Pego uma cestinha de vime, própria para pão e despejo o conteúdo do saco ali. Vamos ver o que ele mandou de novidade hoje. Um pão francês, um croissant de queijo com presunto e um pão doce de canela.

Que delícia!

Sento para tomar o café depois de pronto, saboreando meus quitutes. João é um fofo, trabalha na padaria desde adolescente, não que seja muito mais velho, está com vinte anos agora. A padaria é da família e praticamente todos os funcionários são parentes.

Vim morar nessa cidade a três anos, desde que me formei em professora de biologia e passei em um concurso para dar aula no colégio municipal. Escolhi essa cidade por ser exatamente a imagem que tinha em meus sonhos: um lugar pacato, com moradores simpáticos, próximo a natureza e com uma infraestrutura que facilitasse a vida. Aqui também é próximo a uma grande área verde, uma floresta com grande biodiversidade. Dizem que tem uma reserva de lobos, na área mais fechada.

Assim que cheguei, encontrei este apartamento. É pequeno, apenas quarto, sala, cozinha e banheiro. Fica no terceiro andar e não tem elevador. As janelas abrem para a rua de trás, que mais parece um beco e é os fundos de algumas lojas, incluindo a padaria. Mas a vantagem é que posso ir a pé para o trabalho. A saída do prédio é pela frente, onde fica uma praça com playground e têm sempre crianças brincando.

Pois é, desde que vim morar aqui que conheço João, ele que me viu na janela e perguntou se queria pão e desde então temos este sistema. No princípio mandava o dinheiro, que voltava no dia seguinte. Até que um dia veio um bilhete sujo de farinha dizendo que se continuasse a mandar o dinheiro, não receberia mais pão. Assim começou, cada dia uma surpresa, mas sempre vinha um pãozinho francês.

Essa sou eu, professora de biologia, 1,65 de altura, peso mediano, cabelos castanhos lisos com ondas, olhos castanhos, pele clara, mas não demais e simples, muito simples. Não me considero uma beldade, mas também não sou horrorosa, mas não sei porque não consigo um namorado. Sou sozinha, pois só tinha minha mãe que faleceu antes de eu terminar a faculdade. Foi barra, mas consegui e hoje estou aqui.

Meu nome é Isabela, mas costumam me chamar de Bela.

________∆________

Meu nome é Miguel, sou o dono da padaria e também o padeiro. Ainda me lembro do dia que vi através da pequena janela da cozinha, aquele rosto angelical, aproveitando o sol pela janela do terceiro andar. Pedi a meu sobrinho João que oferecesse pão a ela e desde esse dia, envio pães para seu café da manhã. Às vezes invento um só pra ela e amo ver seu sorriso quando escuta o assovio de João.

Nunca fui falar com ela e nem sei seu nome. Por mais que ela me agrade e faça meu coração bater acelerado, não posso me envolver com uma humana. Sou um homem lobo e nossa raça tem uma companheira predestinada. Já espero a minha a mais de 200 anos e estou cansado de esperar, mas não é por isso que vou me aproximar de uma humana e acasalar com ela.

Olho meus sobrinhos já adultos e fico com inveja de meus irmãos. Eles são mais novos que eu e encontraram suas companheiras dentro da própria Alcatéia. Nossa Alcatéia é grande. Juntamos quatro matilhas que viviam desgarradas e fizemos uma só, mais organizada e com uma estrutura sólida, com assistência social para todos. Eu sou o alfa da Alcatéia e  tenho um membro de cada matilha como meu beta, assim posso cuidar da padaria e de outros negócios enquanto eles cuidam do nosso povo.

Alguns trabalham e moram na cidade, mas sempre comparecem às reuniões e auxiliam o povo, pois somos todos uma só família. A base da Alcatéia fica no centro da floresta, onde chamam reserva dos lobos. Esses lobos somos nós e cuidamos para que a história se propague e os humanos não se aventurem por lá.

Eu moro próximo a Alcatéia, em uma cabana rústica, mas confortável. Tem dois andares, com três quartos e dependências. É toda de madeira e tem uma lareira que utilizo muito no inverno, tornando o lugar mais aconchegante. Fiz tudo pensando na companheira que terei um dia. Meu carro é um jipe quatro portas, pois é melhor para enfrentar as estradas, esburacadas por falta de asfaltamento, que preciso passar para chegar lá.

Tenho 1,98 de altura, corpo musculoso, característica lupina, pele morena, cabelos lisos e pretos com olhos cinzentos. Meu lobo é preto com olhos cinzentos e não mexa com ele se não quiser perder a cabeça. Fico bem esquentado com falação desnecessária e por isso perco a paciência com facilidade.

O prefeito conhece a todos nós e nos respeita, afinal, nossos votos também contaram para sua eleição. Mas mesmo assim, não consegui que asfaltasse as estradas intermediárias que utilizo para ir para casa. Ele diz que é um lugar muito ermo e que quase ninguém passa lá. Deixa ele comigo.

Soube que a escola irá fazer uma excursão à reserva florestal, que fica bem próxima a Alcatéia e o prefeito pediu minha presença na escola para ajudar na organização do transporte e do local por onde irão passar. Confirmei com ele de ir até lá hoje, depois das primeiras fornadas, não posso deixar que passem muito perto de nosso espaço e preciso saber onde irão passar para alertar os moradores da Alcatéia.

Tudo pronto, passo o serviço para o outro padeiro e vou até o escritório ver se tem alguma pendência para hoje que eu possa ter deixado passar. Parece tudo ok, vou ao banheiro, me arrumo, despeço-me do pessoal e saio para ir a escola. Vou andando mesmo, pois é perto. Conforme sigo pelas ruas de paralelepípedo,  vou observando o movimento,  cumprimentando as pessoas e sentindo o frescor do clima de inverno, frio mas gostoso. 

Quando passo pela praça,  contemplo as crianças brincando no playground e lembro que poderiam ser os meus. Conforme vou saindo do perímetro da padaria, os aromas vão mudando e começo a sentir o melhor cheiro do mundo: torta de maçã com canela.